terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A caminhada e a Era dos Ilusionistas . . .

É uma longa caminhada a de deixar estar e a de deixar ir. É sempre como sempre foi e como há de ser. O que se consegue ver e distinguir, o que se consegue sentir e o que dista de nós universos, o que é e o que não é, o que pode ser e que pode não ser. É simplesmente difícil ou complicado, ou até muito complexo, como se preferir para se dizer o mesmo.
É o som dos pássaros, o som da água que corre nos riachos e rios, o som das ondas do mar, o som da flauta que é tocada como parte da vida do flautista, o som de tudo o que continua a ser o que é, mas que soa diferente quando os ouvidos mudam, ou não conseguem ouvir, quando a boca que fala é outra, quando o que se pensa que sim é uma coisa e o que se pensa que não é outra. É tudo parte do mesmo e o mesmo é parte de tudo.
Nada é ou será como antes mesmo que tudo pareça que está na mesma. Tudo se confunde com a realidade e apenas os olhos que vêem a Verdade a sabem distinguir da ilusão ou do que é manipulado vilmente. A ficção é confundida com a realidade e só olhos peritos conseguem ver a diferença do que foi fabricado e do que realmente é o que é.
Há tanto que parece que é, mas não é e tantos com memória curta, visão facilmente distorcida e distorcível, mas somos isto, somos assim e assim somos. Não quero censurar. A mim poderia acontecer a mesma coisa, deixar-me confundir pela ilusão, achando que estou a ver a realidade, o que não seria algo inédito, mas é mais uma coisa a aprender, que nem tudo o que se assemelha com a realidade de facto o é, mas o mundo é assim, rico na diversidade de tudo.
É mesmo muito longa a caminhada e dura até que se perceba o que realmente é e o que realmente não é e o que pode ser e o que não pode ser. 
Estamos na Era da Ilusão e não da Nova Era. Estamos na Era dos Ilusionistas, onde a mágica está à distância dos teclados ou dos touch screens e outras coisas mais que prefiro nem imaginar, mas é o que temos. 
"É a evolução . . .
- Mas do quê?
- Das tecnologias!
- Para quê?" . . . para no fim dizer baixinho para que ninguém ouça realmente, "para se vender mais!"
Evolução???
Será mesmo???
Mas porque é que têm as tecnologias evoluir mais mais que quem as cria???
Já somos assim tão perfeitos ou tão "evoluídos" enquanto pessoas de carne e osso para que as coisas tenham que evoluir mais que nós???
Bolas!!! Já temos tanto que está na posse de apenas alguns quantos privilegiados!!!
E tantos de milhares de milhões de nós estamos mais que longe da perfeição, mesmo que gostasse que estivéssemos mais próximos, mas não estamos!!!
E quem está assim tão perto???
A resposta é . . . as tecnologias!
Tão simples como isto . . .
Não quero censurar ou a culpabilizar ninguém, até porque muitos de usamos como meio de comunicação algumas tecnologias, mesmo que não as da última actualização ou a última invenção, mas tudo leva o seu tempo a ser visto com olhos de ver e com ouvido com ouvidos de ouvir. As tecnologias são muitas e tão sofisticadas quanto a maldade de alguns. Sinto pena que não seja já, agora que percebamos o que é o quê e o que quer que seja que não seja verdade e o que é verdadeiramente real.
A caminhada é grande, mas se desistirmos de querer perceber, ainda será maior!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Onde estavas tu?

Onde estavas tu quando te procurei?
Onde estavas tu quando não te procurei?
Estavas onde devias estar, estavas onde era suposto estares.
É tão fácil enganar quem nunca acreditou de verdade. É tão fácil enganar quem está habituado a ser enganado e quando se é verdadeiro tudo soa a mentira.
Mas onde estavas tu, volto a perguntar, mesmo que saiba a resposta?
Estamos nos tempos da manipulação de tudo e mais alguma coisa e eu já não tenho a certeza de todos, apenas de alguns, mas é mesmo isso, apenas alguns!
Mas onde estiveste tu a quem mostrei o meu eu o meu único eu e nada mais que apenas eu?
O tempo de proximidade foi pouco e mesmo assim eu mostrei quem era, apenas tu não o viste, apenas tu enquanto os outros sabiam do mesmo e aqui ficaram!
Onde estavas tu?
Eu pensei que as peças do meu puzzle sobre ti eram suficientes, mas parece-me que não, ainda faltam muitas, parece que também eu não vi tudo!
Achei que tinha esse dom, o de ver as pessoas, mas apenas tinha o de acreditar em demasia e confiar em demasia, porque partia do princípio que todas as pessoas são boas, mas de que principio partiste tu em relação a mim?
Mas o que é que pensas que sou?
Não sofro do Síndrome de personalidade múltipla, mas de que serve dizer isto?
Não sou superior aos outros, sou apenas diferente e estive lá fosse de que forma fosse, ou já te esqueceste?
Sim, sou diferente de ti, sim!
E qual é o problema?
Mas não sofro de dupla personalidade se é isso que te vendem!
Sinto pena, muita pena mesmo se não percebeste que também te quis ajudar, mas tal como tu não sou perfeita, sou como tu, de carne e osso e pronto, tudo o resto que tu queiras acreditar é contigo!
Sabes mais que eu em tanto pois se calhar aprendeste ou viveste mais que eu, mas és o que és e eu aceitei-te com os teus defeitos e qualidades e com tudo mais que pudesses ser, mas ao que parece agora sou a versão feminina do Dr, Jekyll and Mr Hyde. Muito obrigado pela consideração, mas não é roupa que me sirva ou interior que me interesse.
Olha, sabes que mais? Mesmo que me consideres um monstro digo-te que tive muito gosto em conhecer-te e que te desejo o mesmo que desejo a mim.
Vive uma vida feliz!
 

sábado, 13 de dezembro de 2014

Silêncio

Deixo-me ficar no silêncio. É ele que me conforta quando não existe mais conforto,  mesmo quando os lençóis são macios, mesmo quando a comida quente me espera no prato, mesmo quando uma mão suave me acaricia o rosto, é no silêncio que me conforto.
As palavras ditas já de nada servem quando as mentes encerraram e colocaram a tabuleta "estamos fechados por tempo indeterminado . . .", as palavras por falar lêem a mesma tabuleta e fecham-se no seu quarto, o seu silêncio é o seu quarto.
Deixo-me ficar no que me resta, o silêncio, porque as palavras, essas já ninguém as quer ouvir mesmo que sejam o som da verdade, mesmo que seja a única forma da verdade se mostrar.
Nos dias de hoje o silêncio fala mais que as palavras mesmo que os que o ouçam não saibam o que ele diz, ou até mesmo o tomem como afirmação, confirmação ou consentimento.
No silêncio as palavras falam entre si e ali estão a viver em comunhão de verdade mesmo que os ouvidos e olhos dos outros só leiam mentira e falsidade.
O silêncio conforta mais que os que falam, os que fingem que são, os que apenas vêem o que lhes interessa ver, porque neste mundo o que se vê é apenas o que se quer ver, o que se quer é muito pequeno comparado com o que se precisa, basta olhar a Luz e aí sim vemos o que precisamos e não temos. Mas a Luz só vê quem a quer ver . . . o resto é falsidade sonora mascarada de tudo e nada, falsidade de quem não é verdadeiro e crê no falso por medo.
Para quê falar se tudo soa a mentira, a bonita música ou a qualquer artimanha fantasiosa que agrada ao ouvido?
Para quê?
Para quê falar o que quer que seja quando neste mundo se criam verdades por conveniência, quando neste mundo as verdades que se querem ouvir não são a real verdade.
"Pensei que eras tu que estavas a cantar . . . mas  . . . a televisão . . . a tua voz é parecida . . .", mais uma vez as coisas parecem coisas os sons parecem sons não importa o que é na realidade o que realmente é. Canto para dentro, ou em surdina para fora, ou canto para mim em silêncio para não incomodar com o que quer que seja, porque o facto de existir já incomoda tanta gente . . .
Em silêncio, este poderia ser o meu testamento, mesmo que nada tenha para deixar que faça alguém sentir-se dono do mundo,  o meu último pensamento, enquanto a tortura me vai consumindo os meus ossos e a minha carne, este poderia ser o meu último suspiro, o meu último olhar para o que quer que seja, a minha última inspiração e expiração enquanto ser que nasceu com os mesmos órgãos que os outros seres humanos, mas não, não é o meu último testamento, suspiro ou o que quer que seja que me dignifique, é apenas o que é, queira quem quer que seja ler ou interpretar da forma que interpretar, ou como quiser interpretar, é apenas o que é!
Em silêncio pronuncio parte das minhas últimas palavras antes do que quer que seja que venha a seguir, pode até ser a minha morte que não temo.
Em silêncio escrevo o que ninguém quer acreditar, porque ser-se é proibido e não ser está na ordem do dia.
Mas uma coisa é certa, entre o silêncio provavelmente aprendi o que alguns que se aparentam de pessoas de bem  ensinaram, mas que não praticam e muito menos são exemplo do que apregoam, mas mais uma vez seriam apenas palavras escritas e o silêncio vale o que nenhum de nós alguma vez teve ou conheceu!
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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Coisas que podem ser Já!

