sábado, 2 de fevereiro de 2013

Como?

Sou a tua amante.
Sou aquela que todos sabem que existe excepto o "corno", os que não sabem que existo.
Tens de pedir autorização às autoridades progenitoras para a minha existência oficializar-se.
É cedo, mesmo depois de expressares a vontade de pedir autorização a quem te pariu há mais de trinta anos.
É tabu e eu persona não grata!
Sou a prostituta,  em quem alivias o enchimento dos testículos e tratas de vez em quando com mimos, ou cuidas para manter, porque sabe bem ser amado.
Sou a amante prostituta e louca que desdenhaste durante muito tempo, que todos sabem que existe e que aguarda, quase silenciosamente, o aval das entidades progenioras para que a união seja aceite.
Sou a instável insatisfeita que fala muito, que fala demais e cujo silêncio não é apenas silêncio, mas sempre um sinal de que algo está errado.
Sou aquela que não cumpre o que diz, que não se esforça e que está sempre cheia de maldade.
Quantos defeitos eu sou perante tanta perfeição!!!
Sou mais uma filha de casamentos falhados, mais uma carente que deambula pelo mundo exigindo o que não pode receber, porque os outros não são culpados de tamanhos infortúnios.
Sou mais uma alma explorada por quem escrúpulos não conhece e desdenha com profunda repulsa.
Sou mais uma sonhadora que deseja ter uma família calorosa, acolhedora e ninho quando o mundo é cruel.
Sou mais uma que ama o que vive no pólo oposto, no pólo que não carece de tanto como eu, em tudo.
Quando tudo está bem, dura pouco.
Neste preciso momento, como eu desejava não sentir desejo, como eu desejava não me sentir carente, como eu desejava ter uma família saudável e acolhedora, como eu desejava não amar quem amo, como desejava não sentir ódios nem mágoas como sinto, como adorava ter uma estrutura inabalável.

Como posso ser eu digna da autorização dos progenitores quando tenho tantos defeitos, contras e contradições???
Como posso eu ser digna de ser uma senhora, quando o passado não pode ser apagado?

Como posso ser eu digna de oportunidades, quando oportunidades joguei ao lixo?
Como posso eu ser digna de ser feliz, quando não fui capaz de fazer alguns felizes?
Como? 
Quando poderei ser amada sem medos, necessidades de aval ou tabus?
Eu não sou nenhuma vadia, louca ou a maldade em pessoa! . . . Apenas mais uma pessoa que quer ser amada, sem medo de ser apanhada, como uma assassina criminosa, pelos autorizadores de quem julgo me amar! 



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