quinta-feira, 31 de outubro de 2013

É da época do ano . . . é do Outono!

Traí-me, não percebi o porquê, mas é o que me apetece. É da época do ano, as folhas estão a cair, o pôr do Sol chama dois braços para abraçar, as cores chamam o olhar, o ar pede que o cheire, as nuvens que dão vida ao laranja do fim de tarde e fazem-no ainda mais belo, os impossíveis tornam-se maravilhosos e os possíveis banais.
Traí-me. Não sei se por bem, se por mal, mas traí-me.
Tu és o errado, o impossível, o que ficará apenas nos sonhos, na imaginação, nas eternas aventuras que nunca irão acontecer, as mãos dadas que não se darão, os lábios que nunca se encontrarão, a pedra em que tropeçarei para te encontrar, que estará no caminho para eu tropeçar, mas lá não te irei encontrar.
Venci por momentos, mas perdi a guerra. Agora, sou eu quem o diz, mesmo que nunca tenhas percebido que eu estava em guerra, em guerra comigo, por coisas insignificantes, coisas sem sentido ou valor algum, porque tu não significas nada, mas eras o insignificante que me apetecia que significasse alguma coisa. Tens não sei o quê ou o "je ne sai quoi", mas aquele que dura apenas por algum tempo, porque tens esse não sei o quê que mais que me baralha, me confunde, me puxa em direção a ti, sem que eu queira, é mais forte que eu.
Parabéns. Ganhaste!
Dou a mão à palmatória pelo que vi nesses breves instantes em que fizeste com que ninguém estivesse ali, naquele momento, naquele instante que eu quis que durasse para sempre, que só tu e eu percebemos que aconteceu e ninguém mais. Também não era suposto.
A banda tocava e eu sentia cada nota a percorrer-me o corpo, cada célula vibrou tanto que se viciou no que ouvia, de tão divinal e majestoso, quase perfeito. Nesse instante o estapafúrdio invadiu o espaço, vindo de coisa nenhuma de especial, fez rebentar uma bomba em forma de gargalhada histérica que quebrou o encanto. O som do rir sonoro e nervoso a gargalhada nervosa quebrou o encanto que podia ter perdurado enquanto a noite durasse. Escondida fiquei atrás do óbvio, pequenina como uma formiga, exposta pelo ridículo.
Perdi o andamento do comboio que seguiu se que pudesse esticar um braço para o apanhar e seguir na viagem. Talvez ainda bem, era mais um impossível que tinha que deixar escapar para que tudo seguisse o seu caminho certo. Tem sempre que ser, cada coisa ao seu lugar e o meu não é aí!
Mia culpa, cedo a mão à palmatória, mas de costas viradas para que não custe tanto. Sigo o meu caminho só e acompanhada por mim, apenas por mim, na minha triste companhia cabisbaixa de quer perdeu o que quer para si.
Não te tenho e não te posso ter, mesmo sabendo que eras apenas mais um fruto de um capricho . . . mas eu sou mais uma caprichosa que sofre por não ter satisfeito os seus caprichos, as suas vontades. Sigo, mas sigo contrariada.
Fizeste-me sonhar com o que nunca aconteceu, imaginar como o que eu desejo que acontecesse, mas é impossível. Mediste-me e eu a ti. Olhaste para mim e eu para ti. Afastaste tudo e todos e eu acedi. Ouviste a música e também eu ouvi, dançaste com a música e eu fiquei ali, dançando com a melodia sem nada poder fazer ou dizer. Dentro do meu centro ficaste em modo stand by. Isso incomoda-me. Não consigo avançar enquanto não ganhar coragem e te tirar de onde não deves estar, porque imagino e quero, mas não posso ter. Apenas posso imaginar.
Não posso chorar, porque não há pelo que chorar, não tenho lágrimas, a fonte está seca. Onde era fonte não existe mais nada que apenas um lago seco, uma fonte desidratada e a lágrima é coisa de quem ama . . . e eu não te amo, és só mais um capricho por satisfazer.
Não ligues a nada disto . . . É do tempo . . . É da época do ano . . . é do Outono! . . . O Outono é nostálgico, é romântico, tem dos mais doces pôres do Sol, faz libertar as endorfinas e os suspiros adultos. Fizeste-me lembrar que não te posso ter. Mas para que te quero eu que não para o velho e jocoso jogo?
Para mal dos meus pecados, quis Hera que eu nunca tivesse o que quero, ou deseje quando desejo, por ter sido ímpia e cedido o corpo a Zeus, seu esposo. Agora contento-me com o que me é permitido, que não passa de amores errantes, o cá e o lá, sem criar raízes profundas, firmes e fortes, ser apenas a passagem sem paragem obrigatória. Sou persona non grata!
É assim, isto de não se pertencer a isto das coisas normais, ou ditas normais . . .
Mais uma vez repito, é da época e como todas as épocas, outras épocas se seguem e os encantos se quebram, porque foram feitos para serem quebrados, ou não se chamassem encantos.


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