quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Não me ligues, porque se não eu atendo . . .

Não posso falar contigo, pelo menos muitas vezes. Não vês que me magoa?
Não posso falar contigo tantas vezes quantas eu gostava. Não vês que quero por demais?
Não posso atender-te quando me ligas. Não vês que quero atender, mas não posso, porque quero por demais estar como não queres estar?
Não me ligues se não atendo, não porque não queira, mas sim porque quero e muito.
Não me perguntes o porquê, porque não quero responder, não quero ouvir o que me podes dizer e eu não quero chorar, não aguento ouvir o que não queres que eu queira.
Como as flores, eu vejo-te como uma flor bela, eufórica, criança cheia de frescura, que ainda não encontrou o seu lugar.
Andas na eterna procura de ti mesma e quando te pedem colinho cruzas os braços como uma gaiata travessa, baixas o queixo, franzes os sobrolhos e apertas os lábios um no outro contrariada, porque te pedem o que não queres dar. Ficas tão linda assim!
És linda e por mais feia que te queiras fazer, és e serás sempre linda, com o teu ar carregado de inocência, quase púbere, no corpo de uma mulher feita, mais ainda, perfeita.
Não me ligues que eu atendo. Não quero falar contigo para não ter vontade do que não posso ter, do que quero possuir como minha, como só tu saberias ser, apenas minha, nada mais que minha.
Não me ligues, olha que eu atendo e não vou saber o que dizer, apenas pensar o quanto te amo, o quanto ainda te quero e o quanto te quero esquecer. Por favor, não me ligues.
Olha, faz de conta que parti, que fui para muito longe e agora não posso falar contigo. Faz de conta que conheci o amor da minha vida e que deixei de estar neste quadrante à tua espera, que já não tens acesso ao que adoro que tenhas acesso. Esquece ou faz de conta que te esqueceste do meio de chegares até mim, que o perdeste em mais uma das tuas infindáveis viagens ao outro lado do Universo, ou nesses mundos meio ensandecidos onde te deixas perder de vez em quando, esses que não entendo o que lá vais fazer.
Não posso falar contigo, por favor, não entres de novo na minha vida. Deixa-me estar. Agora estou bem. Aqui estou bem. Deixa-me estar.
Lembras-te do quanto encontrámos a solução para a fome no mundo, para a falta de honestidade, para a corrupção e para o fim das guerras?
Lembras-te do como sonhámos viver num mundo perfeito e como o tornaríamos perfeito?
Pois, eu lembro-me e bem, todos os dias, porque todos os dias te vejo. Não me deixas não ver-te. Não deixas que eu te torne um ser que me é indiferente, que não desejo, mas estás sempre aqui, umas vezes lá, outras ali.
Bolas! Porque é que tens que ser assim, bela, perfeita?
Pelo menos para mim és. És tudo o que não posso ter, tudo o que nunca deixei de querer e lembro-me de tudo isto vezes e vezes sem conta até todos os meus adormeceres. És verdadeiramente bela, em toda a tua essência, em todas as tuas formas, com elas ou sem elas . . . as formas!
És mais que tudo o que desejo, musa, tusa, tela onde pinto o que sinto em guache, pastel ou aguarela.
És tudo, muito, pouco ou nada, mas és sempre e para sempre bela, na minha pintura, música ou sobre a minha pele em forma de farpela.





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