segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Um Domingo Eleitoral Qualquer

Era dia das obrigações eleitorais, ou direito que não se distingue da obrigação, debaixo de uma ditadura dissimulada de pseudo-democracia, porque até a palavra democracia soa a vazio na boca de gente indigna dos cargos que ocupa e conspurca-se no meio de tanta censura mascarada de liberdade.
Saí de casa disposta a votar, mesmo que com pouca ou quase nenhuma vontade de votar. Entrei no edifício e alguém, jovem badanlhito, acompanhado por um exemplar do sexo oposto, teceu tão admirável e inútil comentário "10€ . . ." o dejetozinho nem olhos na cara tinha para ver que valho mesmo muito mais, até porque, as despesas com a minha existência são bem maiores que isso!
Levantei, entre os meus dedos, o mini chapéu de chuva que faria inveja a muito macho gajo, que nem nos seus melhores dias envergaria tal imponência, na esperança que este escroquinho compreendesse o que lhe falta . . . não eram apenas uns danoninhos . . . mas o que está debaixo do penduricalho que está entre as suas andas. 
No local onde todo o cidadão dita o destino dos senhores políticos, a pressão é sentida como que tivesse uma metralhadora apontada à cabeça, caso se dê um passo ao lado. Os modos com que se fala com os eleitores são de uma arrogância como não há história, como que fossem donos do mundo e nos tivessem a fazer um favor. Não fui eu quem lhes pediu para deixarem de estar na ronha o domingo inteiro e estarem ali a gramar o frete, o dia inteiro!
Eu ainda por cima estava a tentar contribuir para a redução da abstenção neste país, lembrando que muitos não votam, porque tiveram que emigrar, outros imigraram e alguns as migrações por estas razões sai-lhes caras aos bolsos, já para não falar dos que descobriram que votam em grupos económicos mascarados e não em representantes do povo!
Desfiz-me em desculpas por não ter o documento certo e sim um que o substituísse, mesmo que o que eu tenha apresentado mostrasse que me preocupo em andar identificada!
Que trombas de despotismo!!!
Deram-me três papelinhos aos quais, pomposamente, dão o nome de boletim de voto e fiquei a olhar por alguns segundos. Subitamente o tempo parou, fiquei a olhar, feita parva, para todos os candidatos e não consegui ver lá nenhum, não vi nada! 
"Mas . . . Será possível??? 
Mas como é que é possível ver tantos arabescos e não ver pessoas que se candidatam a representar outras tantas para, ao menos, tentar resolver alguma coisa em prol de todos os que vivem neste país???
Bolas, todas estas siglas dependem de quem nem era suposto depender!
Não faz nenhum sentido lógico credível!".
Para minha grande admiração o(s) verdadeiro(s) candidato(s) não estava(m) lá, para minha grande tristeza e decepção. Seria por falta de espaço nos papelinhos? Peço desculpa, boletins. Simplesmente a pessoa ou as pessoas mais importantes não se encontravam nestes boletins, AS PESSOAS QUE REPRESENTAM CONSCIENTEMENTE O POVO E QUE QUEREM MELHORAR AS CONDIÇÕES DE VIDA NO PAÍS e não apenas partidários. Muito provavelmente ainda não desceu à Terra para dizer "BASTA!!!" de tanta hipocrisia!
Não tive outra hipótese. A caneta ganhou vida própria e decidiu por mim. Quando dei por mim, tinha satisfeito a sua vontade. Ela empinou-se com a sua ponta cheia de tinta e jactanciosamente dirigiu-se, desfilando o seu corpo longilíneo, desde o canto inferior esquerdo até ao canto superior direito. Fez este percurso no primeiro papelinho, no segundo e terceiro e mais houvesse.
As minhas mãos cooperantes desligaram-se do comando e dobraram os ditos e chamados boletins e lá foram enterrados na urna repleta de escuridão, assim como o mundo os senhores que decidem o destino deste país.
Saí de cabeça erguida, sorriso nos lábios, feliz e contente por ter tido a coragem de ser verdadeira comigo e com o mundo, sem réstia ou sombra de hipocrisia, consciente do meu ato e feliz. Senti o sabor de quem é verdadeiramente livre, secreta, mas verdadeiramente livre de dogmas, formas, formatos ou formatações convenientes, sem medo de dizer a verdade a mim mesma, livre de todos os sistemas, livre de toda a podridão coberta de cartazes, bandeirolas e pandeiretas. Dentro de mim mandei-os todos para onde deviam ir, caso não fossem por eles mesmos.
Quis Deus que eu votasse na minha consciência . . . pena não haver espaço no boletim!
A urna onde eu verdadeiramente votaria seria transparente, votariam-se verdadeiras necessidades e as suas prioridades, não caras ou interesses económicos. Votariam-se em caminhos e não em abismos ou canibalismo. Votaria-se não em promessas, mas em novas ou melhores ideias concretas e exequíveis. 
Quis Deus que eu fosse verdadeira comigo, com a minha consciência, com o mundo, votar no que é realmente sagrado e verdadeiro, mas infelizmente, disso nada estava lá.


domingo, 29 de setembro de 2013

Pessoazinhas . . .

Pessoas pequeninas, passarinhos feridos carregados de cobardia enchem as ruas da cidade. Arrastam-se uns atrás dos outros como avestruzes em busca do próximo buraco onde esconder a cabeça. Não sabem o quanto belo é o mundo, que desconhecem, dos sem medo de ser como são.
Em pequenos aglomerados de gente esmiúçam a novidade, tentam daí sugar o néctar, o mesmo néctar que deliciou ou dilacerou, que deu o mote à hecatombe ou que fez felizes os promíscuos. O néctar do pecado, porque o da santidade não dá gozo ou tusa.
Em aglomerados, "olha . . . lá vai ela . . .", recostando-se nas suas cadeiras em torno de uma mesa de café, com os seus sorrisos espelhando o balão que sai do seu pensamento e rangendo entre dentes, "cabra . . .".
É assim o mundo as pessoazinhas, dessa praga que veio para ficar, essa gente alcoviteira, mas muito gente . . . no seu precário conceito de gente.
Gentinha pequena, sem vida própria ou farta dela, gentinha que nem se atreve a seguir o que quer com medo de ser alvo da sua gentinha . . . é que seriam o alvo predileto da gentinha.
Quão miseráveis e desnecessários!
Alguns chegam a uma casa e o seu mundo de perfidia renasce, deixando a hipocrisia à porta . . . entre as quatro paredes só Deus e o Diabo o sabem e mais não se diz, faz-se . . .
Outros maldizem da sua vida, do marido, dos filhos, da sogra, da prima, da amiga, cheios de vontade de descarregar uma caçadeira de canos cerrados por cada um dos personagens.
Ah, nada como uma bela noite de sono para retemperar as energias, porque quem sabe as boas novas e escaldantes que o próximo dia trará.
Ser gentinha é uma coisa muito trabalhosa. Horas a ligar para a Manela, para a Antónia, para o Flisberto, para a Joaquina, para o Segismundo . . . enfim, uma trabalheira!
"Já sabes da última do menino Jorge?
- Não! O que foi agora?
- Olha, despacha-te que já te conto!
- Vai ter ao café depois de jantar.
- Ok. Mas não te esqueças de contar à Antónia! Ela vai adorar!".
À Antónia, à Manela, ao Flisberto, ao . . . ao . . . à . . . à . . . aos  . . .
"Ao menos passa-se alguma coisa!
Se não, isto era uma pasmaceira!". Se não isto era uma pasmaceira . . . Humm, bela forma de encaixar as coisas do mundo . . .
O mundo é mais que o meu bairro, é mais que o conselho onde vivo, é mais que o distrito, que o país. O mundo é mais que as misérias humanas.
Será que algumas dessas pessoas percebeu que tem "coisas" da personalidade que as faz ser seres humanos como os outros com pontos a corrigir, pontos a melhorar e outros a manter?
" - Não sejas assim, cada um é como é e só muda se achar que deve mudar. Tu não és dona da razão e não estás a ser uma boa samaritana. Eles agem em função das suas consciências, agem em função do que são. Se acham que estão certos para que é que precisam de mudar?
- Desculpa!!!
Não consigo perceber!!!
Não faz sentido!!!
- Tu é que não fazes sentido. Estás tão preocupada com isso porquê?
Não ages em função da tua consciência?
- Sim, mas não me dá prazer ser alcoviteira. Não retiro nada se importante ou interessante daí, ainda mais dando-me com essas pessoas, relacionando-me tranquilamente com essas pessoas, mantendo o "não digas nada, faz de conta que não sabes" pedido pelo delator. Então, mas se é suposto mais ninguém saber para lá ou além do ouvinte em primeira mão. . . desculpa mas é demasiado vergonhoso e desprezível para mim!".
Gostava de poder gostar mais das pessoas, mas eles não deixam ou não querem ser apreciadas pelas suas qualidades ou virtudes, pergunto até se elas gostam alguma coisa delas mesmas.
A minha ignorância prefere não ceder espaço a essa forma de informação, prefere manter-se a acomodada ou partilhar o espaço que preserva com algo útil, algo cujo conhecimento existente possa ser utilizado para um fim maior. A minha agressividade exalta-se se a minha ignorância for atacada com tão merdosa informação . . . ups, desculpem o meu francês . . .
Além disso o meu cérebro sente-se a atrofiar e intoxicado com tão deliciosos pacotes de merda para alguns. Ah, já agora, esses alguns tenham coragem de dizer na cara do imoral, ou imorais, o seu pecado, tenham tomates ou mamas para esfregar na cara dos hereges as suas obras de desvergonha e torpeza, como bons juízes da boa conduta que são, professores mestres das boas maneiras, gente de bem cruzada de labregus vulpinus - labregus vulpinus é mais fino e soa melhor assim . . . é só para condizer com "pessoas de bem" . . . - já para não os apelidar de outros tão honrosos predicados.
Ai, como é bom ser um herege pecador e com muito amor próprio e vida muito própria . . .

