sábado, 19 de outubro de 2013

Critica-me

Critica-me. Critica-me porque é mais fácil criticar o que não se sabe ou entende. Ou pinta-me, mas as cores certas, por forma a eu perceber o que percebeste do que quer que seja que não entendas por palavras. A tua palavra é outra, a tua língua é outra, não te posso criticar.
Critica-me se é isso que sentes na vontade, no teu íntimo, na tua consciência de palavra. Mas critica-me. Podes fazê-lo, deves. Não obedeças a nenhuma regra comum aos comuns dos mortais. Vai em frente, não desperdices o teu tempo com miseráveis prosódias carregadas de palavras inúteis, mesmo que todas elas, contudo, e apesar de tudo sejam úteis à tua criação inócua. Cria, mas cria muito, abstém-te de tudo o que tens e vai, abstém-te e cria.
Moveste-te em direção ao que desconhecias, sentiste o prazer e a maldade de alguém destruído, com toda a sua pronúncia. Aligeiraste um pouco, mas nada como um trago de vinho, não é?
Vomitas palavras com raiva e algum ódio. Parece-te bem?
Mostras coisas belíssimas fruto do teu talento imensurável, copias palavras das outras palavras e levas avante a tua demanda desmedida, a tua cobiça disfarçada de jeito para fazer alguma e encolhes-te atrás de uma coisa ou palavra, se o quiseres chamar assim, ele deixa-se ver de muitas maneiras, assim como o Outro que nada tem a ver com isso, apenas são maneiras de se mostrar na sua pequena sensatez.
Mostras mais que o que querias e depois criticas-me como um senhor, com a mais infâmia das palavras e vestes-te de negro. Deixas a fralda da camisa de fora e sentes-te cool, fixe, nice, como lhe queiras chamar, mas és apenas mais um, mais um ser especial cheio de talento, atento ao mundo que o rodeia cheio de coisas. Também eu sou.
Não me justifico do que escrevo porque não, porque não quero, porque não me apetece, porque não devo, nem o vou fazer. O que quer que seja que penses é teu, não é meu. Mas se tiveres alguma dúvida, pergunta que eu respondo. Sou boa a responder. Posso é não me fazer entender, mas sou simpática e respondê-lo-hei com a minha simpatia. Mas responderei.
Critica-me, podes fazê-lo se assim te apraz, com tantas palavras e vocabulário queiras usar, ou pinta-me com as cores que sabes pintar, mesmo que eu não entenda nada, mas pinta, faz a coisa que sentes que deves fazer, comunica o que achas que deves comunicar. O conteúdo, se eu não o entender, não faz mal, se eu achar vazio de palavra ou outra coisa qualquer, não importa, desde que o faças de coração, com toda a tua alma, com todo o teu eu, mesmo que te encontres ou sintas o centro do mundo, não importa, foste tu quem criou, com raiva, ódio, revolta, crítica, mas faz!
O que importa é que faças e dês uso ao que Deus te deu de boa vontade, para agrado de muitos, poucos ou nenhuns, desde que te entendas a ti mesmo, o que te importa que os outros entendam ou não?
O teu objetivo é seres entendido?
É seres compreendido?
É fazeres pensar?
És tu quem decide.
Eu não tenho que criar para agradar, o criador cria porque uma força maior o move nesse sentido, não tem que justificar a sua criação a sua prosaica prosa ou quantidade de coisas importantes, ou não, que diz. Apenas se é movido a criar e pronto.
Tu perguntas a ti mesmo porque crias?
Já te debruças-te para lá da tua vontade de criar, que não seja ligada ao facto de se ter uma maquinaria orgânica e uma caixa de ferramentas incorporada?
Já te questionaste sobre o porquê de existirem tantas ferramentas diferentes em tantas maquinarias, maquinarias essas que tantas vezes duvidamos que sejam gente?
Mas agradeço que me critiques. É sinal que és diferente de mim, é sinal que não somos bonequinhos cinzentos, que até a criar somos autómatos manipulados na mesma direção.
Ainda bem que me criticas tudo. Tenho pena é que não ganhes mais com isso, que não ganhes mais que o libertar de veneno e espalhar discórdia, que não contribua para a melhoria das tuas condições de vida, que não ganhes mais dinheiro para o teu sustento e te liberte das prisões do mundo. Tenho pena, muita pena mesmo. Mas sente-te na liberdade de me criticares com a tua palavra mais cruel, com a tua raiva mais poderosa, com o teu ódio mais refinado, mas faz, são só palavras e nada mais são que apenas isso. Eu vou continuar existir assim como tu, até mesmo depois de já não existir, assim como tu. Vou poder dizer que fui criticada por um verdadeiro artista cujos trabalhos são magníficos, que não passei despercebida no mundo, que toquei alguém onde a pessoa se sentiu tocada, que fiz o que consegui ver que devia fazer, mas fiz, usei o que Deus me deu para a sua obra multiface, sendo que tu e eu somos, no nosso melhor, uma das suas faces.
Obrigado por existires.

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