É incrível como já está tudo escrito há milhões de anos. Mudam as caras, as dimensões do corpo, uns mais altos outros mais baixos, outros assim assim, mas já está tudo escrito e continuamos a escrever como se fosse a primeira vez que algo assim acontece . . .
As emoções são as mesmas, os sentimentos são os mesmos apenas os seus mecanismos se desconhece em cada indivíduo individualmente. Aí reside o grande segredo de como em cada um de nós as coisas se encaixam!
Aparentemente tudo é igual, tudo é imutável devido à nossa condição humana em termos evolutivos. A informação adquirida nos nossos genes levou milhões de anos e assim será na próxima transformação. Estamos confinados à paciência que se pode ter ou não em melhorar o nosso genoma!
Um comportamento prevalece em função da sua utilidade prática na manutenção da sobrevivência. Esta é a realidade . . . e continuamos a lutar contra a realidade das nossas limitações versus aspirações de perfeição e aquisições de grandeza. 
A decalage entre o que somos e o que queremos ver existir é como a distância entre universos, no entanto, depende sempre da acção presente, contando que muitos de nós não passarão essa pérola sagrada do conhecimento, o gene. 
O gene contem a alma, o ser mais intimo que não se vê apenas se sente, contem todo o potencial de acção perante as emoções, sentimentos e fragilidades. Hoje lê-se o genoma como um código de barras quando a intensidade de cada gene é a chave que se procura, mas só se sabe em confronto com o potencial dos outros genes oponentes. Continuam a ser como caixas de pandora e a vida assim avança carregada de caixas de pandora que contém os mais ínfimos segredos do universo.
Quereremos saber o que está dentro dessas caixas de pandora?
Estaremos preparados para perceber o que está lá dentro?
E se conseguíssemos, o que se faria com esse conhecimento?
Qual é a finalidade real para esse conhecimento?
Cura das doenças mentais e físicas ou apenas usar como meio de manipulação de massas associada à lei do mais forte e poderoso?
Qual é a verdadeira necessidade da investigação?
Será que estamos preparados para aceitar qualquer uma das respostas?
Somos animais a investigar a génese de animais, mas é o que somos, animais!
Precisamos de água, Sol, alimento, usamos os órgãos sexuais para nos reproduzirmos, procuramos proteger-nos da intempérie, com a diferença do número de camadas de cérebro e da forma material e do nosso impacto na Natureza. 
Foi feito um filme chamado Avatar, vindo da ideia genial de alguém que se aproximou muito do sentido do equilíbrio entre as diferentes formas da Natureza. Nós somos parte da Natureza e a Natureza fornece o necessário e indispensável para manter a continuação de todas as suas formas de existência.
O que conhecemos da Natureza é mais que suficiente para começar algo grandiosamente bom, algo grandiosamente maravilhoso; o nosso impacto já permitiu saber o suficiente sobre o desrespeito da Natureza e as suas consequências; já fizemos danos suficientemente graves que nos permitem perceber que este lar tem fragilidades e muitas delas irreversíveis quando essa irreversibilidade nos conduzirá a um fim menos auspicioso . . .
Está tudo escrito, é apenas uma questão de aprender a ler para que possamos continuar neste mundo e se possível em paz!
Quando se ouve: "sê a diferença que queres ver no mundo", espera-se que sejamos paz, amor e harmonia, se é isso que queremos ver no futuro e que o nosso genoma tenha não apenas em potencial, mas há coisas que, apesar de tudo, podem ser Já! 
Como é bela a Natureza que brota das entranhas da terra, que dá vida à vida, que faz os campos florescerem verdes e com cores lindas, belas, formosas assim como a Natureza deveria ser . . .
Quão belas as criaturas sem maldade ou malícia, sem pranto de tristeza, sem fogo de destruição . . .
Quão belas as criaturas que nascem no mais cândido lar, mais doce, carregado de amor, carregado do que faz um corpo ser um corpo cheio de força e vitalidade que apraz a presença . . .
Como são belos os frutos dos frutos doces cheios de Sol em si mesmos, cheios da fonte que os faz nascer e renascer no corpo que brilha só porque existe . . .
Quão bons são os frutos dos frutos regados e amados em cada rega, enchidos de Sol, de luz e calor que os torna viçosos, os torna apetecidos, não importa o tamanho ou a cor, o aspecto, porque são tão doces e a sua doçura transborda  . . .
Quão doces são as palavras desses frutos doces . . .
Quão infinita e terna é a sua árvore que oferece tão incondicionalmente e generosamente, que o que quer que venha em troca será sempre uma dádiva e de nada esperando . . .
Tão belas são as criaturas que sorvem a seiva do seu tronco, porque só essa árvore as alimenta, com toda a pureza e inocência que em mais nenhuma outra árvore se encontra . . .
As criaturas que bebem e se alimentam dessa árvore serão tão puras e preenchidas como ela . . .
Onde quer que exista um rebento da semente dessa árvore, todo o solo se transforma em matéria fonte de vida, vida que gera vida preenchida com a verdadeira vida, preenchida com o verdadeiro sentido da vida . . .
Como é bela a Natureza que nutre as árvores da vida, que dá vida às árvores que dão vida . . .
Quão bela e poderosa é a força que provém a Natureza de toda a força que fortalece cada fibra que entronca as árvores da vida . . .
Quanta beleza na força de tudo o que brilha verdadeiro brilho de Luz que se eterniza e auto alimenta de si mesma e gera mais vida, porque está para lá de tudo o que é escuridão, ela entra onde a escuridão existe o que existe é Luz e na Luz não cabe escuridão . . .

sábado, 5 de julho de 2014

Final comum . . .

As palavras fogem quando vemos o que não é para ser visto, o que apenas acontece na mente e nos órgãos adjacentes ao mais promíscuo deles todos. As palavras amontoam-se e entopem a saída, numa luta umas com as outras, umas querem dizer o que estão a ver e as outras querem calar as outras e assim se engalfinham e nada sai sobre o que se está a ver.
As palavras têm que ouvir o seu som noutra boca para que cada uma se coloque no seu lugar e se faça ouvir, mas o que está visto visto está, é como uma explosão de coisas óbvias tapadas por coisas menos óbvias ou vice-versa, mas cujo o efeito está à vista.
O que é proibido é sempre o mais apetecido, isso já o mundo inteiro sabe, até os que ainda estão para nascer, os que nasceram mas que a vida lhes deu cedo o doce e explosivo sabor do proibido.
 . . . A carne é fraca . . . pois . . . temos pena ou nem por isso, mas sabe bem fingir que o que está à vista é absolutamente invisível.
O som da voz soa a duas caixas de cartão carregadas de esferovite aquando de pancadas secas, ou seja, nada . . . vazio, pequeno, não importa o tamanho das caixas, mas nem o som contem o que quer que seja que não seja excessivamente óbvio.
O vazio é incrivelmente sonoro, incomodativo, transtorna, parece que não é de gente, parece que a alma fugiu e deixou o corpo em auto-gestão à deriva em si mesmo, é como se todo o conteúdo saísse e entrasse muito algo-ol, ou maria joana ou coca-e-na, não sei, mas como já tudo é possível, pronto, vá lá, fantoche com poucas palavras no seu disco rígido, quase não humano.
Assim como um texto pode ser seco do que quer que seja, assim um fantoche o pode ser. Um fantoche pode ser feito de cartão por fora e esferovite por dentro, pode ser feito de massa branca às pintas cinzentas . . . Mas, sem dúvida, que o meu programa de entretenimento favorito é sem dúvida o que está carregado de inocência, o do aparentemente inocente onde a carga de "apenas isto" é tão pouca quanto a enormidade do seu oposto na sua aparência. O inocente e malicioso fruto da consternação presente massacra até onde o alvo deixar massacrar, levando o consternado beber do sumo do fruto da sua consternação. É a lei do retorno, um boomerang violento no regresso e com um impacto inesperado cujas dores são maiores que as que já existem. As coisas não têm que ser desta forma.
Fantoches que se querem iludir de ter vida própria e consternados têm uma coisa em comum . . . o mesmo objectivo! . . . apenas diferem no modus operandi, mas fora toda a cartonagem o final é sempre o mesmo, provar o fruto proibido por quem não quer ser provado e por quem não quer que fantoches tenham vida própria, mas como tudo nasce, vive e morre, tudo é tão temporário, tudo assume aparências cujo preço é por vezes alto para se manterem, tudo tem um prazo de validade que nem sempre está expresso na embalagem. Nestes terrenos as árvores não têm em si o prazo de validade dos seus frutos quando estas estão no seu habitat natural e nada se pode obrigar, forçar seja por piedade, seja por conveniência do momento, seja porque apenas se apetece, não é assim. Nada pode ser forçado. Por alguma razão as peças dos puzzles têm formas diferentes e mesmo que façam todas parte da mesma figura, cada uma encaixa em espaços diferentes, completam áreas diferentes. As pistas das coisas nem sempre são erradas, mas os caminhos a que conduzem nem sempre são os esperados para quem neles caminha lado a lado, apenas são partes em comum de um percurso individual.
Os consternados fazem sentir tristeza e os fantoches entretêm, mas cada um com a sua cruz, um por uma razão, outro por outra têm a mesma vontade, um com mais do que move a vontade que outro, um com mais história escrita e vivida o que outro, nada os impede de se ser imperfeitos no método de alcançar o mesmo fim.
Heis mais uma passagem do que a natureza nos dá desde que duas peças de existência colidiram, misturaram e multiplicaram  . . .

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Está de partida . . .

Partiu ou está de partida  . . . Assim escolheu, assim seguiu.
Partiu ou está para partir . . .
Às vezes custa meter na mala a primeira peça de roupa, o primeiro sapato, o primeiro do que quer que seja que será o último a sair. Os primeiros serão sempre os últimos a sair pela ordem das coisas, são a base . . . passam a ser a base, os pilares fundadores, neste caso são apenas coisas, objectos que se acumulam a cada passagem por cada espaço, por cada vida de cada pessoa com quem nos cruzamos, a cada passagem pelas vidas de tantas ou tão poucas pessoas.
Partiu, está de partida ou quase a partir, mas a partida é apenas uma pequena parte da coisa, é um apontamento que se desloca para cada mudança que se repete no espaço e no tempo, ao longo do tempo.
Leva uma mala, mas nessa mala há mais que o que todas as outras malas carregam, cada peça que a enche está cheia de tantas outras coisas e outras peças que montam o puzzle que ainda está incompleto.
A triste princesa acomoda o chapéu à sua cabeça e esconde a cara para que não seja visto o seu semblante entristecido pela espera do transporte que a levará para longe. Por muito que soubesse que seria assim, não deixa de sentir a tristeza das saudades antecipadas de tudo o que mais gostou e gostou mesmo, por breve que fosse a sua estada, mas intensa como uma vida.
A princesa está de partida para onde começará muita coisa do zero, não tudo porque cada capítulo é um nível diferente do jogo com dificuldades diferentes, onde existe a oportunidade de corrigir velhos erros, pôr em prática novas aprendizagens. Não é começar de novo, é desbravar um novo terreno onde algumas provas se repetem para aperfeiçoar o que aprendeu e reforçar outras já adquiridas, é apenas a página seguinte porque a sua história continua.
"É a vida . . ." dizem os mais velhos, mas o facto de fazer parte da vida é sinal que se existe na vida, na mais pura da sua essência que é mais que simplesmente viver.
Todas as partidas custam, sejamos, fortes, fracos, muitos frios, ou nem por isso. Tudo custa mesmo que assim tenha mesmo que ser, mesmo que desejemos há muito essa partida, mesmo que queiramos muito essa mudança, custa sempre muito, porque custa partir, de uma labuta para outra, um aconchego para outro, de um lugar para outro, de uma vida para outra . . . Custa sempre, seja para que pólo for . . .
Ela está de partida e o momento é solene. Levanta o rosto, ainda com alguma resignação, endireita as costas enquanto deixa o vento morno bater na tez, inspira fundo, enchendo o peito de ar e avança para onde deve caminhar. O mundo espera-a, sem cerimónia, sem fanfarra, sem grandes exuberâncias ou demasiados floreados, apenas está à sua espera.
O que atrás fica, no seu peito está bem aconchegado, no mais caloroso cantinho do seu coração, naquele cantinho reservado às pessoas especiais, as que são para sempre cujo tempo ou espaço deixou de existir, porque vão estar sempre lá.