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Diálogo imaginário na unilateral

Não, não espero por ti, não vou esperar mais, já passou demasiado tempo. As coisas acabam quando menos se espera, ou, quando menos esperamos já acabou. 
Não me perguntes o que aconteceu, porque eu também não sei!
Acabou!
Mas como pode ser?!? Boa pergunta! É mesmo aquele tipo de pergunta que me dá vontade de te responder, "Eh pah, não sei . . . mas acho que isso merece um estudo pr'aí de uns 5 anos, ou coisa assim!" 
Pois . . . Não sei!
Desculpa, não entendo a pergunta!
Como é que não pode ser uma coisa que simplesmente é, que simplesmente assim acontece do nada.
Não, não disseste nada de errado, não fizeste nada de errado. Tu és apenas tu e limitaste-te a sê-lo e acho muito bem, mesmo!
Não, não me magoaste. Eu é que sou assim. É estranho, eu sei . . . mas acabou!
Sim, ainda mal estava a começar, ou melhor, ainda nada tinha começado, eu sei, mas não te sei explicar, nem sei que te diga, acabou!
Se eu deixei de gostar? 
Mas eu nem sequer sabia se estava a gostar ou do que estava a gostar! 
Estava a descobrir, digamos assim . . . e pronto, não dá, pelo menos para mim, não dá, ou já deu o que tinha a dar!
Foi mais difícil e menos demorado o início do que podia ter começado, mas antes de começar já acabou, ou acabou o início do que podia ter começado. Do concreto nada existia, era apenas ainda o líquido lubrificante que vai amaciar o terreno, mas o concreto ainda estava longe . . . ainda não tinha chegado o seu momento.
Não me perguntes como é possível, porque eu não te sei responder. 
Não, não sei . . . pronto, ok sei . . . ok, sei, mas o que interessa mesmo?
Já não há regresso ou volta a dar. O que não se entrosa logo, ou um bocadinho a seguir ao logo, dificilmente chega a algum fim!
Óbvio que tudo leva o seu tempo, tudo tem um tempo necessário para a maturação, mas ok, o meu tempo necessário é mais curto. O faro apurou-se . . . a vida assim o quis!
Sim, estava tudo bem, ok, mas para quê remoer-se sobre este assunto?
Ok, já te disse que não fizeste nenhum mal, aqui o problema sou eu, não és tu.
Já podia ter dito? Já podia ter dito como se estava tudo bem?!?
Há coisas que não se explicam, apenas agora são, agora já não são . . . é simples!
Nunca pensaste!? Mas nunca pensaste o quê ou no quê? Mas havia alguma coisa para pensar?
Pensas demais . . . pronto, é isso, pensas demais . . . não havia nada para pensar. 
Claro que sim, é evidente que também pensava, mas era mais noutras questões de grande pertinência. 
No que me diz respeito as coisas eram o que iam sendo, apenas isso e nada mais que isso e . . . foi como foi  e . . . deixou se ser ou de ir sendo, como quiseres.
Não me obrigues a dizer o que não é para ser dito, o que não faz parte nem sentido dizer, porque estava tudo à vista, era só olhar e ver.
Ya, naquele momento nem eu quis ver, porque . . . sei lá . . . porque!
Isto não são respostas claras ou de gente inteligente que se perceba, ok . . . eu sei . . . esta conversa não tem nexo nenhum, ok, já percebi, mas onde é que existia nexo, mesmo?
Aqui era suposto haver nexo?

Tens Coragem para mudar a tua História?

O palco estava montado assim como o planeado, assim como foi pensado mesmo que alguns pormenores escapassem à perfeição, mas estava tudo lá, todos os ornamentos, todas as cortinas de tecido novo, todos os requintes de um principado. Todas as cenas planeadas ao pormenor, mesmo que não fossem perfeitas, todas as palavras que seriam ditas da forma como seria suposto serem ditas e ditadas pela história escrita há já séculos. 
Todas as cenas ensaiadas, por todos os protagonistas e orquestradas sempre pelo mesmo mestre, pelo mesmo grande senhor da cena apoteótica, pelo mestre de todos os mestres na arte de escrever, outras vezes narrar, outras ainda de interpretar a história que ele próprio traça na linha da vida . . . dos personagens. Sempre dos personagens.
A história é composta pelos mesmos personagens de sempre, pelas mesmas ausências e surpresas inesperadas, pelos mesmos dramas e desamores, pelos mesmos encontros e desencontros, olhares que se cruzam na fração da paragem do tempo antes que ele continue, pelas palavras palavras ditas e por dizer, pelos silêncios ensurdecedores de todos os sentimentos que gritam em surdina, de todas as lágrimas salgadas e outras adocicadas pelo sorriso, outras até de riso escancarado.
Estava tudo planeado conforme o dirigido conto a partir da história original, estava lá tudo, não faltava nada, todas as imperfeições, tudo o que era desconcertante e que não encaixa, tudo o que teria que seguir o seu caminho, todos os possíveis e impossíveis, todas as compatibilidades e incompatibilidades em todos os seus ângulos . . . tudo estava lá, em todos os seus formatos, facetas e tamanhos. Não faltava um só pormenor, mesmo que imperfeito.
A sala enche e os espectadores sentam-se para assistir a mais uma ronda de eventos, como sempre carregados de intensidade, assim como manda a história, assim como foi ditado pelo mestre de todas as mestrias.   
O pano sobe, todos estão nos seus postos e dá-se o primeiro som quase que inesperado, quase tão de surpresa como foram todos os outros primeiros atos, suando sempre todos eles a inesperado.
Os espectadores conhecem a história de trás para a frente, mas sempre que a revêem descobrem sempre um ou outro pormenor que nunca repararam na representação anterior; há sempre um detalhe novo, mesmo que estivesse estado sempre lá. 
Tudo parece igual até que uma virgula salta do seu lugar. De repente tudo muda. Os personagens são os mesmos, mas a história tem um novo desenvolvimento. Os espectadores estranham, porque a velha história não era assim, começou da mesma maneira, mas não seguiu o antigo texto.
Por artes da sua sabedoria imperscrutável, num estalar de dedos decidiu que a velha e memorizada história seria desta vez ligeiramente diferente, tomaria outro percurso, por muito difícil fosse aos personagens se desligar das velhas marcações e hábitos. Por brevíssimos momentos, e quase imperceptíveis, o desconforto tomou dos personagens, afinal ainda não se tinham encaixado na nova trama, mas a trama continua.
Meio desajeitados, ainda agarrados ao velho texto, agarrados à velha roupagem, os personagens dão vida ao seu novo plano de desenlace. A obra prima nasce cheia de novos contornes. É a passagem do velho ao novo. Assim como um ano que finda, a mudança completa dá-se para lá do meio do novo ano, quando tudo por si mesmo se afina com o intento. 
A mudança começou de uma forma marcada mesmo que aparentemente a história voltasse ao desenlace da narrativa anterior, afinal apenas começou um processo de mudança do mote, do enredo; há mais facetas inexploradas dos velhos personagens da velha prosa, várias e novas possibilidades, com um final em aberto, cujos meandros se revelarão à medida e ao sabor da necessidade de renascimento ou criação.
A vida nasce todos os dias com os mesmos personagens, no mesmo palco, renovando apontamentos aqui outros ali, mas só a coragem faz o percurso de todos os dias mudar, só a coragem faz mudar de direção, de vontade, de agir, só a coragem dá voz a um novo rol de oportunidades, de aventuras que nos esperam a cada momento até que lhe abrimos a porta e fazemos algo diferente. Mesmo que o caminho tenha perdas e nelas tropecemos, mesmo que façamos um dói-dói, que vai sarando, levantamos-nos e continuamos no novo caminho, porque estamos fartos e sofridos do velho e desnecessário fardo, mesmo que o medo do erro ocorra, mesmo que por momentos se falhe, corrige-se, mas que interessa se a decisão está tomada e é firme?
Tens coragem de mudar a tua História?

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Cobardia ou erva daninha?

De mansinho aparecem, com as suas macias peles de cordeiro. De focinho bem clarinho e de pêlo macio, inofensivo em todo o seu movimento, em todo o seu cortejar inofensivo, muito inofensivo. Por vezes a sua presença agradável, outras um pouco pegajosa para quem não compreende tal admiração. "Tenha saudades tuas!
Porque estava sozinho, não fiz . . . porque estava sozinho não fui . . . porque estava sozinho não aconteceu . . . porque estava sozinho . . . porque estava sozinho!".
Foda-se e estiveste sozinho todo este tempo antes de me conheceres???
Essa forma de engate enoja-me, aliás, irrita-me até às profundezas e com muito custo consegui dar a volta a essa questão. Mas dei, não sou perfeita e tu também não. Não te posso censurar.  
Foda-se e de onde vieram tantas pessoas interessantes que descobri através de ti???
Guardavas-as em alguma caixa num sótão arejado e bem iluminado com águas furtadas para que eles possam existir?
Ah, espera, elas existem nos seus espaços, nos espaços onde circulam livremente . . . pois, bem me parecia!
Muitas experiências não vividas, não por tua culpa, mas porque vieste de um canteiro de ervas daninhas que foram sugando aos poucos as ervas sãs que se mantiveram vivas, mas dependentes das daninhas. Não te censuro.
Viveste no mundo da clausura e alimentaste uma erva daninha que nasceu dentro de ti, que te consome e faz sangrar para que ela viva; ela vive da tua dor, do teu sofrimento.
Nasceste com o estigma dentro de ti, que domina tudo o que não queres que domine, é o Nosferatus que te conduz ao teu sofrimento, admoesta a seguir o alvo errado em estado hipnótico, para que seja dado o golpe de misericórdia . . . e assim obedeces.
Enlouqueces por momentos pela não correspondência do desejo, do sentimento e mais uma vez é consumado o ato de quase destruição de tudo o que gostarias que fosse belo. É a hora de alimentar a criatura . . . seja saciada a sua vontade.
As suas gargalhadas sufocam-te e ouvem-se vindas de dentro de ti.
Quando distraidamente sonhas e crias novas espetativas, que tão abrupta e apocalipticamente se derrubam por terra,  acordas a besta e já não a controlas. A sua gula manifesta-se através de ti, das expressões do teu rosto, do teu olhar que brilha de raiva, através das tuas palavras emolduradas de veneno; o cuspo do ódio é a sua mais prazerosa sobremesa. Transformas-te num ser mesquinho, controlador espicaçado pelo garfo do tinhoso. E o que ganhas-te tu? A tristeza de seres visto como um ser pequenino, repugnante, rastejante e tão cobarde.
Porque não sabes de tudo!? Porque não foi te revelado um segredo ou satisfeita a curiosidade mórbida!?
Nada consegues controlar, o que está dentro ou o que está fora de ti.
Envenenas o que está ao teu redor, porque é mais fácil para ti . . . ou para o teu Nosferatus?
Porque precisas de quem te defenda e colabore no ato de humilhação publica?
Nunca pensei que fosses cobarde!
Entre as piores das derrotas estão as por cobardia de não de dizer o que se tem a dizer, mesmo não ouvindo o que se gostava de ouvir, de não perguntar o que se sente necessidade de perguntar, mesmo que não seja respondido o que é esperado. É baixo, miserável!
A natureza humana repete-se a cada canto, a cada esquina, virar de rua. As suas formas coisas metem o mesmo nojo que as aquelas vistas pelas primeiras vezes em que a cobardia se cruzou no nosso caminho através da atitude do outro.
Apenas o tempo ditará a solução na direção da verdade que custa a aceitar, a ver e a sentir.
Não serei eu mais que o que apenas sou, não direi para lá do que, apenas, tiver a dizer ou farei para lá do que tiver que fazer e se assim tiver que ser. Seguirei o caminho que me compete seguir, seja este na direção que for, para meu contentamento e de quem assim também o sentir, mas  sempre e preferencialmente para meu contento, acompanhada, ou não, por quem me tiver que acompanhar, ou não, mas nunca para lá do que estabeleço para a minha vida e caminho, assim tal como as fronteiras entre um tu e um eu.
Tu és tu e eu sou eu!

F... -SE!!! PEÇO PERDÃO POR NÃO SER A AMIGA PERFEITA!!!


