terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Esperas por mim?

Olha . . . esperas por mim?
Estás a ouvir?
Ouviste o que te disse?
Sim, estou a falar contigo!
- Queres que espere por ti?
Posso esperar por ti?
De certeza?
Estás a ouvir-me?
Hei!!! Ó tu . . . tu daí!!!
Ouviste o que te disse?
Porque é que não em respondes?
- Não me estás mesmo a ouvir . . . que pena . . .
De qualquer forma pergunto-te, pode ser que te esforces para ouvir. Posso conhecer-te melhor na volta?
Gostava de conhecer, realmente, mas apenas à minha volta da volta ao mundo. Acho que ainda e faltam peças e agora não te consigo perceber, não sei que peças te faltam, mas vejo-te com falta de muitas peças, não encaixas em nada que daqui venha ou haja.
Bem, as que tens também são muito pequeninas e tenho dificuldade em percebê-las a esta distância.
- Mas . . . Peças?!?
O que queres dizer com isso??
Não sou perfeito!
Eu queria dizer- te que . . . Posso ao menos contar com a tua vontade quando daqui a algum tempo eu tiver coragem?
Acho que tenho medo, mesmo que tenha curiosidade, tenho medo e não posso, eu não sou capaz . . .
Não é isso que quero . . . É outra coisa, nada de especial, a outra coisa é demasiado pesada e eu não entendo nada disso.
Porque é que fazes essas coisas?
Eu não te entendo, não te percebo. Fazes coisas estranhas, coisas esquisitas, pareces um bocado estranha, não te entendo, mas pronto, ok, és estranha. Não entendo.
- Estás a falar de alguma coisa?
Queres dizer-me alguma coisa?
Eu não vejo os teus lábios a mexer, apenas te vejo aí parado com olhar ora fixo ora esquivo, não te estou a perceber. Faltam-te peças e eu não consigo conversar contigo sem essas peças. Mas queres dizer alguma coisa?
Tens alguma coisa para dizer?
Se tens, vais ter que esperar!
Olho para ti e só vejo parte e com apenas parte não me entendo, é demasiado vazio, preciso de te encontrar mais peças para me entender contigo.
- Eu não consigo perceber o que não entendes, mas não existe falta de peças!
Estás a falar do quê?
Do que é que estás a falar?
- O quê?
Estás a dizer alguma coisa?
Estás a querer dizer alguma coisa ou simplesmente está a fazer mais do mesmo?
Não há nada para dizeres?
O que é que tens que eu possa considerar um ponto de interesse, um ponto em que haja uma faísca?
Tens alguma coisa que eu possa achar interessante?
O quê, bebes uns copos e dizes disparates aos teus amigos para eles se rirem? É isso? É só isso que esperas da vida?
Ok, são demasiadas perguntas e não estás habituado.
- Mas o que é que queres?
Estás à espera do quê?
O que é que achas que eu sou?
Ou, o que é que pensavas que eu era?
Eu sou só isto, mais nada!
- Pena . . .
Enfim, coisas da vida. Com mais peças aí dentro e realmente seria mais difícil dar a volta ao mundo . . . Se calhar é melhor assim . . . ainda bem que é assim. Assim, vou dar a volta ao mundo e conhecer o mundo e ver os diferentes mundos do mundo. Vou enriquecer-me no que me falta.
- Onde vais?
Oi!!!
Espera!!!
Ainda não me mostraste o que estás desejosa de me mostrar!
Sim nas últimas vezes foi um bocado mau . . . é verdade, não correu lá muito bem, ok . . .
Mas espera!!!
Onde é que vais?
Eu também ainda não acabei . . . Espera!
Vais para onde? Tens a certeza que ainda estás aqui?
O que é que me querias dizer realmente?
Achas que realmente pretendes alguma coisa ou sou um brinquedo, ou mais um brinquedo, como fizeste com todos os outros a quem prometias um lugar no paraíso, sem ao menos teres dado a provar um pouco do que aludias?
Eu não te posso ver ou mostrar que te quero ver, é proibido ver-te, não posso . . . eles não me deixam e eu não posso ir contra a vontade deles, eles é que sabem, mesmo que eu também queira. Preciso que eles me deixem. Eu tenho que não mostrar, não quero que eles fiquem chateados comigo, ou então nunca mais falam comigo e vão gozar comigo.
- Ya . . . é isso!
Estás a ver o que ainda te falta?
Tu ainda não és nada, ainda és demasiado verde, imaturo, dependente da aprovação dos outros, vazio, não sabes o que é estares contigo, não percebes o que é ter preenchido o que te falta, mas compreendo, ainda é muito cedo, ainda és apenas um invólucro e os invólucros são enganadores. O teu invólucro exterior desenvolveu-se de uma forma muito agradável aos sentidos assediáveis pelas tentações da carne e captou a minha atenção, mas ainda te falta tanto . . .
Se não deres os passos no caminho errado tornar-te-ás um perigo para mim, o meu maior medo de voltar das minhas voltas ao mundo, porque a carne e as tuas feromonas são demasiado poderosas, mesmo antes de te tornares um perigo.
- Gostas, é?
- Apenas do que os meus receptores captaram . . . mas é mesmo apenas animal, magnetismo pelo que ainda não existe, pelo que ainda não está no sítio certo, mas farejei-te, chegaste ao meu centro do maior prazer, ativaste parte dos meus sentidos físicos com o que tinhas para mostrar, mas parte é realmente mesmo muito pouco . . .
- Ok, olha, paciência, mas eu também não vejo muito mais dessa banda. Estás a julgar-te muito, mas também te apanhei, não és melhor que eu!
Também ainda tens uma menina dentro de ti. Ainda és!
Para quê estares a armar-te em superior?
Já te olhaste bem ao espelho?
Achas-te superior, mas pus-te as pernas a tremer, parecias uma adolescente parvinha. Pensas que eu não vi?
Estás a tentar convencer-te de que tens mais peças, ou lá que raio, para não teres vergonha de olhar ao espelho e veres que, na realidade, a cara que vês refletida no espelho não passa de uma gaja louca e descontrolada, sem freio. Toma tino!
Ao que sei, já devias ter mais juízo . . . Não me censures!
- Obrigado, fizeste o que eu precisava . . . que me fizessem . . . dói ouvir . . . mas talvez tenhas razão . . . as verdades são para ser ouvidas, mesmo que venham de quem ou de onde menos se espera . . .
Obrigado.
Já posso partir descansada. Vou procurar também a minha parte ou partes que também ainda me falta, aliás, já o tinha dito, não foi?
- Pois . . . parece que disseste qualquer coisa assim . . .
- Ficamos assim, então . . .
- Ya . . .
- Ya?
- Sim . . . Ya . . .
- Então, fiquemos assim . . .
- Ya . . . assim seja então. . .

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Pah . . . arranjem vida própria!!!

Gostava de saber o que é ser-se interessante, ou pelo que se é interessante; aquele tipo de pessoas que toda a gente admira, que toda a gente acha o máximo, aquele tipo de gente que cospe para o chão e todos aplaudem como um pirata no seu navio de piratas.
Ya . . . é isso!
Como o Pirata das Caraíbas, com as vestes do Depp, mas a cheirar bem, de preferência . . . e com dentes em melhor estado!
É isso, quero ser um pirata, vagabundo, mas com estilo, saqueador dos mares e dos mais indefesos, um pirata estilo giro, charmoso que saca tudo em troca de um beijo, ou outras coisas mais pudibundas, mas apenas um beijo ou apenas uma pudibuncice de raspão para deixar as donzelas perdidas de tesão, loucas,  languidas . . .
É isso, vou ser um pirata, cheio de tusa por onde eu passe, deixando um rasto a devassa bem perfumada, com o meu enlevo vistoso e imponente ou paraíso da diversão . . .
Qui sa?!
Assim como assim, posso ser um porco javardo, mas divertido e desejado que dará horas e horas de conversa às alcoviteiras desprezadas pelos maridos que já não as aturam, nem as procuram . . .
- Que horror!!!
Não tinhas nada mais interessante e decente para escrever?
Ai mulher  . . . que horror!!!
Não me vais dar o desgosto de dizer que gostas de mulheres!!!
- E se gostasse? SO WHAT?
Já pensei nisso, não muito, mas sei lá, porque não? Qual é o drama?
Diga-se de passagem que há por aí gajas que . . . enfim, enfim . . .
Olha as vantagens, tinha buracos e paus naturais ou artificiais, dedos, línguas e tudo mais que me desse na cabeça, gajo ou gaja . . . Podes fazer festas multi-culturais interessantes e aprender novas línguas . . .
- Não estás a falar a sério!
- Pah, o que é que queres que te diga?
Já viste o quanto que te daria para falar?
E o que eu me divertiria quando tivesses curiosidade se tenho alguém?
Passava-te logo a vontade de andares a coscuvilhar a minha vida, não passava?
Eu não pagava para ver, mas confesso que me divertiria a muitos níveis . . . divertiria com a vossa vontade frustrada de saber sobre as coisas sórdidas que se passariam na minha cama, divertir-me-ia com o facto de saber que não quererem saber o que faria com as gajas e os ai's que das nossas gargantas sairiam e quantas vezes se ouvia de cada vez . . .
Já viste? Era divertido a triplicar!
E as festas . . . ménages . . . ui! . . . mas com muita classe!
Já vos estou a imaginar:
"Ela sempre foi assim toda assanhada! Ela só falava em sexo!
- Eu não sei onde é que ela está com a cabeça . . .
- Devem ser as influências de alguma dessas amigas dela . . . ela nunca mais falou de ninguém!
Ela não contava nada de ninguém, mas eu desconfiava . . . para ela andar tão bem disposta Humm. . . tinha que haver gajo, mas gajas?! . . . Nunca pensei!
Era demais, parecia que não sabia falar de outra coisa!!!
Já devia andar nessas confusões e não contava nada a ninguém!
- Cá para mim ela andou a esconder de toda a gente e agora saiu do armário, não é o que dizem os psicólogos?
- Ai, valha-me Deus . . . até me custa a acreditar!
Ela sempre foi assim, toda para a frentex, mas daí a virar fufa!?!?!? . . . eu nem lhe vou perguntar nada, ela se quiser que conte!!!!
Sei lá o que lhe vai sair da boca!
É melhor nem perguntar!!!
- Ela não está boa de cabeça, mas sempre teve assim uma quedazinha!
- Nunca foi!
- Eu não vou perguntar nada sobre ela!
- Ai! . . . eu não sei o que faria se uma filha minha virasse fufa!".
Tão bom!!!
Olha, até já estou a ver a tua expressão de nojo a ouvires as minhas perversões entre pernas . . .
Que descanso seria a minha vida!
Olha, lindo lindo era depois de algum tempo eu vir a dizer que era tudo treta e vocês já nem acreditariam em nada, porque já não sabiam o que era verdade ou mentira!
Olha o que eu me divertiria a valer a baralhar-vos a cabeça!
- Mas nós só perguntamos para saber de ti, como estás, gostamos de ti, por isso queremos saber de ti.
- Boa! Ótimo!
Olha querem saber de mim?
Ok. Então é assim, para além de equacionar virar fufa e pirata, preciso de 500.000€, dão-me?
Pah, é de aproveitar! . . . Então são minhas amigas ou não são?
Aproveitem agora enquanto preciso! Vocês não são tão boas pessoas? Não gostam tanto de ajudar o próximo? Não querem ganhar o Céu?
Se eu ainda estiver em boa conta com São Pedro ainda meto uma cunha para vocês. É só mandar um sms . . . pode ser que vos arranje uma mansão para cada uma de vocês no vale do Paraíso ou à beira mar e enquanto ainda por cá andarem podem andar a falar durante 2 meses da minha grande lata e falta de vergonha! . . . apesar de não estar a roubar! . . . estou só a cravar, é diferente!
A dividir por todas vocês dá meia dúzia de trocos a cada uma!
Pah, ainda vos conto os pormenores das aventuras com os gajos, o que é que querem mais?
 . . . que pelos meus cálculos, são 15 dias de conversa incansável e interminável, mas mais que isso tenham a santa paciência . . .
- Porque é que estás a ser assim?
Ninguém te está a fazer mal ou a querer meter na tua vida!
- Bem . . . eu desisto!
- Nunca mais te pergunto nada!
- Aprofundadamente, não.
Fiquem tranquilas que quando quiser partilhar alguma coisa da minha vida, pedir concelhos sábios, querer que controlem a minha vida, seja a que nível for, quando quiser ser julgada pelo meu comportamento e dar aso a vai vem de conversas durante várias semanas, podem estar descansadas que são as primeiras a saber e com detalhes!
- Mas nós por acaso fizemos-te algum mal?
- Sim . . . vocês existem!
Façam o grande favor a vocês mesmas: pah . . . arranjem vida própria!!!





domingo, 15 de dezembro de 2013

. . . Mas ainda és um passarinho!

