sábado, 24 de janeiro de 2015

O medo

Se eu dissesse que o que magoa não tem cara, apenas sentimentos, ninguém acreditaria . . . mas alguns sabem o que é ser magoado pelo que não tem cara. O medo não tem cara, o pânico não tem cara, nenhum sentimento que possa vir de onde vier não tem cara e assume as formas mais inesperadas.
Se eu dissesse que tenho medo e pânico ninguém acreditaria, porque a lógica assim não o permite.
O ser corajoso está entre o pânico e o medo que às vezes não tem a bravura que deveria ter para afastar ou um ou o outro.
"Mas tens medo do quê?"
Simplesmente tenho medo e isso por si basta. Perde-se a coragem por tanto ou tão pouco. Medo de confiar, medo de acreditar, medo se ser enganado, medo de não poder pensar que alguém é bom logo à partida . . .
"Mas porquê?"
Porque a vida nos obrigou a viver debaixo do medo que nos consome a alma, a tristeza de não se poder ser como outra pessoa qualquer livre das suas prisões internas que causam medo.
O medo é como o frio, gela-nos e põe-nos a tremer como se estivéssemos a ser regelados por dentro. O medo cria prisões, cria grades pelas quais é quase impossível ultrapassar. O medo não tem cara, mas assume formas dolorosas, formas que como espinhos cravam a pele e lhe deixam feridas pelo rasgo que fazem na pele e na carne.
Estou farta de viver debaixo do medo, essa prisão que deixa marcas muito profundas, que deixam o corpo em sangue.
O medo faz sentir o sabor de sangue na boca o qual queremos vomitar, vomitar o medo e as suas formas, vomitar o medo e as suas formas de existir, porque é a tortura que não se vê, é a pedra que queremos tirar de dentro do sapato, mas que está num sitio onde não temos acesso senão apenas o próprio pé.
Viver debaixo do medo é aterrorizante, limitador, assustador, impede-nos de agir de uma forma feliz, impede de sermos nós mesmos e em excesso de vigília a dormir ou acordados, é como uma lapa que se encrosta na pele e nos impede os movimentos.
O medo é o nosso maior inimigo, o nosso castrador mor a besta que nos aprisiona de viver.

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