domingo, 15 de dezembro de 2013

. . . Mas ainda és um passarinho!

Apareceste vindo de não se sabe onde, como que numa redoma de vidro, inalcançável, impenetrável e estavas longe de parecer gente. A tua envergadura conferia-te um destacamento enigmático, como se toda a gente se devesse vergar à tua passagem, a nítida Auto-intitulação de Deus, o Todo poderoso, à prova de tudo e de todos.
Como a vida te enganou . . . Ainda não vês o grupo de abutres que te chamam, te querem para satisfação das suas pérfidas necessidades que ignorantemente alimentas.
Ainda tens asas e ainda podes voar, ainda estás a tempo, porque podes escolher, ainda podes abrir os olhos e escolher em consciência, mas isso ainda é demasiado pesado para ti, não é?
Sabes o que são abutres?
Gostas das penas dos abutres?
Mas sabes que as penas das águias são mais lustrosas e destacam-se mais!
Sabes do que eles se alimentam?
Gostas do sabor do putrefacto ou recente moribundo?
Ou nunca conheceste o verdadeiro sabor das coisas?
Ainda não mudaste para as penas definitivas, cuidado, ainda não sabes que pássaro és e muito menos em que mundo vives.
Tens o encanto dos jovens aprendizes, a traquinice de quem a vida ainda lhe providencia tudo, sem necessidade de mexer um dedo para que as suas necessidades sejam satisfeitas. A vida ainda é branda contigo e fá-lo para que possas aprender o máximo com o mínimo de mácula, mas só tu ainda não viste isso. A vida ainda está a brincar com a tua vida, porque ainda és um menino, mas cuidado, a vida é matreira e sabe mais que tu!
Sabes que até as águias mais experientes têm dificuldades e são bem mais poderosos que os abutres, mas ainda estás a tempo de perceber se queres transformar-te numa águia ou num abutre.
Os passarinhos que querem ir mais além não se querem misturar com abutres e tu ainda és um passarinho tonto, que se ilude com a arrogância e teimosia de quem se acha grande sabedor do que, na realidade, desconhece em todos os seus ângulos reais; falta-te tanto dentro de ti, ainda estás tão verde, apesar de teres o melhor que a vida nos dá de graça . . . a frescura da juventude!
Os abutres são encantadores animais, no que seja possível encontrar de encantador, quando não conhecemos os verdadeiros e majestosos pássaros dos céus!
Sabes que se te ferires serás a vítima perfeita de quem segues, a sua carne predileta. O cheiro do teu sangue enlouquece-os, transformando-os em impiedosos vampiros. Os abutres não conhecem ou reconhecem amigos, conhecidos, passarinhos . . . e olha que ainda és passarinho.  
Porque queres perder o teu encanto por tão pouco ou simplesmente perdê-lo?
Achas-te eterno e que a vida nada pode fazer contra ti?
Cuidado, podes afogar-te na tua própria imagem . . . Cuidado.
Sabes, não sei muito, também eu ainda estou a crescer e não é fácil crescer, ainda eu tenho dúvidas e incertezas, também eu ainda faço muitas perguntas sem resposta, mas esta é a minha opção, querer continuar a crescer, continuar a aprender, mesmo que a vida nos obrigue ao desprendimento . . . e o que custa o desprendimento . . . mas como te disse, foi a minha escolha, faz tudo parte de um processo e é assim que a vida funciona, é tudo parte de um processo, mesmo que possas escolher o que quer que seja, para teu bem ou para teu mal.
Não sei se estas palavras alguma vez chegarão a ti através de mim, mas o que é certo é que elas chegarão a ti, isso é um facto inevitável, mesmo que o seu caminho não seja o mais direto.
Estás na mesma e não sabes do que falo, mas sabes, aqui quem é Deus sou eu, as palavras são minhas obreiras e eu apenas as acordo, devolvendo-lhes a vontade de a ti chegar. Elas há muito aguardavam sair do seu pouso para fazerem o sabem fazer no seu melhor, assim como saberão quando deverão chegar a ti e mesmo que o tempo demore a sua chegada, sabem o efeito que terão em ti e aí terei cumprido parte da minha missão.

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