segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Longe . . . muito longe

Estou longe, longe de tudo e de todos, longe de mim, longe, muito longe.
A distância não chegou apenas de avião, chegou de malas e bagagens à terra do nunca, para o nunca, para o nunca mais voltar, para o nunca mais voltar ao ontem ao que era negro e escuro e sombrio.
Voltei à terra do nunca, nunca fiz, faço ou farei, ou  nunca mais fiz, faço ou farei aquilo, nunca me senti, sinto ou sentirei assim ou nunca me senti into ou sentirei assado, nunca disse  isso, digo ou direi, ou nunca disse, digo ou direi aquilo, nunca . . . nunca . . . nunca . . . nuncas atrás de mais nuncas, uns mais dolorosos outros até abençoados, mas serão sempre nuncas . . .
A terra do nunca é, de longe, das terras mais difíceis por onde andar, dá vontade de fugir para outra bem longe mais perto do antes de alguma coisa, mas o preço que se paga é um preço mais alto.
Estar perto de tudo e de todos às vezes é apenas existir sem se dar sentido a nada, apenas estás e mais nada, nada é realmente importante ou tens falta de mesmo muito, por isso agora estou longe de tudo e de todos, porque se estou tem que ser de corpo e alma ou de alma integra, cheia a transbordar para que não haja apenas para mim, mas para tantos mais.
Estou tão longe mas ainda carregada de pertos e a coisa é confusa, não estou ou não devia estar, é o cá e lá, mas a verdade é que estou longe, é como se estivesse em contacto como passado, com o que já não existe, toco, mas não sinto, vejo tudo, mas ninguém me vê.
Agora tudo mudou, a pele está a mudar, para nunca mais ser como era, é uma viagem com apenas um bilhete se ida, as sinapses mentais baralham-se, as memórias escaceiam, tudo parte devagarinho, morri.
Deste lado da morte é tudo muito estranho, nem tudo é mau, é apenas estranho. Não posso pegar no meu corpo e ir para o outro lado, o lado do perto de tudo, no meio de tudo, do estou em tudo. Acabou, morri, fui para a terra do nunca, do nunca mais alguma coisa voltará a ser como dantes, do nunca mais.
É um nascer novamente no outro lado, estando ainda no processo da gestação do embrião, do rebento que há de aprender a andar como da primeira vez, mas contrariamente à primeira vez, desta já existe um corpo, apenas morre o velho inalcansável cansado de ser o que era para nascer o novo, recicla-se o que ainda é útil, mete-se no lixo o desperdício, o lixo que ocupou demasiado tempo os espaços errados e finalmente poder-se-á ver o que sempre existiu e que carregado de lixo estava.
É duro, desconfortável mudar a pele, forçar o expelir do acomodadamente inútil, do confortavelmente mas desnecessariamente instalado . . . sair da zona de conforto, da zona do conhecido e do acho que sei onde meto os pés e as mãos.
Mas tudo muda ou simplesmente se transforma.
A noção do tanto e do tão pouco aumenta quando se está longe. Tudo parece maior, tudo aumenta o seu volume e profundidade, a noção do que é correto e incorreto oscila ou vacila, mas não desaparece, mantem-se mesmo que as correntes queiram que vejamos da maneira mais errada, mesmo que estejamos do lado do estranho ao familiar, mesmo que estejamos perante uma parede fria, porque mostrar que se é um ser humano de carne e osso é errado, o lado que não se sabe quem é o quê, ainda menos que o que nos é familiar. A prespectiva sobre as coisas muda, aqui não somos nós na nossa totalidade, apenas o que é estritamente necessário. Mais uma vez percebemos que o que move as pessoas é o que as distingue. A Verdade continua pouco interessar a muitos, mesmo na terra do nunca a Verdade mete medo, é recusada a ser encarada, porque incomoda, é desagradável, a verdade pouco ou nada interessa . . . mas quando chegar o monento da Verdade . . . aí veremos quem é realmente e de Verdade.
Nada como estar longe para dar valor à Verdade, ao que é realmente importante, ao que realmente vale a pena, o que realmente presta e interessa, ao que é realmente construtivo, ao que relamente tem valor e quem realmente tem valor!
Já alguém dizia que de longe se vê melhor . . . sim, e o tanto que se vê, o tanto que se abrange é insondável, mas é difícil, até mesmo o aparentemente conhecido é estranho e duvidoso, porque só se conhecerá verdadeira realidade quando o corpo esgotar o seu prazo.
Até conheceres o teu prazo de validade tens muito a caminhar, muitos longes e muitos pertos a onde ires, muitos profundos e muitas superfícies em que tocarás, muitos aparentes e reais viverás, mas vás onde fores, venhas de onde vieres, sê o mais respeitoso dos antropólogos, o mais interessado sociólogo da vida, o mais compreensivo e curioso psicólogo para que possas aprender a viver, por muito que te seja difícil o que te é imposto e ou exigido, não deixes de ser quem és, mantém a integridade, mas usa o mais poderoso filtro que tiveres ou serás esmagado pelo desconhecido . . . mas acima de tudo vai para longe, para longe de tudo e de todos para quando tiveres que voltar a estar com o tudo e com os todos, que estes tudos e estes todos passem a ser apenas os que relamente importam, não importa o número e a quantidade dos tudos e dos todos, desde que a sua qualidade passe no crivo da elevada qualidade estraída da Verdade que alcançaste, mas nunca, mesmo nunca, te esqueças que só alcansarás a Verdade enquanto fores tu mesmo, apenas tu, sólido, mas maleável, integro e indestrutível, porque nem tudo o que está perto é o que precisas para alcançar a Verdade e a sua verdadeira realidade!

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