Um Grande Obrigado:

Nelo, Bela, São, Rafael, Madalena, Fernando, Patrícia, Vera, Maia, Paula, Sara, Antónia, Fernando, D. Domitilia, sr. Carlos, Sara por terem feito parte de mais um capítulo da minha história :)

Bem Haja a Todos!





segunda-feira, 30 de junho de 2014

Tenho a pele das mãos seca . . .

Tenho apele das mãos secas. As linhas das mãos enrugam ainda mais a pele que se gasta nos detergentes e na bancada da cozinha.
Tenho a pele seca e parece velha. Onde antes escorregava a seda hoje escorrega o pano que limpa o que os outros sujam.
Tenho a pele das mãos e as linhas das mãos marcadas. As marcas dizem que o trabalho faz as linhas do destino passado e cada dia que passa deixamos a nossa marca no nosso destino e o as marcas do destino nas nossas mãos . . .
O creme aligeira os vincos que o trabalho duro deixa na pele, mas não aligeira o peso de cada gota de suor que escorreu pelo nosso rosto, o peso de cada esforço ao qual se sujeitou a cabeça, o tronco e os membros.
As marcas do trabalho deixam sinais que se tornam o semáforo da labuta, os barómetros dos nossos limites, mas a forca interior não raras vezes, ultrapassa as barreiras do tolerável pelo corpo e novas marcas, novos sinais se avizinham, criando caminhos e carreiros que se assemelham com roteiros perseguidos pelos curiosos do que vem e do que vai e do que pode vir a ser ou nem por isso . . . Tudo o resto e habito.
A pele das mãos seca e as linhas das mãos vincam a pele a cada dia que passa e o creme já nem as esconde, deixa-as a vista de quem as quiser ver ou ler . . .
Dizem alguns expeditos que a idade das mulheres se vê na pele das mãos.
E a cara, o que diz?
E o cabelo?
E as curvas que se arredondam?
A pele seca das mãos, a pele enrugada da cara, o cabelo grisalho, as curvas redondas . . . são partes da mesma historia contadas ao mesmo tempo em simultâneo, desencadeando os medos de tudo e de nada, somos os maiores e os mais pequenos quando a realidade nos acorda e nos dá a noção das coisas, aquela noção que nos escapa enquanto o tudo e o nada acontecem e nos alteram a visão e a noção das coisas.
A vida vai-se vivendo e mais um traço aparece no rosto, a barriga muda de forma, as pernas ganham uma nova consistência e continuamos a andar com os mesmos pés que caminharam até aqui, mais cansados ou mais nervosos, mas a mente é marcada por linhas que não se vêem, as marcas que aí estão não se lêem com as pontas dos dedos ou com apenas com os olhos curiosos. As marcas invisíveis dentro de nós levam-nos ao inevitável balanço, lá de tempos a tempos, e os resultados nem sempre se vêem nas linhas das mãos, a pele, na cara, nas formas, apenas se sentem e calam-se até ao limite do que é possível calar-se.
A linhas das mãos são apenas marcas de tanto trabalho que a esfregona e o pano, ora molhado e quente ora molhado e frio, deixa cada vez mais profundas.
Tacteada por outras mãos carregadas de marcas e de linhas e destinos e fados e roteiros a pele arrepia-se, assim como a pele que ainda não esta curtida pela vida, pelos anos de verga sem poder levantar a cabeça enquanto grita sôfrega por dentro, implodindo no seu silencio toda a vontade de viver.
A pele seca pela esfregona, panos, agua quente, agua fria, pó, lixo, detergentes, diluentes muitas vezes quer pegar também tem vontade de gritar o que os ouvidos moucos e olhos tapados não suportam ouvir e ver, porque são existências com vontade própria, com sentimento e sentidos, sentem o que os nhurros da vida acham de pouco ou de insuficiente quando eles mesmos nada fazem para ser ou ir mais além e ali se ficam, encostados às coisas pequeninas e outras até tão inúteis quanto a sua própria existência.
A pele das mãos está seca e vincada, marcada por isto, por aquilo, por muitos golpes duros outros mais leves, uns mais profundos outros mais superficiais, mas ainda mexem, ainda sentem, ainda gostam de tocar nas superfícies que o mundo permite tocar, porque elas também lêem o que os olhos apenas podem olhar, tacteiam o que a boca não pode saborear, o que os ouvidos não conseguem ouvir, o que o nariz não pode cheirar, porque as mãos são parte do caminho para o que não se quer esquecer.

Ser-se selvagem . . .

É como se fosse uma jaula com paredes invisíveis que estão lá, mas que só tu é que sabes que elas existem assim como quem as construiu.
É como se fosse uma jaula com paredes que quando se toca nelas se sente mesmo que não se vejam, algemas e correntes fortes como aço, mas que não se vêem, cruz que se carrega, porque se foi fraco, porque se precisou, porque se deixou que as pusessem sem que nos apercebessemos que estávamos a ser aprisionados, é como que se devessemos sem saber que estávamos em dívida, porque contam connosco e não queiram saber se ainda estamos lá ou não. 
É como se nos atribuíssem uma obrigação que não nos pertence e deixassem a vida de outrem nas nossas mãos e nos impedissem de seguir o nosso caminho apenas porque alguém precisa do que não temos para dar.
É um peso, uma cruz que nos impõem para que o ar de outrem não esgote, não desapareça. Não é justo, não se faz. O coração tem vontade própria e não há nada nem ninguém que o controle, é como se fosse um animal selvagem que não tem justificação a dar porque é livre. Os animais selvagens morrem se forem enjaulados mesmo que as paredes não se notem, mesmo que as correntes não se vejam. 
Um animal selvagem quando ferido e descalabrado é tão frágil e tão vulnerável como qualquer outro, mas depois de curado e revitalizado não se deixa prender, porque a sua beleza está na sua liberdade, no seu ser natural. Um animal selvagem será sempre um animal selvagem que estará perto de nós o tempo que tiver que estar. Não quer dizer que não reconheça quem o tratou, quem o revitalizou, quem o alimentou, quem o levantou de novo, mas um animal selvagem só é belo, porque é selvagem e isso o faz ser ainda mais deslumbrante.
Os animais selvagens também precisam do que precisam e buscam onde existe o que e quem lhes dê o que precisem, mas fogem de quem usa as suas fraquezas para os caçarem, porque aprendem e acabam por saber que o isco pode ser traiçoeiro. O isco é sempre o alimento favorito do animal que se quer caçar e manter em cativeiro, mas depois de morder o isco é tarde demais. O animal é emaranhado num enleio, num emaranhado enquanto os olhos do caçador se entristecem por ver o animal a debater-se. O caçador sente o misto de querer manter a sua preza apenas para si e o sofrimento de a ver degladiar-se com a rede na qual 
foi encurralada. 
Ligação entre seres selvagens e outros é possível a partir do momento que seja respeitada a natureza de cada ser, fora isso é cobrança, é pressão, é um misto de sentimentos cuja descrição dói só de escrever, o som do conjunto das suas letras juntas magoa mesmo que seja verdade e por mais que se queira nada se pode fazer, porque não se cura com ácido o que está em carne viva. 
Não é egoísmo ou ingratidão, não é mau agradecimento, não é falta de consideração, não é morder a mão que se estendeu para que nos levantássemos, não é nada que se pareça com o que quer que seja relacionado com falta de carácter e nobreza de espírito, bem longe disso, apenas as coisas mudam quando menos esperamos, apenas as coisas esmorecem, enfraquecem, enquanto outras são firmes, porque são as que alimentam o melhor de todas as relações entre os seres, mais belas, as mais estáveis mesmo que não sejam essas as realmente desejadas, porque outros sentimentos se levantaram e assumiram o comando de alguns barcos, mas são as que ficam e as que verdadeiramente unem seres que respeitam mutuamente as suas naturezas.
Ser selvagem, ser livre como um ser selvagem é das coisas mais belas, ser livre de qualquer tipo de prisão, jaula, corrente, muro, porque nascemos para ser livres e estar enquanto podemos estar da forma como pudermos estar. Não há nada nem ninguém que possa impedir de isso ser assim. Até os seres selvagens se encantam e deixam de se encantar. Até os seres selvagens querem outros seres para si, porque se afeiçoam a outros seres e sabe tão bem esse estado de se estar apaixonado, mas apaixonamos-nos pelo que é mais belo e o mais belo só o é na sua forma natural de ser e não dentro de uma jaula como um animal do circo, triste, longe do seu campo aberto para se movimentar sem fronteiras que não sejam os seus próprios limites.
Ser selvagem é ser feliz sem dependências, sem medos de perder o que não é nosso, sem medo de estar no mundo, sem medo que desapareça o que tem que seguir o seu caminho sem que se perca o contacto quando este é para ser estabelecido. Estamos porque queremos estar e não porque temos que estar, somos porque somos e porque gostamos de ser e porque mais se dá quando se gosta de estar e de ser, porque a vida mesmo que tenha coisas que não são leves e algumas até mais pesadas que o que é tolerável e suportável por apenas uma pessoa só, está-se lá porque se quer estar e não enquanto obrigação, porque é uma dádiva poder e gostar de ser e estar.

Pedras . . .

