terça-feira, 26 de novembro de 2013

Vou esperar mesmo que continue no meu caminho . . . eu vou esperar . . .

"Façam de conta que não estou aqui.
O que me trouxe aqui não importa, só a mim me importa o que me trouxe. Apenas me trouxe, porque era só comigo que queria estar.
Alguém me disse que as pegadas que acompanham as minhas que eram de Alguém . . . mas eu só vejo as minhas. Quem deixa as pegadas tem que existir e eu não vi aqui ninguém.
Vejo que as pegadas que deixo para trás são apagadas pelas ondas do mar e não as outras pegadas. Porquê?
Será que a passagem dos outros foi mais marcante que a minha?
Serão os outros melhores caminhantes que eu?
Estavam eles tão sozinhos como eu?
Não sei . . .
O areal é extenso e o Sol já se está a despedir, mas eu ainda estou aqui . . . O Sol parte, mas eu fico . . . ou sou eu quem parte e o Sol fica no mesmo lugar onde sempre esteve?
Serei eu quem o abandona ou é ele que se vai embora?
O Sol não sabe, mas eu vou onde ele estiver . . . em todo o lado!
Já te vais?
Eu ainda estou aqui e ainda não falámos tudo, mas ok, eu compreendo, está na tua hora e eu estou quase decidido. Vou ficar mais um pouquinho se não te importas, ainda estão reflexos da tua passagem a iluminar o que resta do dia.".
A noite chegou e com ela o frio. Pegou nas chaves do carro, entrou nele e ligou a ignição com o rádio bem alto como a velocidade a que descolara o veículo. Não andou depressa . . . voou e só a nuvem de poeira baixou devagar.
Amanheceu o Sol de Outono, como em mais nenhum Outono, no palco onde todas as mágoas são levadas pelas ondas do mar e outras pegadas na areia prometiam ficar.
"Ele esteve cá . . . reconheço as suas passadas. Estava triste. Ainda pensa no assunto, mas o que posso eu fazer?
Foi ele quem decidiu!
Eu também vim deixar as minhas dúvidas e indecisões aqui, entregá-las ao mar e o mar que as leve. Vou ficar à espera que uma gaivota chegue e me sussurre ao ouvido a resposta, o que vai ser o derradeiro, mas não me peçam que decida, porque não, porque não quero, porque não sou capaz!
As escolhas são difíceis e não sou eu quem vai decidir. O dia ainda está longe de terminar. Tenho todo o tempo do mundo, pelo menos hoje . . ."
Como em todas as dúvidas a mais dolorosa ferve . . . O que é que cada um de nós é no outro?
O quê?
Porquê?
"Como a chuva que cai no chão e eu deixo-a cair sobre mim, assim como os raios de Sol que afastam a escuridão e fazem o dia ser dia, os mesmos afastam a  poeira do meu campo de visão.
Será que queres pertencer mesmo ao meu mundo?
Será que queres caber em todos os mais ínfimos espaços, mesmo nos mais longínquos de tudo o que conheces como certo?
Tens coragem de abandonar o teu mundo perfeito para caber no meu mais perfeito para mim e quase intocado por ti?
És capaz de querer abraçar o desconhecido para ti, mas mundo para mim?
És demasiado mimada, não sabes o sabor da aventura, de pegar na mochila e metê-la às costas e não olhar para trás, porque o caminho é em frente, porque o caminho exige mais do coração que do que está dentro da mochila.
O que eu quero não se encaixa no teu real e o teu real não se encaixa na minha vida, mas eu sei que te quero, assim como quero o meu mundo na minha vida, mas não te posso obrigar a escolher entre ti e o teu mundo, entre o que és e o ao que pertences, não é justo.
Eu já fiz a minha escolha e vou seguir-la, vou deixar que as minhas pernas, mãos, cabeça e coração avancem como uma equipa que labuta pelo mesmo, em prol do mesmo, todos cumprindo a sua parte em direção ao destino planeado.
Não te irei criticar, mas não te vou esquecer, não te vou xingar, mesmo que te tenha que perder, não vou jogar pedras no teu nome, mesmo que eu tenha que deixar de o dizer, porque vou estar à distância da tua vontade, à distância do teu mais profundo desejar, seja a distância que for, esteja eu onde estiver e com quem estiver.
Não sei se deva esperar, mas enquanto eu conseguir . . . vou simplesmente esperar, mesmo que no meu caminho continue, eu vou esperar até ao momento em que deixares de desejar.".

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