quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Não é preciso muito para me deixar ir no caminho de todos os caminhos

Não é preciso muito, apenas o suficiente para me fazer voar, largar tudo para trás das costas e seguir em frente, ou mesmo de pés no chão, descalça ou não.
Não é preciso muito para eu deixar tudo para trás, como se tudo fosse apenas o que está para lá da minha frente, para lá do horizonte que sigo com fé cega, surda e muda ao que atrás deixo.
Não é preciso muito, basta eu querer e tudo já terá passado, terá sido esquecido, enquanto eu deixar que seja esquecido.
Tudo o que me basta está para lá da minha frente, brilha com um brilho tal e tão brilhante que o Sol é uma mancha branca reluzente em meia lua sobre o horizonte. Não é manhã, não é tarde, nem é meio dia, é apenas a mancha em forma de meia lua que ocupa o pôr do Sol, é apenas a mancha que me ilumina e não me encandeia, é apenas o que me ilumina, apenas isso e nada mais que isso.
Basta o soar da coisa certa, basta sentir a frescura no ar que vem, talvez de algum mar de alguma costa à beira qualquer outro mar que não o meu mar, mas vem de um mar, oceano, Via Láctea, que vem de onde vem . . .
Não é preciso muito, basta inalar o cheiro a mar, a cálido que vem do mar que banha uma costa à beira de um mar . . .
É ser-se fácil e facilmente tudo se deixa para trás para ir abraçar o que está para lá de lá, ou de Bagdade, não interessa, está para o lado de lá e tudo se altera para deixar para trás o que tem que ficar para trás e deixar fazer-se ouvir o vento cálido que ondula no cabelo ondulado pelo sal do mar salgado.
É tão fácil desprender do que deixo para trás, apenas porque me hipnotiza o que me puxa para a frente, o que me embala.
Passo a passo sem ter medo, um pé segue o outro, o chão transforma-se em areia e tão fácil de pisar, apenas porque sigo a brisa que vem do horizonte, como um íman que puxa na sua cadência certa, dando tempo ao corpo de se habituar ao todo que o abraça como novo.
Deixo para trás o que me prendia ao que não quer ser largado, deixado para trás, mas deixo de vez, para não mais voltar, porque já não há espaço para mim onde eu deixo para trás.
É o caminho do não retorno, do que quando se olha para trás já nada lá está, porque pereceu, murchou, secou e deixou de ser de vez. É o caminho dos caminhos, de todos os caminhos. É como uma maré que tudo leva, deixando-te caminhar sobre a água, porque és leve como as penas da gaivota, porque deixaste todo o teu peso lá atrás, porque te tornaste realmente leve, mais leve que a espuma das ondas do mar, apenas porque despertaste e o teu momento chegou, mais forte que nunca como se tudo te tivesse deixado apenas o necessário, apenas o que deves levar contigo, apenas o que não tem peso, não pesa no corpo ou na alma, é apenas o que é no que tem que ser, é apenas o que tem que ser.
Assim me deixo ir no caminho dos caminhos, no caminho de todos os caminhos, o caminho dos caminhos onde eu posso, feliz, caminhar, é o caminho do presente que é futuro e doce passado e o passado deixa de ser passado, é o caminho de todos os caminhos o caminho sem passado, presente ou futuro, apenas um presente do presente em todo o futuro.

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