Fosse eu a contar as pedras que trago no bolso, teria que perder muito tempo a contá-las. Umas são pontiagudas e rasga-me os bolsos, essas vou tirando com cuidado para não fazer mais estragos, outras são verdadeiros diamantes por polir, mas fá-lo-hei apenas quando o tempo estiver bom para isso,outras são apenas seixos que recolho nos momentos doces e guardo-as com o mesmo prazer do momento em que as colhi, outras pedras são apenas pedras que estão apenas a ocupar espaço; dessas também me tenho que desfazer.
Na minha mala trago tantas outras pedras, umas dão-me jeito para fazer decorações e deixá-las numa prateleira onde sejam bem visíveis para que se faça justiça à sua beleza, outras ainda sabe bem sentir-las nas minhas mãos, relaxam e descontraem-me.
Sim, são pedras, são pedaços de mundo que pesam, mas o seu peso não me incomoda porque são apenas as necessárias, até mesmo aquelas que agora jogo novamente no chão foram úteis e devolvo-as à sua origem.
Se eu fosse a contar as pedras que carrego muito provavelmente percebia que já não me lembrava de mais de metade delas, apenas ficaria a olhar e a tentar perceber porque é que as mantive comigo e ficaria triste por não conseguir perceber de facto o porquê de ainda estarem no meu saco, nos meus bolsos, ou nas minhas mãos.
São tantas as pedras que pela quantidade dariam para construir uma casa . . . Mas nem todas servem para a sua construção porque nem todas fazem sentido ou fazem parte das paredes de uma casa . . . boa parte de elas são apenas decorativas outras são melhores que os próprios tijolos de burro que é do melhor para se construir uma casa que seja digna de ser habitada.
São tantas as pedras e algumas eu já devolvi ao mundo onde as colhi.
Nós colhemos pedras por onde passamos para que nunca mais nos esqueçamos de alguma coisa, mas muitas delas não passam de cábulas ou apenas formas de não nos esquecermos de alguma coisa que julgamos importante, mas o tempo mesmo assim passa e apaga tanta coisa, mesmo que não se queira que ele apague. Felizmente existem outros livros de anotações . . .
Tenho os meus bolsos e mala cheios de pedras e vou mandando algumas para o seu devido lugar, já não fazem falta a mim, mas sim a outros que as vão pegar e guardar nos seus bolsos e malas até que elas deixem de fazer sentido, até que cheguem à mesma conclusão que eu e comecem esses também a devolver as pedras ao seu domínio permanente.
As pedras tal como as pessoas têm uma razão de viver, um sentido, um haver que e muitas coisas mais, ou tantas outras coisas que nem sempre percebemos exatamente o quê e para quê ou  até mesmo o propósito para qualquer coisa mas continuarão sempre a ser pessoas . . . E eu também sou uma pessoa e como tal, o sentido que faço na vida de quem quer que seja é o sentido que tenho que fazer, o resto são detalhes.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Um dia acordei e decidi dizer-me a verdade . . .

Um dia acordei e decidi dizer-me a verdade. Não me calei enquanto não me disse toda a verdade de tudo o que não queria ver e ouvir, mas teve que ser. Não sei qual foi pior, ficar a saber verdades escondidas se o peso da ignorância.
Um dia decidi dizer-me a verdade que andava a esconder de mim e para ficar chocada deixei de acreditar em parte para ser mais leve, mas era impossível. A verdade não só dói, como cura, como o ácido que queima para cicatrizar a ferida que não para de sangrar.
Um dia acordei e quis olhar para o espelho e ver toda a verdade, doesse muito ou pouco, como se me esmurrasse e fosse ficar com a cara num bolo. Cada verdade de recebia atingia-me como um soco de pugilista e eu continuei de pé em frente ao meu espelho para oferecer a outra face e aceitar as consequências de cada verdade que recebia com toda a sua violência e ali deixei-me ficar entregando-me e deixando-me ficar como se cada dor aliviasse o peso do errado.
Um dia decidi que ia olhar ao espelho e não ter medo de mim, não virar as costas ao que não queria ver e que amarrar com todas as minhas forças para não fugir de mim, do que me mete medo e recuso a enfrentar. Não me dei hipótese. Segurei as minhas mãos e braços, fiz a corda amarrar-me à cadeira que tentei partir de tão insuportáveis e dolorosas as verdades. O meu corpo caiu morto de cansaço pela violência de cada verdade, de todas as coisas temidas e das quais ganhei mais velocidade a fugir que a andar para a frente.
Fiquei desmaiada de dores no chão. O tempo passou e ali fiquei à mercê da força do vento, da chuva, dos ramos secos que cortavam a pele insensível sovada e tudo o que era verdade escondida com carga impiedosa, cruel, vil; mas eu é que quis que a verdade viesse ao de cimo e viesse na minha direcção para que a pudesse sentir na pele.
O tempo passou, as estações do ano passaram umas atrás das outras e o meu corpo continuava jazido no chão. Os cães, gatos, ratos e outros animais nele fizeram tudo o que os animais fazem quando abandonados e o corpo jazia sem se mover, ou sentir.
Como a verdade vem de dentro para fora a pele nova também se regenera debaixo da pele velha, suja e rasgada.
O corpo que não se mexia, como que pequenos impulsos, começa a reagir, começa a despertar aos poucos e poucos e como se regressasse de repente à vida, num sorver rápido e ansioso de oxigénio, o corpo acorda do seu coma induzido pelas verdades que são como o veneno das áspides para mesquinhez e arrogância da ignorância. Áspides misericordiosas se tornam.
No silêncio e aparente imobilidade tudo se movia. No aparentemente morto, nulo, ausente, tudo acontecia mesmo que nada parecesse mover-se. O interior sofria mergulhado no seu silêncio, as lágrimas percorriam-lhe as veias no lugar do sangue que saiu por todos os golpes e a dor curava cada polegada de tecido no seu tempo perfeito para um ser tão imperfeito.
O corpo volta à vida carregado do veneno das verdades que o deixaram insensível, frio, implacável e imune à farsa e engano. Tudo deixou de ser o que era . . .
Os olhos vêem para lá dos olhos, o bater do coração ouve-se para lá do que não se ouve, mas bate, quase que em silêncio, mas bate como se não estivesse lá. A dor tirou-lhe o som e ampliou o seu espaço.
Os olhos olham com um misto de compaixão e frieza gélida de quem não sente . . . as mãos movem apenas quando necessário, as palavras saem apenas quando chamadas pela razão e o cinzento pálido dá lugar a um cinzento rosado meio reluzente. Olha-se, mas não está lá mesmo que esteja presente.
Um dia acordei e decidi entregar o meu corpo à verdade e morri. Deixei-me morrer sem suicídio, matei o que vivia no lugar errado sem ter cometido um crime, antes um golpe de misericórdia sobre o que abundava que não vivia bem com a verdade. Foi uma morte sangrenta; esvaí-me em sangue, fiquei vazia de tudo o que era danoso, independentemente do tempo que levasse a reconstrução. Sem medo me entreguei à verdade, que como as áspides, envenenou homeopaticamente, tão lentamente tudo o que é pernicioso.
Entreguei o corpo à verdade que é o mesmo que morrer e nascer novamente, sem medo do que quer que seja, porque se está cheio de verdade, porque só vive em prol do que é verdadeiro, desferindo os golpes perfeitos sobre o que é falso e mascarado.
Finalmente se pode ser tudo o que sempre esteve lá que não se queria ver e deixar ser, mas que é forte, poderoso, que é a verdadeira fonte de tudo como tem que ser, mesmo que não sendo o que é perfeito é o que é verdadeiro e real!

terça-feira, 13 de maio de 2014

Saudades . . . tantas . . .

Saudades, tantas, mas tantas que rebenta todas as fronteiras que possam haver no universo.
São tantas, mas tantas que me deixa sem graça, com o sorriso dos tolos nos lábios e com olhar vago.
Saudades, mais que muitas são as saudades . . .
Saudades de te ver de perto, de longe, mas perto, mesmo que perto ver-te chegar de longe.
São as saudades que se inscrevem umas atrás das outras dentro de um coraçãozinho pequeno em tamanho, mas grande como o Universo.
São as saudades que puxam e repuxam e fazem vagar o pensamento ao ponto mais distante do eixo.
São as saudades que fazem distender-me até ao outro canto mesmo que seja à distância de todas as distâncias; as saudades são o fumo que se liberta do incenso que percorre todos os vales, montes, montanhas, bosques verdes e águas salgadas para chegar ao seu destino e dizer: Tenho saudades tuas.
Todas as saudades se reúnem e partem excursão até ao destino destinado, ao pé de ti, até a ti e dizer: Não te esqueci, não te esqueço, não te esquecerei, mesmo que vás e venhas as vezes que fores e vieres de onde vais e vens, mesmo que vás para onde fores, não te esqueço porque não quero esquecer, porque me apetece ficar mesmo que não fique, mesmo que me minta e engane, mesmo que mostre o oposto, mesmo que tudo mude ou fique na mesma, eu continuo aqui . . . sempre aqui, não importa quem esteja, quem vá, quem venha ou quem fique, não és tu e nunca será, porque não será o mesmo, mesmo que até seja bom, mas não és tu.
As saudades às vezes batem à nossa porta sem que as ouçamos e apenas damos por elas quando já estão dentro de nós e a sair por todos os nossos poros, mesmo que saibamos de todos os "mas" e todos os "talvez". Tenho saudades tuas, tenho e porque tenho elas suplicam que te diga: Tenho saudades tuas!
Fizeste-me renascer várias vezes, tantas que não tenho conta, não quero contar para que fique em segredo no frasco de todas as compotas mais doces, assim como cada renascimento . . . e nisso sim se alimentaram as saudades em cada renascimento mais belo que o outro, mais forte e poderoso, mesmo que tudo mudasse e tudo se transformasse, mesmo que os impossíveis se atravessassem a meio do caminho e desviassem o roteiro, mesmo que chovesse, fizesse trovões e o céu desabasse em tempestades, fiquei onde estou, com o coração cheio de tanto, mesmo que os teus caminhos te levassem para outras paragens, para outras marés de outros cantos continentais ou arquipélagos, não me importa, porque sei que voltas, seja com que vier dentro de ti, com que alma ou com o que for.