Apareceste vindo de não se sabe onde, como que numa redoma de vidro, inalcançável, impenetrável e estavas longe de parecer gente. A tua envergadura conferia-te um destacamento enigmático, como se toda a gente se devesse vergar à tua passagem, a nítida Auto-intitulação de Deus, o Todo poderoso, à prova de tudo e de todos.
Como a vida te enganou . . . Ainda não vês o grupo de abutres que te chamam, te querem para satisfação das suas pérfidas necessidades que ignorantemente alimentas.
Ainda tens asas e ainda podes voar, ainda estás a tempo, porque podes escolher, ainda podes abrir os olhos e escolher em consciência, mas isso ainda é demasiado pesado para ti, não é?
Sabes o que são abutres?
Gostas das penas dos abutres?
Mas sabes que as penas das águias são mais lustrosas e destacam-se mais!
Sabes do que eles se alimentam?
Gostas do sabor do putrefacto ou recente moribundo?
Ou nunca conheceste o verdadeiro sabor das coisas?
Ainda não mudaste para as penas definitivas, cuidado, ainda não sabes que pássaro és e muito menos em que mundo vives.
Tens o encanto dos jovens aprendizes, a traquinice de quem a vida ainda lhe providencia tudo, sem necessidade de mexer um dedo para que as suas necessidades sejam satisfeitas. A vida ainda é branda contigo e fá-lo para que possas aprender o máximo com o mínimo de mácula, mas só tu ainda não viste isso. A vida ainda está a brincar com a tua vida, porque ainda és um menino, mas cuidado, a vida é matreira e sabe mais que tu!
Sabes que até as águias mais experientes têm dificuldades e são bem mais poderosos que os abutres, mas ainda estás a tempo de perceber se queres transformar-te numa águia ou num abutre.
Os passarinhos que querem ir mais além não se querem misturar com abutres e tu ainda és um passarinho tonto, que se ilude com a arrogância e teimosia de quem se acha grande sabedor do que, na realidade, desconhece em todos os seus ângulos reais; falta-te tanto dentro de ti, ainda estás tão verde, apesar de teres o melhor que a vida nos dá de graça . . . a frescura da juventude!
Os abutres são encantadores animais, no que seja possível encontrar de encantador, quando não conhecemos os verdadeiros e majestosos pássaros dos céus!
Sabes que se te ferires serás a vítima perfeita de quem segues, a sua carne predileta. O cheiro do teu sangue enlouquece-os, transformando-os em impiedosos vampiros. Os abutres não conhecem ou reconhecem amigos, conhecidos, passarinhos . . . e olha que ainda és passarinho.  
Porque queres perder o teu encanto por tão pouco ou simplesmente perdê-lo?
Achas-te eterno e que a vida nada pode fazer contra ti?
Cuidado, podes afogar-te na tua própria imagem . . . Cuidado.
Sabes, não sei muito, também eu ainda estou a crescer e não é fácil crescer, ainda eu tenho dúvidas e incertezas, também eu ainda faço muitas perguntas sem resposta, mas esta é a minha opção, querer continuar a crescer, continuar a aprender, mesmo que a vida nos obrigue ao desprendimento . . . e o que custa o desprendimento . . . mas como te disse, foi a minha escolha, faz tudo parte de um processo e é assim que a vida funciona, é tudo parte de um processo, mesmo que possas escolher o que quer que seja, para teu bem ou para teu mal.
Não sei se estas palavras alguma vez chegarão a ti através de mim, mas o que é certo é que elas chegarão a ti, isso é um facto inevitável, mesmo que o seu caminho não seja o mais direto.
Estás na mesma e não sabes do que falo, mas sabes, aqui quem é Deus sou eu, as palavras são minhas obreiras e eu apenas as acordo, devolvendo-lhes a vontade de a ti chegar. Elas há muito aguardavam sair do seu pouso para fazerem o sabem fazer no seu melhor, assim como saberão quando deverão chegar a ti e mesmo que o tempo demore a sua chegada, sabem o efeito que terão em ti e aí terei cumprido parte da minha missão.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Não é preciso muito para me deixar ir no caminho de todos os caminhos

Não é preciso muito, apenas o suficiente para me fazer voar, largar tudo para trás das costas e seguir em frente, ou mesmo de pés no chão, descalça ou não.
Não é preciso muito para eu deixar tudo para trás, como se tudo fosse apenas o que está para lá da minha frente, para lá do horizonte que sigo com fé cega, surda e muda ao que atrás deixo.
Não é preciso muito, basta eu querer e tudo já terá passado, terá sido esquecido, enquanto eu deixar que seja esquecido.
Tudo o que me basta está para lá da minha frente, brilha com um brilho tal e tão brilhante que o Sol é uma mancha branca reluzente em meia lua sobre o horizonte. Não é manhã, não é tarde, nem é meio dia, é apenas a mancha em forma de meia lua que ocupa o pôr do Sol, é apenas a mancha que me ilumina e não me encandeia, é apenas o que me ilumina, apenas isso e nada mais que isso.
Basta o soar da coisa certa, basta sentir a frescura no ar que vem, talvez de algum mar de alguma costa à beira qualquer outro mar que não o meu mar, mas vem de um mar, oceano, Via Láctea, que vem de onde vem . . .
Não é preciso muito, basta inalar o cheiro a mar, a cálido que vem do mar que banha uma costa à beira de um mar . . .
É ser-se fácil e facilmente tudo se deixa para trás para ir abraçar o que está para lá de lá, ou de Bagdade, não interessa, está para o lado de lá e tudo se altera para deixar para trás o que tem que ficar para trás e deixar fazer-se ouvir o vento cálido que ondula no cabelo ondulado pelo sal do mar salgado.
É tão fácil desprender do que deixo para trás, apenas porque me hipnotiza o que me puxa para a frente, o que me embala.
Passo a passo sem ter medo, um pé segue o outro, o chão transforma-se em areia e tão fácil de pisar, apenas porque sigo a brisa que vem do horizonte, como um íman que puxa na sua cadência certa, dando tempo ao corpo de se habituar ao todo que o abraça como novo.
Deixo para trás o que me prendia ao que não quer ser largado, deixado para trás, mas deixo de vez, para não mais voltar, porque já não há espaço para mim onde eu deixo para trás.
É o caminho do não retorno, do que quando se olha para trás já nada lá está, porque pereceu, murchou, secou e deixou de ser de vez. É o caminho dos caminhos, de todos os caminhos. É como uma maré que tudo leva, deixando-te caminhar sobre a água, porque és leve como as penas da gaivota, porque deixaste todo o teu peso lá atrás, porque te tornaste realmente leve, mais leve que a espuma das ondas do mar, apenas porque despertaste e o teu momento chegou, mais forte que nunca como se tudo te tivesse deixado apenas o necessário, apenas o que deves levar contigo, apenas o que não tem peso, não pesa no corpo ou na alma, é apenas o que é no que tem que ser, é apenas o que tem que ser.
Assim me deixo ir no caminho dos caminhos, no caminho de todos os caminhos, o caminho dos caminhos onde eu posso, feliz, caminhar, é o caminho do presente que é futuro e doce passado e o passado deixa de ser passado, é o caminho de todos os caminhos o caminho sem passado, presente ou futuro, apenas um presente do presente em todo o futuro.

Estar preso nos vazios

É como estar preso no vazio. As coisas acontecem sem acontecer na realidade. Perde-se a parte melhor de tudo, essa fica para a fantasia que se enche de imagens que só ela toca, só ela sente, só ela se diverte e delicia com todo o conteúdo do que a mente congemina. É sempre o vazio reinante nas mãos, na pele, em tudo o que mexe . . .
É como estar enfiado num escafandro dentro do próprio navio que se afunda lenta e desnecessariamente. As imagens ainda são mais distorcidas à medida que o navio afunda. Não se ouve, mesmo que se grite, mesmo que se faça tudo, o navio continua no seu caminho em direção ao fundo do abismo.
Tudo está a acontecer na mente, entre alguns neurónios que nada mais podem fazer que não seja trabalhar para manter o corpo vivo.
Está tudo no sítio errado, mesmo que nascido no momento certo, mesmo que feito a coisa errada e a certa, mesmo que tudo tenha acontecido, mesmo que nada haja para haver . . . mas está tudo no sítio errado.
É a coisa errada a tocar nos sítios errados, a mover o que não é suposto mover porque é errado que mova, porque não está certo ser assim . . . mas sabe tão bem . . .
Não há nada que seja palpável e tocável, que seja manejável, porque é mais do mesmo de sempre, do sempre proibido . . .
Não se toca, apenas aprecia-se e pronto . . . aprecia-se.
Numa escada alguém desce, noutra alguém sobe . . . tal com o na vida carregada de escadas que rolam umas sobre as outras, umas descem outras sobem, numas somos levados para baixo, porque talvez tenhamos que passar por lá para se chegar a algum lado, noutras somos levados a subir porque o que nos faz falta está lá no alto, mas temos sempre que passar pelas escadas que sobem e pelas outras que descem se faz parte do nosso percurso . . .
De repente, em alguns desses momentos cruzamos-nos uns com os outros, os que gostávamos de querer, outros que gostávamos que nos quisessem, outros até que nos são indiferentes, mas que é bom que assim o sejam.
Também existem as retas, os caminhos retos que nos levam às pessoas retas com os pés no chão, às pessoas que nos marcam sempre o coração e nos dão coragem para sermos o que somos, o que queremos e temos orgulho de ser, as que nos libertam da prisão dos vazios, que nos libertam das nossas próprias amarras, há as que nos fazem pensar e sair de dentro do escafandro para retomar o comando do navio, as que nos fazem entender a razão de ser melhor usar o escafandro para o propósito certo.
Há muitas escadas, retas e curvas nas quais temos que ir devagar para não nos deixarmos apanhar desprevinidamente . . . mas
O vazio em algum espaço dentro de nós se aloja e de vez em quando vem à tona da água, vem ao de cimo para nos lembrar que ainda não completámos a nossa tarefa, que algo ficou a meio, que ainda nos falta preencher qualquer coisa que ainda não percebemos bem o que é, até que começamos a levantar o véu e a ver os encadeamentos e os seus emaranhados. Está tudo ligado e como a dor, o vazio é sinal de que alguma coisa ainda está incompleta, que falta corrigir, que falta colocar na ordem, porque vem de dentro e só está dentro e nunca fora! . . . Nunca fora!!!
Continuarás a sentir vazio se não encaixares as peças nos sítios certos. Podes recolher o melhor nectar das flores onde poisas, podes recolher o melhor mel dos melhores favos, podes colher os melhores frutos das melhores árvores, se não deres o melhor e mais adequado uso, perpetuas os vazios e tal como qualquer coisa orgânica, a seu tempo perde o seu propósito, porque é colocado num baú, fica esquecido e apodrece desaparecendo. Carregarás mais vazio contigo e quando algo te passar pela tua frente sentirás esse vazio entre ti e esse algo, porque não deste o devido uso ao que de melhor colheste ou recolheste. Por isso ficas preso aos vazios, à falta de realidade, ao que querias que fosse e não é, ao que podia ser e não está a ser, por isso é que as escadas que sobem e as que descem te deixam sem perceber o seu propósito e para onde vais, por isso é melhor agarrares-te ao que já ganhaste e melhor uso lhe dares, para não te perderes e voltares a ficar preso nos teus vazios.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O que parece que és . . .

