sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O que parece que és . . .

Serás mesmo o que pareces?
Pareces ter cara de anjo, mas serás um anjo?
Pareces ter muita coisa a borbulhar dentro de ti, um espírito livre, cheio de leveza e vontade. Será que és?
Será que és mesmo o que pareces ou apenas pareces?
Serás mais um engano da Natureza na escolha da capa?
Dizem que a Natureza é perfeita, mas a nossa não. A nossa tem muitas influências de muita coisa que se desconhece, mesmo que aparentemente todos tenhamos, supostamente, braços pernas, mãos. Na nossa Natureza tudo parece alguma coisa.
Tudo parece alguma coisa, felinos, ágeis e velozes, taurinos e imponentes capazes de derrubar o Grand Canyon num movimento de braços, outros parecem meros bichinhos curiosos e fazem barulhos e alarido com tão pouco ou quase nada e tantos outros que parecem tantos outros.
A nossa Natureza de vez em quando surpreende-nos, mesmo com as mais simples coisas, apenas com os pormenores que fazem toda a diferença.
Será que és mesmo ou apenas pareces?
E o que pareces?
Aos meus olhos não pareces, nem taurino nem felino, muito menos um daqueles bichinhos curiosos que fazem alarido por tão pouco, pareces mais alguém que chega, olha o que tem à volta e delicia-se com o que não conhece, apenas porque é diferente. Pareces alguém com uma curiosidade infinita, aberto ao mundo, disposto a agarrar tudo o que puder com o corpo e com a alma, pareces mais um visitante que nasceu apenas para ser um passageiro que corre o mundo à busca do mundo. Pareces um anjo que vem apenas de passagem.
Provavelmente estarei a ver apenas o que a tua beleza diz, mas apenas a beleza.
Quais serão as tuas desvirtudes?
Como é o teu lado menos virtuoso, aquele que ninguém quer se atrever a procurar, aquele que todas as pessoas fazem de conta que não existe só para não estragar a pintura?
És mesmo o que pareces ou colocas uma fotografia estilo isco para congeminares teorias sobre o comportamento digital?
Imagino o teu lado negro . . . Tens uma voz fina, doce, falas com as pausas certas nos momentos certos, sabes a palavra certa a cada momento que abres a boca, a contar com o que antecipas. Sorriso de lado e olhas nos olhos fixamente para dentro do fundo da alma. Dizes a coisa certa na hora certa. Isso é perigoso.
Estás a ver?
Já te encontrei um defeito . . . és perigoso.
O que pareces tem o seu oposto e o teu oposto é oposto do oposto . . . inevitavelmente!
 . . . mas podias ser do género que não mente, mas não diz o que realmente é, apenas faz pensar para não dizer uma mentira ou a verdade. Fazer pensar não é mentir, fazer alguém chegar ao que tem que chegar por si mesma, não é mentir, mesmo que omita, é apenas fazer pensar.
Humm . . . gostas de fazer pensar, diverte-te ver o pensamento de alguém a bulir, os balõezinhos carregados de pensamentos e pontos de interrogação e exclamações. Diverte-te  . . . e muito!
Nos teus recantos confortáveis gostas de soltar a tua imaginação, deixá-la ir para longe e deleitares-te ao sabor das viagens que fazes com a tua mente, a imaginar os contornes das coisas . . . mas viajas enquanto brincas com o lápis entre os dedos, recostas-te para trás e és tu agora quem enche os balõezinhos de pensamentos, interrogações e exclamações. Ouves uma música tocada em acordeon e dás asas à tua fértil e viajada imaginação.
Ainda conservas alguma pureza no teu coração venturoso?
Gosto de acreditar que sim, que preferes pouco, mas verdadeiro, ao muito do banal; que preferes o silêncio e colorido da Natureza; que preferes as conversas entre o vento as árvores e as da brisa com as ondas do mar ao barulho das pessoas que lamentam por lamentar; que preferes o barulho das crianças e as suas algazarras num campo aberto ou numa rua que os passos agitados de quem procura o que nunca conseguirá. Gosto de pensar que és assim, que preferes o que tem substância ou que está em crescimento, que o que nada faz para mudar. Prefiro pensar um sem número de coisas, tantas quantas a minha imaginação permitir.
Prefiro pensar que sabes apreciar uma flor, no que ela pode representar, ou mesmo pela sua beleza, simplicidade perfeita, assim como te imagino . . . simplicidade perfeita.
Imagino que preferes o som da corda de uma guitarra, da tecla de um piano de cauda, do assobio de um petiz, o som dos grilos na noite de Verão, o som do estalar da madeira numa pequena fogueira à beira-mar.
Prefiro imaginar que não gostas que te achem bonito e que cada pessoa que te vê dessa forma te irrita profundamente, porque imaginas que essa pessoa não se aproximaria de ti se fosses feio, corcunda e não tivesses dentes. Irrita-te a superficialidade, a frivolidade, o falar por falar sem que se tenha nada para dizer. Quem te aprecia a beleza não sabe que te apaixonas pela beleza de um sorriso puro, sincero, pela beleza de um olhar tímido, pelo que te deixa querer conquistar. Quem se derrete com a tua beleza aparente não sabe que queres que te vejam e respeitem enquanto pessoa que está por dentro das roupas que um dia deixaram de ser tão belas, enquanto o que faz com que o falar surja, que o pensar acorde, mesmo que sejas tão pecador como os outros pecadores, mesmo que sintas tanto desejo e fervor nas veias como de qualquer outra pessoa no êxtase.
O que queres é demasiado especial, até mesmo que seja uma passagem, tem que ser especial, única, nada que fique atrás do excelso ou quase perfeito, porque é o perfeito ou quase perfeito seja em que forma for.
És um raio de Sol e só de vez em quando te deixas reparar em ti, só nos de vez em quando da vida, já que tanta beleza te foi dada, mas sabes que não és o único, que há mais quem queira ser amado, desejado e apreciado da mesma forma que tu.
És um puro, mesmo com desvirtudes, mesmo que grites que tens defeitos, os raios de Sol que brotam de ti ofuscam-os.
É o que pareces. É parte de um tudo que pareces. Prefiro enaltecer o lado bom do que pareces, o lado belo que o mundo precisa. Se não o puderes ser, ao menos lembra-te que poderias ser se assim o quisesses, mas sempre e só se o quisesses.

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