domingo, 11 de maio de 2014

Para uma força da Natureza

Ainda não te foste embora e já sinto a tua falta, mas acima de tudo o maior dos orgulhos por te ter conhecido, por tudo o que se riu, por tudo o que se caminhou a toque de gargalhada e . . . caga nisso!!!
Não são só os amores que nos deixam saudades ainda antes de seguirem o seu rumo, os amigos dos melhores e dos piores momentos também deixam e fazem as lágrimas correr, porque Graças a Deus os encontrámos no cruzamento das nossas travessias com tudo o que se tinha, sempre tão verdadeiro como a nossa existência.
Corremos os cantos que eram possíveis correr e "Valeu a pena viver, para vir ver o que vimos . . .", essa é sem dúvida uma das tuas frases!
Todas as frases são sem dúvida fruto da tua produção, realização, concretização e divulgação; ninguém as fez, porque são tuas . . . aliás, antes de o ser já o eram, é como a pescada! - com certeza que esta é mais uma das tuas frases!
. . . e porque se queres ter sucesso tens que te vestir à "caga nisso"! . . . e sabes porquê? . . . Porque somos muita boas!!!
No quê???
O que é que isso importa???
Somos muita boas e pronto!!!
O que é que isso lá importa???
Isso não interessa para nada!!!
Somos e pronto!!!
É aquela coisa que vem de onde vai e depois dá meia volta e volta ao donde foi ou veio, mas sempre numa circunferência de retrospectiva avançada.
Nada será o que foi depois da retrospectiva avançada!
Sempre a inovar numa perspectiva elíptica, porque o que interessa mesmo é que a coisa, seja como seja, é uma senhora obra de arte.
Se estiveres mal disposto, caga nisso, ou então faz o contrário, mas nunca te esqueças de onde vais, porque se não, caga nisso. É tudo uma questão de óptica, ou perspectiva . . . lá está . . . a perspectiva!
Não entendes nada disto, pois não? Oh pah, caga nisso, mas não metas ao peito que cheira mal!
E já sabes, se houver confusão, liga-me que sou a primeira a fugir! . . . ah, deixa ver . . . e não é que é mesmo mais uma das tuas frases!?
Porque só estás bem onde não estás, não estarás muito tempo onde vais estar, porque nunca estás onde estás!
O movimento é a tua verdadeira alegria, seja aqui ou ali, mesmo que seja pelo tempo que for, já aí não estás e só as pessoas te dão a paz desde que estejam no movimento certo em sintonia com o dinâmico do mundo.
Faz boa viagem enquanto vais viajando, enquanto estás e não estás, enquanto viajas entre as viagens.
Custa ver forças da Natureza longe, mas custa muito mais ver a sua tristeza, porque as forças da Natureza só vivem desamarradas e tu estar a murchar, por isso viaja, vai e volta cheia de ti mesma porque és selvagem, verdadeira, genuína, sincera, verdadeira amiga, grande ser humano, cuja produção, realização, concretização e divulgação são fruto da fonte que em ti mesma encerras, nessa força que Deus te deu e da qual encheu, por isso podes voltar cheia de ti mesma que és inspiração para os dias cinzentos, com Sol, chuva, ventosos e os outros no meio disto tudo!
Não podes ficar porque se ficares morres por dentro. Já começaste o teu processo de destruição interna com a falta da tua força vital que dá vida à fonte, que recicla toda a estrutura e lhe devolve o seu devir, mas já falta pouco para voltares a respirar e voar com toda a força que Deus te deu.
Já falta pouco, aguenta só mais um bocadinho que estás quase a poder abrir as tuas asas de anjo que é por si mesmo livre.
Envio-te esta missiva ainda antes de levantares voo, para que saibas que estarás sempre em casa sempre que quiseres por aqui passar, porque voltar é uma palavra que não passa pelo teu dicionário e pela fabrica da produção, realização, concretização e divulgação.
Só tenho a agradecer por seres como e quem és!
Obrigado por tudo!
Até amanhã, até daqui a bocado ou até já . . . já que o já pode ser estilo até logo ou não, ou logo se vê ou qualquer coisa do género!
Ah e se te sentires um pouco descorsuada, tipo naquela, pah, caga nisso! . . . que é o mesmo que dizer, caga nisso, mas não metas ao peito . . . porque cheira mal!

sábado, 3 de maio de 2014

Coisas que mudam . . .

Não, não sei o que quero. Umas vezes acho que sim, mas assim como as cores das coisas mudam, as vontades também.
Acho que não sei o que quero, assim como as coisas mudam conforme está Sol ou está chuva. Agora apetece-me, agora já não e daqui a bocado não sei, mesmo que tudo se mantenha igual.
Nada sei sobre o que quero dentro do que existe ou do que por enquanto há. Nada sei e nem sei se quero saber mesmo. O que é que me importa? Quero saber? Não!
Não quero saber, já não me apetece querer saber . . . há mais quem queira saber, bom proveito do que quer que seja, que eu já saí de campo . . . estou apenas de corpo presente, porque tudo o resto já partiu. Deixei apenas o meu espectro para ocupar o lugar do que está presente, mas apenas é o espectro da coisa.
O que quero? Não sei, mas só na parte que não me apetece querer saber, apenas na parte que me apetece não sequer investir o meu tempo em tentar saber o que quer que seja sobre essa parte.
Já fui, já cá não estou. Deixei agora mesmo o lugar vago ao que quer ser vago, porque atrás de tempo tempo virá e gente mais trará.
Apetece-me apenas parecer que estou, mas apenas parecer e nada mais, mesmo que esteja a mentir, mesmo que esteja com vontade de ficar, mesmo que não queira deixar de estar, mesmo que esteja a lutar para não ir, fui e fui de vez no que tenho que ir, porque acabou o meu tempo, o meu momento esgotou-se e já não sou novidade.
Tudo muda mesmo que pareça que está tudo na mesma. Tudo simplesmente muda, porque é assim suposto ser. O tempo atrás de tempo vem e virá. coisas atrás de coisas virão sejam estas o que forem . . . coisas atrás de coisas acontecem.
Umas vezes acho que sim, outras acho que não, porque me apetece querer achar que sim, outras nem por isso e tudo vale o que vale. Numas coisas estou, noutras já parti, já não estou. Fui, desapareci e estive enquanto o meu coração permitiu estar, depois disso o coração parte, mesmo que fique o resto, o espaço onde estava fica vazio, porque já não tem espaço para bater. O espaço encolheu e para que bata tem que ter mais.
Custa, mas não quero saber mais. A mente agora tomou as rédias dos acontecimentos e o coração retirou-se para o sempre que for necessário. Tudo muda de lugar inclusive o coração.
Aparentemente nada muda, mas apenas porque assim faz parte das regras, como o peluche que representa o conforto do colinho da mãe quando esta está ausente . . . mas eu já não estou cá apesar de ter deixado a minha marionete, que controlo há distância para que não pareça que estou ausente, mas estou.
É a vida e o seu devir, palavra que os gregos usavam para simbolizar a mudança, mas se assim tem que ser, assim seja enquanto assim tiver que ser.
Tudo tem o seu prazo de validade e quando se ultrapassa esse prazo tudo deixa de ser previsível. Cada coisa segue o seu caminho mesmo que os elementos se toquem, mas já não estou, apenas a parte que tem que estar porque faz parte estar, a outra soltou-se e seguiu noutra direção, na direção do desconhecido, mas em consciência de que este dia surgiria algures no horizonte, algures no meio do que é, no meio do que assim pertence ser, mas vou em paz e o que fica em paz está.
É mesmo assim, mesmo que às vezes tenha vontade, felizmente deu-se o golpe de misericórdia para que eu possa não querer, para que possa não me apetecer e ficar apenas uma parte das coisas, sem culpa, sem arrependimento, sem razões para apontar dedos.
A razão protege o coração, mesmo que o coração reclame da frieza da razão, mas no final o coração agradece à razão ter sido esta a tomar conta dos acontecimentos. Por alguma razão o que se quer para o coraçao é menos constante que o que se precisa, o que se quer tem mais flutuações, por isso sabe bem já não querer, mesmo que se queira, porque provavelmente não é na realidade o que o meu coração precisa. Ele baterá devagarinho, sozinho, mas pelo menos ganha força a cada batida, recupera no seu ritmo para um dia voltar a ser um corredor por gosto, porque quande bate pelo que precisa não se cansa.

O barco no mar de Verão

Embarcam um barco sem fado veraneantes aventureiros leves de culpa e cheios de vontades diversas, tantas que se contradizem umas às outras, mas o que importa se o barco não tem fado?
Os veraneantes perseguem apenas o Verão, ou não fossem apenas veraniantes que vivem apenas pelo Verão, rumo às águas quentes do Verão onde quer que este esteja.
O destino não existe, apenas o agora desde que seja rumo ao Verão. As ondas do mar guiam o seu rumo, o seu destino é ditado pelo vento e os seus remos acariciam as ondas do mar para que neste não se sinta agredido pelo bater dos remos.
O barco é longo, espaçoso e nada de mal lhe pode tocar. Os quartos são quentes e cheiram a madeira fresca, os seus cortinados cheiram a panos limpo e a água salgada. Os cheiros misturam-se com as fragâncias de flores frescas acabadas de colher.
O Sol brilha e aquece os aposentos que se enchem de luz e calor vindo de toda a atmosfera.
O mar está calmo e os ocupantes lançam ancoras para disrutar dos prazeres aquáticos nas águas cálidas do mar do Verão.
É o festim de todas as coisas que pairam no ar de Verão, no ar de quem se deixa iluminar pelas luzes vindas de longe, pelas luzes e luzinhas e reflexos brilhantes que ondulam deliciados nas ondas do mar.
Os corpos relaxam, cada músculo se deixa embalar pelas ondas calmas e ondulantes, os cabelos soltos dançam livres com o passar de cada onda que os acaricia tão docemente que o arrepio desperta embevecido pela candura e delicadeza do deslizar da água salgada.
Os corpos mergulham sem contenção até onde as suas capacidades alcançam, são livres e da liberdade vivem. Dentro do mar vivem livres , mesmo que os seus pulmões respirem oxigénio, é no mar que se sentem livres, se sentem em casa, não importa onde o mar os leve, porque o que é que importa, desde que seja Verão?
O mar do Verão trás-lhes tanta plenitude que nada que existe em terra faz sentido, mesmo que em terra exista mais alimento, os corpos buscam outra paz, a paz que não se busca em coisas térreas.
Bem sabiam os veraneantes que no mar do Verão é que estão bem.
Partem veraneantes em busca do seu Verão, sem destino e sem fim porque estão no apenas agora e agora respiram o caminho do Verão.
Do mar regressam os veraneantes e aos seus aposentos regressam, com os corpos leves de tudo a carregados de muito mais que apenas eles mesmos, carregados de tanto que parece tão pouco aos olhos de quem coisa alguma disto entende.
O Sol desaparece ao longe por detrás das ondas calmas do mar de Verão e os veraneantes emudecidos adormecem alimentados pela paz que carregam.
No Verão também acontecem as mais violentas tempestades, mesmo que seja Verão.
O barco segue as ondas que o conduzem a onde desejam que o barco esteja e aos poucos o vento começa a soprar com mais força e algumas nuvens aparecem no céu. O barco continua no seu rumo e o vento sopra com mais força. Os remadores recolhem os remos e aumentam as precauções. Gotas de água fortes começam a cair sobre o barco enquanto os veraneantes dormem calma e serenamente. As gotas de água são cada vez mais e maiores, o céu enche-se de nuvens carregadas de chuva e rebenta o primeiro desabar do céu. Cai com mais violência a chuva que se envolve no vento e tomam o espaço todo por sua conta. A chuva e o vento varrem todo o mar com a sua fúria, enquanto o barco luta para se manter em equilíbrio. O mastro do barco acolhe as velas que enroladas se deixam estar. A chuva e o vento sacodem o barco em todas as direções, mas os tripulantes não sentem nada. O barco assume o controlo do seu equilibrio, mesmo que se debata com a violência dos predadores do céu.
A noite de tempestade prolonga-se até de madrugada, onde os primeiros raios de Sol ganham força e destemidamente , como de espadas se tratassem, irrompem por entre as núvens quase esgotadas da diversão, mesmo que ainda meio rebeldes.
O Sol volta a aquecer o ar e as ondas mar de Verão. Os veraneantes por nada deram, nem mesmo nos momentos de maior batalha . . . por nada deram porque este barco foi construído para ser indestrutível, para assumir o comando no momento da tempestade, para que os tripulantes sigam o seu rumo no mar de Verão, porque é do mar que se alimentam, porque em terra apenas é uma passagem breve.
Embarcados no barco do mar de Verão seguem os tripulantes desprovidos de medo, porque mesmo sem destino, estão no barco do mar de Verão.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

O que se precisa e o que se quer . . .