Foda-se!!!
Onde é que está escrito onde quer que seja que ajudar implica cobrar???
Qual é a diferença entre ajudar e cobrar???
Foda-se, será que vou ter que explicar a pessoas mais que formadas e ensinadas e vacinadas e todas as coisas acabadas em adas sobre ajuda, vendas e cobrança???
Foda-se pah!!!
"Eu ligo, não me atende e não retribui a chamada . . . Esteve aqui, foi tudo muito rápido, esteve aqui quase tempo nenhum, quase não percebi e foi-se embora."
Ok! Peço desculpa se precisei de ajuda nesse momento e estava com pressa!!!
Peço desculpa pela urgência da necessidade da ajuda, peço desculpa pela urgência da solução do problema nesse momento. Se mais alguma vez surgir algum problema urgente, digo ao problema "olha problema, espera aí umas 3 ou 4 horas para seres resolvido, porque agora vou ter que ser balde de lixo, cordeiro do sacrifício para merecer a solução para ti. Espera se poderes assim estilo . . . mesmo muito tempo, porque as necessidades de serrar serradura e preencher vazios desta criatura a quem, desesperadamente, peço ajuda estão em primeiro lugar!".
Primeiro dás o pagamento, fazes o sacrifício, prostras-te e depois imploras a ajuda que precisas nesse momento. É te dada a ajuda, que devolves logo no dia seguinte para evitar o problema e agradeces pela ajuda, mas não te esqueças que vais ter que ouvir durante muito tempo a enxurrada de problemas que já ouviste vezes sem fim e que se repetiram e se voltam a repetir vezes sem conta, porque a madama não quer ser ajudada e sim aturada!
Várias vezes precisaste e aqui estive quando podia, mas não me arrependo porque era suposto ser assim, não te cobro porque acho ridículo cobrar ajudas. Desde que estejas bem, por mim, óptimo, se não estiveres presto a ajuda que está ao meu alcance prestar-te e nada mais que isso. Não atinjo o impossível, possível apenas aos olhos de Deus! . . . Olha, não sou Deus!
Pois é, eu não sou Deus!
Se as soluções que me ocorrem para ti não te servem, desculpa, mas são as que tenho, são as que tenho ao meu alcance e dentro da minha capacidade de estar e ajudar!
Perdoa-me se não sou perfeita e se não vivo da desgraça alheia, se prefiro ser feliz e fazer pessoas felizes ainda mais felizes.
Peço desculpa se só me apetece estar ao pé de pessoas que procuram ser melhores e melhorar a sua vida. Desculpa se procuro pessoas que querem resolver o que há para resolver e se não quero ser o cordeiro do sacrifício. Não procuro o martírio para ser venerada, não procuro a auto-flagelação para que digam "coitadinha, era tão boa pessoa . . .", antes de me passar dos carretos e mandar-me por "candidatura espontânea" para a casa de Deus, caso ele me aceite depois de quebrar o contrato do "Até Que a Divina Foice nos Reúna".
Pois, sou a pior pessoa do mundo porque me quero atrever a ser feliz!!!
"Mas quem é que esta gaja pensa que é???
Ajudam-na e dá com os pés às pessoas!
Hás de cá vir bater à porta a pedir o que quer que seja que logo vês!!!
Cabra interesseira!!!
Quando lhe interessa já sabe onde moro, mas quando é para atender o telefone, não ouve, nem retribui as chamadas, só se lembra quando precisa!".
Sim, sou uma cabra interesseira, que não interessa a ninguém, só procura as pessoas se precisar delas. Que vergonha!
Nem vou relembrar-te que não tenho que andar atrás das pessoas, nem elas atrás de mim. Não meço as amizades pelo número de desgraças partilhadas, pela quantidade de fretes que se faz, pela quantidade de mentiras que se diz, pela quantidade de loucuras que se alimenta.
Sem dúvida que para algumas pessoas, nesta vida, não fui sempre a amiga mais presente, a amiga mais disponível, a pessoa mais aberta e permeável, nem sempre fui a melhor ouvinte e conselheira, nem sempre fui a melhor amiga do mundo, mas apenas tenho trinta e tal anos e hoje colho o que fui semeando ao longo da minha vida!
Gostava de não precisar de ajuda fosse em que momento fosse, gostava de não ter que procurar quem tive que procurar, gostava que ninguém que eu conheça precisasse do que quer que seja, gostava que as pessoas que amo nunca precisassem de mim! . . . significaria que estaríamos sempre juntos por boas razões, significaria que estávamos todos sempre bem e que as coisas que chateiam são mesmo muito pequenas e que não causam transtorno, que são apenas coisas insignificantes que se resolviam por si.
Caramba, onde é que isto significa que não queremos estar à altura de poder ajudar???
Onde e que isto significa que não queremos estar com as pessoas ou que somos ingratos???
Foda-se, PEÇO PERDÃO POR NÃO SER A AMIGA PERFEITA!!!


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Outro Pedacinho de Vidas

"Estás a ver?
Era mesmo assim. Era dessa mesma forma!
- A sério?
- Ya. Mesmo assim!
- Como é que nunca vi?"
Da mesma forma como quando viraste o teu rosto para ouvir outra observação não estava lá. Viraste de novo a cara e foi diretamente ao teu estômago. Sem mais nem menos. Como um sopro no teu rosto. Não podias perceber ou explicar, porque nem tu mesmo sabias se estavas ali ou se seria da tua imaginação, mas o corpo é teu. Os teus pensamentos foram todos destacados para contemplares a perfeição. 
"Estavas aqui no segundo, no minuto, antes de te ver?. . . não entendo. Mas já aqui estavas?!?
Mas ontem vieste neste mesmo lugar, sentada ao meu lado?
Era capaz de jurar . . . que estranho . . . ". 
Não ouviste uma só palavra. Deixaste-te apenas observar o movimento dos lábios a pronunciarem coisas. Em câmara lenta vias os seus lábios moverem. O tempo parou por breves segundos onde pudeste ver e observar o que de mais belo havia no mundo. 
Recuperaste o momento presente e todas as palavras ouvidas tiveram outro som, outro impacto dentro de ti. De repente o pânico apoderou-se de ti e uma rebelião entrou em alerta. Tu amas a mulher que está à tua frente. Tu queres desesperadamente passar os teus dedos por entre o cabelo dela, tocar-lhe no rosto, sentir o seu hálito e tão quase religiosamente controlas os teus impulsos. Rendes-te ao que mais temeste, porque nunca aconteceu, pelo menos assim, tão estupidamente, sem sentido algum, sem local ou hora marcada, muito menos durante um momento, no meio do absolutamente nada, quase como o captar um odor que não estava ali.
Tudo parou, o tempo, as pessoas, as coisas, e apenas tu andavas sem sentir o chão. Tudo era de novo cheio da quantidade de raios de Sol que tu toleras, a temperatura do ar elevou-se à tua temperatura perfeita. Foi tudo perfeito. O teu rosto sorria numa serenidade e paz nunca sentida. Continuavas a caminhar e dentro de ti tinhas aquele sorriso parvo de quem está perdidamente apaixonado.
Como nas telenovelas mexicanas de mau gosto, tinhas de arranjar um gajo giro, alto, todo pintarolas, daqueles que as gajas suspiram . . . pelo valente par de cornos que nunca acreditam que eles alguma vez na vida seriam capazes de lhes pôr. Mais uma vez estás mal acompanhada e só tu é que não vês.
"Olha lá pah?!? Mas c'a raio de gajo é esse pah?!?
Escolheste-o a dedo, não?
- O gajo é fixe, vá, não sejas assim, é um bocado tonto mas até é fixe.
- Ya . . . fixe, faz o quê, coceguinhas e tu ris!
- Pah, não é o cumulo da inteligência mas está-se bem, ele é boa onda, Não sejas assim . . . Ok, é um bocado cromo, mas até gosto dele, a sério!"
"Que remédio tive eu senão aceitar que gostavas de gajos pintas. Mas tu és o verdadeiro helicóptero de última geração: gira e boa e inteligente, muito inteligente, mesmo!
Já estou habituado a estas coisas do gajo que tem todas as melhores gajas . . . mas como amigas! . . . parvos são os gajos que não as vêem!" - pensavas tu para os teus botões enquanto ouvias as últimas de quem descobriste secretamente.
"Andas perdida, Pah!", dizia o rapaz contente por, pelo menos, ter a amizade de quem ainda não tinha despertado tamanhos encantos, no entanto, a sua carne também se exaltava e lá se deixava arrebatar por outras moçoilas, mesmo que como Sol de pouca dura.
"Falas de mim, mas andas acompanhado de uma tronga-monga!
Não percebo!
- Boa!
A gaja é boa! . . . ok, é simpática, mas é boa!
Vá não sejas assim . . . a miúda até é boa pessoa, um bocado parva às vezes, mas é fixe!
- Prognóstico desastroso, é o que é!
Pah, mas como não estou a estudar para monge!
Estás muito preocupada com as minhas ralações afetivas!!!
Não te percebo miúda!"
Escola, universidade, coisa alguma e tudo e mais alguma coisa fazem distâncias aumentarem, como encurtarem e por momentos desaparecerem, passando para o "até um dia!". Os telemóveis são coisa do futuro ou da NASA e as contas bancárias dos papás são limitadas ao essencial. O tempo que passa alimenta sonhos, a imaginação e o "enfim . . . paciência!".
Tão de repente como a primeira vez, nas suas loucas coisas do costume, tão bela como sempre, ali estava ela com o seu sorriso irónico e gargalhadas sonoras. Estava na mesma, a mesma beleza, a mesma frescura, a mesma loucura que o tinha endoidecido da primeira vez. Em menos de nada olha para ele e é como se fosse a primeira vez. Desta vez ela olhou-o pela primeira vez, esquecendo-te por breves momentos que alguém estava com ela, por alguns instantes tudo foi ignorado e desfocado, e a única imagem nítida e som claro era o caminhante na sua direção.
Os olhos dela não resistiram a fixar os lábios que sorriam na sua direção e o seu sorriso mais tolo assumiu-se no seu rosto.
Já nada seria o mesmo, namorado, mundo, coisas, tudo. Tudo o que passou foi colocado no seu altar sagrado, aonde pertencem as coisas sagradas da sua vida. Tudo o que passaram juntos ganhou uma nova vida, um novo sentido, tudo fez, finalmente, sentido.
Falaram, os olhos semi-cerraram num êxtase zen, um no outro; perderam a noção de tudo à sua volta, como que as horas tivessem parado apenas para eles, cada gesto era tão desejado como o seguinte e como o anterior. A energia que ali fluía não era mais a de apenas de bons amigalhaços.
" . . . ok, combinado!
- Próximo sábado?
- Ótimo!
- Para mim está excelente!"
A centelha manteve-se acesa durante todo o intervalo até ao próximo "atão pah!?!". Uma mão cheia de vontade, de sonhos, fantasias e maluquices das boas devolveu-lhes o sorriso de patetas e distraídos durante toda a semana.
Na sexta-feira não se continham de euforia pelo dia seguinte, o mais almejado dia da semana, o dia em que seria um ponto de partida para o desconhecido.
" . . . Já sabes?
- Do quê?
Ela . . . Ela ia numa viagem de mota!
- Do que é que estás a falar????
- Ela . . . Não teve hipótese!". - Ele também não!
"Ela acabou com o namorado esta semana por causa de ti. Ela adorava-te, mesmo muito."
Estupefação não era absolutamente nada, tão simplesmente a sua alma morreu nesse momento.
Sábado chegou como um prolongamento de sexta-feira, em que o Sol se ausentou por instantes. Vestiu as últimas peças de roupa que alguma vez desejou vestir, maldisse de tudo o que é mais sagrado, lavou a cara e nada, absolutamente nada existia dentro de si, nem se sentia, nada, absolutamente nada, estava morto em vida.
Sentou-se novamente na cama e ali ficou, catatónico.
Deixou de fazer Sol, chuva, frio, fome, sono, pai, mãe, amigos, vida. Os dias eram apenas movimentos do globo sobre si mesmo, e em volta do Sol. Levantar ou estar deitado era tudo parte de nada. Acabou. Tudo o que daí viesse seria apenas uma sucessão de coisas, apenas isso e nada mais que coisas.
Acordou apenas quando percebeu que quem amava não se sentiria feliz com a sua morte voluntária em vida, afinal nenhum dos dois teve culpa.
Num repente inesperado um acordar repentino por algo estranho à sua concepção de realidade aconteceu, o toque que sentia no seu rosto não podia ser real, mas não lhe era estranho, o cheiro, a sensação naquele momento, não podia ser realidade. Não acredita em nada para o além do nada.
Já alguém lhe tinha dito um dia, "Há muito mais entre o Céu e a Terra, que aquilo o Homem conhece". Sorriu e aceitou. Imaginação ou qualquer que seja a realidade, o que importa? Trouxe-o de volta à vida. Recomeçou a viver.


