sábado, 15 de junho de 2013

Reclusas

Têm filhos, fome e muita vontade de criar as suas crias. São mulheres e homens com fome e sede de serem gente, de terem direito a existir e de alimentar a sua prol. São gente de carne e osso, gente que quer ser gente sem ter de que se envergonhar, sem ter de fugir, sem ter de sofrer os horrores das necessidades, gente que não quer ter que roubar para matar fome, gente que não quer ter que se esconder, porque procurou ser feliz e com alguma, se possível, paz.
Onde estão os olhos atentos que percebem que ser gente é um direito de qualquer pessoa, ser pessoa é um direito de toda a gente, que não é monstro, que não é tempo perdido em existência, sim, porque há os que perdem tempo em existir e melhor estariam onde não se existe, porque a sua existência não passa de um rasto puro de maldade, de desnecessário e excessivo.
Mal dos que querem ser pais e dar amor aos filhos que se perdem pelos meandros da potrefação alucinante das novas modernidades, das novas sensações, porque suportar a pobreza é mais difícil . . . mal sabem que o mundo oferece mais que apenas a pobreza . . .
Mal dos que não tiveram as peças que montam o ser pai ou ser mãe, que com o nada buscam criar as suas crias.
Mal dos que por urgência buscam servir quem os irão condenar parte da vida à marginalização, desprezo porque conheceram as quatro paredes fechadas ao mundo, porque se deixaram iludir pelo lucro fácil que esconde o inferno gratuito.
Mal de quem viu os filhos morrer nas mãos dos estupefacientes pesados, vítimas da heroína que de heróico nada tem e nada promete.
Mães, pais, filhos, primos, irmãos, famílias . . . quantos mais terão de conhecer o cheiro a podre e fétido  do inferno?
"Não tinha coragem para me prostituir. . ." dizia uma mãe de alma seca pela abnegação forçada, desprendida da morte do seu filho, como de um acontecimento exterior se tratasse. 
Matam-se mulheres, secam-se-lhes as almas que deixam de sentir, mas que querem voltar a existir, a ser gente; assumem o erro perante os estranhos sem medo de serem julgadas . . . são elas as verdadeiras corajosas. Assumem-se como pecadoras pelo desejo de sobre-vida, viver, salvar a sua via, porém pelo caminho mais ardiloso, traiçoeiro e caprichoso, que brinca com a vida de quem vende a alma no risco de perder a liberdade e a vida.
Apontamos os dedos a quem nada teve para poder ser alguém, a quem nada teve para dar a alguém e desses alguéns exigimos tudo ou categorizamos como mais um nada, um nada que anda à procura do mesmo que outros mais alguma coisa, que procuram por caminhos menos caprichosos e ardilosos.
Olhemos à vossa volta e para dentro de nós, olhemos o caminho que percorremos, o quanto errámos, se aprendemos com esses erros e queremos cometer os mesmos erros outra vez!

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