Serás mesmo o que pareces?
Pareces ter cara de anjo, mas serás um anjo?
Pareces ter muita coisa a borbulhar dentro de ti, um espírito livre, cheio de leveza e vontade. Será que és?
Será que és mesmo o que pareces ou apenas pareces?
Serás mais um engano da Natureza na escolha da capa?
Dizem que a Natureza é perfeita, mas a nossa não. A nossa tem muitas influências de muita coisa que se desconhece, mesmo que aparentemente todos tenhamos, supostamente, braços pernas, mãos. Na nossa Natureza tudo parece alguma coisa.
Tudo parece alguma coisa, felinos, ágeis e velozes, taurinos e imponentes capazes de derrubar o Grand Canyon num movimento de braços, outros parecem meros bichinhos curiosos e fazem barulhos e alarido com tão pouco ou quase nada e tantos outros que parecem tantos outros.
A nossa Natureza de vez em quando surpreende-nos, mesmo com as mais simples coisas, apenas com os pormenores que fazem toda a diferença.
Será que és mesmo ou apenas pareces?
E o que pareces?
Aos meus olhos não pareces, nem taurino nem felino, muito menos um daqueles bichinhos curiosos que fazem alarido por tão pouco, pareces mais alguém que chega, olha o que tem à volta e delicia-se com o que não conhece, apenas porque é diferente. Pareces alguém com uma curiosidade infinita, aberto ao mundo, disposto a agarrar tudo o que puder com o corpo e com a alma, pareces mais um visitante que nasceu apenas para ser um passageiro que corre o mundo à busca do mundo. Pareces um anjo que vem apenas de passagem.
Provavelmente estarei a ver apenas o que a tua beleza diz, mas apenas a beleza.
Quais serão as tuas desvirtudes?
Como é o teu lado menos virtuoso, aquele que ninguém quer se atrever a procurar, aquele que todas as pessoas fazem de conta que não existe só para não estragar a pintura?
És mesmo o que pareces ou colocas uma fotografia estilo isco para congeminares teorias sobre o comportamento digital?
Imagino o teu lado negro . . . Tens uma voz fina, doce, falas com as pausas certas nos momentos certos, sabes a palavra certa a cada momento que abres a boca, a contar com o que antecipas. Sorriso de lado e olhas nos olhos fixamente para dentro do fundo da alma. Dizes a coisa certa na hora certa. Isso é perigoso.
Estás a ver?
Já te encontrei um defeito . . . és perigoso.
O que pareces tem o seu oposto e o teu oposto é oposto do oposto . . . inevitavelmente!
 . . . mas podias ser do género que não mente, mas não diz o que realmente é, apenas faz pensar para não dizer uma mentira ou a verdade. Fazer pensar não é mentir, fazer alguém chegar ao que tem que chegar por si mesma, não é mentir, mesmo que omita, é apenas fazer pensar.
Humm . . . gostas de fazer pensar, diverte-te ver o pensamento de alguém a bulir, os balõezinhos carregados de pensamentos e pontos de interrogação e exclamações. Diverte-te  . . . e muito!
Nos teus recantos confortáveis gostas de soltar a tua imaginação, deixá-la ir para longe e deleitares-te ao sabor das viagens que fazes com a tua mente, a imaginar os contornes das coisas . . . mas viajas enquanto brincas com o lápis entre os dedos, recostas-te para trás e és tu agora quem enche os balõezinhos de pensamentos, interrogações e exclamações. Ouves uma música tocada em acordeon e dás asas à tua fértil e viajada imaginação.
Ainda conservas alguma pureza no teu coração venturoso?
Gosto de acreditar que sim, que preferes pouco, mas verdadeiro, ao muito do banal; que preferes o silêncio e colorido da Natureza; que preferes as conversas entre o vento as árvores e as da brisa com as ondas do mar ao barulho das pessoas que lamentam por lamentar; que preferes o barulho das crianças e as suas algazarras num campo aberto ou numa rua que os passos agitados de quem procura o que nunca conseguirá. Gosto de pensar que és assim, que preferes o que tem substância ou que está em crescimento, que o que nada faz para mudar. Prefiro pensar um sem número de coisas, tantas quantas a minha imaginação permitir.
Prefiro pensar que sabes apreciar uma flor, no que ela pode representar, ou mesmo pela sua beleza, simplicidade perfeita, assim como te imagino . . . simplicidade perfeita.
Imagino que preferes o som da corda de uma guitarra, da tecla de um piano de cauda, do assobio de um petiz, o som dos grilos na noite de Verão, o som do estalar da madeira numa pequena fogueira à beira-mar.
Prefiro imaginar que não gostas que te achem bonito e que cada pessoa que te vê dessa forma te irrita profundamente, porque imaginas que essa pessoa não se aproximaria de ti se fosses feio, corcunda e não tivesses dentes. Irrita-te a superficialidade, a frivolidade, o falar por falar sem que se tenha nada para dizer. Quem te aprecia a beleza não sabe que te apaixonas pela beleza de um sorriso puro, sincero, pela beleza de um olhar tímido, pelo que te deixa querer conquistar. Quem se derrete com a tua beleza aparente não sabe que queres que te vejam e respeitem enquanto pessoa que está por dentro das roupas que um dia deixaram de ser tão belas, enquanto o que faz com que o falar surja, que o pensar acorde, mesmo que sejas tão pecador como os outros pecadores, mesmo que sintas tanto desejo e fervor nas veias como de qualquer outra pessoa no êxtase.
O que queres é demasiado especial, até mesmo que seja uma passagem, tem que ser especial, única, nada que fique atrás do excelso ou quase perfeito, porque é o perfeito ou quase perfeito seja em que forma for.
És um raio de Sol e só de vez em quando te deixas reparar em ti, só nos de vez em quando da vida, já que tanta beleza te foi dada, mas sabes que não és o único, que há mais quem queira ser amado, desejado e apreciado da mesma forma que tu.
És um puro, mesmo com desvirtudes, mesmo que grites que tens defeitos, os raios de Sol que brotam de ti ofuscam-os.
É o que pareces. É parte de um tudo que pareces. Prefiro enaltecer o lado bom do que pareces, o lado belo que o mundo precisa. Se não o puderes ser, ao menos lembra-te que poderias ser se assim o quisesses, mas sempre e só se o quisesses.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Vou esperar mesmo que continue no meu caminho . . . eu vou esperar . . .

"Façam de conta que não estou aqui.
O que me trouxe aqui não importa, só a mim me importa o que me trouxe. Apenas me trouxe, porque era só comigo que queria estar.
Alguém me disse que as pegadas que acompanham as minhas que eram de Alguém . . . mas eu só vejo as minhas. Quem deixa as pegadas tem que existir e eu não vi aqui ninguém.
Vejo que as pegadas que deixo para trás são apagadas pelas ondas do mar e não as outras pegadas. Porquê?
Será que a passagem dos outros foi mais marcante que a minha?
Serão os outros melhores caminhantes que eu?
Estavam eles tão sozinhos como eu?
Não sei . . .
O areal é extenso e o Sol já se está a despedir, mas eu ainda estou aqui . . . O Sol parte, mas eu fico . . . ou sou eu quem parte e o Sol fica no mesmo lugar onde sempre esteve?
Serei eu quem o abandona ou é ele que se vai embora?
O Sol não sabe, mas eu vou onde ele estiver . . . em todo o lado!
Já te vais?
Eu ainda estou aqui e ainda não falámos tudo, mas ok, eu compreendo, está na tua hora e eu estou quase decidido. Vou ficar mais um pouquinho se não te importas, ainda estão reflexos da tua passagem a iluminar o que resta do dia.".
A noite chegou e com ela o frio. Pegou nas chaves do carro, entrou nele e ligou a ignição com o rádio bem alto como a velocidade a que descolara o veículo. Não andou depressa . . . voou e só a nuvem de poeira baixou devagar.
Amanheceu o Sol de Outono, como em mais nenhum Outono, no palco onde todas as mágoas são levadas pelas ondas do mar e outras pegadas na areia prometiam ficar.
"Ele esteve cá . . . reconheço as suas passadas. Estava triste. Ainda pensa no assunto, mas o que posso eu fazer?
Foi ele quem decidiu!
Eu também vim deixar as minhas dúvidas e indecisões aqui, entregá-las ao mar e o mar que as leve. Vou ficar à espera que uma gaivota chegue e me sussurre ao ouvido a resposta, o que vai ser o derradeiro, mas não me peçam que decida, porque não, porque não quero, porque não sou capaz!
As escolhas são difíceis e não sou eu quem vai decidir. O dia ainda está longe de terminar. Tenho todo o tempo do mundo, pelo menos hoje . . ."
Como em todas as dúvidas a mais dolorosa ferve . . . O que é que cada um de nós é no outro?
O quê?
Porquê?
"Como a chuva que cai no chão e eu deixo-a cair sobre mim, assim como os raios de Sol que afastam a escuridão e fazem o dia ser dia, os mesmos afastam a  poeira do meu campo de visão.
Será que queres pertencer mesmo ao meu mundo?
Será que queres caber em todos os mais ínfimos espaços, mesmo nos mais longínquos de tudo o que conheces como certo?
Tens coragem de abandonar o teu mundo perfeito para caber no meu mais perfeito para mim e quase intocado por ti?
És capaz de querer abraçar o desconhecido para ti, mas mundo para mim?
És demasiado mimada, não sabes o sabor da aventura, de pegar na mochila e metê-la às costas e não olhar para trás, porque o caminho é em frente, porque o caminho exige mais do coração que do que está dentro da mochila.
O que eu quero não se encaixa no teu real e o teu real não se encaixa na minha vida, mas eu sei que te quero, assim como quero o meu mundo na minha vida, mas não te posso obrigar a escolher entre ti e o teu mundo, entre o que és e o ao que pertences, não é justo.
Eu já fiz a minha escolha e vou seguir-la, vou deixar que as minhas pernas, mãos, cabeça e coração avancem como uma equipa que labuta pelo mesmo, em prol do mesmo, todos cumprindo a sua parte em direção ao destino planeado.
Não te irei criticar, mas não te vou esquecer, não te vou xingar, mesmo que te tenha que perder, não vou jogar pedras no teu nome, mesmo que eu tenha que deixar de o dizer, porque vou estar à distância da tua vontade, à distância do teu mais profundo desejar, seja a distância que for, esteja eu onde estiver e com quem estiver.
Não sei se deva esperar, mas enquanto eu conseguir . . . vou simplesmente esperar, mesmo que no meu caminho continue, eu vou esperar até ao momento em que deixares de desejar.".

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Já não tenho lágrimas . . .

