sexta-feira, 6 de setembro de 2013

. . . o que importa?

Passaste para o lado de lá, para o teu lado, para o lado oposto, mesmo que os desesperos de amores não correspondidos sejam por ti ouvidos ao longe. Já conheces os campos minados de um lado e do outro, mas levas o melhor dos dois mundos para onde achares que te apetece no momento. Não estás preso a nada mesmo que a tentação, seja esta qual for, vinda de onde vier, te bata à porta e esse magnetismo te assedie tão encantadoramente. 

"Não tenho satisfações a dar a ninguém sobre com quem me deito . . . cama é minha e nela mando eu!
O corpo é de quem me apetecer o dar a provar e me encher do que eu quiser!
Não tenho culpa de gostar do que é bom!
A quem é que pode interessar se me deito com o António, com o José, com a Mariana ou com a Sofia??? . . . o lugar estava vago e nessa noite apeteceu-me . . ."
Resfolgas do teu momento de hedonismo sobre o suado corpo do gladiador após a luta pelo êxtase. Olhas o prémio da tua vitória derramado sobre os lençóis de seda pura, contemplas as formas que deram forma ao teu climax, enquanto respiras ofegante. Não reages por alguns momentos, até recuperares o fôlego. Acendes o cigarro da vitória e partilhas-lo com a boca que está mais próxima de ti. Desligas-te de tudo e saboreias o sabor do cigarro. Exalas o fumo em semi-transe descansando os olhos num ponto imaginário na parede em frente ao teu leito. Não pensas em nada, apenas sentes vontade de nada pensar enquanto escorregas os teus dedos pelo que sobrou intacto do festim, desenhando o fumo do cigarro a área percorrida. Observas e continuas a observar deliciando-te com tudo o que vês, num olhar misterioso e atrevido, antecipando o que virá a seguir ao último bafo. O tocar da campainha interna desperta os amantes para uma nova ronda. Entre um cigarro e outro repete-se, por tempo indeterminado, o remoinho sobre o altar de todos os pecados; fazes a abertura e encerras cada ato com a classe de um guerreiro nobre. 
Manuel, Margarida, Feliciano, Madalena . . . o que importa?
Os atores são pormenores únicos, mas não menos que o palco que assume um novo cenário, uma nova trama, um novo cheiro por cada episódio de uma sequela nunca monótona, enquanto a imaginação fervilhar e o corpo assim a acompanhar.

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