sexta-feira, 24 de abril de 2015

Já não basta . . .

Já não basta o charme que desfila sobre o chão polido. Já não basta o olhar felino de quem nada quer, mas que tudo deseja. Já não basta cada cabelo penteado quase próximo da perfeição adequada ao rosto e o jeito do cabelo como se tivesse nascido para ser assim . . . já não basta!
Já não é suficiente que se ouça o que se quer ouvir, não basta ter queda para o que não alcança ou nem se quer alcançar, já não basta nada do que bastava antes de alguma coisa.
Antes de o ser já estão as cartas todas na mesa, o jogo está todo visto numa unilateralidade que assusta e nem se quer se quer ser tentado, porque já está tudo visto. A cada passada que dá é uma carta da mesa que se vira e que se mostra sem querer mostrar.
A essência envolve a substância e as regras do jogo invertem-se. É como se tudo o que se é fosse o que cobre tudo o que se quer mostrar. As peças do jogo estão translúcidas e de fora dá para ver o que está dentro como se mais nada houvesse que cobrisse. Mas a carne é fraca e deseja o fruto proibido como como Eva à maçã, mas desta vez apenas é a Eva que come a maçã e deixa o Adão pensar que sabe alguma coisa do mundo dos sentidos.
Já não basta a idade que confere sabedoria, já não basta a experiência de vida que sabe estremecer estruturas mais sólidas, já não basta a sabedoria que confere à idade.
O mundo do invisível abre-se ao mundo do visível, mesmo que não o queira, e qualquer tentativa de ilusão fica desiludida pela sua perda de poder, mas a carne é fraca . . . mas tão pouco fraca que fica desiludida a cada página que vai desfolhando do segredo mais profundo da vida das ilusões cativantes.
Já não basta ser esperto, é preciso ser-se inteligente e não subestimar o inimigo que lá terá as suas qualidades mesmo que o que tenha mais peso seja o vazio do narciso que se afundou por tanto venerar a sua própria beleza, a animalidade do predador que controla a sua presa com aparência de indiferença como se o mundo lhe pertencesse e qualquer outro animal na sua presença fosse ou mais um troféu ou mais uma pressa fácil. Mas subestima o predador a sua presa. Não sabe que a arte da sabedoria pode chegar mais cedo ou mais tarde a qualquer um!
Já não basta ser belo, ter o charme que desfila sobre o chão polido com passadas peso pluma para não afugentar as presas. Já não basta ser quem é em si mesmo um animal felino, um predador sanguinário que como o vampiro a sua presença é doentiamente apetecível, a sua aparente humanidade quase perfeita . . .
Já não basta . . .  

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