sábado, 15 de junho de 2013

Segredo . . .

Brindei da tua presença enquanto te tinha, enquanto te usava para minha satisfação, do meu desejo mais profundo, na minha fantasia. Eras o deus mais desejado que o meu corpo clamava. Deixaste-me à porta do teu desejo como se nada fosse importante. Deixaste que eu fantasiasse sobre ti, sobre a minha e a tua boca, sobre o meu e o teu desejo, sobre os teus dedos entrelaçados nos meus e as línguas a se tocarem ingenuamente como se fosse tudo a primeira vez.
Tem sido uma constante prova do meu amor físico pelo teu físico, ou psíquico ou pura físico-química. A vontade de te abraçar . . . deixa-me, ah . . .  como me deixa . . .
Deixa-me de todo e incompleto desassossego, inovação linguística inacabada. A prova oral da tua conversa, das tuas palavras escritas, não ditas, deixa-me loucamente ensandecida pela provocação não linguajada, não dita de uma forma direta e eloquente, mas o que sei é como te quero e como ainda sentes a minha falta. Deixa-me dizer que tudo muda a partir do meu primeiro toque na tua pele, na tua boca . . . oh, a tua boca, o meu deleite de sempre que guardo, com saudade e trago comigo guardado, secretamente, para que ninguém veja o quanto ainda te quero e desejo.
É meu, é sagrado e selado entre mim e ti. É meu e guardado fica enquanto vivos vivemos, enquanto em segredo nos queremos como dois adolescentes perdidos de paixão, como duas gaivotas que rodopiam uma sobre a outra e a outra sobre uma. Rodopia-me, não me deixes viver com ilusões. Dá-me de volta o meu desejo por ti e não o escondas de mim. Sente, sente o meu desejo por ti e nem sequer te esqueças que sempre existi em ti.
Devora-me como sempre na tua mente me devoraste, como sempre assim desejaste e nada revelaste, mas devora-me.
Despe-te, mas despe-te de mim para me vestires novamente, em ti, dentro de ti, como se estivesses dentro de mim.
Envolve-me, como me desejaste no teu imaginário pérfido e miserável de adolescente na decadência snob crescido. Despe-te de mim e volta a vestir-te com a minha pele, com o meu cheiro a impregnar-te do meu odor que invadiu os teus poros quando menos tu querias.
Empurras-me com a tua mão que está e sai através desse teu muro de hipocrisia.
Escondes a tua lasciva vontade por detrás de um muro translúcido que me confunde, se eu distraída não olhar bem e nele penetrar.
Despe-te de mim para me voltares a vestir como a tua segunda pele, aquela que está debaixo da outra que contacta com o mundo, mas despe-te e veste-me novamente.
Despe-te de tudo o que escondes e mostra-te a mim, mostra-te tal como és, a tua mente o teu espírito, mas mostra-te. Quero ver-te mais de perto e tocar na tua sensibilidade, estremecer-te, desafinar-te e expor-te ao teu ridículo.
De pé empurras a minha boca para o teu sexo, o mais sagrado de todos, o que nunca provei, o que nunca toquei o que nunca muito pouco desejei.
Queres ser o dominador comum, o mais que tudo o que é poderoso para te sentires realizado, mas manténs a tua capa de Zorro; escondes um pouco de rosto vermelho desejo atrás de inocentes palavras que não pesam no passado.
Quão dissimulada ansiedade e desejo, quão manipulada imagem de senhor respeitável e intocável, quase impenetrável. Como se constrói tão bem tamanha imensidão e distância, porém, dissimulada e falsa. Fácil.
Vives da aparência dentro de ti semeada, dentro de ti enraizada e quase à descarada, . . . mas “mui delicado e educadas são as providências por vós tomadas.
Mui belo sois senhor, em vossa sabedoria sobre os mais belos encantos de fidalgo enaltecido pelas honras e honrarias plebeias. Sou de fidalguias passadas, de outroras esquecidos no seu tempo, senhor. Já não vos lembreis do desejo não partilhado que possuístes em horas passadas? Lembrai-vos agora, senhor, ah . . . o quão belo foi o momento que partilhámos juntos nas nossas caminhadas de mão inocentemente dadas . . .”.
É assim que deveria tratar sua alteza?

Ou seria da forma mais infame e flamejante, onde as labaredas expelidas dos nossos corpos incendeiam os segredos passados, com o descontrolo do momento, onde nada para além do meu e do teu corpo existe.

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