segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Um Domingo Eleitoral Qualquer

Era dia das obrigações eleitorais, ou direito que não se distingue da obrigação, debaixo de uma ditadura dissimulada de pseudo-democracia, porque até a palavra democracia soa a vazio na boca de gente indigna dos cargos que ocupa e conspurca-se no meio de tanta censura mascarada de liberdade.
Saí de casa disposta a votar, mesmo que com pouca ou quase nenhuma vontade de votar. Entrei no edifício e alguém, jovem badanlhito, acompanhado por um exemplar do sexo oposto, teceu tão admirável e inútil comentário "10€ . . ." o dejetozinho nem olhos na cara tinha para ver que valho mesmo muito mais, até porque, as despesas com a minha existência são bem maiores que isso!
Levantei, entre os meus dedos, o mini chapéu de chuva que faria inveja a muito macho gajo, que nem nos seus melhores dias envergaria tal imponência, na esperança que este escroquinho compreendesse o que lhe falta . . . não eram apenas uns danoninhos . . . mas o que está debaixo do penduricalho que está entre as suas andas. 
No local onde todo o cidadão dita o destino dos senhores políticos, a pressão é sentida como que tivesse uma metralhadora apontada à cabeça, caso se dê um passo ao lado. Os modos com que se fala com os eleitores são de uma arrogância como não há história, como que fossem donos do mundo e nos tivessem a fazer um favor. Não fui eu quem lhes pediu para deixarem de estar na ronha o domingo inteiro e estarem ali a gramar o frete, o dia inteiro!
Eu ainda por cima estava a tentar contribuir para a redução da abstenção neste país, lembrando que muitos não votam, porque tiveram que emigrar, outros imigraram e alguns as migrações por estas razões sai-lhes caras aos bolsos, já para não falar dos que descobriram que votam em grupos económicos mascarados e não em representantes do povo!
Desfiz-me em desculpas por não ter o documento certo e sim um que o substituísse, mesmo que o que eu tenha apresentado mostrasse que me preocupo em andar identificada!
Que trombas de despotismo!!!
Deram-me três papelinhos aos quais, pomposamente, dão o nome de boletim de voto e fiquei a olhar por alguns segundos. Subitamente o tempo parou, fiquei a olhar, feita parva, para todos os candidatos e não consegui ver lá nenhum, não vi nada! 
"Mas . . . Será possível??? 
Mas como é que é possível ver tantos arabescos e não ver pessoas que se candidatam a representar outras tantas para, ao menos, tentar resolver alguma coisa em prol de todos os que vivem neste país???
Bolas, todas estas siglas dependem de quem nem era suposto depender!
Não faz nenhum sentido lógico credível!".
Para minha grande admiração o(s) verdadeiro(s) candidato(s) não estava(m) lá, para minha grande tristeza e decepção. Seria por falta de espaço nos papelinhos? Peço desculpa, boletins. Simplesmente a pessoa ou as pessoas mais importantes não se encontravam nestes boletins, AS PESSOAS QUE REPRESENTAM CONSCIENTEMENTE O POVO E QUE QUEREM MELHORAR AS CONDIÇÕES DE VIDA NO PAÍS e não apenas partidários. Muito provavelmente ainda não desceu à Terra para dizer "BASTA!!!" de tanta hipocrisia!
Não tive outra hipótese. A caneta ganhou vida própria e decidiu por mim. Quando dei por mim, tinha satisfeito a sua vontade. Ela empinou-se com a sua ponta cheia de tinta e jactanciosamente dirigiu-se, desfilando o seu corpo longilíneo, desde o canto inferior esquerdo até ao canto superior direito. Fez este percurso no primeiro papelinho, no segundo e terceiro e mais houvesse.
As minhas mãos cooperantes desligaram-se do comando e dobraram os ditos e chamados boletins e lá foram enterrados na urna repleta de escuridão, assim como o mundo os senhores que decidem o destino deste país.
Saí de cabeça erguida, sorriso nos lábios, feliz e contente por ter tido a coragem de ser verdadeira comigo e com o mundo, sem réstia ou sombra de hipocrisia, consciente do meu ato e feliz. Senti o sabor de quem é verdadeiramente livre, secreta, mas verdadeiramente livre de dogmas, formas, formatos ou formatações convenientes, sem medo de dizer a verdade a mim mesma, livre de todos os sistemas, livre de toda a podridão coberta de cartazes, bandeirolas e pandeiretas. Dentro de mim mandei-os todos para onde deviam ir, caso não fossem por eles mesmos.
Quis Deus que eu votasse na minha consciência . . . pena não haver espaço no boletim!
A urna onde eu verdadeiramente votaria seria transparente, votariam-se verdadeiras necessidades e as suas prioridades, não caras ou interesses económicos. Votariam-se em caminhos e não em abismos ou canibalismo. Votaria-se não em promessas, mas em novas ou melhores ideias concretas e exequíveis. 
Quis Deus que eu fosse verdadeira comigo, com a minha consciência, com o mundo, votar no que é realmente sagrado e verdadeiro, mas infelizmente, disso nada estava lá.


Sem comentários:

Enviar um comentário