Já não tenho lágrimas que chorem por ti. Já não tenho palavras que falem por ti e para ti. Já partiu quem sorriu, quem te deu o que tinha para dar. Já não existe.
Já não existe fontes de ilusão para te iludir. Iludes-te com nadas que alimentas como se fossem alguma coisa, mas só tu não vês que já nada existe, nada existe!
Tentas forçar as portas e tornas-te digno de pena. Não faças isso a ti mesmo, é triste, é feio e deprimente, não faças isso.
Desceste de um pedestal de curta duração e agora reclamas o teu lugar que já não existe. Não és nada que faça parte de alguma coisa, já nem para qualquer coisa serves. Deixaste de existir, foste-te. Não voltes para reclamar o que achas que tens direito a ter. Só tu o julgas!
Não, não vou estar hoje, amanhã ou quando quiseres, desejares ou sonhares que esteja. Já parti!
O que vês não é mais que um vulto do que antes era alguma coisa, mas já não é nada. Tocas e falas apenas com a tua ilusão de alguma coisa e o vulto o que vê?
O que é que deixas o vulto ver?
Qual das partes de ti é que queres que o vulto veja?
 . . . As partes, essas, as das várias personalidades escolhidas a dedo para encantares quem te prover maior prazer e satisfação das necessidades, para depois deixares junto das escutas ativas, meio embriagadas, dos teus feitos e façanhas.
Já não há lágrimas que chorem por ti, pelo menos que se saiba, sinta ou veja.
Parto sem saudades tuas, sem saudades de nada vindo daí. Parto, livre de ti, sem ti, mas parto.
Aposto que nunca irás esquecer o que procuras, soube-te bem . . . mas o teu prazo de validade expirou, já não cheiras bem, mesmo que o perfume seja o mesmo. A tua pele já não cheira ao mesmo. Metes-me um certo nojo. És quase digno de pena, mesmo que não o vejas, mas é assim, aí te colocaste. Pronto, ok, te coloquei, mas tu é que escolheste esse caminho . . . não fui eu quem te obrigou, apenas te dei um pequeno empurrão . . .
Já não tenho lágrimas que chorem por ti ou até mesmo que queiram chorar. Não olham para ti como se valesses alguma coisa . . . és demasiado egoísta e eu não gosto de ser tocada pelo egoísmo e desprezo pelo prazer do outro. Metes-me nojo com essa atitude de desprezo pela minha vontade e és louco, insano. Perdeste toda a piada. Não sabes que para se tocar a pele tem que se tocar primeiro a alma, mas quando chegaste a ela cuspiste-lhe como se nada fosse; olhaste-a como se ela não existisse porque nada disso te interessa. És a besta que corre pela carne, mas apenas a carne, esqueces que é uma alma que vive dentro do corpo e que o corpo é propriedade dessa alma. Não os podes separar se não os matas e eu não quero morrer. És meio demónio sem piedade, louco sem nexo, não és coisa nem nada que possa definir para além da forma que assumes. Não tens nada dentro de ti, és vazio e enches com tantas personalidades quantas as tuas necessidades, mas dentro de ti não existe mais que um bloco de pedra esculpido de rosto humano, mas não és mais que isso. Por descuido deixas-te ver e gelas a minha visão, coração e movimento de tão tétrico conteúdo. És cheio de morte e eu cheia de vida.
Tu não sabes, mas eu já te vi. És horrível e tenebroso. Quero-te longe de mim, de tudo o que me pertence, quero-te, mas longe, muito longe.
Serviste apenas para o que tinhas que servir, não mais que isso, apenas isso . . . serviste para o que tinhas que servir.
Foi-me oferecida a bênção da tua ida, que eu desejei tanto, tanto como a tua vinda enquanto do teu demónio estava ignorante.
Já não tenho lágrimas que queiram chorar por ti, que não as lágrimas que apenas choram de alegria de te ver partir.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O quanto cresceste e deixaste de ser . . . O quanto já não és e o quanto perdeste

Lembro-me como se fosse ontem. Eras pequenino, lindo, rosto de anjinho, perfeito, um corpinho aparentemente frágil, mas cheio de genica. Gritavas a plenos pulmões o sopro de vida que vinha de dentro de ti. Eras forte sem saberes o que eras.
Lembro-me como se fosse ontem, quando em euforia de criança te peguei mesmo com as minhas mãos frias da água fria de Inverno e inocentes. Eras lindo, um anjinho do céu caído para trazer graça ao mundo. Eras perfeito, assim como todos nós nascemos, perfeitos, puros cheios de inocência e fragilidade aparente.
Eras tu quem eu esperava ansiosamente que fosses, puro e inocente.
Os teus olhos escuros como breu. Brilhantes estrelas reluziam no teu olhar sedento de vida. Eras o amor da vida dos braços de todas as mulheres que sentissem o cheiro inocente da tua pele de ser perfeito e doce. Eras tão lindo, perfeito. Eras tudo que qualquer mulher deseja embalar e entregar aos anjos, no seu abençoado sono, para que nas noites te guardem e nos dias te protejam. Eras o meu anjinho.
O quanto adormeceste, angelicalmente, nos meus alvos braços de criança que tem um brinquedo nos seus braços pequeninos, mas cheios de vontade de abraçar o anjinho.
O quanto te enchi de brincadeiras, o quanto te enchi de miminhos que desejei receber e retribuías sem saber que estavas a dar-me o maior bem, o quanto te adorei como se fosses o meu bebé pequenino.
O quanto desejaste que quem te gerou estivesse onde e quando deveria estar.
O quanto te perdeste por falta do que mais precisaste. Ela não estava lá? Eu sei.
O quanto te sentiste triste quando aquele miminho especial tardava a chegar.
O quanto sofreste quando percebeste que eras diferente de quem foi gerado pelo mesmo ventre.
O quanto deixaste de ser inocente e puro . . . e que coração que seguiu as pisadas erradas.
O quanto cresceste e deixaste de ser. O quanto já não és e o quanto perdeste.  
O quanto preferia que não tivesses deixado que te roubassem o que tinhas de melhor, mas eu não podia fazer as tuas escolhas.
O quanto deixou o teu coração deixou de bater como coração de gente que é gente e passou a bater como de quem pouco ou nada sabe o que é ser, quanto mais gente.
És a prazer de quem não sabe ou não quer ser gente, em prol de vaidades alheias e imagem aparentemente imaculadas, mas cruéis como o vil fel.
Imiscuis-te no meio do vazio para que te sintas belo e maravilhoso, para que te venerem a imagem e enches-te de imagem.
És feliz assim?
Olha que a vida não é o que vives!
Olha que quem te ensina não te dá nada, irá cobrar-te a inocência que te ajudou deitares fora, a pureza de ser gente que escorraçou de ti, a boa vontade e potencial de gente que destruiu em ti. Vais ser cobrado de tudo o que te foi roubado. Prepara-te!
Vais viver uma vida feliz enquanto estiveres com a sorte do teu lado. Quando a vida te obrigar a vê-la, vais ver todas as pedras preciosas sobre as quais cuspiste, longe de ti, a brilharem ao longe e a terem bom uso por quem as soube usar e delas beneficiar.
As pedras preciosas serão o que sempre foram enquanto tiveste inocência e bondade para as veres, enquanto não jogaste tudo a perder do que é mais sagrado e oferecido pela vida.
Também tu foste uma pedra preciosa em todo o seu potencial, em toda a sua verdadeira beleza.
Também tu brilhaste tanto como o sagrado e divino, o que faz as coisas belas serem ainda mais belas.
As pedras preciosas serão sempre pedras preciosas se as souberes usar . . . se não, são mais umas coisas que atrapalham o teu caminho; mas nem tempo deste a ti mesmo para conseguires perceber se eram pedras preciosas ou não . . . jogaste-as para longe e elas estarão sempre lá!
Um dia vais acordar e procurarás novamente pelas pedras preciosas, mesmo que esse acordar não seja na vida presente, mesmo que seja numa qualquer outra vida seguida de outras vidas.
O futuro é uma incógnita com breves pistas de campos em aberto e quem sabe por quantas pedras preciosas passarás e verás.
Quem sabe os olhos com os quais viverás; um dia poderão voltar a deixar-te ver pedras preciosas, se assim o desejares, mas se assim não desejares, aí será sempre uma escolha . . . a escolha será só tua!






sábado, 16 de novembro de 2013

Não me ames tanto

Não me ames tanto. Por favor, não o faças que tenho medo. Ama-me, mas um pouquinho menos.
Por favor, não me ames tanto que ainda quero viver um pouco mais que quem mais não pôde viver.
Não me ames tanto que eu tenho medo, medo de deixar de viver e de deixar de existir.
Faz de conta que não sou ninguém, nem nada que mereça essa dedicação. Isso assusta-me. Não me deixes morrer, não quero. A morte assusta-me.
Tenho medo de ir e não voltar, medo de te deixar, medo de deixar de te ver ou de deixar de estar, mas tenho de ir. Na verdade já não quero ficar, já não me vejo em ti, em mim, em nada.
"Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje . . .", por isso deixa hoje de me amar. Não tenhas medo que não sofro, não vou sofrer mais que o que já sofro por medo de morrer.
Não me ames tanto para que eu possa voltar, para que eu me deixe ir sem falta sentir de aqui estar, mas deixa-me ir sem que sintas tanto amar.
Não me ames tanto para que não sinta tanto a tua falta. Não me ames tanto para que as lágrimas fiquem no seu lugar sossegadas, quietas, porque tenho que ir e mesmo que volte será de passagem.
Por favor, não me ames tanto para que eu não morra, para que eu não seja roubada a ti, mesmo que nada exista a que eu me possa agarrar, mesmo que nada exista dentro do espaço onde existe o meu coração que bate porque tem que bater.
Olha para mim e não me vejas, não encontres nada de belo, de lindo e maravilhoso, nem me mostres isso tão pouco. Não queiras que eu fique, deseja-me a maior distância que alguma vez desejaste a alguém, longe do mundo, mas estando nele, a distância entre astros em diferentes universos, à distância do último astro do último universo.
Não, não assim tanto, um pouco menos, tem ao menos um pouco de saudades minhas, mas só um pouco porque quero existir, não desejes muito que eu longe esteja, não queiras que o mundo faça com que eu não exista.
"- Não sabes o que queres.
- Não, não sei. Estou à espera que me digas.
- Queres e não queres.
- Em especial, não sei, não sei mesmo.
- É já ali e eu juro que não te vou amar assim tanto se não queres.
- Não me ames por mim e por ti que isso mata. Pode matar-me. Tenho medo, mas agora tenho que ir. Tenho que abandonar o mundo, mesmo que esteja nele. Quero sentir-me viva noutro espaço, mesmo que esteja perto, porque enquanto existir, estou sempre perto.".
Vou fugir um pouco para onde não há sombra ou descuido, para onde tudo é novo e tudo é velho, para onde tudo é novo para mim e velho para todos, para onde o ar se respira de maneira diferente, porque jamais aí sou um não sou. Vou para onde me possa esconder de mim, mas onde apenas eu sei onde estou, onde esteja a salvo de mim mesma, vou para longe de mim, para longe do que sou e sempre fui, sabendo onde estou.
Por favor, não me ames tanto para que eu possa voltar a mim, ao meu lar doce lar, mesmo que seja só de passagem, mesmo que volte para longe do que sou ou fui, mas deixa-me ir.
Ao alcance de poucos estarei, como a linguagem dos antigos. Serei lenda viva nos arautos das interrogações e porquês, mas deixa-me ir para não ficar. Se ficar morro e eu não quero morrer.
Jamais poderei voltar a ser o que sou, com capa fria ou quente, com capa ou sem ela, jamais poderei voltar a ser o que sou. Tudo muda, porque tudo mudou, o que fica é o que deixo ficar, porque assim sempre foi e assim sempre ficou.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Porque, porque, porque . . .

