O dia misturava as nuvens com o Sol quente quando aparecia, deixando o seu rasto de luz quente que enche o peito e a alma.
Estavas no meio da procura do local a que te dirigires e eu vi-te cá do alto onde tudo se vê e tudo é visto.
Apareceste atrás da distância e da frieza formal de quem vai ao encontro do concreto e não outra coisa que isso mesmo. Misturaste-te no público discreto e aparente, como convém, e fizeste o teu papel.
Deixaste o espaço ao ar livre e caminhaste circunspecto para o interior da sala.
Entrei e sentei-me sem saber, ou perceber, que tinhas percepcionado espaço onde eu estava. Foste realmente discreto.
Mostraste-te interessado no que ouvias e entre a descontração do momento, esboçaste um sorriso inesperado na minha direção, como quem procura alguma cumplicidade. Não correspondi, não esperava.
Fiquei atenta para me redimir da minha indiferença e fiz-lo devolvendo no momento predestinado o mesmo sorriso de cumplicidade.
Pouco depois levantaste-te e eu segui-te, o dever assim me obrigava. Estavas com pressa, outras prioridades ou obrigações te chamavam. Deste-me o cartão para quem de direito te contactar e desapareceste como apareceste.
Consegui ler-te alegria e tristeza, porque transportas contigo a dor da tristeza e a alegria da esperança.Vi-te doce, sensível, frágil e todo o seu oposto, tens devaneios criativos, animalidade e muita intensidade.
Fiquei com medo e com vontade de um animal marinho que vê um brilho no fundo do mar, curioso e receoso.
Descobri-te sem poder dizer que te descobri, mas descobri-te.
És o que sei que és, mas deixo-te manter misterioso, porque não vi tudo . . . ainda há mistério e é assim que me puxas e me mantens desperta . . .
Como em tudo, a seu tempo os mistérios se revelam e eu estarei aqui para me maravilhar com as descobertas esperadas e inesperadas.
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