sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Uma história escrita

Oi.
Já cheguei.
Já passaram alguns dias desde que desci o avião, desde que inspirei fora do ar que me trouxe, desde a minha chegada.
Ainda não te disse nada, acho eu!
Será que já nos vimos?
Já te vi?
Já olhei para ti com olhos de ver?
Já me viste?
Talvez já nos tenhamos cruzado, não sei. Estivemos no meio de tanta gente, talvez!
Eu fui numa direção e tu foste noutra, ou ainda estás com a pessoa errada e eu no estado certo para te receber. Talvez!
Onde estamos?
Onde estás?
Onde estou?
As coisas são como são e nós não nos podemos adiantar ao marcador.
Digamos que não ando à tua procura, nem tu à minha, digamos que estamos a viver uma narrativa, cada um no seu tempo e na sua história. A minha começou com a descida do primeiro degrau do avião, com o primeiro momento em que tirei os olhos do chão e olhei o horizonte; começou com os primeiros prenunciares de qualquer palavra que não fosse nativa, com o estado de estranheza que me consumiu quase todos os escudos que trazia para me confortar.
Já começou tudo da forma como começou . . . as conlusões tirarás quando o autor desenhar com pequenas letras a profecia e te colocar no caminho pelo qual irei caminhar, a partir de um qualquer momento e após nos captarmos daquela maneira que ninguém entende, que não faz sentido aos olhos de quem desconhece estas coisas, de quem não consegue compreender pela lógica, pela ilógica ou de forma alguma que não seja a sua.
O tempo já começou a contar para o que antecede o prologo e o que há para escrever já começou a ser escrito.
Neste momento o escritor está a construir-te a ti e a mim, personagens do seu enredo, os personagens da sua história a partir da estaca zero, a partir do nada como todas as histórias verdadeiras.
Os personagens só sabem que existem, mesmo ainda de se ter dado início à trama e que vão fazer parte da história que nunca foi escrita no livro das suas vidas, mas sabem que será a mais bela história que já viveram, que já conheceram enquanto personagens desta história global; sabem que nunca mais a vida será igual a partir desse momento, que nada será como dantes e ainda que cada dia será mais belo que o anterior enquanto a história acontecer, que tudo será belo, maravilhoso, cheio da arte . . . e de artes, todas elas nobres e gratificantes, porque o mais importante é viver a história e não o depois, porque o depois será sempre e apenas o depois e neste momento o que importante é o que começou a ser escrito.
Só nós os três é que sabemos que existimos, eu, tu e o escritor, todos em sintonia com o que queremos que a história seja a cada dia.
Enquanto traça os primeiros esboços sobre a mais bela história de amor de todos os tempos, a mais encantadora da existência dos personagens, desenhada com a vontade de quem quer finais felizes e eternos, o escritor vai sonhando acordado com o que dará aos seus protagonistas.
Os protagonistas de mais uma bela história cheia de todas as icógnitas, descobertas e avanços, todas as lamechices, suspiros e lágrimas de riso já sentem no ar o cheiro do novo, do diferente do antes, com algumas coisas iguais a outras que fazem parte da cena, mas que no conjunto nada é o que parece e nada parece o que é, mas o que é certo é que seja como for, é!
O escritor sente-se feliz. É o último dos românticos, não se poupará a deleites eternos enquanto durarem, requintes de hedonismo, delícias visuais e corporais para todos os gostos para manter viva a chama das suas criaturas. O escritor cora antes de fazer corar os protagonistas, sente na sua mente tudo o que quer fazer o resultado da sua criação sentir na pele, no corpo, no coração.
Estás preparado?
Eu não. Mas como sempre, eu nunca estou!
O que vais fazer?
Ficas à espera que seja escrito o que tens que viver ou já te puseste a existir?
Eu decidi existir antes de qualquer criação. Não quero ficar à espera para poder viver . . . vou existindo, mesmo que seja apenas existindo, vou olhando e vendo o que se passa no mundo. Agora existo como espectadora. Sento-me num baloiço de um parque como uma menina pequenina que não chega com os pés ao chão e limito-me a olhar, a ver o que se passa e quem passa, como passa quem passa e quando se passa, nem que seja apenas qualquer coisa.
Seja como for, enquanto a história não começa vou baloiçando e brincando no meu parque até que o escritor te coloque no meu caminho, ou a mim no teu caminho, ou nós no nosso caminho em direção à história mais bela e lamechas cheia lágrimas de riso, romantismo e hedonismo, tudo misturado até podermos chegar à mesma conclusão do escritor que é . . . o que é belo e bom dura enquanto quisermos ser e fazer alguém feliz!

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