sábado, 16 de abril de 2011

Crónicas da Lavagem de Roupa Suja

Hoje apaguei os últimos vestígios orgânicos da tua existência física.
Já só algumas peiras tuas é que ainda diambulam pela casa a fugir da vassoura e da água com detergente. Assim é mais fácil limpar os teus restos e marcas, o ar fica mais respirável, apesar de que, é a ferida que tenho no coração que me inflama a traqueia.
Deves estar feliz e contente com o teu saldo . . . o da vida!!!
Vou fazer uma dissertação pública de mais uma lavagem de roupa suja, como tantas outras de fracos a lutar contra fortes e corações despedaçados, muitas lágrimas e outras novelas de faca e alguidar, como reza todas as odisseias de desfeitas afectivas e baixarias miseráveis.
Não! . . . Mudei de ideias, apetece-me apenas falar mal de ti, uma vez que é tradição assim ser, quando tudo acaba e o magoado se sente injustiçado.
Apetece-me falar mal de ti porque sim, porque acho que o devo fazer.
Sim, é por raiva de não ter sido o que devia ter sido, quando o devia ter sido. É bem provável que nada disto tivesse acontecido, se tivesse sido o que é suposto ser quando se tem que ser e se se quer evitar uma ecatombe.
Eu podia fazer o que a maioria dos magoados faz quando é magoado, procurar outros magoados e fazer de conta que nada se passa e que o amor é coisa de gente idealista e utópica, que isso não existe e que o amor romântico é coisa inventada no final do sec.XVIII, quando as mulheres começaram a viver as paixões e a ter filhos dos amantes, porque o casamento era comércio puro! . . . Afinal existiu!
Pois, mas não fiz!
Já tenho idade para ter juízo e ela não perdoa.
No que me cabe em culpas ainda não consegui perdoar-me. Por muito que eu leia sobre o assunto, ainda não percebi patavina, por isso deixo-me andar e massacrar-me de vez em quando, para manter-me consciente das minhas borradas.
Afinal não falei assim tão mal de ti, mantive algum respeito por mim, afinal eu também estava lá!
Ofender-te seria ofender-me e enxovalhar a minha pessoa. Não vou às partes sórdidas da coisa para não me expôr. Cavar um novo buraco é saltar de um para outro e não me parece justo para mim!
Poderia gritar um monte de coisas que nos levaram a onde chegámos, mas não me apetece, prefiro que fiques a imaginar o que poderia escrever sobre ti, sobre mim, sobre o ex-nós - que coitado, teve tão pouco tempo de vida, que nem tempo teve para se conhecer a si, a mim ou a ti . . . Agora é um filho de mãe e pai icógnito abandonado ao seu fim, mais um rebento que não teve a felicidade de germinar e dar mais vida à Vida!  

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