quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Porque, porque, porque . . .

Não tenho nada para dizer, mesmo que haja tanto a acontecer.
Não tenho nada para falar, mesmo que haja tanto para dizer,
Não tenho nada que possa ser feito, porque já tudo nasceu e nada tenho a dar
Não tenho mais nada a dizer, está tudo dito.
As palavras estão todas à solta à espera que alguém as reúna e faça algo de novo,
Já foi tudo dito, já foi tudo escrito, tudo pronunciado.
Já nada nasce novo, tudo nasce velho e antes de o ser já o era,
Já nada de novo tenho para dar, mostrar ou fazer, nada se produz.
Já nada tenho para dizer ou a dizer,
Já tudo se sabe, tudo se viu e se não se viu tivesse visto.
Já não há nada de novo, é tudo velho,
Tudo nasce rapidamente e rapidamente o deixa de ser.
As crianças nascem, mas rapidamente deixam de ser crianças,
Os jovens adultos tornam-se adultos velhos enquanto o diabo esfrega um olho,
Num piscar de olhos tudo o que é já era e o que torna a ser já não é como dantes,
Tudo muda e tudo se encerra.
Alguns dizem que se transforma, eu duvido.
Onde está a terra viva onde nasci?
Onde estão os rios e riachos onde os meus pés se refrescaram?
Onde estão os meus risos e os das outras crianças quando faz o Sol da Primavera?
Onde estão as frutas colhidas das árvores e mordidas, mesmo com o bicho, porque as com o bicho são as mais doces?
Onde está o riso puro e inocente das crianças e dos velhos que ainda são crianças?
Onde estão os avós que brincam com os netos nas ruas como se eles próprios ainda fossem crianças?
Onde estão as corridas e trambolhões na areia solta que suja a roupa e trás o corpo cheio de alma?
Onde estão os estendais de lençóis ao vento, içados por um pau alto no chão?
Onde está o cheiro a roupa lavada no tanque e branqueada ao Sol?
Onde está o cheiro a café acabado de fazer e pão acabado de sair do forno numa cozinha acolhedora e iluminada pelo Sol da manhã?
Onde estão as corridas de pés descalços na relva fresca num lindo dia de Sol?
Para onde foi a vida simples e alegre pela sua simplicidade?
Para onde foi a alegria das coisas simples?
Não sei dizer . . .
Para onde foi tudo o que me dava a alegria da pureza e da inocência?
Onde está a alegria e a inocência?
Para onde foi a criança que se alegra por tudo e por nada sem que seja vista como louca?
Os sabedores dizem que só os loucos riem por tudo e por nada . . .
Eu digo, mas riem . . .
Para onde foi o que era antes de ser louca?
Para onde foi tudo o que tinha antes de me ser tirado?
Para onde foi o que era antes de ser a doida, a louca que não sabe o que diz e verborreia sem tino?
Está antes de ter nascido?
Está onde todas as pessoas são o que ainda não são?
Está onde as pessoas olham e tudo vêem?
Ou não está em lado nenhum?
Só sei perguntar, porque respostas não as tenho, por mais respostas que tenha ouvido,
Por mais explicações que a vida dê, não entendo o que tudo é,
Não tenho respostas, não sei, porque de tantos que existem sou a quem menos sabe,
De tanto que se sabe sou quem não sabe nada e aqui ando . . .
Não tenho respostas para dar,
Não sei nada, porque nada é só o que sei,
Porque nada é o que tenho para dizer que possa mudar o mundo,
Porque nada é o que posso fazer para que possa mudar o mundo,
Porque tenho demasiados defeitos para poder ser alguém, sou a escória que abunda,
Porque sou cheia de mim mesma, egocêntrica e petulante, mesquinha, invejosa, preguiçosa, nada quero fazer
Porque sou tudo o que nunca quis ser, mesmo que o quisesse mudar nunca o poderia fazer,
Porque sou um mar de defeitos tão grande, que vergonha tenho de ao espelho me olhar.
Porque não sou diferente de quem aponto ou é apontado o dedo.
Porque quero ser quem não sou ou nunca fui,
Porque sou hipócrita e fingida, falsa e imunda como todo o mundo que desprezo,
Porque sou impura e insana, perversa e controversa quando não me agrada a conversa.
Porque, porque, porque . . .
Sou de tudo um pouco e daqui o que sai nada interessa!


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