Não tenho nada para dizer, mesmo que haja tanto a acontecer.
Não tenho nada para falar, mesmo que haja tanto para dizer,
Não tenho nada que possa ser feito, porque já tudo nasceu e nada tenho a dar
Não tenho mais nada a dizer, está tudo dito.
As palavras estão todas à solta à espera que alguém as reúna e faça algo de novo,
Já foi tudo dito, já foi tudo escrito, tudo pronunciado.
Já nada nasce novo, tudo nasce velho e antes de o ser já o era,
Já nada de novo tenho para dar, mostrar ou fazer, nada se produz.
Já nada tenho para dizer ou a dizer,
Já tudo se sabe, tudo se viu e se não se viu tivesse visto.
Já não há nada de novo, é tudo velho,
Tudo nasce rapidamente e rapidamente o deixa de ser.
As crianças nascem, mas rapidamente deixam de ser crianças,
Os jovens adultos tornam-se adultos velhos enquanto o diabo esfrega um olho,
Num piscar de olhos tudo o que é já era e o que torna a ser já não é como dantes,
Tudo muda e tudo se encerra.
Alguns dizem que se transforma, eu duvido.
Onde está a terra viva onde nasci?
Onde estão os rios e riachos onde os meus pés se refrescaram?
Onde estão os meus risos e os das outras crianças quando faz o Sol da Primavera?
Onde estão as frutas colhidas das árvores e mordidas, mesmo com o bicho, porque as com o bicho são as mais doces?
Onde está o riso puro e inocente das crianças e dos velhos que ainda são crianças?
Onde estão os avós que brincam com os netos nas ruas como se eles próprios ainda fossem crianças?
Onde estão as corridas e trambolhões na areia solta que suja a roupa e trás o corpo cheio de alma?
Onde estão os estendais de lençóis ao vento, içados por um pau alto no chão?
Onde está o cheiro a roupa lavada no tanque e branqueada ao Sol?
Onde está o cheiro a café acabado de fazer e pão acabado de sair do forno numa cozinha acolhedora e iluminada pelo Sol da manhã?
Onde estão as corridas de pés descalços na relva fresca num lindo dia de Sol?
Para onde foi a vida simples e alegre pela sua simplicidade?
Para onde foi a alegria das coisas simples?
Não sei dizer . . .
Para onde foi tudo o que me dava a alegria da pureza e da inocência?
Onde está a alegria e a inocência?
Para onde foi a criança que se alegra por tudo e por nada sem que seja vista como louca?
Os sabedores dizem que só os loucos riem por tudo e por nada . . .
Eu digo, mas riem . . .
Para onde foi o que era antes de ser louca?
Para onde foi tudo o que tinha antes de me ser tirado?
Para onde foi o que era antes de ser a doida, a louca que não sabe o que diz e verborreia sem tino?
Está antes de ter nascido?
Está onde todas as pessoas são o que ainda não são?
Está onde as pessoas olham e tudo vêem?
Ou não está em lado nenhum?
Só sei perguntar, porque respostas não as tenho, por mais respostas que tenha ouvido,
Por mais explicações que a vida dê, não entendo o que tudo é,
Não tenho respostas, não sei, porque de tantos que existem sou a quem menos sabe,
De tanto que se sabe sou quem não sabe nada e aqui ando . . .
Não tenho respostas para dar,
Não sei nada, porque nada é só o que sei,
Porque nada é o que tenho para dizer que possa mudar o mundo,
Porque nada é o que posso fazer para que possa mudar o mundo,
Porque tenho demasiados defeitos para poder ser alguém, sou a escória que abunda,
Porque sou cheia de mim mesma, egocêntrica e petulante, mesquinha, invejosa, preguiçosa, nada quero fazer
Porque sou tudo o que nunca quis ser, mesmo que o quisesse mudar nunca o poderia fazer,
Porque sou um mar de defeitos tão grande, que vergonha tenho de ao espelho me olhar.
Porque não sou diferente de quem aponto ou é apontado o dedo.
Porque quero ser quem não sou ou nunca fui,
Porque sou hipócrita e fingida, falsa e imunda como todo o mundo que desprezo,
Porque sou impura e insana, perversa e controversa quando não me agrada a conversa.
Porque, porque, porque . . .
Sou de tudo um pouco e daqui o que sai nada interessa!


Sorri, 
Sorri sempre de peito aberto, 
Mesmo que futuro se mostre incerto, 
Mesmo que te sintas no meio de um deserto, 
Mas sorri. 

Sorri para ti, sorri para mim, mas sorri, 
Se for caso ri, 
Mas ri bem alto, 
Para que todos te ouçam, 
Mas ri, 
Ri com vontade, com ternura, com sinceridade, 
Mas ri. 

Ri e sorri, nem que seja para não chorar, 
Nem que seja para não julgar, 
Nem que seja para lágrimas parar, 
Mas sempre que a tua alma te deixe, 
Mesmo que o mundo não compreenda porquê, 
Ri, sorri, sorri e ri . . . mas Sorri!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Personagens . . .

Tenho uma coisa para te contar. Não era sobre ti!
Não és o único, nem alguma vez poderás ser. És apenas o que és e vales o que vales. 
Não és o centro das minhas atenções!
Calma! Relaxa o nervo!
Já houve tantos mais!
Tantos que deixaram uma centelha especial, que habitaram o mesmo espaço, nutriram-se da mesma emoção e sentimentos . . . e o quanto sabe bem rever mentalmente, recordar as coisas especiais que marcaram os melhores momentos, momentos especiais, mágicos!
. . . à la gaja o digo: Lindos!
Tantos foram cenário, protagonista, o senhor do enredo e o seu caminho seguiram . . . 
Além do mais não podes ser nada, nem uma coisa nem outra ou coisa alguma. Nem vou pedir para te convenceres disso. 
És algo muito melhor, muito mais interessante dentro de onde estás, és apenas ficção científica, fonte de imaginação, não um objetivo a atingir, algo pretendido . . . Não! . . . Nada disso!
Sei parecer que sim, não sei?
Eu sei . . . Eu sou muita boa nisto!
És apenas mais um personagem que cabe num pedaço de qualquer história, como qualquer outro personagem. Só isso!
Gosto de ver os personagens a acontecerem no mundo. Sustentam as fotografias verbais. Só isso. 
Não te quero!
Se te quisesse, marcava a minha posição, independentemente do mundo, independentemente das suas autorizações, independentemente de convenções, moral ou consciência e avançava em direção ao alvo pretendido sem medo, sem querer saber de mais nada ou de alguém, porque assim eu decidiria. Eu é que mando e decido na minha vontade . . . e eu não avancei!
Apenas roubei-te uns pedacinhos de pele e do teu movimento e colei-os num pedaço de papel para enfeitar o seu vazio. Roubei-te a ti, a ele, a ela, a eles e a elas, aos outros, às outras e a mim mesma, mas as peles e os movimentos são tão comuns, tão de toda a gente, ou não tivéssemos tantos do mesmo!
Não te quero, já te li e voltei a ler. Mas sabe bem ler-te, lê-lo, ler-la, ler-los, ler-las.
Se soubesses o que em ti leio e o quanto aproveito do que li . . . ui!
É tudo apenas parte de partes que compõem um todo, mas só parte do todo, o resto é tudo o que não quero saber, porque não sou Deus, não tenho essa pretensão, a não ser sobre o papel vazio, mas sim, no papel vazio sou Deus, sou eu quem decide quem é o dão e a Eva, o pano de fundo e toda a história ou pedaço dela. No meu mundo pictórico eu sou Deus!
Posso dizer que és um personagem e tanto, mas dos bons, dos que dá gosto ver atuar . . . és como uma enguia na água, é lindo ver-te esquivar no teu meio, tão depressa estás aqui, como ali ou acolá!
Todas as personagens são-no na vida real, na vida imaginária e na vida por criar. Todas são e tu és mais um, mas ainda bem que existes, porque animas, colores a paisagem. O que seria de tudo se tudo fosse um cenário vazio?
O que seria do imaginário se não houvesse o mundo dos personagens, ou será que existiria imaginação sem esse mundo?
Vá, não fiques triste por apenas te julgar mais um. É assim a lei das coisas, para uns somos o tal ou a tal, entes amados e quase venerados, para outros somos apenas mais um personagem, mesmo que com predicados mais rocambolescos, mas é apenas isso, predicados rocambolescos de um personagem.
Talvez seja melhor não mostrares o alívio, pode ser complicado para ti, não por mim, mas . . . guarda-o dentro de ti e respira fundo baixinho. 
Nunca deixes de ser apenas um personagem, porque a tua magia está aí mesmo, é única e se deixares de o ser, nunca mais terás a mesma piada. 

 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Como? Sabes dizer-me?

Como é que se descreve um tango, uma valsa uma canção?
Como se descreve tudo o que se sente numa só voz, num só aceno, num só sibilar de lábios?
Como se afaz esse gesto o adeus, o nunca mais acaba ou o até depois?
Como se faz?
Diz-me, já alguma vez sentiste saudades daquela palavra que nunca ouviste ou pronunciaste?
Nunca te lembras, pois não?
Nunca mais te lembras de sentir saudades do que sentiste sem sentir a mais pequena mágoa, a réstia de mágoa sobejante do nada, das palavras soltas, algumas até quase sagradas. Palavras, isso, ou quase palavras . . .
Ah, em busca do prazer sagrado escondes-te, à procura dos segredos mais sagrados, das loucuras consumadas, das divindades perdidas nos desenlaces românticos, doidivanas andas tu.
Cercas-te das misteriosas promessas de um amor perdido, de coisa nenhuma ou talvez nada, mas escondes-te. Eu sei!
És levada da breca ou com a breca. És, pura e simplesmente és!
És dúvida no meio da certeza, certeza no meio de nada, ou quase nada, nas conversas obscuras, nos medos de nada, no meio de tudo e no meio de nada.
Brincas às conversas de chacha, de coisa nenhuma e finges não dizer nada, mas dizes tudo ou quase nada.
És reservada aos olhos de quem te reserva, és a busca de nada, ou muito de coisa nenhuma, empanturrada, meticulosamente engalanada.
És uma falsa modéstia vinda do nada, de coisa nenhuma ou quase nada, mas és uma pequena falsa modéstia embriagada no meio de todos os nadas, de todos os tudos e aparentemente entusiasta, mas não é nada.
Como é que se descreve uma dança das palavras que se encontram, entretanto, no meio do nada?
Como é que se faz?
Podes explicar?
Como é que as doces palavras que saem da tua boca soam ao amargo do tango, ao fresco da valsa e ao quente da salsa?
Como? Sabes dizer-me?
Diz, mas confessa em tom de cerimónia como se fosses anunciar o par que se segue, o par que rasga a pista na sua discussão acesa e tórrida, cheia de tanto ciúme e ódio, com o xaile do amor que os aquece e jogam no chão para o pisar.
Como se descreve a calma que intervala o intenso e o atiça, o provoca em surdina no cadafalso?
Como eram belas as palavras desse tempo tão longínquo como o agora será em relação ao depois!
Como eram belas essas esperanças tórridas, muito quentes de lábios rubros em bocas em escaldo da espera pela boca ansiada.
Diz e toca-me ao mesmo tempo, como se do teu Deus se tratasse, mas diz a verdade. Sabes como foi?
Sabes como foi nesse tempo em que as palavras ditas suavam mais a tudo o que toda a verdade?
Vê lá se és capaz de adivinhar!
Ai, como era bom estar vivo nesse tempo em que as madrugadas nunca mais acabavam de acontecer, nunca mais era tempo de ir para casa, só os homens sabiam o que era a madrugada . . . só os homens e algumas mulheres . . . vividas, puras . . . santas senhoras da plebe. A esbórnia obscena . . . Conheces alguma santa?
Eu não . . . conheço!
É tudo pura contradição, umas coisas e outras, as mais más e as mais boas, mas tudo sempre em contradição.
Sabes como se dança?
Diz-me como se dança, mas sem dançar, apenas por palavras controversas, outras confusas para que me possa entusiasmar, mas diz-me como se dança e leva-me contigo numa doce dança.
Sabes como se dança?
Eu enlaço-me nos teus cabelos como uma trança. Oh doce dança na tua trança, que me enlaça e balança na dança da tua trança. Oh . . . embala-me!
Sabes como se dança esta dança?
Explica-me e depois balança.