"Não quero, porque quero e o pior é que quero . . ."
O quero diz que sim ao não quero, porque o querer nem sempre coincide com o precisar e o que se quer não é sempre o que se precisa . . . mas o que é que se precisa?
"Porque é que não és o que preciso, se és o que quero?" . . . Heis a eterna pergunta que tortura!
O que se quer e o que se precisa deveriam ser a mesma coisa e não outra.
Quere-se porque se quer e quer . . . o que se precisa . . . precisa-se mesmo que se queira qualquer outra coisa que não se pode ter mesmo que se queira . . . outra, ter . . .
"Ter??? Mas ter o quê???
Isto é assim??? Tem-se???
Ainda por cima é assim . . . propriedade!".
Não!!! Não é isso!!!
Não tem nada a ver!!!
É apenas que se quer mesmo que não possa ser!
Apenas isso mesmo, apenas isso!
Não é justo ou perfeito, o que cresce e tem que ficar calado, encolhido ali a um canto com medo de ser descoberto e não saber defender-se do que possa encontrar do outro lado da janela, dentro desse espaço do qual teme sair e mostrar-se, escondido atrás de tudo o que tem apenas o ar do menos intencionado do sentido do que está escondido. O que se esconde fica caladinho sem se poder mexer, porque é tudo tão volátil, tão frágil, tão delicado e esse tudo não aguentaria ou o que se esconde não tem a coragem de . . . se ao menos pudesse . . .
Aquele abraço apertado fica à espera de poder ser sentido, tocado e respirado movido por todos os músculos que o compõem e com todas as partes corpóreas que o asseguram.
Aquele encostar de cabeça no ombro em frente ao pôr do Sol, apenas porque sabe bem encostar a cabeça no ombro, espera a cabeça e o ombro, enquanto o Sol e a praia serena e eternamente paciente aguardam sem pressa pelos protagonistas do encostar que culmina num suspiro tão profundo quando a paz que brota do interior.
Simplesmente quere-se . . . mesmo que não se possa querer, quere-se, mesmo que não seja o momento de querer, quere-se, não  importa o que é, mas é o que move porque se quer.
Como é bom querer, mesmo o que importa é o que se precisa, mesmo que o que se precisa é o caminho e não o que se quer . . . mas porque raio não têm que estar os dois em sintonia, o que se quer e o que se precisa??? Porquê???
Mas mesmo que o que importa é o que se precisa, o que se quer luta por ganhar terreno ao que se precisa e a confusão instala-se. No que se quer tudo começa a complicar, tudo é complicado, tenso, estranho, desconfortável, apavorador e mesmo que não se possa quere-se e pronto, quere-se!
O que importa??? Quere-se e pronto!!!
A insanidade instala-se, porque não se vê mais que o que se quer e o que se precisa ganha um plano diferente. O que se precisa é relegado para fraco e invisivel, sente-se chutado para um canto cheio de ingratidão sem reagir, deixando-se chorar por dentro enquanto contempla consternado o devaneio e o atordoamento inconsciente de quem segue o que se quer.
Escorraçado, porque o que se quer é o menino querido e adorado, o que se precisa encolhe os ombros, enfia as mãos nos bolsos para as proteger do frio e caminha ao longo da linha do comboio do que se quer que larga fumo denso e frio.
Na sua humildade, triste e carregado de pena o que se precisa desvia os olhos da cegueira que tolda a visão de quem segue apenas o que quer e afasta-se entristecido pela escolha infeliz de quem escolhe.
O preço das escolhas do que se quer existe tanto como o do que se precisa, mas será sempre uma escolha; a batalha é sempre inglória . . . haverá sempre um que ganha e um que perde!
Qual é o preço do que se quer e o do que se precisa?
Qual é o sacrifício que cada um pede?
Que preço estamos dispostos a pagar?
Porque nem sempre o que se quer coincide com o que se precisa, ao menos existe a certeza de que o que se precisa abre-te os braços e estará lá sempre para te confortar e recompensar por tudo o que aguardaste pacientemente enquanto construiste algo, porque te dará o que te é realmente necessário para caminhares no teu caminho. O que se quer, por vezes, é apenas uma goluseima que te dá esse momento extra e que fará sentir tudo o que queres sentir, para descobrires depois de te saciares que não existe aí o que precisas, para descobrires depois de começares a ver o caminho, que o comboio que apanhaste levou-te apenas para uma ilusão temporária apesar de extasiante e quando vais procurar o que precisas no que que queres, nada encontras, porque se o que precisas não encontras no que se quer é porque o que se quer não serve para mais que isso, é apenas o que se quer e apenas porque se quer.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Mais cruéis que os punhais . . .

Mais cruéis que punhais são os sentimentos que vão e vêem sem pedir perdão ou licença para entrarem ou para sairem, sem mais nem menos, sem mais nem porquê . . . vão e vêem . . . vão e vêem e voltam a ir e a vir, a vir e a ir.
Cruéis e sem querer saber por onde andam, como se fossem senhores de si mesmos, senhores do que quer que toquem ou se encrostrem, usam de soberba como soberbos que são, usam da arrogância como arrogantes que são, rebeldes sem causa, quais sevagens . . .
E assim que vivem os sentimentos e as suas emoções, sem rei nem roque, sem freio, como as águas veloses e violentas do rápido mais revolto.
São pedantes e instalam-se como se regressassem às suas posses. Não somos nada perto deles. A razão encolhe-se de medo de se manifestar com receio de que estes senhores se revoltem e condizam toda a vida em direção ao cadafalso sem retorno.
A mistura fina dos seus artifícios é embriagante. Por onde passam os sentimentos e emoções deixam tudo em desalinho, não importando a ordem original. Por onde quer que passem, já nada volta ao que era antes; onde havia ordem, agora é o caos, onde havia caos, não melhora nada apenas muda-se a ordem do caos, onde havia paz, agora é desassossego, onde havia desassossego, agora anda tudo pelos ares e nada melhora para melhor senão os orgasmos que vêem do fundo da alma, de onde vem toda a rebelião, toda a confusão e turbilhão desenfreado . . . e apenas porque chegaram os senhores do apocalypse racional, os senhores do fim de toda a tranquilidade racionada e doseada a conta gotas para restar para os restantes dias.
Mais cruéis que punhais ferem os sentimentos alimentados pelas emoções cumplices nas demandas do que quer que os sentimentos demandem. Saltam de todas as células, rompendo com todas as membranas para se entrusarem como um virus que ataca pela calada e quando dás por ti estás todo, ou toda, minada ou minado. Quando dás por ti não sabes se queres que a doença se cure ou se queres ser um doente crónico e aguentar os desconfortos de estar contaminado pelo virus que se istalou sem que desses por isso.
Os sentimentos e emoções têm vontade própria, entram porta a dentro e nem sequer perguntam se podem entrar ou instalar . . . arrombam a porta e a passos largos já entraram e largado os seus despojos por todo o lado assim ficam . . . por onde passam deixam o seu rasto, largando uma coisa aqui outra ali como se despissem as suas vestes que largam por todo o espaço que percorrem. A sua pedância não lhes dá lugar para espera, são escaldadiços e querem ir em frente, mesmo que o sinal de proibído seja do vermelho mais luxuriante, simplesmente avançam e continuam a avançar. Onde havia uma porta fechada, abrem-na, onde havia uma porta entraberta, escancaram-na, onde havia uma barreira alta, tentam trepá-la, one havia um pequeno muro, derrubam-no, onde era campo aberto, passa a ser campo minado de minas cuja explosão é averdadeira libertação de todas as sensações que desligam a razão e fazem o corpo ceder em direção ao outro corpo que está a ser atacado . . . e já sem defezas quer continar no seu estado de contaminação . . .
Corpos contaminados, mentes alienadas pela anagogia luxuriante por vontade dos sentimentos e emoções em corropio sem rei nem roque, sem rédeas ou freio, servem de escravos aos deleites dos lordes . . .
Cruéis como punhais são os sentimentos e emoções que tão ébrios nos deixam que nada do que existe realmente existe, até que a cobardia dos sentimentos ganha terreno perante o perigo da visão toldada pela névoa com sabor a algodão doce, sweet poison . . . mas como tudo chega ao seu fim, a razão desce ao terreno minado para desinfetar com toda a sua frieza toda a réstia de vontade desenfreada . . . e de novo o caos antigo volta a ser um caos, mas numa outra desordem, a porta que antes foi entraberta volta ao estágio de fechada e tudo e tudo volta a um estágio semelhante, mas nunca como o que havia antes.
A ilusão do imutável dá espaço ao algo novo dentro do alguma coisa que se reforça e protege . . .
A razão é o salva-vidas quando os sentiemntos e emoções deixam por todo o lado o seu rasto de destruição e impureza . . . e mais uma vez a repudiada, aparenemente fria e desligada razão aparece para retirar dos corpos do seu desespero por novo ar . . .
Mais que cruéis são os sentimentos e emoções . . . até que um dia . . . tomaste o comando do leme . . .

sábado, 5 de abril de 2014

Foste tocado por um anjo . . .

Foste tocado por um anjo. As palavras sairam-te dos dedos sem que soubesses a magia que no mundo fariam.
Tocaste nas palavras com as pontas dos dedos e elas brilharam na minha mente, devolveram os fluídos ao coração que murchava a cada minuto que passava desde a última palavra pelos meus ouvidos escutada.
Foste tocado por um anjo que te acordou e no meu silêncio entrou calando os gritos que gritavam por dentro.
Foste tocado por um anjo que já sabia o que se avizinhava, que já sabia das quedas que quebrariam os meus ossos, das quedas que maltratariam o que sobra de mim e da minha modesta vida.
Foste tocado por um anjo que não teve misericórdia pela maldade que se avizinhava, pela penúria que prometia assolar a minha paz.
Foste tocado por um anjo que estava à espera que tu o escutasses e escrevesses as palavras sagradas, as palavras que iriam mudar o meu mundo no momento da derrota momentânea de todas as minhas forças, de toda a minha alegria que tem o brilho das crianças.
As tuas palavras rebentaram o dique da maldade, deixaram a água correr em direção ao coração que murchava e inundaram-no de vida, devolveram-lhe o bombear e ele voltou a bater, voltou a ser o que era antes de começar a murchar, antes de secar em alta velocidade como num filme cuja fita corre deslamadamente acelerando cada imagem inscrita em cada frame tão depressa quanto a bobine aguenta. A água veio com tanta força que o coração saiu do seu lugar retornando ao seu espaço mais forte que antes, revigorado, resplandecido.
Foste tocado por um anjo, cumpriste uma missão, uma de muitas missões, fizeste o que não sabias que estavas a fazer e abençoado foste pela tua contemplação inconsciente, pela tua obra singela.
Foste abençoado pela mão de um anjo que te devolveu o dom do fazer emudecer as palavras pela tua ação e deixar o coração cheio de gratidão.
A tua presença vem a mostrar a benção da transformação . . . I was blind now i can see . . .
Assim foste tocado por um anjo e assim deixaste que ele te ditasse as palavras que o mundo mudou e assim de novo a minha alegria voltou.


quinta-feira, 20 de março de 2014

então SEJAMOS . . .

