quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A mais longa viagem da Hitória

Fomos donos de um mundo que nunca foi nosso.
Fomos senhores de metade do mundo que nunca foi nosso.
Fomos lordes de coisa nenhuma, porque coisa alguma nos foi entregue ou deixada à nossa guarda.
Fomos o mesmo que outros, uma coisa que se roçou noutra coisa e noutra, cada uma delas mais disforme que a outra, feita de outras ainda mais pequenas e sem graça alguma, ou talvez tivessem por isso mesmo, mas a sua simplicidade era reinante. Fomos um bocado de qualquer coisa que ainda não é nada de concreto, fomos um a meio de se tornar, um a meio de deixar de ser o que era, na sua forma mais material.
Vagueámos com mãos e pés no chão, trepámos árvores e comemos fruta saudável, bebemos água saudável, fizemos aquilo tudo que fazemos hoje, mas com mais pêlo, menos roupa, menos pudor, sem problemas com  a internet . . . esta não era necessária, bastava o amigo, ou amiga, ter feito uma mijadela a 10 metros de distância, que já sabíamos se ele estava feliz, triste, com vontade de nos encher de porrada ou apenas desejante de nos encher de amor animal e criar uma prol de peludinhos. A Internet seria mesmo lixo espacial e mais um monte de fios onde tropeçar e dar uns valentes tralhos no meio do chão da floresta, da savana, do mato. 
Fomos tão felizes!
Era tudo tão simples e divertido até alguém ter tido a ideia triste de se misturar com um vizinho espertalhão e mais outro e outro e outro e outro e já éramos tudo menos o original.
Começámos a perder pêlo ou cabelo ou os dois, pusemos-nos de pé e pusemos-nos a caminho da mais longa viagem da História.
Menos pêlo trouxe mais frio e começámos a tapar as vergonhas, porque os dói-dóis deixavam as ferramentas inutilizáveis e lá se ia a hipótese de alargar a prol.
Começámos a usar o tico e o teco e a coisa começou a complicar, pusemos calhaus a rodar, descobrimos o mais poderoso segredo dos deuses na arte de transformar a chicha intragável e demos início a um dos mais perigosos pecados . . . a gula. Comer paparoca cozinhada deu-nos uma facis menos rude, fomos suavizando os traços da fronha e ficando, ao gosto dos dias de hoje, mais bonitinhos. 
No meio deste borbulhar de descobertas, foi surgindo o que levaria ao tal e amaldiçoado dinheiro, foi-se descobrindo a espiritualidade, Deuses, Deus, Criadores e Criador, surgiram escravizadores e escravos, exploradores e explorados e todas formas e formatos.
Afirmámos-nos como bestas territoriais, com requintes de malvadez, refinando a estratégia à medida que nos íamos aprumando na imagem. Sanguinários, bárbaros ou mais espirituais, todos continuámos a fazer o mesmo.
Tratámos o mundo como uma laranja que se parte em várias partes ignorando quem nele existia, ignorando que não éramos os únicos com cabeça tronco e membros. Tugas e El Irmano levaram as fatias maiores, já os "Bifes", os "Laranjinhas" e restante matilha foram agricultores, semearam para colher no futuro.
O tico e o teco trabalharam tanto, que fez fumo, a indústria de todas as coisas nasceu e nunca mais parou de crescer. Mais exploradores e explorados e todas formas e formatos apareceram continuaram a aparecer em toda a parte. As guerras agora são outras somando às anteriores.
A seguir ao fogo a internet foi a segunda forma de pegar fogo ao juízo dos mortais. É o novo Céu e o novo Inferno e tal como no Paraíso o mal também se esconde entre os bytes, megabytes e os gigas onde milhões de Evas e outros tantos Adãos dão fim e início aos seus paraísos pessoais.
Hoje temos a internet e, que como Deus, tem que ser escrita em letra maiúscula, assim dita o dicionário do blogspot.com!!!
Fomos aspirantes a donos de alguma coisa, mas acabámos propriedade do que criámos, vítimas e escravos do que engendrámos para nos servir. Somos servos e dependentes da nossa dependência . . .
Somos aquilo que sempre repudiámos, sempre detestámos; somos seres invadidos e vergados à sede de poder de quem não queremos que comande a nossa vida, de quem não sabe comandar e liderar.
O que fomos ou fizemos já não importa, porque até onde descemos foi longe demais . . .  




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