Pedacinho de uma vida

Sentada, enquanto espera o transporte D. Maria Manuela pensa para os seus velhos botões, "nunca fui rica, mas sempre tive dignidade. Servi os patrões e sempre os tratei bem e assim fui tratada!", pensava a D. Maria Manuela no seu conjunto de calça de ganga gasta, casaco de fato não muito novo, com o seu rosto expressando humildade.
O cabelo branco entre o cinzento e o mais escuro, de corte simples, mas bonito, deixava transparecer a sua simplicidade humilde e honesta. 
No rosto, sem pintura com traços gastos mas doces, olhos meigos de quem abre os braços ao mundo e o aceita como é.
As suas mãos queimadas não deixam esconder os anos de trabalho duro. Mantém a dignidade, cabeça erguida, mas sempre com a mesma simplicidade.
É solicitada pela sua natureza e tanto assim é que abusaram da sua inocência e boa vontade.
A sua beleza mantém-se. Lembra-se dos rapazes que a cortejavam e outros cujas memórias as lágrimas puxam. "Também eu fui bela", pensava ela quando olhava as moças novas.
Entra no autocarro e senta-se tão discreta e silenciosa, que quase pede perdão por ali estar.
Olha os miúdos que ali estão, uns sentados, outros de pé a dizerem baboseiras óbvias dos 12 e dos 13 anos, idade da parvoíce, que polidamente é chamada de puberdade/adolescência. O seu rosto franze a cada disparate que sai da boca destes futuros presidentes e ministros. "Estes miúdos não têm educação nenhuma. No meu tempo havia mais respeito. Os pais davam 2 ou 3 tabefes e acabava-se a malcriadice!". Eram outros os tempos.
A mistura de pensamentos e memórias vinha ao de cimo, coisas com importância, outras nem por isso, outras que a levam a conclusões.
Entre a sua beleza passada e presente que ainda se sente e se vê aos olhos de toda a gente, humildemente bonita de corpo e alma, as cenas descabias abundantes de falta de respeito, fruto da má educação ou ausência dela, as pessoas que se acotovelam e atropelam no autocarro para se manterem de pé, Maria Manuela faz uma retrospetiva desprendida de tudo, lamentando apenas as voltas estranhas, para si, que a vida dá.
Já não quer saber de nada, já muito pouco interessa, viveu, conheceu do mundo o que, para ela, havia para conhecer.
Conheceu coisas do bem e do mal, deixou muitos sem fala com a sua honestidade e franqueza, pelas quais por alguns foi elogiada e por outros ofendida, apelidada de pessoa sem modos, mas uma coisa era certa, mais foram os que lhe reconheceram as suas qualidades, trabalho de que tanto se orgulha ter cumprido.
Era humilde de corpo e alma, não vestia roupas caras, mas tantos a quiseram quantos a desdenharam.
O seu olhar puro deixa adivinhar que soube viver a vida enquanto a deixaram, errou por inexperiência, mas nunca por falta de hombridade. Deixa descair um ligeiro olhar do que a faz ser um mortal com defeitos e virtudes como tantos outros, mas é ela mesma.
Levanta-se, erguendo a cabeça sem arrogância. Por entre cotovelos e encontrões lá descobre a porta de saída para o que ainda tem a viver.
A vida tem momentos em que somos transportados. Enquanto estamos nessa pausa do nosso movimento, pensamos, observamos e voltamos a andar pelos nossos pés, traçando a cada passo o nosso fado, caminho, destino. Umas vezes conduzimos-nos ao nosso haver que, outras somos conduzidos ao que temos que ir. Faz tudo parte, é apenas mais um pedacinho de vida.  

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

E.T's e os cobaias

Nada que eu possa dizer te levará ao ponto a que me refiro, é distante demais para ti, é simplesmente muito longe. Eu venho de longe!
Nada que eu te queira mostrar é fácil veres, porque é demasiado imenso para veres os seus pormenores, e alcançares o todo de uma só vez.
"Foda-se pah, não me chateies com as essas merdas!
Quero apenas dar umas quecas!!!
Qual é a parte do "quero apenas dar umas quecas que ainda não entendestes"?
És tão inteligente para umas coisas e tão estúpida para outras! 
Quem é que tu te julgas mesmo que és? 
O quê? Queres ver também o boletim das vacinas e análises dos últimos 6 meses???
Foda-se!!!
Até lá já eu perdi a tesão e já estou noutra, que se entenda, outra gaja!
És muito complicada, pah! 
O que é que és mais que as outras?

Ah, ok . . . chata, melga, paranóica?!?
A vida é curta pah! . . . eu não tenho tempo para perder com parvoíces. Queres queres, não queres, ao menos me chateies. Não gostas, é? 

Pah, vê lá se ganhas juizinho ou se cresces! 
Gostas de gajos difíceis ou de paus mandados? 
Desculpa, mas não tenho paciência para joguinhos de merda. 
Não te armes em esperta, ou difícil, não és assim. Queres o mesmo que eu!"
Oi!!!!
Calma aí!!!
Ya, ok, tens razão, estavas a divertir-me um bocado, mas qual é o mal? 
Não querias também divertir-te no meu "parquinho de diversões"???
Cada um diverte-se como gosta, eu preciso de caçar o rato e brincar com ele antes de o matar! . . . e depois? 
Esta é a minha cena . . . faz parte dos meus preliminares! E depois?
E tu? Achas-te assim tão incandescente que tudo o que mexe se incendeia ou derrete mal tocas?
Oi, amigo, cai na realidade, olha-te ao espelho!!!
Para as quecas ou conquistas logo pelo corpo ou dá um bocado mais de trabalho!
Desculpa, ainda só cativaste parte do cérebro e a coisa divide-se em várias partes, todas elas com vontade própria! 
Há tanta gaja por aí! Qual é o teu problema? Não me levas ao castigo, aproveita e leva outra. O que não faltam aí é gajas que vão lá com um lamiré!
Considera-me um treino de acesso ao recinto. Vê onde falhaste, onde foste bem sucedido, as tuas expectativas, os teus pontos fortes e os fracos, estilo vendedor. Eu disse-te que nem tudo o que parece é!
Os locais são apenas isso mesmo, locais! . . . e o que se pode fazer nos locais é muito mais que o que parece óbvio!
Ok, estamos mais calminhos?
Ok, é simples. Ainda não entendeste mesmo nada, pronto. Não te vou obrigar a perceber que nós somos todas diferentes apesar de termos todas, supostamente, um paquinho de diversões . . . supostamente!
Algumas de nós, tal como vocês, somos mesmo extraterrestres com corpo de gaja para experiências científicas. As E.T.'s assumem o corpo que vestem com todas as suas particularidades, mas são E.T.'s na mesma. Somos para vocês coisas estranhas que não sabem bem como funcionam a maioria dos cobaias dos últimos tempos, que também se podem distrair e achar tanta piada aos cobaias, que se esquecem que estes são seres humanos do sexo masculino.
Mas descobri seres um cobaia, um bocado grande, de diferente dos outros, há qualquer coisa em que diferes muito dos outros cobaias, tens qualquer coisa de "raro".
De onde venho apreciamos em absoluto apenas quem tem o "raro". Para nós o "raro" é o que é importante encontrar e só tu que não tens noção do teu "raro".
E como eu gosto de "raro"!
O "raro" está tão diluído que quando surge, perdemos a noção e brincamos como umas crianças que estão em casa com os seus brinquedos favoritos.
Não posso ficar. Estás contaminado com muita coisa, estás muito sujinho, não tens consciência, mas estás. Tenho pena, porque gostava de ficar, mas não posso. Ias contaminar-me para se fosse eu a tentar retirar todas as tuas camadas de sujinho que escondem o teu "raro" de ti mesmo. Ainda não tenho as ferramentas.
Vou continuar na minha missão sem ficar à espera que percebas o que te quero dizer porque, como dizes e bem, a vida é curta e foge se te distrais. Como te disse sou de longe, muito longe e não sou eu quem te vai explicar tudo o que te poderia dizer.

Reencontros "e se. . ."

Os reencontros menos prováveis fazem-nos pensar que estamos no meio de uma sequela de um filme.
Uns dizem que o primeiro filme era melhor, mas outros dirão, "será?".

"Quando é que o primeiro filme foi feito?
- Epah . . . pois . . . nessa altura as coisas eram feitas de uma forma diferente, ainda não havia as tecnologias que existem hoje, os conhecimentos nessa área agora são outros, mais avançados, faz-se tudo de maneira diferente.". Era, realmente, tudo tão diferente. Mas tudo tinha um sabor a novidade, a desnecessária preocupação fosse com o que fosse, mas ao mesmo tempo tão caótico. 