A vida muda, surpreende-nos com as coisas mais simples, um olhar de um estranho que mantem o olhar com a mesma curiosidade enquanto expressa a sua arte, uma palavra que brota do espírito carregada de Verdade, de Vontade, de Vitória, porque é boa a sua energia, a sua força . . . a vida surpreende-nos.
A vida surpreende-nos com o surpreendente inesperado, com o maravilhoso inesperado vindo de quem menos se espera, seja lá o que move quem menos se espera . . . a vida simplesmente surpreende-nos!
A vida trás tudo mesmo que tudo sem mais nem menos pereça, mesmo que tudo sem mais nem menos desapareça sem deixar rasto ou história para contar, a vida surpreende-nos . . . deixa para trás as coisas, porque é para a frente que se anda, para a frente, se medos, destemido, mesmo que  o mauzão do menos bom se meta à nossa frente e nos barre o caminho, mas é a lei do mais forte e o mais forte não é aquele que o pensa que é, é o que realmente é, na sua simplicidade, plenitude, mesmo que não esteja escarrapachado na sua cara . . . o mauzão é fraco e não pode com o forte, mesmo que teime em barrar-lhe o caminho!
Este mundo não é para os fracos . . . mas só os fracos é que se julgam os mais fortes, porque os que são fortes apenas SÃO, simplesmente SÃO, não deixando espaço para dúvidas, não deixando espaço para a decepção, estão onde devem estar com a consciência do que são, porque SÃO.
A vida surpreende-nos e quando menos esperamos, já lá foi o que não é bom, o que é fraco, o que barrava o caminho e ficam apenas os que SÃO, os fortes e como estes SEREMOS, talvez porque já o SOMOS . . . então SEJAMOS . . .

terça-feira, 4 de março de 2014

Loucura insana

Há momentos em que perco a humildade, perco-me e acabou-se nesse instante tudo o que de melhor construi, tudo o que de mim foi dispendido em nome do que as palavras não descrevem, em nome de nada que valha apena espreitar.
Há momentos em que perco tudo de mim em que investi, tudo o que me constrói, todas as peças do meu puzzle, do meu sistema, fico baralhada e não sei o que é o quê, onde estou ou quem eu sou mesmo.
Há momentos em que eu quero ser tudo o que eu não posso nem quero ser, mas a loucura que se respira empurra-nos para todos os becos mais obscuros, onde tudo o que vemos e ouvimos são coisas que preferimos pensar que não existe, que são fruto da nossa imaginação apedrejada pela insanidade que polui o ar.
Há momentos que prefiro pensar que tambem eu estou louca, que no espaço onde é suposto haver um coração existe apenas espaço e que nem pedras lá conseguem estar ou não é suposto, porque eu sou mais uma louca em pensar que é suposto existir coração, que nada do que vivo é verdade e que tudo é fruto do pesadelo a que chamo imaginação, que há Sol e que só eu vejo as nuvens, que as sombras são as coisas, que as coisas são as sombras, que o que está mal é o que está bem, que o rasto de lixo deixado por alguém afinal são belas e perfumadas flores, que o que engana e mente afinal é honesto e diz a verdade, que o que é certo é errado e que o que é errado é certo.
Há momentos em que penso que tudo perto ou longe está louco e que o que é são está mesmo muito longe, que a peste que insandece as pessoas cavalgou para lá de todas as distâncias e que a insanidade mutou-se como que um virus, que eu peguei a minha loucura enquanto me curava dela, que a loucura assumiu formas assustadoras, que saiu do sítio e está a alastrar outros cantos, outras distâncias.
Há momentos que saem coisas da boca das pessoas que eu prefiro pensar que é imaginação fértil em excesso, daquela que acrescenta a onde não existe, daquela que tira onde há mais qualquer coisa . . . qualquer coisa assim, mas é sempre minha maginação e que tudo voltará ao seu lugar . . . se assim a coisa deixar!
Há momentos que grito que no interior e as lágrimas jorram são para dentro, deixando o rosto caído e apático, como se o queixo fosse a parte mais pesada do corpo, as maçãs do rosto a descair e a ação sofrida.
Depois de tanta loucura insana há momentos em que a paz que sinto é tão grande, mesmo que pelas coisas mais pequeninas e insignificantes aos olhos de quem pensa que tem tudo, que a minha loucura dispara para lá das coisas alcansáveis ou não fosse louca a minha loucura, para depois regressar a má e insana loucura, a que nos consome e nos faz ver as coisas ao contrário do contrário, que revira novamente tudo do avesso do avesso para que a coisa fique mais ou menos num sítio qualquer.





sábado, 22 de fevereiro de 2014

O capítulo que ainda agora acabou de começar . . .

Finalmente ganhaste coragem . . . 
Fugiste das garras da rainha má e vieste ver o que te aguarda, após derrotares o vício a que te acostumaste, o vício do que já perdeste a noção do porquê e que já acabou sem que a raínha da vileza entendesse, tanta é a dimensão do seu umbigo!
Voltaste, com o pior dos pretextos, ao ponto de partida, apenas para confirmares o que te espera num futuro próximo . . . aos olhos da Eternidade.
Vieste à procura da certeza de que te esperaria, vieste para dizer mostrar que percebeste que a história acabou de começar, que percebeste que o novo capítulo já começou e apenas estás a terminar o passo anterior ao que se segue.
Vieste para pedir que espere, que aguarde só mais um bocadinho, porque já não falta muito . . .
Viraste as costas à miss antipatia e foste fazer qualquer coisa que de repente sentiste necessidade de fazer, que não podia ser adiado e teria que ser no local onde começa o capitulo, para regressares ao teu enquadramento na história que está escrita da forma e com o desenlace que foi escrita, quer queiras ou não, quer te agrade ou nem por isso, pelo menos para já. 
Foi bonito de se ver . . . a tua entrada no local, pelo escritor marcado, que intencionalmente te fez sentir um transgressor de todas as regras a serem, supostamente, respeitadas . . . sentiste como se estivesses a dar o grito do ipiranga, a romper com as amarras, com as correntes que há tanto te prendem e te corroem, mas ainda estás amarrado . . .aparentemente, aos olhos da rainha de todas as vaidades!
Foi difícil resistires?
Pelo menos para mim foi.
Deste o passo a seguir, ganhaste a coragem que eu precisava que ganhasses e esperaste que te perseguisse, mas não o pude fazer . . . não era a altura ideal, a que está marcada, mas gostei da tua coragem. Fizemos o que queriamos fazer entre as paredes da telepatia, pelo que e no que  tiveste vontade de sentir, mesmo que à distância de um toque ou de um olhar que fala mais que as palavras. 
Quiseste voltar atrás com tanta vontade, que não te contiveste em deixar o que podias e o que deixaste ainda ficou durante o tempo que o escritor deixou ficar. 
O teu destino presente ainda te chama e chamará enquanto o destino assim estiver destinado, mas o que levas contigo é mais que apenas uma certeza, é mais que apenas mais uma história, mas que não deixa de ser uma história. 
À noite, quando o sono te chama, vais sonhar com o que se segue a seguir no cenário idílico ou preferes simplesmente avançar para o cenário real?
Vais fazer do mundo o pano de fundo perfeito para tudo o que escapou ao momento ou vais recriar o caminho de regresso ao ponto de partida para manteres essa perfeição ousada aos olhos do mundo quadrado?
Não perguntaste o meu nome, nem eu o teu . . . não era preciso . . . são pormenores que interessam apenas no momento que surgir a próxima perfeição escrita pelo criador da história.
O que realmente interessa é que já começámos a imprimir na realidade as primeiras manchas de tinta do que foi escrito. Isso é o que mais importa, estejamos nós com quem ou onde estivermos. Os nossos passos deixaram as suas marcas no chão, passo após passo, por onde passámos, no gesto após gesto onde gesticulámos, repiração após respiração a cada momento . . .
O escritou terminou o primeiro capítulo que ainda agora acabou de começar . . . mas ainda falta tanto . . . ainda falta o que há pelo meio, entre isto e aquilo, uma coisa e outra e tudo o mais que se segue.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Uma história escrita