Numa dança . . . um doce balanço enamorado . . .

Recordo-me como se tivesse sido ontem, ou num qualquer sábado passado. Tu numa ponta eu na outra. Os olhares dançavam entre os demais, entre os distraídos da nossa distração. Tu aí eu aqui desta ponta.
Quase um mundo nos afastava, mas só quase, o resto eram conversas no meio a fazer de cenário, a encher o espaço para que ele não se sentisse vazio e sozinho, para que não servisse de vela a iluminar o ambiente que estava tórrido pela sua origem . . .
Eu dirigi-me para a minha direita e tu para a tua esquerda, mas o circulo que nos separava e unia em simultâneo mantinha-se no seu mesmo lugar. Como que um tango, os olhos prometiam o que os passos temiam, mas o contacto estava lá.
Como numa dança, doce deslizámos até ao quase óbvio, até ao quase perto do inspirar profundo.
Como que uma dança, dançámos, nos braços um do outro num balanço de uma valsa num campo aberto de tudo e de todos, mas dançámos.
Como que fosse num sábado passado, num sábado qualquer, dançámos, rodopiámos no nosso imaginário, onde só nós dois dançávamos, nos braços um do outro.
Recordo-me como se tivesse sido num qualquer sábado, de um qualquer mês, de um qualquer ano, mas tanto faz . . . e como dançámos . . .
Rodopiámos e rodopiámos, soltando as gargalhadas cujo eco ficou a ecoar até aqui, até agora, até . . .
Dançámos e rodopiámos, enchemos o salão da luz que havia, da luz que acendemos como por magia e já não mais a luz negra existia.
O nosso salão já paredes não tinha, as árvores que o rodeavam surgiram onde antes havia paredes, o céu estrelado ficou lilás, entrelaçado de rosa e laranja. No nosso átrio de deleite dançante apenas nós existíamos e tudo mais era, ou antes, já não era.
Na nossa valsa em tango ou tango em valsa deixou o chão de existir e os pés moviam-se como se conhecessem a coreografia quase de core.
Vindas do fundo ouviam-se gargalhadas embriagadas. Pouco a pouco, surgiam rostos rosados, outros até mesmo avermelhados, olhos pândegos, cabelos em desalinho, de mãos nas mãos, outros até de braços nos braços partilhavam o mesmo passeio, o mesmo átrio, o recinto da pantomina.
Com os seus chapéus de veludo, mas modestos, todos eram iguais, todos em uníssono na estúrdia, iam chegando aos poucos olhando os outros com o seu mais rasgado sorriso, não existiam os mais e os menos, os muito ou os pouco, os tudo ou os nada, era terra de nadas e de tudos, mas nunca das coisas erradas, das coisas proibidas, porque as coisas proibidas não existiam, só as coisas permitidas.
Deleitados com tal alegria e felicidade, buscámos o que parecesse com um pequeno banco onde pudéssemos descalçar os pés e pisar o que parecesse relva. De mãos dadas, caminhámos até chegar a um ribeiro rebelde que se acalmou para nos jogar levemente os seus salpicos. Sentámos-nos e o ribeiro seguiu o seu caminho, molhando e refrescando os nossos pés.
A moleza chegou e tomou os nossos corpos leves, hipnotizando vagarosamente e adormecemos sem nos darmos conta.
De regresso estávamos, quase num acordar lento e estranho. Onde estávamos? Ou, onde estávamos novamente?
Olhámos em volta e não mais víamos as árvores ou o céu lilás entrelaçado no laranja e rosa, o corpo pesava e já não víamos os rostos alegres e felizes, as gargalhadas já não soavam a folia livre de tudo e de nada, do muito e do pouco, de todas as coisas erradas e das coisas proibidas.
O nosso olhar encontrou-se no meio do espaço e os nossos lábios sorriram. Outros sorrisos surgiram escondidos atrás do segredo, como que membros de uma sociedade secreta descoberta apenas por alguns, apenas pelos que fazem parte, apenas pelos que conseguiram lá chegar e sentir o que é verdadeiro, livre, sem recriminação, culpa ou pecado, desprendido das convenções e tão puro como a verdadeira alegria e pura natureza.
A dupla continuou no seu baile. Eu aqui e tu ali. Contornaste à direita e eu à esquerda do recinto. Os nossos olhares encontraram-se ao centro e continuaram a dançar a valsa em segredo, embalando a promessa do que chama a boca no seu doce embalar.
A noite seguiu e continuou a seguir na sua própria folia, no seu próprio suspiro, até os copos vazarem, até os sorrisos se rasgarem e exprimir os sorrisos que de novo apagam o tudo, antes de chegar a despedida longa e demorada, num olhar enamorado pelo outro olhar, prometendo um até depois, sem saber do se sim ou do se não quase nervoso, na espetativa do "será que . . . " e os seus rostos expressam o não sei, acompanhado de um suave e doce encolher de ombros. Um pensa e o outro também. Querem mais, mas alimentam a ilusão do "será que?".
Cada um segue o seu caminho em direção à sua vida, a real, a que os trouxe até ali, olhando para trás, de vez em quando, na tentativa de prolongar o momento, até que os rostos se apagam no meio do nada onde aconteceu o "onde" não existiam os mais e os menos, os muito ou os pouco, os tudo ou os nada, era terra de nadas e de tudos, mas nunca das coisas erradas, das coisas proibidas, porque as coisas proibidas não existiam, só as coisas permitidas, um quase tudo, porque muito mais ficara prometido.

domingo, 3 de novembro de 2013

Um Pequeno Raspanete

Olha, manda mais postais, mas daqueles que dizem alguma coisa, alguma coisa útil, estilo, "Olá, estás boa?
Está tudo a andar ou quê?
Eu por aqui estou a atravessar uma coisa estranha, nova, pelo menos para mim. Custa como o caraças, mas a malta dá a volta a isto. Está um bocado difícil de aguentar o barco . . . não me lembro de sentir tanta vontade de gritar, mas a malta verga este empecilho!".
Olha e que tal perceberes que o mundo está a mudar?
Este mundo está a mudar, de facto . . . e por exemplo, eu não consigo caber nele, porque sou grande demais para mundos pequenos, disso eu tenho consciência, por isso mudo-me para um onde eu tenha espaço, um onde tenha coisas menos más ou pelo menos menos miseráveis.
"Ai o cão . . . o gato . . . o periquito . . . eu não sou capaz . . . e é difícil . . . e eu não quero . . .!"
Ya, ok, boa!
Ah, esqueci-me de dizer-te, isso é estilo 100% das pessoas em tanta coisa na vida, amiga . . .
Deixa-me que te diga, mas é normal e tu não és nada de extraordinário!
Bem-vinda ao mundo das pessoas com problemas, das pessoas que têm problemas, porque são pessoas, porque onde há mais que uma pessoa há diferenças e incompatibilidades, já para não falar dos curto-circuitos na cabeça de cada uma delas devido às suas limitações de seres imperfeitos!
As pessoas são duras, difíceis e não te fazem as vontades?
Ficam irritadas quando passas todos os limites e vais por aí a fora sem rédeas, como um cavalo selvagem em campo aberto? . . . mas no teu caso é mais o género bulldozer destravado numa descida que leva tudo à frente, boca destravada, sem filtro do que sai sem ver o que tem ou está à frente!
"Eu digo o que penso!!!". Eu também, amiga . . . mas há que saber o que deve ser dito, a quem, onde, como, em que contexto, circunstância, em que estado . . . Ah! e antes de dares opiniões olha para o teu estado . . . respeito as opiniões sóbrias seja no que for, agradem-me ou não, mas sóbrias!
Lembro-te, já passas dos trinta e tal, isto para ser simpática e não revelar os "enta"!
Ups, chibei-me!
Epah! "enta"!?
Epah . . . amiga, ou miga, como preferes que te trate?
Honestidade e franqueza nada têm a ver com dividir para reinar!
Criar discórdia para ser o centro das atenções não é, de forma alguma, o ponto da coisa . . .
Vais acabar sozinha! . . . Nem gajo, nem amigas, nem amigos, quanto mais mártires para te aturar!
Sabes, estou cheia de pessoas para fazer número. Já estou noutra. Comigo . . . esquece, já dei para esse peditório e não compensou nem recompensou!
Parecias daquelas pessoas ao estilo do pão-pão queijo-queijo. Gosto de gente assim, verdadeira, franca., mas só até mostrarem o grau do não presta e há coisas que não bate a bota com a perdigota. Ou és mais um daqueles casos que tem uma personalidade em função das tuas necessidades em relação aos outros?
Ah, ok . . . tens necessidades e dependências das quais não te queres livrar para jogar. As pessoas são peões num tabuleiro de xadrez?
Cuidado! Muito cuidado!
Vais continuar a agir como se todos tivessem que te satisfazer as vontades ou que tivessem de ser tuas amas de companhia?
Não o faças. Eu já esgotei o meu saco. Passaste os limites e mentiras, minha cara . . . Intrigas, caríssima?
Desculpa, bateste à porta errada!
Os amigos são a família que escolhemos e também me chateio com eles, solto-lhes os cães quando é preciso e resolve-se, vou frisar, resolve-se as fronteiras a não serem trespassadas e isto porque são pessoas amigas. Só as pessoas amigas sabem reconhecer as falhas e pedir desculpa!
Tem coragem para te olhares ao espelho e ver que o teu umbigo está cheio de cotão e transborda, olha para ti mesma!!!
Vá!!! Faz isso se tiveres tanta coragem como quando tens a língua destravada!
Então já olhaste? Não gostas do que vês?
Temos pena!!!
Já és crescidinha, sabias?
Deixa-te de merdas fúteis e vazias que já nem piada têm!
Olha a minha máscara caiu, afinal sou mais uma com máscaras, mas para filtrar o ar que respiro, e já não alinho nessa miscelânea de coisa nenhuma!
Deste-me a oportunidade de reforçar com tudo o que definitivamente não é para mim, mesmo!
Obrigado, esta agradeço-te mesmo. Desculpa não alimentar mais esse teu lado sórdido, mas não dá porque não quero, mesmo.
Mais uma vez, é um pouco mais de alguns sempre o mesmo!
É irónico como tudo se repete. Vezes e vezes sem conta, é por haver muito do mesmo ou é até aprender a ver o que está à minha frente?
Com caras diferentes, quadrantes diferentes, caminhos percorridos diferentes, mas no mesmo conjunto de cores, a mesma pintura, a mesma paleta de cores com as quais não consigo pintar o mais belo quadro, seja de dia, de noite, nascer do sol ou sol posto.
Destino ou teste? Quantas vezes chumbei no teste?
Chego à conclusão que boa parte disto tudo, das relações entre pessoas, são aparências que se dão bem com aparências, umas melhor construídas e fortes que outras, mas quando alguém decide tirar a máscara, ou a deixa cair por descuido, a coisa não corre bem, porque afinal não gostamos mesmo de pessoas, ou de algumas pessoas.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A guerra ainda não terminou . . . eu ainda estou aqui!

