domingo, 29 de setembro de 2013

Pessoazinhas . . .

Pessoas pequeninas, passarinhos feridos carregados de cobardia enchem as ruas da cidade. Arrastam-se uns atrás dos outros como avestruzes em busca do próximo buraco onde esconder a cabeça. Não sabem o quanto belo é o mundo, que desconhecem, dos sem medo de ser como são.
Em pequenos aglomerados de gente esmiúçam a novidade, tentam daí sugar o néctar, o mesmo néctar que deliciou ou dilacerou, que deu o mote à hecatombe ou que fez felizes os promíscuos. O néctar do pecado, porque o da santidade não dá gozo ou tusa.
Em aglomerados, "olha . . . lá vai ela . . .", recostando-se nas suas cadeiras em torno de uma mesa de café, com os seus sorrisos espelhando o balão que sai do seu pensamento e rangendo entre dentes, "cabra . . .".
É assim o mundo as pessoazinhas, dessa praga que veio para ficar, essa gente alcoviteira, mas muito gente . . . no seu precário conceito de gente.
Gentinha pequena, sem vida própria ou farta dela, gentinha que nem se atreve a seguir o que quer com medo de ser alvo da sua gentinha . . . é que seriam o alvo predileto da gentinha.
Quão miseráveis e desnecessários!
Alguns chegam a uma casa e o seu mundo de perfidia renasce, deixando a hipocrisia à porta . . . entre as quatro paredes só Deus e o Diabo o sabem e mais não se diz, faz-se . . .
Outros maldizem da sua vida, do marido, dos filhos, da sogra, da prima, da amiga, cheios de vontade de descarregar uma caçadeira de canos cerrados por cada um dos personagens.
Ah, nada como uma bela noite de sono para retemperar as energias, porque quem sabe as boas novas e escaldantes que o próximo dia trará.
Ser gentinha é uma coisa muito trabalhosa. Horas a ligar para a Manela, para a Antónia, para o Flisberto, para a Joaquina, para o Segismundo . . . enfim, uma trabalheira!
"Já sabes da última do menino Jorge?
- Não! O que foi agora?
- Olha, despacha-te que já te conto!
- Vai ter ao café depois de jantar.
- Ok. Mas não te esqueças de contar à Antónia! Ela vai adorar!".
À Antónia, à Manela, ao Flisberto, ao . . . ao . . . à . . . à . . . aos  . . .
"Ao menos passa-se alguma coisa!
Se não, isto era uma pasmaceira!". Se não isto era uma pasmaceira . . . Humm, bela forma de encaixar as coisas do mundo . . .
O mundo é mais que o meu bairro, é mais que o conselho onde vivo, é mais que o distrito, que o país. O mundo é mais que as misérias humanas.
Será que algumas dessas pessoas percebeu que tem "coisas" da personalidade que as faz ser seres humanos como os outros com pontos a corrigir, pontos a melhorar e outros a manter?
" - Não sejas assim, cada um é como é e só muda se achar que deve mudar. Tu não és dona da razão e não estás a ser uma boa samaritana. Eles agem em função das suas consciências, agem em função do que são. Se acham que estão certos para que é que precisam de mudar?
- Desculpa!!!
Não consigo perceber!!!
Não faz sentido!!!
- Tu é que não fazes sentido. Estás tão preocupada com isso porquê?
Não ages em função da tua consciência?
- Sim, mas não me dá prazer ser alcoviteira. Não retiro nada se importante ou interessante daí, ainda mais dando-me com essas pessoas, relacionando-me tranquilamente com essas pessoas, mantendo o "não digas nada, faz de conta que não sabes" pedido pelo delator. Então, mas se é suposto mais ninguém saber para lá ou além do ouvinte em primeira mão. . . desculpa mas é demasiado vergonhoso e desprezível para mim!".
Gostava de poder gostar mais das pessoas, mas eles não deixam ou não querem ser apreciadas pelas suas qualidades ou virtudes, pergunto até se elas gostam alguma coisa delas mesmas.
A minha ignorância prefere não ceder espaço a essa forma de informação, prefere manter-se a acomodada ou partilhar o espaço que preserva com algo útil, algo cujo conhecimento existente possa ser utilizado para um fim maior. A minha agressividade exalta-se se a minha ignorância for atacada com tão merdosa informação . . . ups, desculpem o meu francês . . .
Além disso o meu cérebro sente-se a atrofiar e intoxicado com tão deliciosos pacotes de merda para alguns. Ah, já agora, esses alguns tenham coragem de dizer na cara do imoral, ou imorais, o seu pecado, tenham tomates ou mamas para esfregar na cara dos hereges as suas obras de desvergonha e torpeza, como bons juízes da boa conduta que são, professores mestres das boas maneiras, gente de bem cruzada de labregus vulpinus - labregus vulpinus é mais fino e soa melhor assim . . . é só para condizer com "pessoas de bem" . . . - já para não os apelidar de outros tão honrosos predicados.
Ai, como é bom ser um herege pecador e com muito amor próprio e vida muito própria . . .

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