A ingenuidade, os avanços sem base de nada que não fossem as hormonas e o "estou apaixonada! . . . ele é tão lindo e é tão da fixe!", tudo é tão maravilhosamente inesperado, assim como os desfechos, as inconsistências, a falta de consubstancia, mas era mesmo assim e olhamos agora como uma película velha com as cores já meio comidas pelo tempo e saltos nas sequências da fita. Algumas das imagens são cortadas e deixadas de parte numa caixa de lata e escondidas onde não quisemos ter fácil acesso.
O primeiro momento, o primeiro beijo, o calor dos lábios e das mãos macias que ainda só ainda tinham tocado a vida das aventuras loucas da adolescência.
O palpitar e as borboletas tresloucadas no estômago, o apetite que desaparece e a paixão é o alimento que sacia toda a fome, o sono é substituído por sonhos acordados . . . os olhos não fecham para não parar de sonhar!
É a rebeldia comandada por todas as substâncias que percorrem os corpo, desde as internas e naturais às menos menos naturais . . . Mas fazia tudo parte do puzzle!
Tudo era tão louco e desprovido de culpa, apetece faz-se, as consequências ficavam para depois.
O remake com os mesmos personagens é uma tarefa impossível, já passou o prazo de validade para remontar a historia. Após o reencontro tão inesperado como surpreendente, após a troca de algumas perguntas vagas e repostas não mais completas, dizemos "gostei de te ver! . . . estás na mesma!"; pensamos num ápice "bem . . . isso pode ser bom ou mesmo muito mau!", despedimos-nos, afastamos-nos com aquele sorriso quase tosco no rosto, baixamos disfarçadamente a cabeça, silenciosamente pensamos o "e se . . ." e cada um segue o seu caminho, enquanto se esbate esse incomodativo "e se . . .".
A sequela nem sempre acontece. É um acontecimento aleatório que pode surgir ou não, depende das voltas, agitação e encontrões que o mundo e a vida dá, mas nunca como o "tinha que ser" . . . Ainda somos participantes nas nossas decisões. 
Sem dúvida que existem reencontros magníficos, surpreendentes, mas serão sempre apenas reencontros, serão memórias vivas que voltam a confrontar-se no "e se . . .", mas é tarde para voltar ao ponto de partida, talvez até ainda bem quando aquele ponto de partida estava condenado à partida. Mas o amanhã é um de cada vez, tão certo de incertezas como o amanhã que passou a ser ontem e por aí a diante.
O tempo passa e a nossa história muda, imprimimos coisas, moldamos coisas, estragamos outras coisas e algumas sem recuperação possível; mantemos em aberto o que nunca conseguimos encerrar, carregamos dúvidas e mais dúvidas, questões e mais questões que insistimos em encontrar as respostas para algumas 
O que seria da vida sem os reencontros, sem as questões que nos mobilizam, sem todos os "e se . . .", esses salpicos de emoção mais explosiva que nos fazem sentir vivos?


     

sábado, 14 de setembro de 2013

O que é que . . .

O que é que te aconteceu, que ninguém te vê?
O que é que despoleta tanto "Que medooo!!!!"?
O que fazes tu de tão malicioso que apavora o mundo?
Ainda és uma criatura divina, não te esqueças disso. Ainda estás a tempo de encontrar o caminho.
Desististe?
Do que é que te escondes? Do quê!?
É assim tão mau o que vês?
Tens monstros sagrados dentro de ti ou és só mesmo tu a seres o que és?
Tens um Dr. Hide seletivo ou é mera ficção mítica do povo assustado com o que não conhece?
Vá, diz-lá!
Ok. Não é fácil para ti dizer o que vai aí dentro a toda a gente, eu sei, acredita que sei. O mundo é um local estranho para se viver.
Já encontraste o teu Norte?
Descobri o que pouca gente descobre, porque nem todos o podem.
Estás deslocado o mundo e preferes beber a ter que olhar para ele sem fazer nada. Ao menos a green fairy ajuda a melhorar a vista, dá outra harmonia mais perfeita, com menos desgraça e com mais graça. O mundo assim até parece um lugar bonito de se viver, onde até os mais cínicos são capazes de ser amigos de todas as pessoas tão genuinamente quanto o verde rasca da fadinha martelada, que bebem em tempos de crise.
Onde é que estiveste este tempo todo?
Por onde é que passaste metade da tua desgraça? 
Perdido pelas esquinas bebendo aqui e ali a ver se ao menos o stress desaparece a cada trago de vinho? 
O tempo passa, mas ainda consigo ver o menino que era distante do mundo, que andava sabe-se lá por que nuvens, o miúdo para quem faltava sempre qualquer peça para conseguir perceber o todo, alguma coisa que te escapava, porque havia sempre qualquer coisa que não fazia sentido. Insatisfeito porque precisava de perceber o porquê das coisas não lhe fazerem sentido. Tinha que haver alguma explicação para as coisas não fazerem qualquer sentido.
Como é que conseguiste viver?
Andas ainda à procura da peça ou já desististe?
Tens consciência que não és assim muito normal, não tens?
De facto não és. Não és mesmo. Aguenta. É duro eu sei. Não é fácil ser-se o que se é no mundo do "todos são assim" e tu, definitivamente, não fazes parte do todos são assim.
Vives com o teu mundo às costas. Carregas a cruz de seres o que és no mundo do "todos são assim", mas olha, não sei se sabes, mas há mais como tu, mesmo que não percebas o que és. Há mais como tu, andam por aí espalhados, uns sabem a onde pertencem e outros, talvez como tu, andam por aí, outros ainda arrastam-se por aí à espera de ser pegados por um braço e que os levem para onde os levarem. 
Andam aí, eles andam aí, mas não são como os outros, os tais outros que pertencem ao mundo do "todos são assim". Uns dizem que eles são poucos, mas encontram-se de tempos a tempos para retomar o caminho para onde partiram. Encontram-se como velhos amigos que nunca deixaram de ser, encontram-se e trocam aventuras das suas viagens por este mundo, falam de tudo o que esta vida lhes deu e partilham o que podem partilhar. 
É a paz, é o estado de paz de terem chegado a sua casa e encontrar parte de si mesmos, é a peça que falta para que tudo faça sentido. 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A mais longa viagem da Hitória

Fomos donos de um mundo que nunca foi nosso.
Fomos senhores de metade do mundo que nunca foi nosso.
Fomos lordes de coisa nenhuma, porque coisa alguma nos foi entregue ou deixada à nossa guarda.
Fomos o mesmo que outros, uma coisa que se roçou noutra coisa e noutra, cada uma delas mais disforme que a outra, feita de outras ainda mais pequenas e sem graça alguma, ou talvez tivessem por isso mesmo, mas a sua simplicidade era reinante. Fomos um bocado de qualquer coisa que ainda não é nada de concreto, fomos um a meio de se tornar, um a meio de deixar de ser o que era, na sua forma mais material.
Vagueámos com mãos e pés no chão, trepámos árvores e comemos fruta saudável, bebemos água saudável, fizemos aquilo tudo que fazemos hoje, mas com mais pêlo, menos roupa, menos pudor, sem problemas com  a internet . . . esta não era necessária, bastava o amigo, ou amiga, ter feito uma mijadela a 10 metros de distância, que já sabíamos se ele estava feliz, triste, com vontade de nos encher de porrada ou apenas desejante de nos encher de amor animal e criar uma prol de peludinhos. A Internet seria mesmo lixo espacial e mais um monte de fios onde tropeçar e dar uns valentes tralhos no meio do chão da floresta, da savana, do mato. 
Fomos tão felizes!
Era tudo tão simples e divertido até alguém ter tido a ideia triste de se misturar com um vizinho espertalhão e mais outro e outro e outro e outro e já éramos tudo menos o original.
Começámos a perder pêlo ou cabelo ou os dois, pusemos-nos de pé e pusemos-nos a caminho da mais longa viagem da História.
Menos pêlo trouxe mais frio e começámos a tapar as vergonhas, porque os dói-dóis deixavam as ferramentas inutilizáveis e lá se ia a hipótese de alargar a prol.
Começámos a usar o tico e o teco e a coisa começou a complicar, pusemos calhaus a rodar, descobrimos o mais poderoso segredo dos deuses na arte de transformar a chicha intragável e demos início a um dos mais perigosos pecados . . . a gula. Comer paparoca cozinhada deu-nos uma facis menos rude, fomos suavizando os traços da fronha e ficando, ao gosto dos dias de hoje, mais bonitinhos. 
No meio deste borbulhar de descobertas, foi surgindo o que levaria ao tal e amaldiçoado dinheiro, foi-se descobrindo a espiritualidade, Deuses, Deus, Criadores e Criador, surgiram escravizadores e escravos, exploradores e explorados e todas formas e formatos.
Afirmámos-nos como bestas territoriais, com requintes de malvadez, refinando a estratégia à medida que nos íamos aprumando na imagem. Sanguinários, bárbaros ou mais espirituais, todos continuámos a fazer o mesmo.
Tratámos o mundo como uma laranja que se parte em várias partes ignorando quem nele existia, ignorando que não éramos os únicos com cabeça tronco e membros. Tugas e El Irmano levaram as fatias maiores, já os "Bifes", os "Laranjinhas" e restante matilha foram agricultores, semearam para colher no futuro.
O tico e o teco trabalharam tanto, que fez fumo, a indústria de todas as coisas nasceu e nunca mais parou de crescer. Mais exploradores e explorados e todas formas e formatos apareceram continuaram a aparecer em toda a parte. As guerras agora são outras somando às anteriores.
A seguir ao fogo a internet foi a segunda forma de pegar fogo ao juízo dos mortais. É o novo Céu e o novo Inferno e tal como no Paraíso o mal também se esconde entre os bytes, megabytes e os gigas onde milhões de Evas e outros tantos Adãos dão fim e início aos seus paraísos pessoais.
Hoje temos a internet e, que como Deus, tem que ser escrita em letra maiúscula, assim dita o dicionário do blogspot.com!!!
Fomos aspirantes a donos de alguma coisa, mas acabámos propriedade do que criámos, vítimas e escravos do que engendrámos para nos servir. Somos servos e dependentes da nossa dependência . . .
Somos aquilo que sempre repudiámos, sempre detestámos; somos seres invadidos e vergados à sede de poder de quem não queremos que comande a nossa vida, de quem não sabe comandar e liderar.
O que fomos ou fizemos já não importa, porque até onde descemos foi longe demais . . .  




quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Escondido às claras

Por detrás de uma lâmpada apagada esconde-se o óbvio o que está à vista desarmada. Esconde-se o que não quer ser visto por olhos vulgares, sem graça ou originalidade.
Por detrás de uma lâmpada apagada está tudo e não está nada, porque não há nada para ver, porque só vê quem pode e só pode quem vê. Não tem que ser dito, não tem que ser assim tão óbvio.
"Estou aqui, é esta a minha pele e a minha carne, é este o todo e o tudo, é só isto. Que mais haveria de haver e para ver?
Só tu pensas que tenho escondido algo na manga, um subterfúgio para mentiras descaradas, à vista de todos e do nada. Um mundo interior guardado para ti. Desenganos e mentiras, só mentiras!
Queres ouvir o quê? Que vou ser o mesmo antes do que era, ou melhor . . . do que sou, do que EU sou!
Não, não pode ser assim. Às vezes as vidas atravessam-se à frente de muitos distraídos e catrapum!  . . . caem que nem tordos nas próprias ilusões e quimeras de um mundo perfeito para lá dos seus olhos, para lá da sua imaginação, mas é tudo tão imaginação, ou julgas que sou o único . . . até agora?".
A compreensão vai além da minha capacidade de acreditar, porque é mais fácil compreender que acreditar.
Acreditar pressupõe, ou não, aceitar o que não se quer aceitar, mesmo que assim seja e tenha mesmo que ser. É e vai ser sempre difícil. Sempre e o mesmo caminho da ilusão, das coisas que queremos ter e não podemos, das coisas que nos são metidas na frente para que ao menos vejamos um pouco mais, para que sejamos verdadeiros connosco próprios e aceitar, por muito que custe, por muito tempo que leve pensar que se tem que aceitar. 
Sempre a mesma luta entre o que se vê e o que é, entre uma perspectiva e outra, a que nos agrada e a que  não queremos ver, que prescindimos, seja a verdadeira ou não.
Poderás ser julgado, mas sempre em perspectiva, confundindo ao teu redor com a fumaça que lanças para de novo te esconderes um pouco, mas a verdade é sempre e será só uma! A verdade!
Estás e és às claras, para que vejam apenas o que há para ver, porque mesmo que graciado pela luz mais natural haverá sempre algo escondido, que é e será sempre apenas teu!

