sábado, 13 de dezembro de 2014

Silêncio

Deixo-me ficar no silêncio. É ele que me conforta quando não existe mais conforto,  mesmo quando os lençóis são macios, mesmo quando a comida quente me espera no prato, mesmo quando uma mão suave me acaricia o rosto, é no silêncio que me conforto.
As palavras ditas já de nada servem quando as mentes encerraram e colocaram a tabuleta "estamos fechados por tempo indeterminado . . .", as palavras por falar lêem a mesma tabuleta e fecham-se no seu quarto, o seu silêncio é o seu quarto.
Deixo-me ficar no que me resta, o silêncio, porque as palavras, essas já ninguém as quer ouvir mesmo que sejam o som da verdade, mesmo que seja a única forma da verdade se mostrar.
Nos dias de hoje o silêncio fala mais que as palavras mesmo que os que o ouçam não saibam o que ele diz, ou até mesmo o tomem como afirmação, confirmação ou consentimento.
No silêncio as palavras falam entre si e ali estão a viver em comunhão de verdade mesmo que os ouvidos e olhos dos outros só leiam mentira e falsidade.
O silêncio conforta mais que os que falam, os que fingem que são, os que apenas vêem o que lhes interessa ver, porque neste mundo o que se vê é apenas o que se quer ver, o que se quer é muito pequeno comparado com o que se precisa, basta olhar a Luz e aí sim vemos o que precisamos e não temos. Mas a Luz só vê quem a quer ver . . . o resto é falsidade sonora mascarada de tudo e nada, falsidade de quem não é verdadeiro e crê no falso por medo.
Para quê falar se tudo soa a mentira, a bonita música ou a qualquer artimanha fantasiosa que agrada ao ouvido?
Para quê?
Para quê falar o que quer que seja quando neste mundo se criam verdades por conveniência, quando neste mundo as verdades que se querem ouvir não são a real verdade.
"Pensei que eras tu que estavas a cantar . . . mas  . . . a televisão . . . a tua voz é parecida . . .", mais uma vez as coisas parecem coisas os sons parecem sons não importa o que é na realidade o que realmente é. Canto para dentro, ou em surdina para fora, ou canto para mim em silêncio para não incomodar com o que quer que seja, porque o facto de existir já incomoda tanta gente . . .
Em silêncio, este poderia ser o meu testamento, mesmo que nada tenha para deixar que faça alguém sentir-se dono do mundo,  o meu último pensamento, enquanto a tortura me vai consumindo os meus ossos e a minha carne, este poderia ser o meu último suspiro, o meu último olhar para o que quer que seja, a minha última inspiração e expiração enquanto ser que nasceu com os mesmos órgãos que os outros seres humanos, mas não, não é o meu último testamento, suspiro ou o que quer que seja que me dignifique, é apenas o que é, queira quem quer que seja ler ou interpretar da forma que interpretar, ou como quiser interpretar, é apenas o que é!
Em silêncio pronuncio parte das minhas últimas palavras antes do que quer que seja que venha a seguir, pode até ser a minha morte que não temo.
Em silêncio escrevo o que ninguém quer acreditar, porque ser-se é proibido e não ser está na ordem do dia.
Mas uma coisa é certa, entre o silêncio provavelmente aprendi o que alguns que se aparentam de pessoas de bem  ensinaram, mas que não praticam e muito menos são exemplo do que apregoam, mas mais uma vez seriam apenas palavras escritas e o silêncio vale o que nenhum de nós alguma vez teve ou conheceu!
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