quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Sobriedade

Confesso, preferia ver-te sóbrio, no teu lado que se aproveita, no lado que eu gosto e que não preciso tirar de ti tudo o que me repugna. Confesso que ia sobrar muito pouco, mas enfim, era o que eu gosto.
Confesso que o álcool não é o meu melhor amigo, nem de quem eu gosto estar ou gostar. Compreendo os seus encantos temporários quando a dose não vai parar à parvalheira e derramamento de toda a porcaria que habita em nós. Mas confesso, não gosto, já não encontro prazer algum aí que não sejam os sabores.
Não consigo perceber quando alguém me diz que não gosta de beber e bebe até ficar deplorável, de rastos, caído a um canto ou num sofá qualquer num bar qualquer. Peço desculpa pela minha estupidez!
Mas não gostava de te ver assim!
Acho degradante esse estado e não me apetece apreciar-te assim. Significaria muito pouco a minha pessoa ao apreciar alguém nesse decrépito estado.
Mas ainda tenho em consideração uma parte de ti, mas é só uma parte.
Ironia das coisas, uma das tuas capas era a que eu quero apreciar é essa capa caso ela fosse real e não apenas fachada.
Será que existem espécimes assim, com isso, com esse espectro, com essa luz, mas a original, a verdadeira?
Existem???
Por favor, diz que sim, que realmente existem e que não são apenas mais uma capa. Eu já não aguento mais capas!
A música diz "és uma anedota!", pois, começo a pensar o mesmo, com muita pena minha, mesmo!
Sabia tão bem o que eu estava a ver!
Tinhas mesmo que ser assim, muitas personalidades e ainda por cima mergulhas todas elas em todos os copos que derramas para dentro de ti?
Não podias apenas dar vida ao que tens de melhor?
Confesso que esse pouco é muito pouco para o meu grau de exigência!
Às vezes deixo-me iludir apenas para viver, apenas para me sentir viva, mas depois acordo e procuro o que estava a viver e já não está lá . . . teria que voltar a iludir-me de novo. É tão difícil viver com as ilusões que nos querem proporcionar!
É o lado duro de se viver sóbrio, de se optar pela sobriedade e verdade, viver a verdade.
O preço de não se querer viver na embriaguez é duro para quem a conheceu nos vários cambiantes da vida, em vários contornes e eventos vivenciais, a embriaguez é traiçoeira, faz-nos mostrar a verdade aos outros que nós guardamos apenas para nós mesmos no nosso intimo mais bem guardado, a embriaguez faz-nos dizer as coisas que guardamos a sete chaves para que o exterior não fique a saber tanto como nós, a embriaguez mete-nos a descoberto e sem qualquer proteção ou defesa, expõe-nos da forma mais ingrata e despudorada, escancarada à mercê de tudo e todos, desnuda-nos de assalto sem que tenhamos tempo ou capacidade para segurar qualquer veste que esconda toda a podridão desprezível que possa existir em nós, traí-nos, é traidora e depois . . . depois é só mais um depois de uma conversa.
Eu preferia-te sóbrio, mesmo com as tuas várias personalidades adequadas à ocasião, à companhia e ao momento, mas sóbrio, mesmo que o verdadeiro saltasse apenas quando o néctar dos deuses tomasse conta de ti. Não sabes parar e eu há muito que parei, por mim, por tudo e por todos.
O que é não se compadece com o que não é, sóbrio ou ébrio e eu prefiro ser o que é para se ser e sóbria, assim e nada mais!

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