sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Tens Coragem para mudar a tua História?

O palco estava montado assim como o planeado, assim como foi pensado mesmo que alguns pormenores escapassem à perfeição, mas estava tudo lá, todos os ornamentos, todas as cortinas de tecido novo, todos os requintes de um principado. Todas as cenas planeadas ao pormenor, mesmo que não fossem perfeitas, todas as palavras que seriam ditas da forma como seria suposto serem ditas e ditadas pela história escrita há já séculos. 
Todas as cenas ensaiadas, por todos os protagonistas e orquestradas sempre pelo mesmo mestre, pelo mesmo grande senhor da cena apoteótica, pelo mestre de todos os mestres na arte de escrever, outras vezes narrar, outras ainda de interpretar a história que ele próprio traça na linha da vida . . . dos personagens. Sempre dos personagens.
A história é composta pelos mesmos personagens de sempre, pelas mesmas ausências e surpresas inesperadas, pelos mesmos dramas e desamores, pelos mesmos encontros e desencontros, olhares que se cruzam na fração da paragem do tempo antes que ele continue, pelas palavras palavras ditas e por dizer, pelos silêncios ensurdecedores de todos os sentimentos que gritam em surdina, de todas as lágrimas salgadas e outras adocicadas pelo sorriso, outras até de riso escancarado.
Estava tudo planeado conforme o dirigido conto a partir da história original, estava lá tudo, não faltava nada, todas as imperfeições, tudo o que era desconcertante e que não encaixa, tudo o que teria que seguir o seu caminho, todos os possíveis e impossíveis, todas as compatibilidades e incompatibilidades em todos os seus ângulos . . . tudo estava lá, em todos os seus formatos, facetas e tamanhos. Não faltava um só pormenor, mesmo que imperfeito.
A sala enche e os espectadores sentam-se para assistir a mais uma ronda de eventos, como sempre carregados de intensidade, assim como manda a história, assim como foi ditado pelo mestre de todas as mestrias.   
O pano sobe, todos estão nos seus postos e dá-se o primeiro som quase que inesperado, quase tão de surpresa como foram todos os outros primeiros atos, suando sempre todos eles a inesperado.
Os espectadores conhecem a história de trás para a frente, mas sempre que a revêem descobrem sempre um ou outro pormenor que nunca repararam na representação anterior; há sempre um detalhe novo, mesmo que estivesse estado sempre lá. 
Tudo parece igual até que uma virgula salta do seu lugar. De repente tudo muda. Os personagens são os mesmos, mas a história tem um novo desenvolvimento. Os espectadores estranham, porque a velha história não era assim, começou da mesma maneira, mas não seguiu o antigo texto.
Por artes da sua sabedoria imperscrutável, num estalar de dedos decidiu que a velha e memorizada história seria desta vez ligeiramente diferente, tomaria outro percurso, por muito difícil fosse aos personagens se desligar das velhas marcações e hábitos. Por brevíssimos momentos, e quase imperceptíveis, o desconforto tomou dos personagens, afinal ainda não se tinham encaixado na nova trama, mas a trama continua.
Meio desajeitados, ainda agarrados ao velho texto, agarrados à velha roupagem, os personagens dão vida ao seu novo plano de desenlace. A obra prima nasce cheia de novos contornes. É a passagem do velho ao novo. Assim como um ano que finda, a mudança completa dá-se para lá do meio do novo ano, quando tudo por si mesmo se afina com o intento. 
A mudança começou de uma forma marcada mesmo que aparentemente a história voltasse ao desenlace da narrativa anterior, afinal apenas começou um processo de mudança do mote, do enredo; há mais facetas inexploradas dos velhos personagens da velha prosa, várias e novas possibilidades, com um final em aberto, cujos meandros se revelarão à medida e ao sabor da necessidade de renascimento ou criação.
A vida nasce todos os dias com os mesmos personagens, no mesmo palco, renovando apontamentos aqui outros ali, mas só a coragem faz o percurso de todos os dias mudar, só a coragem faz mudar de direção, de vontade, de agir, só a coragem dá voz a um novo rol de oportunidades, de aventuras que nos esperam a cada momento até que lhe abrimos a porta e fazemos algo diferente. Mesmo que o caminho tenha perdas e nelas tropecemos, mesmo que façamos um dói-dói, que vai sarando, levantamos-nos e continuamos no novo caminho, porque estamos fartos e sofridos do velho e desnecessário fardo, mesmo que o medo do erro ocorra, mesmo que por momentos se falhe, corrige-se, mas que interessa se a decisão está tomada e é firme?
Tens coragem de mudar a tua História?

Sem comentários:

Enviar um comentário