segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Como? Sabes dizer-me?

Como é que se descreve um tango, uma valsa uma canção?
Como se descreve tudo o que se sente numa só voz, num só aceno, num só sibilar de lábios?
Como se afaz esse gesto o adeus, o nunca mais acaba ou o até depois?
Como se faz?
Diz-me, já alguma vez sentiste saudades daquela palavra que nunca ouviste ou pronunciaste?
Nunca te lembras, pois não?
Nunca mais te lembras de sentir saudades do que sentiste sem sentir a mais pequena mágoa, a réstia de mágoa sobejante do nada, das palavras soltas, algumas até quase sagradas. Palavras, isso, ou quase palavras . . .
Ah, em busca do prazer sagrado escondes-te, à procura dos segredos mais sagrados, das loucuras consumadas, das divindades perdidas nos desenlaces românticos, doidivanas andas tu.
Cercas-te das misteriosas promessas de um amor perdido, de coisa nenhuma ou talvez nada, mas escondes-te. Eu sei!
És levada da breca ou com a breca. És, pura e simplesmente és!
És dúvida no meio da certeza, certeza no meio de nada, ou quase nada, nas conversas obscuras, nos medos de nada, no meio de tudo e no meio de nada.
Brincas às conversas de chacha, de coisa nenhuma e finges não dizer nada, mas dizes tudo ou quase nada.
És reservada aos olhos de quem te reserva, és a busca de nada, ou muito de coisa nenhuma, empanturrada, meticulosamente engalanada.
És uma falsa modéstia vinda do nada, de coisa nenhuma ou quase nada, mas és uma pequena falsa modéstia embriagada no meio de todos os nadas, de todos os tudos e aparentemente entusiasta, mas não é nada.
Como é que se descreve uma dança das palavras que se encontram, entretanto, no meio do nada?
Como é que se faz?
Podes explicar?
Como é que as doces palavras que saem da tua boca soam ao amargo do tango, ao fresco da valsa e ao quente da salsa?
Como? Sabes dizer-me?
Diz, mas confessa em tom de cerimónia como se fosses anunciar o par que se segue, o par que rasga a pista na sua discussão acesa e tórrida, cheia de tanto ciúme e ódio, com o xaile do amor que os aquece e jogam no chão para o pisar.
Como se descreve a calma que intervala o intenso e o atiça, o provoca em surdina no cadafalso?
Como eram belas as palavras desse tempo tão longínquo como o agora será em relação ao depois!
Como eram belas essas esperanças tórridas, muito quentes de lábios rubros em bocas em escaldo da espera pela boca ansiada.
Diz e toca-me ao mesmo tempo, como se do teu Deus se tratasse, mas diz a verdade. Sabes como foi?
Sabes como foi nesse tempo em que as palavras ditas suavam mais a tudo o que toda a verdade?
Vê lá se és capaz de adivinhar!
Ai, como era bom estar vivo nesse tempo em que as madrugadas nunca mais acabavam de acontecer, nunca mais era tempo de ir para casa, só os homens sabiam o que era a madrugada . . . só os homens e algumas mulheres . . . vividas, puras . . . santas senhoras da plebe. A esbórnia obscena . . . Conheces alguma santa?
Eu não . . . conheço!
É tudo pura contradição, umas coisas e outras, as mais más e as mais boas, mas tudo sempre em contradição.
Sabes como se dança?
Diz-me como se dança, mas sem dançar, apenas por palavras controversas, outras confusas para que me possa entusiasmar, mas diz-me como se dança e leva-me contigo numa doce dança.
Sabes como se dança?
Eu enlaço-me nos teus cabelos como uma trança. Oh doce dança na tua trança, que me enlaça e balança na dança da tua trança. Oh . . . embala-me!
Sabes como se dança esta dança?
Explica-me e depois balança.

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