quinta-feira, 14 de março de 2013

Dia Após Dia

Sentados num degrau de uma entrada, emocionados e envoltos em si mesmos, tocam sons soltos e ritmados. A deixa é intuitiva, todos a sentem e todos a seguem. Fazem magia em uníssono.
De cabelos esgranhados, alguns de farrapos vestidos, nada sentem que não seja a deixa que os guia. A deixa deixa-se guiar pelos passos compassados, pelas pausas de quem escuta o que a deixa deixa e a melodia guia os passos que deslizam na melodia.
Passo a passo sente o tilintar de cada nota, cada harmonia e contraste, cada improviso e encontro. Olhares que cruzam-se ingenuamente, como quase que esperados e desejados.
Dia após dia, passo após passo, passa ela à mesma hora, mais segundo, menos minuto, mas ao seu encontro vai, em busca de tudo e nada buscando.
Dia após dia, passo após passo ela passa e ele escuta, ela escuta e ele toca, dia após dia . . .dia após dia . . . dia após dia . . .
A chuva os dista, o Sol os puxa, é a força da Natureza em força, em ação sobre os corpos, sobre a química inexplicada pela razão.
Passa um dia e outro dia passa, seguido de outro dia que passa quase sem graça, os cabelos esgranhados estranham a ausência dos passos, do compasso do seu ritmo. Hoje não choveu e tanto Sol apareceu. A dança do seu olhar despertou a atenção dos demais, a sua melodia saiu trocada, não seguiu a deixa. O seu olhar procurava a sua musa que diariamente o inspirava, diariamente o ligava à deixa. Desconcertado, meio abalado, corre atrás da deixa na esperança de ser guiado até à sua musa. 
Na sua pauta surgiu uma pausa. Pensou em si, sem sentir dó do que não passou por lá, porque em si e lá havia Sol, o Sol que a sua alma lhe dá, esteja ela perto de si ou esteja ela em qualquer lado de lá.
Não busca mais a deixa, não busca mais a musa, busca a sua essência, a verdadeira deixa e musa que só na sua alma está.

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