terça-feira, 16 de maio de 2017

Morri, mas acho que tenho várias vidas

Morri e fui para o limbo à espera que me levem. Morri várias vezes a nada me dizem sobre quantas mais vou ter que morrer. Custa-me muito estar vivo. Não sei mais o que é estar vivo ou o que é estar morto. Só sei que me farto de morrer e disto não passo. Já pensei que seria gato, mas que no meu caso Deus enganou-se e deu-me várias vidas, como nos jogos de computador em que nunca se perde, porque se conhece um bacano que sabe umas passwords e altera o número de vidas e a malta passa os níveis todos numa acentada; mas no meu caso deve ser o chamado mau feitio que me manda de trambolhão para o meio dos mortos ora para o meio dos vivos!
No meu caso eu já pouco sinto . . . Ora me sinto vivo, ora me sinto morto, mas o estado não difere muito de um para o outro . . . São as tais vidas infinitas que o bacano me deu. Ora vivo na vida ora vagueio no meio da morte!
Não tem muita piada, eu sei, mas o que hei eu de fazer nos entretantos?
Vivo?
Morro?
Se vivo, morro, se morro, mandam-me ir viver!
Decidam-se, mas andar nestas andanças já enjoa!
Bolas! Mandem-me para  sítio onde eu possa viver em paz ou estar morto em paz, mas deixem-me em paz!
Não passo de um morto às vezes vivo ou um vivo às vezes morto. Às vezes apetece-me morrer, outras apetece-me fugir do mundo dos mortos, mas não me meter com os vivos; alguns não fazem bem nem no mundo dos vivos nem mortos. É este meu eterno dilema sem solução conhecida pelos vivos ou pelos mortos. É a plenitude da insatisfação permanente.
Não sei se viva ou se morra ou se queira continuar neste morrer e viver sem vontade de estar seja numm estado ou no outro!
Não sei o que quer que seja que possa resolver este meu dilema de morto e vivo sem estar morto ou sem estar vivo.