No Céu canta-se a vitória sobre os abutres, sobre os corvos e sobre todos os engodos. Os sedentos de misérias humanas, esventradores de podres recuaram aos seus covis, à sua bruma, ao seu próprio lixo, o qual não suportam, estão fartos. Querem lixo novo para alindar a sua lixeira. Remodelam a casa com lixo em vez de construir a própria vida, porque foram feitos para ser assim . . . ou não!
No Céu canta-se a vitória sobre o podre, sobre o mesquinho e doentio, sobre o esgravatar no lodo, na lama, sobre a perfídia disfarçada do "tão bonzinho que eu sou!".
O "bonzinho" faz birra, amua, faz beicinho para de seguida serrar os dentes num acesso de raiva por não conseguir o seu adorado fel, o visco dos pobrezinhos de espírito cheios de santidade.
O "santinho" consome-se por dentro, grita e vocifera o grito dos seus demónios, que o esmurram com tal violência, que o seu corpo transpira do esforço da contenção.
O "santinho", anjo dissimulado sofre . . .já não pode manter a má representação do péssimo personagem mal construído. É uma busca, quase amadora e sem qualidade, de ser um bom samaritano das boas causas.
"Mas ele é boa pessoa!", pensava quem tem dó de todas as criaturas boas à face do planeta, dó de todos os olhos doces de pupilas abertas carentes de mimo. Mas, ups! . . . Dó, mas é de mim que não mereço estes andarilhos pegajosos que procuram alimentar as suas dependências.
Não sou santa nem perfeita, não sou anjinho ou tenho pretensão a isso. Por favor, deixem-me ter os meus defeitos e aprender com eles, não me alimentes o que tenho de pior, não quero ser como tu!
Já reparaste que te meteste na pior situação?
Fizeste-me refletir a tua pior imagem!
"És má!!! Ruim!!! Falsa!!! Já não gosto de ti!!!!
Eu só queria dar-te o que tenho de melhor. Tudo o que sou. Mostrar-te o que sou, o meu ser. Queria apenas mostrar-te como te compreendo, que sei o que sentes e como sentes!
Queria mostrar-te que também já passei o mesmo que tu e eu só queria o bem às pessoas, eu só queria que soubesses que eu só queria fazer o bem a quem estava do meu lado".
Mas quem és tu para achares que o que achas que é o melhor para ti é o melhor para as outras pessoas?
E que tal aprenderes a observar, a estar atento?
Olha por exemplo, eu sou cheia de mim mesma, tenho um umbigo do tamanho do mundo e um ego . . . Meu Deus! . . . mesquinha, esquisita, estranha, mau feitio por detrás de carinha de anjo e de tanta bondade, mas sou terrível . . . sou mais uma armadilha andante e tu pisaste o risco, repisaste, mesmo depois de todos os avisos e voltaste a pisar, a arrastar a conversa mole, chata de coitadinho bonzinho, "eu fiz . . . eu aconteci . . . eu isto . . . eu aquilo . . . eu . . . eu . . . eu sou tão bonzinho!!!".
Olha lá pah!? . . . Mas . . . Quem pensas tu que és???
Obrigado pelo "estou contigo amiga . . .", obrigado mesmo! . . . mas soas a falso, a inconsistente, a falta de personalidade, porque ninguém é assim tão bonzinho!
Cuidado!
Acabou. O animal feroz já não se alimenta da desgraça alheia. Fim da gula.
No Céu canta-se vitória sobre mais uma batalha com abutres. Foram arrancadas as capas de anjinhos ao "coitado de mim que sente necessidade de deitar lixo porta fora", pior ainda, na porta errada!
 . . . Mas guerra ainda não terminou . . . eu ainda estou aqui!
 
 

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Não me ligues, porque se não eu atendo . . .

Não posso falar contigo, pelo menos muitas vezes. Não vês que me magoa?
Não posso falar contigo tantas vezes quantas eu gostava. Não vês que quero por demais?
Não posso atender-te quando me ligas. Não vês que quero atender, mas não posso, porque quero por demais estar como não queres estar?
Não me ligues se não atendo, não porque não queira, mas sim porque quero e muito.
Não me perguntes o porquê, porque não quero responder, não quero ouvir o que me podes dizer e eu não quero chorar, não aguento ouvir o que não queres que eu queira.
Como as flores, eu vejo-te como uma flor bela, eufórica, criança cheia de frescura, que ainda não encontrou o seu lugar.
Andas na eterna procura de ti mesma e quando te pedem colinho cruzas os braços como uma gaiata travessa, baixas o queixo, franzes os sobrolhos e apertas os lábios um no outro contrariada, porque te pedem o que não queres dar. Ficas tão linda assim!
És linda e por mais feia que te queiras fazer, és e serás sempre linda, com o teu ar carregado de inocência, quase púbere, no corpo de uma mulher feita, mais ainda, perfeita.
Não me ligues que eu atendo. Não quero falar contigo para não ter vontade do que não posso ter, do que quero possuir como minha, como só tu saberias ser, apenas minha, nada mais que minha.
Não me ligues, olha que eu atendo e não vou saber o que dizer, apenas pensar o quanto te amo, o quanto ainda te quero e o quanto te quero esquecer. Por favor, não me ligues.
Olha, faz de conta que parti, que fui para muito longe e agora não posso falar contigo. Faz de conta que conheci o amor da minha vida e que deixei de estar neste quadrante à tua espera, que já não tens acesso ao que adoro que tenhas acesso. Esquece ou faz de conta que te esqueceste do meio de chegares até mim, que o perdeste em mais uma das tuas infindáveis viagens ao outro lado do Universo, ou nesses mundos meio ensandecidos onde te deixas perder de vez em quando, esses que não entendo o que lá vais fazer.
Não posso falar contigo, por favor, não entres de novo na minha vida. Deixa-me estar. Agora estou bem. Aqui estou bem. Deixa-me estar.
Lembras-te do quanto encontrámos a solução para a fome no mundo, para a falta de honestidade, para a corrupção e para o fim das guerras?
Lembras-te do como sonhámos viver num mundo perfeito e como o tornaríamos perfeito?
Pois, eu lembro-me e bem, todos os dias, porque todos os dias te vejo. Não me deixas não ver-te. Não deixas que eu te torne um ser que me é indiferente, que não desejo, mas estás sempre aqui, umas vezes lá, outras ali.
Bolas! Porque é que tens que ser assim, bela, perfeita?
Pelo menos para mim és. És tudo o que não posso ter, tudo o que nunca deixei de querer e lembro-me de tudo isto vezes e vezes sem conta até todos os meus adormeceres. És verdadeiramente bela, em toda a tua essência, em todas as tuas formas, com elas ou sem elas . . . as formas!
És mais que tudo o que desejo, musa, tusa, tela onde pinto o que sinto em guache, pastel ou aguarela.
És tudo, muito, pouco ou nada, mas és sempre e para sempre bela, na minha pintura, música ou sobre a minha pele em forma de farpela.





É da época do ano . . . é do Outono!

Traí-me, não percebi o porquê, mas é o que me apetece. É da época do ano, as folhas estão a cair, o pôr do Sol chama dois braços para abraçar, as cores chamam o olhar, o ar pede que o cheire, as nuvens que dão vida ao laranja do fim de tarde e fazem-no ainda mais belo, os impossíveis tornam-se maravilhosos e os possíveis banais.
Traí-me. Não sei se por bem, se por mal, mas traí-me.
Tu és o errado, o impossível, o que ficará apenas nos sonhos, na imaginação, nas eternas aventuras que nunca irão acontecer, as mãos dadas que não se darão, os lábios que nunca se encontrarão, a pedra em que tropeçarei para te encontrar, que estará no caminho para eu tropeçar, mas lá não te irei encontrar.
Venci por momentos, mas perdi a guerra. Agora, sou eu quem o diz, mesmo que nunca tenhas percebido que eu estava em guerra, em guerra comigo, por coisas insignificantes, coisas sem sentido ou valor algum, porque tu não significas nada, mas eras o insignificante que me apetecia que significasse alguma coisa. Tens não sei o quê ou o "je ne sai quoi", mas aquele que dura apenas por algum tempo, porque tens esse não sei o quê que mais que me baralha, me confunde, me puxa em direção a ti, sem que eu queira, é mais forte que eu.
Parabéns. Ganhaste!
Dou a mão à palmatória pelo que vi nesses breves instantes em que fizeste com que ninguém estivesse ali, naquele momento, naquele instante que eu quis que durasse para sempre, que só tu e eu percebemos que aconteceu e ninguém mais. Também não era suposto.
A banda tocava e eu sentia cada nota a percorrer-me o corpo, cada célula vibrou tanto que se viciou no que ouvia, de tão divinal e majestoso, quase perfeito. Nesse instante o estapafúrdio invadiu o espaço, vindo de coisa nenhuma de especial, fez rebentar uma bomba em forma de gargalhada histérica que quebrou o encanto. O som do rir sonoro e nervoso a gargalhada nervosa quebrou o encanto que podia ter perdurado enquanto a noite durasse. Escondida fiquei atrás do óbvio, pequenina como uma formiga, exposta pelo ridículo.
Perdi o andamento do comboio que seguiu se que pudesse esticar um braço para o apanhar e seguir na viagem. Talvez ainda bem, era mais um impossível que tinha que deixar escapar para que tudo seguisse o seu caminho certo. Tem sempre que ser, cada coisa ao seu lugar e o meu não é aí!
Mia culpa, cedo a mão à palmatória, mas de costas viradas para que não custe tanto. Sigo o meu caminho só e acompanhada por mim, apenas por mim, na minha triste companhia cabisbaixa de quer perdeu o que quer para si.
Não te tenho e não te posso ter, mesmo sabendo que eras apenas mais um fruto de um capricho . . . mas eu sou mais uma caprichosa que sofre por não ter satisfeito os seus caprichos, as suas vontades. Sigo, mas sigo contrariada.
Fizeste-me sonhar com o que nunca aconteceu, imaginar como o que eu desejo que acontecesse, mas é impossível. Mediste-me e eu a ti. Olhaste para mim e eu para ti. Afastaste tudo e todos e eu acedi. Ouviste a música e também eu ouvi, dançaste com a música e eu fiquei ali, dançando com a melodia sem nada poder fazer ou dizer. Dentro do meu centro ficaste em modo stand by. Isso incomoda-me. Não consigo avançar enquanto não ganhar coragem e te tirar de onde não deves estar, porque imagino e quero, mas não posso ter. Apenas posso imaginar.
Não posso chorar, porque não há pelo que chorar, não tenho lágrimas, a fonte está seca. Onde era fonte não existe mais nada que apenas um lago seco, uma fonte desidratada e a lágrima é coisa de quem ama . . . e eu não te amo, és só mais um capricho por satisfazer.
Não ligues a nada disto . . . É do tempo . . . É da época do ano . . . é do Outono! . . . O Outono é nostálgico, é romântico, tem dos mais doces pôres do Sol, faz libertar as endorfinas e os suspiros adultos. Fizeste-me lembrar que não te posso ter. Mas para que te quero eu que não para o velho e jocoso jogo?
Para mal dos meus pecados, quis Hera que eu nunca tivesse o que quero, ou deseje quando desejo, por ter sido ímpia e cedido o corpo a Zeus, seu esposo. Agora contento-me com o que me é permitido, que não passa de amores errantes, o cá e o lá, sem criar raízes profundas, firmes e fortes, ser apenas a passagem sem paragem obrigatória. Sou persona non grata!
É assim, isto de não se pertencer a isto das coisas normais, ou ditas normais . . .
Mais uma vez repito, é da época e como todas as épocas, outras épocas se seguem e os encantos se quebram, porque foram feitos para serem quebrados, ou não se chamassem encantos.


