segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Querer . . .

Como é que nos desprendemos do que queremos?
Queremos e apenas queremos, simplesmente queremos.
Mas ao que temos direito de querer?
Temos algum direito de querer?
O que é que nos é permitido querer?
"Eu quero, mas tenho medo . . . quero, mas não pode ser!".
"Eu também queria muita coisa . . . ".
Tantos e tantas a pronunciar a mesma palavra que dá a volta à cabeça de tanta gente que quer.
É ingrato existir uma palavra para o que não podemos, mesmo que nos seja dito que temos o direito a qualquer coisa, mesmo que nos sintamos tentados a querer. É quase como um atrevimento em relação à vida. O que queremos.
"Apetece-me . . .", não é o mesmo que querer?
"Tenho vontade de . . .", não é o mesmo que querer?
Porque me apetece tanto querer coisas?
Tenho vontade de não querer o que quer que seja.
Querer implica sempre, ou quase sempre, 3 caminhos: sim, não e talvez. Um faz-nos felizes, o outro infelizes e o último ansiosos. Num terço das hipóteses é superior na realidade em relação aos outros dois terços, o que nos dá a fabulosa hipótese de imaginar como seria a concretização do sim e congeminar um rol de cenários no talvez.
O querer é a palavra mais ingrata do dicionário, a mais atrevida dentro do que a vida nos apresenta, faz-nos questionar as coisas na sua mais intima e profunda razão de existir, de ser, de se manifestar, e tudo porque queremos, porque sentimos querer.
Queremos pessoas, animais, coisas, acontecimentos, transformações, mudanças, queremos . . . queremos . . . queremos . . .
Mas o que é que realmente se pode querer?
É algo que se possa pretender?
O que é que podemos querer?
Pessoas estão nesta autorização ou o verbo querer é apenas relativamente ao material da coisa?
Ah . . . aí é que reside a confusão!
Podemos querer coisas, mas não pessoas, podemos querer que o mundo mude, no que depende da transformação de alguém, mas não a vontade desse alguém no que é mais puro e verdadeiro e que o move, podemos querer que alguém veja algo melhor para si, mas não podemos querer que seja como queremos que esse alguém seja ou veja, o seu caminho para lá chegar é diferente do nosso ou de outro.
Podemos querer que um Governo caia, mas não podemos querer que tudo o que vier a seguir seja absolutamente diferente. A implicação das quedas é muitas vezes imprevisível, por muito se saiba sobre o que quer que seja. Podemos querer que tanta coisa seja posta nos seus lugares, que seja respeitado o meio ambiente, o nosso mundo que é das coisas mais magníficas deste Universo, mas não podemos querer que tudo mude no nosso estalar de dedos.
O querer é a palavra que nos obriga a aprender o que significa cada coisa a seu tempo, o que significa ser paciente, o que significa o respeito por tudo e todos, querer é a palavra que nos faz parar, pensar, crescer.
Querer é a palavra que mais sofrimento nos dá, porque queremos e queremos, queremos e queremos.
Querer é a palavra que nos faz ser egoístas e os altruístas, bons, maus ou assim assim, faz-nos fazer o bem, o mal, e o mais ou menos, faz-nos ser melhores piores ou outra coisa qualquer, mas faz-nos agir estejamos certos ou errados, mas ao menos faz-nos ser interessados ou indiferentes.
Querer é uma palavra com duas faces, com dois pólos opostos, partilhada por muitos, poucos ou nenhuns, pode ser a máscara de outros quereres, pode ser a voz de uma só intenção, pode ser singular ou plural, bem intencionada ou mal intencionada, mas raramente sem qualquer intenção.
Querer pode ser a causa da maior das confusões, guerras, discórdias e dissabores, pode ser a causa do maior evento do século, da maior revolução, do maior feito de todos os tempos.
Querer pode mudar o mundo, quando todos queremos o mesmo, pode trazer a paz, o amor e o oposto.
Querer pode fazer-nos fazer coisas que nunca pensámos fazer, seja para o bem ou para o mal.
Querer conduz-nos às infinitas coisas em todas as suas possibilidades possíveis e impossíveis, mas apenas aos nossos olhos . . .
 

Sem comentários:

Enviar um comentário