segunda-feira, 30 de março de 2015

Verniz

Não se deixe estalar o verniz. Paga-se caro por ele. É a máscara que cobre o que por baixo se assemelha a folhas velhas e já sem brilho. Faz de conta que faz parte da decoração esse parecer de sofrimento polido com ar de decoração nova art decor. Deixe-se estar aí o verniz, que não se lasque que a verdade vem ao de cimo e o que não presta vem com o seu cheiro a podre e sem o polimento do verniz esse cheiro impregna as narinas com tal acre que tudo se afasta.
O verniz só serve para embelezar, disfarçar, em alguns casos dá realce, mas nunca passa disso, verniz . . .
E se ninguém usasse verniz, o que é que se veria?
Qual seria o cheiro?
Será que se poderia tocar?
Será que se quereria tocar ou aproximar?
Não, é a resposta a todas as respostas, mas e será que queremos viver sem verniz?
"Tem que se relativizar as coisas", diz a sapiência de quem já viveu esta vida. Pois assim se faça e se silencie o que deve ser resolvido e que se deixe o verniz brilhar, mesmo que os contornes das coisas sejam meio estranhos, feios e que não se perceba bem como é que se conseguiu que o verniz chegasse a tais locais tão obscuros que nem os raios de Sol alcançam. Mas o verniz tem essa capacidade, de chegar a onde menos se espera.
A nossa imperfeição tem essa arte, a de fazer chegar o verniz ao mais profundo formato de imperfeição, não importando se são espinhos, se são veredas, se são as vestes que escondem a realidade não desejada, se é o pensamento que sai da boca com o polimento mais desejado.
Na verdade digo, é mesmo isto que o mundo pede sem o querer. Na minha terra pode chamar-se psicose, ou neurose, ou surto ou fortaleza, ou algo pior: Hipocrisia.
Não, não é necessário expor os podres, mas sim resolvê-los quem os quer ver resolvidos, para não ter que usar tanto verniz para que se mantenham os podres.
Não sei o que dá mais trabalho, resolver os podres ou se manter o verniz sem o estalar.
Mas e se o verniz estala?
E se as coisas começam a libertar o cheiro?
Ou será que toda a gente vê que o brilho é artificial e como faz parte do sistema assim se mantém para que não haja confrontos com a realidade?
Quanto mais não vale uma fantasia em relação ao verniz, sabendo que é apenas uma fantasia com consciência e alguma vontade escondida que essa fantasia se realizasse?
Ao menos a fantasia não é algo que esteja à vista de toda a gente, apenas aos olhos de quem secretamente a tem, mesmo que essa fantasia seja impossível aos nossos olhos é a realidade que olhamos para sarar a ferida sem ter que recorrer a verniz.
Há fantasias que se tornam realidade enquanto que outras não, porque não se coadunam com a realidade, porque o sentido que fazem é absolutamente nenhum seja aos nossos olhos ou mesmo aos de Deus, mesmo que desconheçamos os desígnios de Deus.
Aos meus olhos o verniz serve apenas para superfícies materiais tais como as unhas, chão e coisas assim.
A vida carregada de verniz, um dia estala e eu não quero fazer parte nem desse verniz nem do que está debaixo desse verniz!

Sem comentários:

Enviar um comentário