Oi.
Já cheguei.
Já passaram alguns dias desde que desci o avião, desde que inspirei fora do ar que me trouxe, desde a minha chegada.
Ainda não te disse nada, acho eu!
Será que já nos vimos?
Já te vi?
Já olhei para ti com olhos de ver?
Já me viste?
Talvez já nos tenhamos cruzado, não sei. Estivemos no meio de tanta gente, talvez!
Eu fui numa direção e tu foste noutra, ou ainda estás com a pessoa errada e eu no estado certo para te receber. Talvez!
Onde estamos?
Onde estás?
Onde estou?
As coisas são como são e nós não nos podemos adiantar ao marcador.
Digamos que não ando à tua procura, nem tu à minha, digamos que estamos a viver uma narrativa, cada um no seu tempo e na sua história. A minha começou com a descida do primeiro degrau do avião, com o primeiro momento em que tirei os olhos do chão e olhei o horizonte; começou com os primeiros prenunciares de qualquer palavra que não fosse nativa, com o estado de estranheza que me consumiu quase todos os escudos que trazia para me confortar.
Já começou tudo da forma como começou . . . as conlusões tirarás quando o autor desenhar com pequenas letras a profecia e te colocar no caminho pelo qual irei caminhar, a partir de um qualquer momento e após nos captarmos daquela maneira que ninguém entende, que não faz sentido aos olhos de quem desconhece estas coisas, de quem não consegue compreender pela lógica, pela ilógica ou de forma alguma que não seja a sua.
O tempo já começou a contar para o que antecede o prologo e o que há para escrever já começou a ser escrito.
Neste momento o escritor está a construir-te a ti e a mim, personagens do seu enredo, os personagens da sua história a partir da estaca zero, a partir do nada como todas as histórias verdadeiras.
Os personagens só sabem que existem, mesmo ainda de se ter dado início à trama e que vão fazer parte da história que nunca foi escrita no livro das suas vidas, mas sabem que será a mais bela história que já viveram, que já conheceram enquanto personagens desta história global; sabem que nunca mais a vida será igual a partir desse momento, que nada será como dantes e ainda que cada dia será mais belo que o anterior enquanto a história acontecer, que tudo será belo, maravilhoso, cheio da arte . . . e de artes, todas elas nobres e gratificantes, porque o mais importante é viver a história e não o depois, porque o depois será sempre e apenas o depois e neste momento o que importante é o que começou a ser escrito.
Só nós os três é que sabemos que existimos, eu, tu e o escritor, todos em sintonia com o que queremos que a história seja a cada dia.
Enquanto traça os primeiros esboços sobre a mais bela história de amor de todos os tempos, a mais encantadora da existência dos personagens, desenhada com a vontade de quem quer finais felizes e eternos, o escritor vai sonhando acordado com o que dará aos seus protagonistas.
Os protagonistas de mais uma bela história cheia de todas as icógnitas, descobertas e avanços, todas as lamechices, suspiros e lágrimas de riso já sentem no ar o cheiro do novo, do diferente do antes, com algumas coisas iguais a outras que fazem parte da cena, mas que no conjunto nada é o que parece e nada parece o que é, mas o que é certo é que seja como for, é!
O escritor sente-se feliz. É o último dos românticos, não se poupará a deleites eternos enquanto durarem, requintes de hedonismo, delícias visuais e corporais para todos os gostos para manter viva a chama das suas criaturas. O escritor cora antes de fazer corar os protagonistas, sente na sua mente tudo o que quer fazer o resultado da sua criação sentir na pele, no corpo, no coração.
Estás preparado?
Eu não. Mas como sempre, eu nunca estou!
O que vais fazer?
Ficas à espera que seja escrito o que tens que viver ou já te puseste a existir?
Eu decidi existir antes de qualquer criação. Não quero ficar à espera para poder viver . . . vou existindo, mesmo que seja apenas existindo, vou olhando e vendo o que se passa no mundo. Agora existo como espectadora. Sento-me num baloiço de um parque como uma menina pequenina que não chega com os pés ao chão e limito-me a olhar, a ver o que se passa e quem passa, como passa quem passa e quando se passa, nem que seja apenas qualquer coisa.
Seja como for, enquanto a história não começa vou baloiçando e brincando no meu parque até que o escritor te coloque no meu caminho, ou a mim no teu caminho, ou nós no nosso caminho em direção à história mais bela e lamechas cheia lágrimas de riso, romantismo e hedonismo, tudo misturado até podermos chegar à mesma conclusão do escritor que é . . . o que é belo e bom dura enquanto quisermos ser e fazer alguém feliz!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Batem asas . . .

Batem asas que dizem "quero voar!!!"
Batem as asas que me levam que te levam para longe do mundo dos sonhos maus e te entregam ao Céu dos Anjos e dos sonhos bons!
Voam os anjos à espera que te as tuas asas batam até eles à espera que deixes para trás todas as migalhas velhas que carregas debaixo das asas, outras até agarradas ao bico.
Voam anjos em teu redor e sussurram aos teus ouvidos as mais doces palavras para que ganhes coragem e voes até eles.
Larga essas migalhas velhas que de nada já te servem, que já não te alimentam e adoecem o que ainda tens de bom.
Voa até ao Céu dos anjos, leve, mais leve que as tuas próprias asas, mais leve que o ar que respiras, mais solto que o vento em campo aberto, mais leve que a própria leveza e vai até ao Céu.
Ouve o que as tuas asas te dizem, elas foram-te oferecidas para que sejas livre, mais livre que um pássaro, mais livre que a própria liberdade.
Mostra à leveza que ela própria pode ser ainda mais leve quando perceber o que é ser realmente leve e a liberdade mostra-lhe que poucco sabe sobre o que é ser realmente livre, porque quem lhe deu o nome não lhe deu a sua  noção verdadeira.
A liberdade e leveza dos homens não cabe na verdadeira leveza e liberdade do Céu, mas tu tens as asas, a liberdade e a leveza que os Homens não têm, tens o que muitos almejam, mas pouca coragem têm para ser e assumir.
Abre as tuas asas e deixa-as tocar o ar angelical, abre as asas e deixa os raios celestiaias te aquecerem cada pena, deixa cada pena respirar e sentir-se viva.
Ouve as tuas asas . . .
Quando estiveres preparado olha ao teu redor e vê como realmente nada te prende ou deverá prender, que as migalhas velhas e empedrenidas apenas são peso que não te deixa avançar, que não te deixa avançar porque és demasiado livre, demasiado leve, demasiado o que poucos são porque por muito que o queiram ser não o serão jámais . . . o seu preço é demasiado elevado para poderem perceber que o que és não serve a todos . . .
Vai, não deixes ficar tarde, coragem e parte.
Asas felizes batem em partida amparando-te lado a lado. Deixaste que elas te guiassem até onde deves ir, até onde poucos entram porque poucos podem conhecer a mesma paz . . .
Bons ventos guiem as tuas asas!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Longe . . . muito longe

Estou longe, longe de tudo e de todos, longe de mim, longe, muito longe.
A distância não chegou apenas de avião, chegou de malas e bagagens à terra do nunca, para o nunca, para o nunca mais voltar, para o nunca mais voltar ao ontem ao que era negro e escuro e sombrio.
Voltei à terra do nunca, nunca fiz, faço ou farei, ou  nunca mais fiz, faço ou farei aquilo, nunca me senti, sinto ou sentirei assim ou nunca me senti into ou sentirei assado, nunca disse  isso, digo ou direi, ou nunca disse, digo ou direi aquilo, nunca . . . nunca . . . nunca . . . nuncas atrás de mais nuncas, uns mais dolorosos outros até abençoados, mas serão sempre nuncas . . .
A terra do nunca é, de longe, das terras mais difíceis por onde andar, dá vontade de fugir para outra bem longe mais perto do antes de alguma coisa, mas o preço que se paga é um preço mais alto.
Estar perto de tudo e de todos às vezes é apenas existir sem se dar sentido a nada, apenas estás e mais nada, nada é realmente importante ou tens falta de mesmo muito, por isso agora estou longe de tudo e de todos, porque se estou tem que ser de corpo e alma ou de alma integra, cheia a transbordar para que não haja apenas para mim, mas para tantos mais.
Estou tão longe mas ainda carregada de pertos e a coisa é confusa, não estou ou não devia estar, é o cá e lá, mas a verdade é que estou longe, é como se estivesse em contacto como passado, com o que já não existe, toco, mas não sinto, vejo tudo, mas ninguém me vê.
Agora tudo mudou, a pele está a mudar, para nunca mais ser como era, é uma viagem com apenas um bilhete se ida, as sinapses mentais baralham-se, as memórias escaceiam, tudo parte devagarinho, morri.
Deste lado da morte é tudo muito estranho, nem tudo é mau, é apenas estranho. Não posso pegar no meu corpo e ir para o outro lado, o lado do perto de tudo, no meio de tudo, do estou em tudo. Acabou, morri, fui para a terra do nunca, do nunca mais alguma coisa voltará a ser como dantes, do nunca mais.
É um nascer novamente no outro lado, estando ainda no processo da gestação do embrião, do rebento que há de aprender a andar como da primeira vez, mas contrariamente à primeira vez, desta já existe um corpo, apenas morre o velho inalcansável cansado de ser o que era para nascer o novo, recicla-se o que ainda é útil, mete-se no lixo o desperdício, o lixo que ocupou demasiado tempo os espaços errados e finalmente poder-se-á ver o que sempre existiu e que carregado de lixo estava.
É duro, desconfortável mudar a pele, forçar o expelir do acomodadamente inútil, do confortavelmente mas desnecessariamente instalado . . . sair da zona de conforto, da zona do conhecido e do acho que sei onde meto os pés e as mãos.
Mas tudo muda ou simplesmente se transforma.
A noção do tanto e do tão pouco aumenta quando se está longe. Tudo parece maior, tudo aumenta o seu volume e profundidade, a noção do que é correto e incorreto oscila ou vacila, mas não desaparece, mantem-se mesmo que as correntes queiram que vejamos da maneira mais errada, mesmo que estejamos do lado do estranho ao familiar, mesmo que estejamos perante uma parede fria, porque mostrar que se é um ser humano de carne e osso é errado, o lado que não se sabe quem é o quê, ainda menos que o que nos é familiar. A prespectiva sobre as coisas muda, aqui não somos nós na nossa totalidade, apenas o que é estritamente necessário. Mais uma vez percebemos que o que move as pessoas é o que as distingue. A Verdade continua pouco interessar a muitos, mesmo na terra do nunca a Verdade mete medo, é recusada a ser encarada, porque incomoda, é desagradável, a verdade pouco ou nada interessa . . . mas quando chegar o monento da Verdade . . . aí veremos quem é realmente e de Verdade.
Nada como estar longe para dar valor à Verdade, ao que é realmente importante, ao que realmente vale a pena, o que realmente presta e interessa, ao que é realmente construtivo, ao que relamente tem valor e quem realmente tem valor!
Já alguém dizia que de longe se vê melhor . . . sim, e o tanto que se vê, o tanto que se abrange é insondável, mas é difícil, até mesmo o aparentemente conhecido é estranho e duvidoso, porque só se conhecerá verdadeira realidade quando o corpo esgotar o seu prazo.
Até conheceres o teu prazo de validade tens muito a caminhar, muitos longes e muitos pertos a onde ires, muitos profundos e muitas superfícies em que tocarás, muitos aparentes e reais viverás, mas vás onde fores, venhas de onde vieres, sê o mais respeitoso dos antropólogos, o mais interessado sociólogo da vida, o mais compreensivo e curioso psicólogo para que possas aprender a viver, por muito que te seja difícil o que te é imposto e ou exigido, não deixes de ser quem és, mantém a integridade, mas usa o mais poderoso filtro que tiveres ou serás esmagado pelo desconhecido . . . mas acima de tudo vai para longe, para longe de tudo e de todos para quando tiveres que voltar a estar com o tudo e com os todos, que estes tudos e estes todos passem a ser apenas os que relamente importam, não importa o número e a quantidade dos tudos e dos todos, desde que a sua qualidade passe no crivo da elevada qualidade estraída da Verdade que alcançaste, mas nunca, mesmo nunca, te esqueças que só alcansarás a Verdade enquanto fores tu mesmo, apenas tu, sólido, mas maleável, integro e indestrutível, porque nem tudo o que está perto é o que precisas para alcançar a Verdade e a sua verdadeira realidade!