terça-feira, 1 de outubro de 2013

. . . ?

"Tenho saudades da minha solidão, da minha felicidade, da minha ausência de dor ou frustração.
Tenho saudades do cão que eu nunca tive, do gato que nunca miou, da loucura que nunca terminou.
Mais que palavras são os meus pensamentos e angustias, muitas e diferentes são as coisas simples.
Os meus pensamentos sobre a mente são pensamentos catastróficos, rodeados por loucura vinda do meu pensamento à procura de uma saída.
Pensamentos puros, corpo puro, pura chama que implode dentro e debaixo da janela. O meu amigo diz, "Agora posso sentir pesar, mas o amanhã saberá!
Não posso deixar de sentir o meu pesar, se pesar é o que eu sinto.
- Ora bolas porque não podeis?
- O meu coração não bate certo, por certo o que bate são apenas as asas da pomba que me leva o pesar longe, de dia, de noite, à hora em que acordardes e esquecerdes que o Inverno ainda vem longe, que o som das andorinhas ainda cai e se ouve ao meu contento.
- Prosódias ingratas aos meus ternos olhos, à minha doce candura que perdura ao amanhecer!
- Sois vós varão, de haste em punho, capelão das malditas sesmarias corpóreas?
Inferno te socorra!
- Por hora me vou e te atazano o que puder, o que não puder desatino e infernizo a teu belo prazer, oh consporcante bisarma!
- Cruzes Credo! Ide, que já se faz tarde e aqui não voltareis enquanto fordes do fundo dos Infernos!
- Malfeita bocarrona!".
Imberbe sem pudor desonra as honrarias mais puras e formosas, beldades nunca antes vistas e deslumbrantes, cobiçadas são as vossas virtuosas mãos da mais pura e linda ceda chinesa, porém.
Voltaste vós a vós mesmas por hora da despedida, por hora do enterro do defunto?
Vieste de negro vestida, rosto semi-nudado escondido pela populina que te adoça a pele misturada com o almíscar do perfume do teu enterrado amante. Ainda reluzes. Deixas-te a janela aberta e agora de lá se vê tudo, o teu corpo ainda está quente, mas o dele não.
Deixaste a janela aberta para que sejas vista sem pesar, para que sejas vista sem pudor, sem honra, desonra com vontade e vida própria.
"Vil, acutilante e mentirosa língua viperina!
Falsa como mil cobras, todas te mordam, oh cruel e maliciosa alma!
- É tanto assim o mal que te faço eu sentir?
Porque não me denuncieis aos pérfidos senhores seus amigos, maldizentes amigos dos teus segredos mais sagrados, ao que escuto e assim ouço.
- Por pura vingança assim falas oh torpe criatura, miséria de língua não te falta, puta!
Lambeste os lábios da maledicência, colheste os frutos aí escondidos e deliciaste-te a teu belo prazer . . . Porque cuidais que te xingue e arranque de ti o fel que me ensimesmou, jogando-me no meu mais profundo silêncio?
Porque cuidais?
Satisfeito vós deveis ir, cuidai que o breu da noite ainda o fustiga com as suas sombras!
Ide, mas cuideis que aqui me fico, perfidamente, que está tudo guardado em mim, em segredo, calado e amarfanhado em si mesmo o segredo segredado a lonjuras de tudo e de todos.
Do segredo nada se sabe e o que se sabe é segredo, o que fica e o que vai, o que vai e o que fica, tudo fica em segredo, guardado e amarfanhado até que ganhe mofo e pereça tal como o defunto que foi morto.

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