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Arrepender também faz crescer!

Lembro-me como se fosse ontem, como se o tempo não tivesse passado, como se ainda estivéssemos no mesmo espaço que nos deixámos de ver, naquele momento encantado, na mesma vontade de ficar, na mesma vontade que ficasses e não te dirigisses para a porta de saída. 
Lembro-me como se tivesse acontecido ontem. 
Ainda me lembro do cinzento do teu fato, apesar de me ter esquecido a cor da gravata que usavas, mas de certeza que não era menos discreta e a condizer que as outras. 
Lembro-me como se tivesse sido apenas ontem, querias ficar e eu não queria que fosses, mas tinhas de ir. . . tinhas coisas para fazer . . . mas como me apetecia que ficasses! 
Apesar de haver ali mais que apenas nós, o mais não era importante, estava ali apenas o que eu precisava e o que tu querias.
Eras apenas a maior parte de tudo o que eu queria, mesmo que não fosses perfeito, nem o genro ideal. Não, não eras mesmo. Já tinhas demasiado histórico, excesso de requisitos para passares na aprovação da censura, não a minha, porque pelo meu crivo passaste com distinção. Quão viva me fazias e fizeste sentir. Eras como se fosses a minha casa, o meu espaço, onde me sinto em casa, onde quero permanecer mesmo que falte um quadro na parede, mesmo que não tenha as vistas dianteiras para o mar. Mas eras o meu espaço! 
Mas tudo passa, menos o que nunca aconteceu, menos o que nunca se realizou, menos o que ficou no pensamento, nas ideias nos "e se . . ." da vida. 
Não tivesse sido estúpida, parva que nem uma adolescente doida e inconsequente, o que tivesse que acontecer acontecia, porque o que tivesse que ser seria.
Passaram os anos e chamas ainda ardem sem eu te ver. Os ramos secos alimentados pelas acendalhas que nunca se apagaram, que permanecem em lume brando, porque nunca foram apagadas, apenas ficaram ali a arder, mas longe do que pudessem aquecer. Por pura conveniência, ou medo de deixar partir.
Os caminhos, seja por uma razão ou por outra, tocam-se mesmo que tão efemeramente, por escassos minutos, mesmo que eu esteja aqui e tu onde estiveres. 
Não existem palavras para descrever cada re-ouvir a tua voz, a tua energia de menino que tenta disfarçar ou conter a sua euforia de ouvir novamente alguém muito especial. Já não era suposto e ainda te saem rasgos de euforia, num misto de felicidade, alegria e uma pontinha de nervosismo . . . tão bom! 
Não perdeste a tua generosidade e bondade de quem quer ver alguém mexer-se e ganhar um rumo, de quem quer ver alguém especial seguir firme e destemida.
Quem me dera poder voltar atrás e travar no pensamento as palavras que saíram, imbecilmente, da boca no momento errado, à pessoa errada, no sítio errado, na hora errada . . . Desculpa. 
Tão sabiamente disseste "as desculpas não se pedem, evitam-se!!!". Mas já era tarde. A asneira mestral estava feita e já não havia volta a dar e nada podia tudo isso apagar.
Queria dizer-te tanto, mas tanto e o quanto triste e desiludida comigo me sinto cada vez que desse malfadado momento me lembro. Quem não estava à tua altura era eu, por muito que as más línguas o contrário dissessem. Aos olhos destas vis criaturas para pouco servias, não eras médico, engenheiro ou advogado conceituado e não tinhas montes de massa. Mas para mim estavas bem assim!
Os anos passam e crescer faz-nos ver as coisas com olhos diferentes, faz ver que tudo tem um peso e uma medida, o que foi dito ou feito ganha a sua real dimensão, a sua real profundidade, o seu impacto é obrigatoriamente diferente. Arrepender também faz crescer.
És, sem dúvida, uma recordação especial e estás num lugar especial onde só existe espaço para as minhas melhores e mais felizes recordações. 







segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Puta . . . ser ou não ser . . . heis a questão!

"Se algum médico te convidar para ir para a cama, vai!
Vai! 
Se algum médico te convidar, vai!"
Parece-me sem dúvida um bom conselho para alguém que está no começo de vida, para alguém que ainda se apaixona tão romanticamente, que quando ia alugar filme de comédias românticas, sentia mais vergonha que se estivesse a alugar um filme pornográfico . . . É que o filme pornográfico podia significar "C'a granda maluca . . .", ou melhor, "andas a apimentar um pouco as coisas . . .", ou até, "esta gaja gosta de variedade . . ."; ao passo que as comédias românticas em grandes quantidades são o sinónimo de falta de vida emocionante, falta de vida sexual gratificante, para não dizer falta de homem, sonhadora com o príncipe encantado, perfeito de corpo e alma. 
No momento de pagar olha para a esquerda e para a direita com um ar comprometido, enquanto a empregada, ou empregado, está a ver o histórico de filmes alugados, porque existe a possibilidade de se aproximar alguém que olhe e veja a quantidade de comédias românticas em cima do balcão.
"Se algum médico te convidar para ir para a cama, vai!
Vai! 
Se algum médico te convidar, vai!"
Que bonito . . . é lindo . . . digno de uma comédia romântica de putaria! 
Até já estou a ver os títulos: "Putas em Fuga", "As Palavras Porcas Que Nunca Te Direi", "Puta Minha", "Para Sempre Puta", "O Diário da Puta", "Procura-se Puta", "Quero Ficar com Puta" . . . entre outros magníficos e sugestivos títulos dos quais não me lembro agora, mas tudo assinado com o fundo cor-de-rosa . . . 
Com todo o respeito que não tenho pelas putas, não me parece o caminho certo, pelo menos para mim 
Iniciação de puta . . . peço desculpa, mas não é a minha praia depender de um que seja médico, engenheiro de obras feitas ou aspirante a tio com montes de massa para me safar na vida!
E eu enquanto pessoa!?!?! E a minha alegria e satisfação enquanto ser humano!?!?!?! Isso não interessa para nada???  
Coloca-se a pergunta: e se a massa do gajo for para o raio que a parta?
E se
 de repente o gajo ficar tão teso de cheta que nem para os produtos "e" do Continente consegue pagar???
Como é? Há algum subsídio para desemprego para puta?
"Olha lá pah, gajo tem 54 anos!?! É novo pah . . .", ok, muito bem, mas os meus 28 anos, na altura, não achavam o mesmo e muito menos a minha maturidade emocional de 18 anos!
Ok, até podia ter boa pinta, podia ser emocionante para ele, e um pouco para mim, mas alto, quem manda na minha vontade, desejos e paixões ainda sou eu, mesmo que bastante baralhada e desorganizada emocionalmente!!! 
. . . a mestra em putaria tem falta de algumas competências e uma delas é a psicoterapia! 
"Olha, aquela rapariga anda toda "inchada", roupas caras, montada num belo carro anda com um velho careca, gordo, sem jeito nenhum!
- Que horror!!! Eu não era capaz!!!
- Mas olha, tira-a da miséria!!! Se me tirasse a mim da miséria . . . ao menos não está na miséria!!!", agora . . . por enquanto!
Ya . . . parece-me que não tenho talento ou dotes suficientes para tal carreira, de Puta!
Realmente não consigo invejar tal abundância vinda de tão maravilhosas origens . . .
Contar com o ovo no cu da galinha nunca foi boa aposta para o futuro. Ainda mais, que cedo tive que perceber que o que é hoje nem sempre será amanhã, para o bem ou para o mal, por muito que custe a parte do bem não ser para sempre, mas se pudermos não depender dos outros, tanto melhor!
Se a vida já é fodida, não preciso que um velho baboso me foda, sem ao menos entrar algum prazer nisso. Poderia apaixonar-me loucamente por um velho e dar quecas fabulosas tendo em conta a realidade . . . mas ao menos era a minha escolha e vontade, eu participava na opção, era um ato de satisfação a dois e não unilateral!
A vida está a custar-me bastante mais que o que alguma vez tenha sonhado, mas certeza porém, ser puta não estava, nem nunca esteve no meu destino, seja este qual for. O preço de chegar a algum lado é alto, mas ao menos que seja por mérito, reconhecimento, porque o de puta é bem maior e não existe água benta suficiente que lavasse a minha alma. 
Por tudo isto, por muito que a vida me custe agora, mais me vale nunca ter sido ou ser Puta! 



domingo, 8 de setembro de 2013

Fruto permitido . . .

Queres, mas não podes. Apetece-te, mas . . ."e se ela descobre???"
Se descobrir, talvez não seja nada que já não saiba!
A curiosidade mata . . . mata-te a ti e a ela do coração, depois de descarregar sobre ti uma Magnum 45. Pelo menos é o que aparece nos filmes, quando a gaja descobre que o gajo afinal quer mais gajas no seu rol.
Pois é, a curiosidade mata, rebenta com os miolos do pecador e de quem não conseguir escapar. A curiosidade saciada é perigosa se se quiser repetir o pecado. Do Céu afastas-te e vontade a mais aproxima-se. O risco aumenta com a vontade de arriscar, de experimentar mais uma experiência, mais uma novidade, ou uma velha curiosidade, talvez tão velha quanto a necessidade de transgredir, de ultrapassar os limites, todas as barreiras do aceitável e saltar para o fantasiosamente inevitável.
É mais uma saga entre o pecado e o pecador. Não pode dar nas vistas ou é o fim da macacada.
"Estou aqui, mas não estou . . . já aí estive. Tu não sabes, mas estive. Vasculhei todos os teus recantos sagrados, mesmo sem a tua autorização. Cheguei e rasguei tudo o que te cobria. Não quero saber o que pensas disso, mas entrei  percorri cada centímetro teu com tudo o que queria percorrer. Fiz-te coisas que até o mais impuro duvida. Deixei-te a chorar por mais, até te jogares aos meus pés lavada em maquilhagem e lágrimas, suplicas trôpegas  . . . Que belo espectáculo!".
Fantasias e mais fantasias surgem atrás de mais fantasias . . . minhas, tuas, de quem as tiver!
Os teus olhos gritam o que a tua boca não pode falar, o que o teu corpo não pode fazer, porque as regras dos bons costumes não o permitem, é promíscuo, lascívia proibida, pecado nada original . . . ou não fossemos todos filhos dele antes de sermos, alguns de nós, de uma . . . grande e ultrajante puta.
Queres e continuas a querer enquanto o teu portefólio de fantasias não se esgotar, enquanto o permitido não chegar. Dá-te mais gosto assim, é um fruto proibido, é um dos teus segredos, é todo o lugar aonde mais ninguém acede, mas és apenas tu quem pensa assim! 
. . . mas já deste nas vistas. Ela sente, sabes? Estas coisas sentem-se na atmosfera, são orgânicas!
Agora é a parte em que me divirto, a parte em que tens que disfarçar para ti mesmo, enganares cinicamente a ti mesmo, para que nem olhos, rubor  ou movimento falem. Imagino-te contorceres-te no âmago, num auto-controlo aparente e descontrolo total por dentro. 
Mas que rejúbilo é aos meus olhos, inocentes esmeraldas tão frias quanto puras . . . mas tão efervescentes quanto mil vulcões!
Agora é a minha vez de viver o meu fruto permitido, tão delicioso quanto o mais proibido, mas tão mais saboroso, porque me diverte e contigo não é dividido.

