quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Estar preso nos vazios

É como estar preso no vazio. As coisas acontecem sem acontecer na realidade. Perde-se a parte melhor de tudo, essa fica para a fantasia que se enche de imagens que só ela toca, só ela sente, só ela se diverte e delicia com todo o conteúdo do que a mente congemina. É sempre o vazio reinante nas mãos, na pele, em tudo o que mexe . . .
É como estar enfiado num escafandro dentro do próprio navio que se afunda lenta e desnecessariamente. As imagens ainda são mais distorcidas à medida que o navio afunda. Não se ouve, mesmo que se grite, mesmo que se faça tudo, o navio continua no seu caminho em direção ao fundo do abismo.
Tudo está a acontecer na mente, entre alguns neurónios que nada mais podem fazer que não seja trabalhar para manter o corpo vivo.
Está tudo no sítio errado, mesmo que nascido no momento certo, mesmo que feito a coisa errada e a certa, mesmo que tudo tenha acontecido, mesmo que nada haja para haver . . . mas está tudo no sítio errado.
É a coisa errada a tocar nos sítios errados, a mover o que não é suposto mover porque é errado que mova, porque não está certo ser assim . . . mas sabe tão bem . . .
Não há nada que seja palpável e tocável, que seja manejável, porque é mais do mesmo de sempre, do sempre proibido . . .
Não se toca, apenas aprecia-se e pronto . . . aprecia-se.
Numa escada alguém desce, noutra alguém sobe . . . tal com o na vida carregada de escadas que rolam umas sobre as outras, umas descem outras sobem, numas somos levados para baixo, porque talvez tenhamos que passar por lá para se chegar a algum lado, noutras somos levados a subir porque o que nos faz falta está lá no alto, mas temos sempre que passar pelas escadas que sobem e pelas outras que descem se faz parte do nosso percurso . . .
De repente, em alguns desses momentos cruzamos-nos uns com os outros, os que gostávamos de querer, outros que gostávamos que nos quisessem, outros até que nos são indiferentes, mas que é bom que assim o sejam.
Também existem as retas, os caminhos retos que nos levam às pessoas retas com os pés no chão, às pessoas que nos marcam sempre o coração e nos dão coragem para sermos o que somos, o que queremos e temos orgulho de ser, as que nos libertam da prisão dos vazios, que nos libertam das nossas próprias amarras, há as que nos fazem pensar e sair de dentro do escafandro para retomar o comando do navio, as que nos fazem entender a razão de ser melhor usar o escafandro para o propósito certo.
Há muitas escadas, retas e curvas nas quais temos que ir devagar para não nos deixarmos apanhar desprevinidamente . . . mas
O vazio em algum espaço dentro de nós se aloja e de vez em quando vem à tona da água, vem ao de cimo para nos lembrar que ainda não completámos a nossa tarefa, que algo ficou a meio, que ainda nos falta preencher qualquer coisa que ainda não percebemos bem o que é, até que começamos a levantar o véu e a ver os encadeamentos e os seus emaranhados. Está tudo ligado e como a dor, o vazio é sinal de que alguma coisa ainda está incompleta, que falta corrigir, que falta colocar na ordem, porque vem de dentro e só está dentro e nunca fora! . . . Nunca fora!!!
Continuarás a sentir vazio se não encaixares as peças nos sítios certos. Podes recolher o melhor nectar das flores onde poisas, podes recolher o melhor mel dos melhores favos, podes colher os melhores frutos das melhores árvores, se não deres o melhor e mais adequado uso, perpetuas os vazios e tal como qualquer coisa orgânica, a seu tempo perde o seu propósito, porque é colocado num baú, fica esquecido e apodrece desaparecendo. Carregarás mais vazio contigo e quando algo te passar pela tua frente sentirás esse vazio entre ti e esse algo, porque não deste o devido uso ao que de melhor colheste ou recolheste. Por isso ficas preso aos vazios, à falta de realidade, ao que querias que fosse e não é, ao que podia ser e não está a ser, por isso é que as escadas que sobem e as que descem te deixam sem perceber o seu propósito e para onde vais, por isso é melhor agarrares-te ao que já ganhaste e melhor uso lhe dares, para não te perderes e voltares a ficar preso nos teus vazios.

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