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Meu Deus: Tenho umas questões com uma certa pertinência a fazer . . .

Meu Deus:
Tenho umas questões com uma certa pertinência a fazer.
Eu sei que não tenho nada a ver com o assunto, mas estou preocupada aqui com uma situação. Como é que se diz a uma pessoa que se pode ser virgem aos 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90, 100 . . .
A Virgem Maria já tem quantos anos?
É que cá em baixo existem umas pessoas esquisitas que acham que se deve perder a virgindade aos . . . sei lá . . . assim que começam a pensar em sexo?!
Desculpa, mas eu não sou Tu, não percebo, não sei quando é que um homem tem que provar que é homem, ou se só se é homem quando já vai para a cama com - e agora já meto a minha colherada - quem quer que seja! . . . É que tenho mesmo dificuldade em perceber estes assuntos de homem!
Macho que é macho tem que começar a, desculpa a expressão, foder tudo o que aparece, para ser mesmo macho?
Macho tem que ser perder a virgindade para ser macho???
Mais uma vez, desculpa, não queria chatear-Te com estes assuntos, mas Sabes como é, estamos sempre a desaprender e eu não quero seguir essa via, prefiro ser uma atrasada nestas coisas e aprender!
Quem é que decide a vida sexual das pessoas do sexo masculino?
Estás a ver não Estás?
Caramba, eu sempre pensei que era uma coisa de cada um, dentro de determinadas circunstâncias, e que não era igual para toda a gente, mas pelos vistos parece que eu sou mesmo atrasada e ainda não desaprendi!
Sinto-me tão infeliz! Oh, pobre de mim!
Como é que eu vou dizer às pessoas o que penso, quando elas desaprenderam mais depressa que eu?
Eu ainda gosto de aprender as coisas corretas!
O que é que eu faço meu Deus?
Olha se me perguntam se eu me preocupo com estas coisas!!!
Vou dizer-lhes "quero lá saber dessa merda para alguma coisa! . . . ele ou ela sente-se bem assim?
Se não, olha, procure quem saiba como solucionar de forma saudável!"!
Olha se dou uma resposta destas!!!
Olha o que é que esta gente vai pensar de mim!
Que eu ainda sou uma tola que ainda gosta das coisas tais como elas devem ser!!!
Estou fornicada!!!!
O que é que eu faço???
Eu ainda não sinto necessidade de embrutecer!!!
O que é que eu faço meu Deus???
Eu ainda acho que cada um sabe de si e quando não sabe deve recorrer às pessoas certas e não a uma pessoa qualquer que olha a nossa vida como um cocó, só porque já faz coisas que ainda não fazemos sejam essas coisas lá o que forem!
Achas que devo ficar indiferente e esperar que estas pessoas regridam ao meu grau de estupidez?
Achas que devo continuar a seguir pelo caminho certo em vez do errado? . . . Mas é que essa é a minha vontade, o certo!
Bolas, estou mesmo desenquadrada das pessoas normais!
Pronto, então o começo da vida sexual dos machos é então quando se faz 16 ou 17 anos e a coisa tem que acontecer, nem que tenham que ir às putas, hã, hã . . . estou a ver . . . será que quem pensa assim é porque é chulo ou amigo de algum chulo e ainda recebe comissões por cada frango que tem que perder a virgindade?
Ok, pois  . . . meu Deus, são tudo questões quase insondáveis pela minha pessoa, porque pronto . . . cá está . . . o mau feitio e tal, mania que sou mais que os outros, ou que sou mais importante, ou qualquer sumidade . . . pois . . . Ah, pois é . . . eu não quero saber mesmo, de facto!
Pois meu Deus, Olha, afinal Deixa estar, prefiro estar na minha santa ignorância, porque este tipo de mercadoria é porcaria a mais para a minha trotinete e eu só vim para passear!

Sou livre como um pássaro

Sou livre que nem um pássaro. Não me agarrem, porque tenho pressa de viver, mas vivo o que a vida me deixa viver, se não me deixar, vou e arranco a vida da vida com as minhas unhas e dentes.
Não me pares, sou livre, se quiseres estar sê livre também, que não posso, não quero e não preciso de prisões ou aprisionar-me.
És feliz?
Eu também sou!
Sejamos felizes então, eu contigo, tu comigo, nós com todos!
Sou assim, livre, de asas abertas, onde podes albergar-te com todo o teu carisma ou sem ele, mas desde que venhas por bem, bem vindo serás.
Antes de ser livre cometi os meus pecados, mas livrei-me deles, deixei-os longe a pensar para que serviram e fui-me embora. Subi o degrau acima e fui desbravando o que aí havia para desbravar. Em cada degrau fiz coisas boas e outras menos boas, mas nunca tão más como no degrau anterior . . . afinal o degrau já não era o mesmo e já não há espaço para os erros crassos, esses são lá mais abaixo. Sorvo, inalo, inspiro a paz da vida e vivo na sua liberdade. Conquistei esse legado.
Sou livre, tão livre quanto a vida me deixa ser e se não me deixar ser, mostro-lhe por todas as razões e mais algumas que tenho o direito de ser livre. Mostro-lhe o que aprendi em cada degrau por onde passei, o quanto é bom ser livre de tudo o que é falso, de todas as coisas que nada contribuem para os seres em toda a sua transversalidade. Mostro-lhe que existem tantas faces quantas ela pode imaginar, mas umas pendem mais para um lado, outras para o outro, mas eu optei pelo que transpira universalidade, transversalidade, profundidade e abrangência, pelo que faz homens serem Homens com "H" maiúsculo, o lado que dá significado à palavras "VERDADE, HUMANIDADE, LIBERDADE, RESPEITO, AMOR" e como elas conduziram à palavra "PAZ".
Aí a vida não resiste a dar-me a liberdade, pedindo ela mesma que seja semeado VERDADE, HUMANIDADE, LIBERDADE, RESPEITO, AMOR por todos os que precisem de liberdade. Aqui eu semearei com toda a minha boa vontade as sementes para que a vida seja tão feliz quanto eu, quanto desejo para mim e para quem queira ser livre.
Sou livre como um pássaro que canta o que encanta e o que encanta  foi adoçado pelo que foi semeado, colhido e abençoado pela vida e pelo Ser mais sagrado!  

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Coisas

Gostava de ser como todos os poetas que escrevem coisas boas. Sou poeta, mas não sou. Escrevo, mas não escrevo. Dou nomes às palavras que me escolhem a mim para escrevê-las. São belas, como são bonitas ,belas as doces palavras, bonitas e belas.
Dou nomes às coisas belas sem que elas precisem de nome, de alcunha ou um veredicto. Pura e simplesmente chamo nomes às coisas.
Sem espera as coisas esperam que sejam escolhidas ou nomeadas para dar vida a outras coisas, coisas essas que dizem ainda mais coisas, umas belas outras nem por isso, mas são apenas coisas.
Dito está o que são as coisas das coisas, a sua beleza enorme e o que escondem atrás de pequeninas coisas.
Mas tu vês, tu escreves essas coisas e as coisas lêem-se a sim mesmas, como de senhoras coisas se tratassem, com toda a sua importância e imponência de um Rei perdido no seu castelo, rei e senhor de todas as coisas. Ele não se precisa a si mesmo, ele colhe e destrói o desperdício, como o que sobra é mesmo isso, sobra.
Dai as vozes a quem tem palavras para dizer. Não se esconda o que tem muito para bradar. Não se imiscua de si mesmo quem palavras poucas tem para dizer. É obra amiúde, pequeno aos poucos.
Se soubesses quantas são!
Dirias que não é nada . . .
Peça perdão às palavras e não as condenes por serem o que são. As que querem dizer alguma coisa dizem, as que não, não!


Nada, nada, nada!

Batem-me leve, levemente, mas ninguém chama por mim,
Não é chuva nem vento, não é nada para meu contento
E gente boa não é assim.
É pequenino e encruado, cheio de ais e coisas assim,
É tão pequeno e ignóbil,
Gente pequenina não é para mim.
Deixa marcas invisíveis, golpes de espadachim.
O que lhes faço?
Mando-os à merda?
Ou vão pelas vossas pernas, gente ruim?
Para que servem as boas novas, se quem as ouve tem ouvidos velhos,
pouca coisa lá fica e quando fica não lhes valem chavelhos.
As boas novas são coisas de nada.
Palavras e apenas isso, palavras.
Para a cabeça de gente oca, rude, quase mouca.
"Pérolas a porcos . . ." já diziam os sábios que chegaram primeiro que nós.
"Pregas aos peixes!" . . . ah, pois é!
"Falas, falas e ninguém ouve nada!" . . . eu sei!
"Preferem morrer, que ouvir o que vem de ti!".
Dependem de coisas fúteis, acham-se felizes assim!
Tão bom é não depender de nada fútil ou inútil,
Que serve para nada.
A minha mente é vazia, de muito pouco ou nada,
O que lá há não vos diz coisa nenhuma ou mesmo nada!
Há não precisar de coisa nenhuma, de gente, ou nada.
Mesmo assim, viver com o que se tem,
Viver feliz com o muito com o pouco e com o nada,
Estar bem com tudo e com nada,
Com alguém ou sem ninguém,
Mas, acima de tudo, depender de nada!
Nada é uma palavra santa, imaculada.
Nada mesmo de tudo, nada de nada, ou quase nada,
Nada de quase tudo o que não se quer, mas nada.
Nada, nada, nada!
"Brincas com o fogo . . .", não brinco nada!
A gente ruim oferece-se bandejas de nada.
Bandejas de nada com coisa nenhuma.
Servem fel diluído em mel, mas enganam-se,
Trocam os copos e sorvem o seu destino,
Embriagados nos próprios risos que escondem lágrimas,
Engolidas de tanto chorar e amargar o que não podem ter.
Tão bom que é ser dependente de nada.
Não precisar de coisa nenhuma, de gente, de nada.
Mesmo assim, viver com o que se tem.
Viver feliz com o muito com o pouco e com o nada,
Estar bem com tudo e com nada,
Com alguém ou sem ninguém,
Mas depender de nada!
Nada é uma palavra santa, imaculada.
Nada mesmo de tudo, nada de nada, ou quase nada,
Nada de quase tudo o que não se quer, mas nada.
Nada, nada, nada!
Fiquem com quem vos queira,
Para mim não servem para nada!
Alguma coisa, mesmo pequena, é grande para quem não vive nada.
Eu vivo tudo, porque não tenho nada!
Eu conheço o mundo, porque não conheço nada,
Eu vivo feliz no meu mundo de vazios, porque de fútil não produzem nada,
Sempre tudo onde não há nada.
É grande e imenso este espaço de nada,
Nada que entendam, percebam ou vivam,
Mas é tão grande o meu mundo do nada!
Tão imenso o que eu vivo, mesmo que não vejam nada.
Para meu rejubilo partilho o que mais tenho . . . Nada!
Nada, nada mesmo nada!!!
Mas é tanto o que está no meu nada,
Nada que vos possa interessar,
Nada que possam entender, compreender ou apreciar,
Nada, mas nada!!!
Tanto nada!!!
É tanto e tão imenso que me rio à gargalhada,
De quem quer saber tudo, mas não sabe de nada,
Porque é nada que colhe e tudo é nada!
Tanto, mas tanto a existir e o que colhem é nada,
Mesmo nada!
Sabem mais que eu?
Sim, do que não sei nada.
Mas contento-me com isso,
Já e vossos nadas!