  


sábado, 7 de setembro de 2013

id, ego e orgulho . . . Trilogia Perigosa . . .

É como tudo o que é, ou é ou não é. Está tudo traçado à nossa mão para escolher, seguir o certo ou o errado é uma coisa que o ego se alheia e deixa que sejas tu a escolher, para depois te chateie com a sua arrogância de criança mimada. "Eu quero!!! Tem que ser meu!!! Eu quero, não interessa nada! Eu é que sei!!! Apetece-me!!!", grita o ego perante a dificuldade, mas não pensa se é certo ou errado, apenas limita-se a dizer o que quer independentemente das consequências, independentemente do que venhas a sofrer depois. O ego torna-se submisso ao id e ao orgulho e o super-ego é emudecido para satisfação do ego, do orgulho e do id, a Trilogia Perigosa!
Não importa o que é certo ou errado, o que o outro também pensa ou quer, o que importa e a tua satisfação, mesmo que estejas redondamente incorreto, mesmo que estejas soube o comando do teu próprio egoísmo, egocentrismo. Nada mais interessa que não a tua satisfação, mesmo que possas estar a cometer uma enorme asneira.
O ego arranja todas as desculpas esfarrapadas para seguir nos seus intentos, sejam eles carregados de amor, paixão, obsessão ou fantasia, não interessa, ele monta-se no seu orgulho e segue em frente desalmadamente com toda a sua imponência. Arrisca tudo e todos, avança e derruba todos os sinais contrários, ao que deve e ao que não deve ir, ignora tudo e todos e vai, vai e vai.
Mesmo que uma torrente vinda da direção do errado carregada de gelo e pedregulhos se atravesse na sua frente, o ego diminui, para ele são apenas um monte de borboletas desorientadas e o gelo é apenas uma brisa fresca. Todos os galhos partidos e afiados jogados por outros egos, desferem-lhe golpes que não sente, munido da adrenalina e vontade. Mesmo que do campo do errado venha um guardião ameaçador com o seu olhar provocador de sofrimento, o que interessa é o alvo. Mas aí começas a ver o que não querias ver. Começas a ter contacto com a realidade. Perdes um pouco de forças e temporariamente deixas-te vencer pelo adversário e tentas confirmar o que queres ver. 
Pouco a pouco começa a fazer-se alguma luz e pouco a pouco o teu orgulho, o id começam a sentir-se esgotados, começam a perder toda a coragem e lentamente vão abandonando o ego. O ego continua a cavalgar, cada vez mais devagar e o que não via nem sentia começa a fazer-se sentir e fazer-se ver. As feridas abertas fazem-se sentir assim como o resultado da torrente e tudo o que o fere. O ego esgota-se, não pode avançar mais. 
Abandonado por si mesmo, o ego sente-se só. Procura ajuda, um ombro onde chorar as suas derrotas e tristezas. Apenas o tempo trará o que o ego precisa para se recompor e reconstruir, limar os conceitos errados e redefinir-se, olhar o terreno cavalgado e fazer o saldo das conquistas.
Apesar da aparente perda, a vitória é muito maior, a do seu conhecimento, a da sua noção da realidade, a da consciência das suas verdadeiras necessidades vitais. 
É uma longa travessia até o ego se olhar a fundo e deitar para o lixo o que faz de si uma coisa auto-destrutiva, coloca os seus velhos amigos nos seus devidos lugares e dá-lhes os cargos com as corretas competências. 
Durante este tempo todo o super-ego esperou que este velho companheiro acordasse para a realidade, para lhe oferecer o seu apoio, os seus ensinamentos que tanto ansiou por partilhar, tudo o que esta criança mimada precisa para se defender de si mesma. 
A aprendizagem será demorada, mas funcional, útil e cada lição aprendida a seu tempo e usada no momento correto.
Assim foi a batalha deste ego para se transformar no que é suposto ele ser. Tudo faz parte do processo, as vitórias e as perdas. Contudo, o ganho do conhecimento sobre o orgulho e o id valeu a pena, porque a alma do ego não era pequena!   

Sejamos as cópias ou os originais, somos inicios

Deixa doer . . . o que quer que seja deixa. Deixa que passe por si, mesmo que te enroles nas tuas fantasias mais loucas sobre o que queres. Deixa . . .
"Podia abraçar-te, abraçar-te nos meus braços, podia esperar-te . . .", assim diz a letra da canção. Podia ser tanta coisa de tantas formas, mas nunca nada como o que desejas, mesmo que seja impossível; pelo menos sonha, pelo menos tens algo com que sonhar, existe algo que te move, te deixa desejar alguma coisa. 
Sonha e deixa que o sonho te leve, te leve para tão longe, para onde nada é impossível e onde podes ser livre de tudo, livre do que te impede de ser feliz, longe do que te amordaça perante o que mais desejas, mesmo que no mundo real seja impossível. No mundo real apenas vês sombras e cópias do que mais desejas, cópias que, aos teus olhos, apenas e nada mais são que isso . . . mas o que queres é tão impossível aos olhos dos Homens, que apenas Deus poderá considerar a possibilidade.
Um dia tu acordas e olhas ao espelho, vês uma cópia fiel a ti mesmo, mas só tu és o que és, por muito fiel que seja a imagem refletida. Não passa disso mesmo de uma imagem refletida, ao contrario das cópias que vês passar na rua, numa revista de gente famosa ou nem por isso, num filme que te faz lembrar o original. Mas a cópia é também alguém para outro alguém e tu poderás ser a cópia do original desejado de alguém.
Somos cópias, sombras e originais para tantos outros. Contemplamos o mundo e vemos o que ele nos apresenta e lemos o que nos interessa, nem que seja apenas o que realmente queremos ver, o que queremos para protagonista das nossas fantasias, sonhos e desejos, uns mais secretos, outros sagrados, alguns até banais.
Larga, deixa ser, deixa ir, mesmo que não seja para ti, mas larga deixa o original seguir o seu caminho se é o bem que lhe desejas.
Mas deixa, larga, desprende-te, porque mesmo que doa, irás sempre encontrar originais possíveis, outros nem por isso e muitas vezes as cópias surpreendem mais que o original impossível aos olhos dos Homens, mas não procures nas cópias os originais, porque estes também são únicos, por mais semelhanças existam entre os invólucros. 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

. . . o que importa?

Passaste para o lado de lá, para o teu lado, para o lado oposto, mesmo que os desesperos de amores não correspondidos sejam por ti ouvidos ao longe. Já conheces os campos minados de um lado e do outro, mas levas o melhor dos dois mundos para onde achares que te apetece no momento. Não estás preso a nada mesmo que a tentação, seja esta qual for, vinda de onde vier, te bata à porta e esse magnetismo te assedie tão encantadoramente. 

"Não tenho satisfações a dar a ninguém sobre com quem me deito . . . cama é minha e nela mando eu!
O corpo é de quem me apetecer o dar a provar e me encher do que eu quiser!
Não tenho culpa de gostar do que é bom!
A quem é que pode interessar se me deito com o António, com o José, com a Mariana ou com a Sofia??? . . . o lugar estava vago e nessa noite apeteceu-me . . ."
Resfolgas do teu momento de hedonismo sobre o suado corpo do gladiador após a luta pelo êxtase. Olhas o prémio da tua vitória derramado sobre os lençóis de seda pura, contemplas as formas que deram forma ao teu climax, enquanto respiras ofegante. Não reages por alguns momentos, até recuperares o fôlego. Acendes o cigarro da vitória e partilhas-lo com a boca que está mais próxima de ti. Desligas-te de tudo e saboreias o sabor do cigarro. Exalas o fumo em semi-transe descansando os olhos num ponto imaginário na parede em frente ao teu leito. Não pensas em nada, apenas sentes vontade de nada pensar enquanto escorregas os teus dedos pelo que sobrou intacto do festim, desenhando o fumo do cigarro a área percorrida. Observas e continuas a observar deliciando-te com tudo o que vês, num olhar misterioso e atrevido, antecipando o que virá a seguir ao último bafo. O tocar da campainha interna desperta os amantes para uma nova ronda. Entre um cigarro e outro repete-se, por tempo indeterminado, o remoinho sobre o altar de todos os pecados; fazes a abertura e encerras cada ato com a classe de um guerreiro nobre. 
Manuel, Margarida, Feliciano, Madalena . . . o que importa?
Os atores são pormenores únicos, mas não menos que o palco que assume um novo cenário, uma nova trama, um novo cheiro por cada episódio de uma sequela nunca monótona, enquanto a imaginação fervilhar e o corpo assim a acompanhar.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A ti e a ti . . .

A ti e a ti . . .
Amo-te e quero-te tanto.
Tanto que me sai dos poros, afoga-me, sufoca-me esse amor que é tão imenso, tão grandioso.
Amo-te e quero-te tanto.
Tanto que não posso mostrar, falar, contar dizer, dizer-te.
Amo-vos e quero-vos tanto.
Duro que é admitir, duro é viver o amor que amo à noite e o amor que amo de dia.
Não quero deixar-vos ir, mesmo que tenham que ir ao vosso destino, à vossa vida, ao vosso chamamento.
Não quero deixar-vos partir, partir para longe ou mesmo para perto.
Não quero deixar-vos partir.
Não vás, não quero ver-te sair de onde estás.
Não quero que me deixes, não suporto a ideia de deixar de te ver sorrir.
Não quero gostar tanto de ti, faz-me mal, faz-me medo, faz-me frio.
Não quero sentir a parede que te impede de te abrires para mim de corpo e alma, desprovidos de defesas de braços e peito aberto.
Não sabem, não vêem, não sentem, mas eu preciso de ti e de ti.
Eu preciso do que vocês sentem silenciosamente, do que me dão quando me dão descaradamente, do quanto me preenchem serenamente.
Tentei deixar de gostar de ti e entregar-me completamente a ti. Quando o consegui, entreguei-me demasiado a ti e agora tu foges de mim, ou já és tu que não consegues aceitar e viver assim?

Tu sabes que nada escondi, apenas não disse declaradamente que sim, que a final é verdade e é assim, e agora vejo-te quase a partir, mas eu estou completamente aberta e entregue a ti, evitando deixar-me sucumbir, não querendo sofrer por ti e por ti.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Lembranças que trazem lembranças . . .

