quarta-feira, 16 de abril de 2014

O que se precisa e o que se quer . . .

"Não quero, porque quero e o pior é que quero . . ."
O quero diz que sim ao não quero, porque o querer nem sempre coincide com o precisar e o que se quer não é sempre o que se precisa . . . mas o que é que se precisa?
"Porque é que não és o que preciso, se és o que quero?" . . . Heis a eterna pergunta que tortura!
O que se quer e o que se precisa deveriam ser a mesma coisa e não outra.
Quere-se porque se quer e quer . . . o que se precisa . . . precisa-se mesmo que se queira qualquer outra coisa que não se pode ter mesmo que se queira . . . outra, ter . . .
"Ter??? Mas ter o quê???
Isto é assim??? Tem-se???
Ainda por cima é assim . . . propriedade!".
Não!!! Não é isso!!!
Não tem nada a ver!!!
É apenas que se quer mesmo que não possa ser!
Apenas isso mesmo, apenas isso!
Não é justo ou perfeito, o que cresce e tem que ficar calado, encolhido ali a um canto com medo de ser descoberto e não saber defender-se do que possa encontrar do outro lado da janela, dentro desse espaço do qual teme sair e mostrar-se, escondido atrás de tudo o que tem apenas o ar do menos intencionado do sentido do que está escondido. O que se esconde fica caladinho sem se poder mexer, porque é tudo tão volátil, tão frágil, tão delicado e esse tudo não aguentaria ou o que se esconde não tem a coragem de . . . se ao menos pudesse . . .
Aquele abraço apertado fica à espera de poder ser sentido, tocado e respirado movido por todos os músculos que o compõem e com todas as partes corpóreas que o asseguram.
Aquele encostar de cabeça no ombro em frente ao pôr do Sol, apenas porque sabe bem encostar a cabeça no ombro, espera a cabeça e o ombro, enquanto o Sol e a praia serena e eternamente paciente aguardam sem pressa pelos protagonistas do encostar que culmina num suspiro tão profundo quando a paz que brota do interior.
Simplesmente quere-se . . . mesmo que não se possa querer, quere-se, mesmo que não seja o momento de querer, quere-se, não  importa o que é, mas é o que move porque se quer.
Como é bom querer, mesmo o que importa é o que se precisa, mesmo que o que se precisa é o caminho e não o que se quer . . . mas porque raio não têm que estar os dois em sintonia, o que se quer e o que se precisa??? Porquê???
Mas mesmo que o que importa é o que se precisa, o que se quer luta por ganhar terreno ao que se precisa e a confusão instala-se. No que se quer tudo começa a complicar, tudo é complicado, tenso, estranho, desconfortável, apavorador e mesmo que não se possa quere-se e pronto, quere-se!
O que importa??? Quere-se e pronto!!!
A insanidade instala-se, porque não se vê mais que o que se quer e o que se precisa ganha um plano diferente. O que se precisa é relegado para fraco e invisivel, sente-se chutado para um canto cheio de ingratidão sem reagir, deixando-se chorar por dentro enquanto contempla consternado o devaneio e o atordoamento inconsciente de quem segue o que se quer.
Escorraçado, porque o que se quer é o menino querido e adorado, o que se precisa encolhe os ombros, enfia as mãos nos bolsos para as proteger do frio e caminha ao longo da linha do comboio do que se quer que larga fumo denso e frio.
Na sua humildade, triste e carregado de pena o que se precisa desvia os olhos da cegueira que tolda a visão de quem segue apenas o que quer e afasta-se entristecido pela escolha infeliz de quem escolhe.
O preço das escolhas do que se quer existe tanto como o do que se precisa, mas será sempre uma escolha; a batalha é sempre inglória . . . haverá sempre um que ganha e um que perde!
Qual é o preço do que se quer e o do que se precisa?
Qual é o sacrifício que cada um pede?
Que preço estamos dispostos a pagar?
Porque nem sempre o que se quer coincide com o que se precisa, ao menos existe a certeza de que o que se precisa abre-te os braços e estará lá sempre para te confortar e recompensar por tudo o que aguardaste pacientemente enquanto construiste algo, porque te dará o que te é realmente necessário para caminhares no teu caminho. O que se quer, por vezes, é apenas uma goluseima que te dá esse momento extra e que fará sentir tudo o que queres sentir, para descobrires depois de te saciares que não existe aí o que precisas, para descobrires depois de começares a ver o caminho, que o comboio que apanhaste levou-te apenas para uma ilusão temporária apesar de extasiante e quando vais procurar o que precisas no que que queres, nada encontras, porque se o que precisas não encontras no que se quer é porque o que se quer não serve para mais que isso, é apenas o que se quer e apenas porque se quer.

Sem comentários:

Enviar um comentário