sábado, 3 de maio de 2014

Coisas que mudam . . .

Não, não sei o que quero. Umas vezes acho que sim, mas assim como as cores das coisas mudam, as vontades também.
Acho que não sei o que quero, assim como as coisas mudam conforme está Sol ou está chuva. Agora apetece-me, agora já não e daqui a bocado não sei, mesmo que tudo se mantenha igual.
Nada sei sobre o que quero dentro do que existe ou do que por enquanto há. Nada sei e nem sei se quero saber mesmo. O que é que me importa? Quero saber? Não!
Não quero saber, já não me apetece querer saber . . . há mais quem queira saber, bom proveito do que quer que seja, que eu já saí de campo . . . estou apenas de corpo presente, porque tudo o resto já partiu. Deixei apenas o meu espectro para ocupar o lugar do que está presente, mas apenas é o espectro da coisa.
O que quero? Não sei, mas só na parte que não me apetece querer saber, apenas na parte que me apetece não sequer investir o meu tempo em tentar saber o que quer que seja sobre essa parte.
Já fui, já cá não estou. Deixei agora mesmo o lugar vago ao que quer ser vago, porque atrás de tempo tempo virá e gente mais trará.
Apetece-me apenas parecer que estou, mas apenas parecer e nada mais, mesmo que esteja a mentir, mesmo que esteja com vontade de ficar, mesmo que não queira deixar de estar, mesmo que esteja a lutar para não ir, fui e fui de vez no que tenho que ir, porque acabou o meu tempo, o meu momento esgotou-se e já não sou novidade.
Tudo muda mesmo que pareça que está tudo na mesma. Tudo simplesmente muda, porque é assim suposto ser. O tempo atrás de tempo vem e virá. coisas atrás de coisas virão sejam estas o que forem . . . coisas atrás de coisas acontecem.
Umas vezes acho que sim, outras acho que não, porque me apetece querer achar que sim, outras nem por isso e tudo vale o que vale. Numas coisas estou, noutras já parti, já não estou. Fui, desapareci e estive enquanto o meu coração permitiu estar, depois disso o coração parte, mesmo que fique o resto, o espaço onde estava fica vazio, porque já não tem espaço para bater. O espaço encolheu e para que bata tem que ter mais.
Custa, mas não quero saber mais. A mente agora tomou as rédias dos acontecimentos e o coração retirou-se para o sempre que for necessário. Tudo muda de lugar inclusive o coração.
Aparentemente nada muda, mas apenas porque assim faz parte das regras, como o peluche que representa o conforto do colinho da mãe quando esta está ausente . . . mas eu já não estou cá apesar de ter deixado a minha marionete, que controlo há distância para que não pareça que estou ausente, mas estou.
É a vida e o seu devir, palavra que os gregos usavam para simbolizar a mudança, mas se assim tem que ser, assim seja enquanto assim tiver que ser.
Tudo tem o seu prazo de validade e quando se ultrapassa esse prazo tudo deixa de ser previsível. Cada coisa segue o seu caminho mesmo que os elementos se toquem, mas já não estou, apenas a parte que tem que estar porque faz parte estar, a outra soltou-se e seguiu noutra direção, na direção do desconhecido, mas em consciência de que este dia surgiria algures no horizonte, algures no meio do que é, no meio do que assim pertence ser, mas vou em paz e o que fica em paz está.
É mesmo assim, mesmo que às vezes tenha vontade, felizmente deu-se o golpe de misericórdia para que eu possa não querer, para que possa não me apetecer e ficar apenas uma parte das coisas, sem culpa, sem arrependimento, sem razões para apontar dedos.
A razão protege o coração, mesmo que o coração reclame da frieza da razão, mas no final o coração agradece à razão ter sido esta a tomar conta dos acontecimentos. Por alguma razão o que se quer para o coraçao é menos constante que o que se precisa, o que se quer tem mais flutuações, por isso sabe bem já não querer, mesmo que se queira, porque provavelmente não é na realidade o que o meu coração precisa. Ele baterá devagarinho, sozinho, mas pelo menos ganha força a cada batida, recupera no seu ritmo para um dia voltar a ser um corredor por gosto, porque quande bate pelo que precisa não se cansa.

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