Há pequenas coisas que nos deixam nostálgicos. É o Outono que se aproxima devagarinho, é uma fotografia que muda no mural do facebook, memórias, é o fim do Verão, são os pequenos orgulhos que teimam em ficar, é tudo o que a água do mar ainda não levou.
Uma lembrança leva a outra, outra puxa outra e saltam à memória tantas mais.
As lembranças boas muitas vezes aparecem deixando-nos cheios de saudades, de vontade de se rever pessoas, de olhar nos olhos e perguntar "Estás bem?", na esperança de um largo sorriso responder com o coração cheio, "Estou", esse apenas "estou" que despensa todas as palavras do mundo, porque o coração está tão cheio e por muito que gostássemos que fossemos nós a encher esse coração, lembramos-nos que não o poderíamos encher da mesma forma, da mesma plenitude, não poderíamos dar o que não temos; o que se daria seria tão pouco ou pequenino que a dor de ver vazio em alguém é tão grande que preferimos olhar e deixar partir.
Deixar partir é difícil, por muito que saibamos que não é e nunca foi nosso, nem mesmo nos sonhos mais doces. 
Deixar ir é como dizem os antigos, custoso, porque gostávamos que tivesse sido nosso, gostávamos que nos tivessem visto com olhos de ver. Mas não podemos ter tudo. 
Faço de conta que está tudo bem e avanço com uma pontinha de inveja de quem te encheu o peito e o coração com tanta plenitude. Mas eu não seria feliz, não me iria sentir no meu elemento, não conseguiria aguentar essa frequência demasiado inconstante do teu mundo e, em alguns momentos, perversa.
É claro que perversão não é exclusividade dessa atmosfera, mas nesse grau eu não conseguiria a vibração necessária para o meu equilíbrio, para alguma paz possível.
Mas sinto-me triste porque de certa forma te perdi. 
Alguém sábio me disse um dia, "quando deixamos passar o comboio, já não dá para se voltar atrás"!
Quem estou eu a enganar???
Eu vi-te abrires a porta do comboio e a convidares-me entrar, na tua magnífica subtileza, quando eu já tinha subido para o comboio que seguia numa linha paralela com um destino diferente , mas cheia de vontade de o abandonar, cheia de vontade de ter a certeza que essa carruagem estava mesmo disponível, mas não podia nem queria magoar quem tanto me mostrava querer, ou assim parecia . . . 
Estavas diferente, mais aberto, mais solto, ou foi apenas um evoluir natural? Ou talvez coincidência!
Tu não sabes, mas surgiste como que um bombeiro que vai apagar o fogo ateado por outro alguém. Eras o que precisava naquele momento, um substituto que me encheu os olhos com tanta beleza e paz. Eras um milagre aos meus olhos. Na tua simplicidade elegante deste-me o que eu desejava, por tão pouco que isso parecesse aos outros dos outros, precisava do platónico nesse momento, mas uma vez mais, tudo ganhou outras proporções e do platónico foi um tirinho até à incandescência . . .
Já era tarde e queria livrar-me, mas agora de ti, do quanto eu te queria. 
O que nunca acreditaria aconteceu, no momento certo. Surgiu a última criatura para a qual pudesse olhar com olhos que não fossem o desprezo. Meticulosamente, tal criatura arrebatou homeopaticamente, carregado de cumplicidade, alegria, gargalhadas, a pura sintonia nas loucuras do momento, ambos parecíamos umas crianças endiabradas. Ele tomou a iniciativa que eu precisava e sem ele saber, também ele era um substituto.
O quanto eu lutei para não ceder ao que estava a ver, ao que queria tocar, sentir no meu corpo, o teu cheiro, ai o teu cheiro . . . na minha pele, ao que queria e às vezes ainda quero . . . Dói!
Nunca soube que sempre estiveste na minha mente. Tu eras o corpo que eu desejava e ele - aparentemente - a alma que eu precisava. E tudo de repente mudou. Ele começou a ganhar corpo e tu alma; foste tu quem me passou a dar alegria e bem estar quando ele me deixava triste e mais uma vez estavas lá, mesmo sem saberes o quanto importante eras. 
Acabou mal.
Dói!!!! 
Não posso voltar atrás, ao momento em que mostraste o teu subtil aval e dizer-te "eu sei que não vai resultar, mas ao menos não vai acabar mal, não vou sentir ódio de ti, porque independentemente do tempo que durar serei feliz contigo, nem que seja apenas por uma dia, mas pelo menos eu não vou te odiar, porque sei o que és e aprecio-te mesmo assim, não me vou chatear porque és o que és, as coisas são o que são e como são!
As coisas não vão durar, porque nós não nos sentiremos completos um com o outro, não somos do mesmo elemento na sua totalidade, temos apenas alguns tons iguais, mas não é suficiente nem para mim nem para ti; com serão apenas momentos bem passados". Era isto que te teria dito, mesmo sabendo antecipadamente do desfecho da história. 
Depois do fim seriamos eternos amigos que conhecem os contornes do corpo um do outro, que sabem onde o arrepio acorda e a vontade cresce.
Quebro por dentro pela má escolha. Sinto raiva de mim, fui cobarde. Sei, ao menos, que não és de má raiz. Sinto-me estúpida por não ter sabido esperar, por não ter dado tempo ao tempo, coisa que tu sabias fazer melhor que eu. O desespero por querer pôr fim ao antecessor despertou em mim a famosa arte de errar, a precipitação no seu expoente máximo. Tu estavas certo e eu errada. Não são os anos que se vive, mas sim o que neles se aprende!
A lição ficou aprendida para o que eu era, mas o capítulo findou. As oportunidades e arrependimentos ficaram para trás, apesar de alguma mágoa presente que pouco a pouco se diluirá, deixando de doer por si mesma. 
Começou uma nova era e o mundo dos aventureiros aguarda aventureiros. Já nada é como dantes, porque assim é suposto ser e maquinaria, por força das circunstâncias, mudou . . .

domingo, 1 de setembro de 2013

Fonix!!! Férias?!?!?! Quero descansar!!!

Fonix!!! Férias!!!
Três dias juntas e o resto não passa de esforço por não nos matarmos uma à outra!
Porque é que as pessoas não podem ser um pouco menos repetição dos pais, ou pelo menos, partir o espelho que reflete toda a panóplia de falhas graves na formação????
Não é suposto procurarmos ser um pouco melhores que os nossos pais???
Não é suposto sermos diferentes dos nossos pais no que eles falham???
"Então, mas isto é que são horas de saíres??? . . . Mas quem é esse fulano??? Vais chegar a que horas??? . . . às 7 da manhã para te levantares ás 8 e iras às 9 para a praia???" - no seu tom austero, que mais dá vontade de responder " . . . olha, é um gajo podre da bom que conheci na praia dentro de água. Dei um mergulho e lá estava ele com o seu six pack a reluzir diante os meus olhos!", mesmo que esteja longe da realidade e que seja mesmo e apenas um amigo!
Quando é que os pais percebem que os filhos são apenas pessoas, que mesmo que de alguma forma - . . . a financeira - dependam deles, têm vida própria???
Vou pôr a coisa de outra forma. Desde quando é que depender economicamente de alguém é sinónimo de ter que pedir autorização para sair, apresentar o currículo vitae dos amigos, estado civil destes, os seus boletins de vacinas, etc, etc, etc à mamã???
"Pois . . . é o choque de gerações!", ok, tudo muito bem, mas só um pequeno pormenor, ambas temos mais de trinta anos, moramos em casas diferentes, apesar da maldita dependência, já contribuímos para o Estado e muitas mais coisas que fazem parte da vida de CADA PESSOA!!!
Ainda não li muito sobre o assunto, mas parece que em determinada fase da vida vamos fazer o mesmo que os nossos papás, quer queiramos ou não! Merda!!!!
Olho para os meus pais e vejo-os a fazer exatamente o que os seus pais fizeram no que toca às mesmas situações ou situações semelhantes . . . pelo menos eles criticavam severamente os seus nesses campos. Isto assusta-me!
" . . . A culpa é do estado em que as coisas estão! A culpa é desses filhos da puta que não são dignos de ser chamados de gente e que, ainda por cima, estão à frente do comando do país!!!" . . . É um facto! Não deixo de concordar com esta parte, mas credo, basta!!!
"Ana, a tua mãe fica em cuidados contigo . . . é mãe! . . . Se fosses mãe ias compreender!"
Ok, sim senhor, está tudo muito certo, muito correto, mas calma!
Será que esta senhora mãe se esqueceu do quanto detestava - para não dizer ODIAVA - que a sua digníssima e falecida mãe a controlasse, invadisse a sua privacidade, a criticasse por tudo e por nada, lhe destruísse a auto-estima, medisse todas as pessoas pelo que têm e não têm, se é licenciado, se é de boas famílias não em prol do seu bem-estar, mas sim em nome da imagem, do que pode parecer às pessoas, " . . .o que é que as pessoas vão pensar?"???
É evidente que, como todas as pessoas, esta mãe também se distingue da sua em muitos aspetos e pela positiva, mas não é isso o suposto?
"Devemos dar mais valor aos aspetos positivos que aos negativos, porque defeitos todos nós os temos!" . . . Oh, que lindo!  . . . Que nada de novo!
É por estas e por outras que não me importo de não ser mãe. Ainda estou a tomar consciência a fundo do que preciso para ser mais pessoa e menos mais um monstrinho com pernas que por aí anda, quanto mais ser mãe!
Caramba, mas eu estou a tentar estar um pouco de férias dos dramas da minha vida, já para não falar do treino em calar 80% de todas as calamidades que me saiam da boca quando o verniz estala!!!
É assim a vidinha de um dependente, involuntário, das outras pessoas. A tua liberdade é balizada por prioridades vindas dos egos egoístas, mal resolvidos, ultrapassando todos e quaisquer problemas de contenção financeira, em prol de um merdas frustrado e controlador. O merdas fala e toda a gente a ele se tem que vergar!
Temos pena, não alimento egos de merdas que nem direito a respirar deveriam ter!
Não estou para contribuir para a destruição do que resta de carácter de alguém, em especial quando a mim tanto respeito diz. Já chega de exemplos a não seguir, com todo o respeito a quem me criou!
Amaria ser mãe sim, mas não nestes moldes, não num ambiente tão subterrado em superficialidade, mentiras e falsidades. É um facto que esses requisitos fazem parte da realidade desta bola meio achatada nos pólos e não se tem outro remédio que não o de aprender a lidar com tanta merda junta, mas bolas . . . já chega, não?
"Não devias escrever essas coisas!!! É a vida da tua mãe!!!" . . . corrijo, é a vida de muitas mães!
Não importa a nossa idade, grau de ligação parental, afetiva, social, hierarquia profissional, ou o que quer que seja. Como uma sábia amiga, verdadeira amiga, me diz sempre: "É uma questão de pessoas!", sublinho!
Sim, estou de férias, quero descansar um pouco dos dramas da minha vida, mas não do respeito que devo ter pelos outros e do que exijo que tenham por mim!