Brindei da tua
presença enquanto te tinha, enquanto te usava para minha satisfação, do meu
desejo mais profundo, na minha fantasia. Eras o deus mais desejado que o meu
corpo clamava. Deixaste-me à porta do teu desejo como se nada fosse importante.
Deixaste que eu fantasiasse sobre ti, sobre a minha e a tua boca, sobre o meu e
o teu desejo, sobre os teus dedos entrelaçados nos meus e as línguas a se
tocarem ingenuamente como se fosse tudo a primeira vez.
Tem
sido uma constante prova do meu amor físico pelo teu físico, ou psíquico ou
pura físico-química. A vontade de te abraçar . . . deixa-me, ah . . . como me deixa . . .
Deixa-me
de todo e incompleto desassossego, inovação linguística inacabada. A prova oral
da tua conversa, das tuas palavras escritas, não ditas, deixa-me loucamente
ensandecida pela provocação não linguajada, não dita de uma forma direta e
eloquente, mas o que sei é como te quero e como ainda sentes a minha falta.
Deixa-me dizer que tudo muda a partir do meu primeiro toque na tua pele, na tua
boca . . . oh, a tua boca, o meu deleite de sempre que guardo, com saudade e
trago comigo guardado, secretamente, para que ninguém veja o quanto ainda te
quero e desejo.
É
meu, é sagrado e selado entre mim e ti. É meu e guardado fica enquanto vivos
vivemos, enquanto em segredo nos queremos como dois adolescentes perdidos de
paixão, como duas gaivotas que rodopiam uma sobre a outra e a outra sobre uma.
Rodopia-me, não me deixes viver com ilusões. Dá-me de volta o meu desejo por ti
e não o escondas de mim. Sente, sente o meu desejo por ti e nem sequer te
esqueças que sempre existi em ti.
Devora-me
como sempre na tua mente me devoraste, como sempre assim desejaste e nada
revelaste, mas devora-me.
Despe-te,
mas despe-te de mim para me vestires novamente, em ti, dentro de ti, como se
estivesses dentro de mim.
Envolve-me,
como me desejaste no teu imaginário pérfido e miserável de adolescente na
decadência snob crescido. Despe-te de mim e volta a vestir-te com a minha pele,
com o meu cheiro a impregnar-te do meu odor que invadiu os teus poros quando
menos tu querias.
Empurras-me
com a tua mão que está e sai através desse teu muro de hipocrisia.
Escondes
a tua lasciva vontade por detrás de um muro translúcido que me confunde, se eu
distraída não olhar bem e nele penetrar.
Despe-te
de mim para me voltares a vestir como a tua segunda pele, aquela que está
debaixo da outra que contacta com o mundo, mas despe-te e veste-me novamente.
Despe-te
de tudo o que escondes e mostra-te a mim, mostra-te tal como és, a tua mente o
teu espírito, mas mostra-te. Quero ver-te mais de perto e tocar na tua
sensibilidade, estremecer-te, desafinar-te e expor-te ao teu ridículo.
De
pé empurras a minha boca para o teu sexo, o mais sagrado de todos, o que nunca
provei, o que nunca toquei o que nunca muito pouco desejei.
Queres
ser o dominador comum, o mais que tudo o que é poderoso para te sentires
realizado, mas manténs a tua capa de Zorro; escondes um pouco de rosto vermelho
desejo atrás de inocentes palavras que não pesam no passado.
Quão
dissimulada ansiedade e desejo, quão manipulada imagem de senhor respeitável e
intocável, quase impenetrável. Como se constrói tão bem tamanha imensidão e
distância, porém, dissimulada e falsa. Fácil.
Vives
da aparência dentro de ti semeada, dentro de ti enraizada e quase à descarada, .
. . mas “mui delicado e educadas são as providências por vós tomadas.
Mui
belo sois senhor, em vossa sabedoria sobre os mais belos encantos de fidalgo
enaltecido pelas honras e honrarias plebeias. Sou de fidalguias passadas, de
outroras esquecidos no seu tempo, senhor. Já não vos lembreis do desejo não
partilhado que possuístes em horas passadas? Lembrai-vos agora, senhor, ah . .
. o quão belo foi o momento que partilhámos juntos nas nossas caminhadas de mão
inocentemente dadas . . .”.
É
assim que deveria tratar sua alteza?
Ou
seria da forma mais infame e flamejante, onde as labaredas expelidas dos nossos
corpos incendeiam os segredos passados, com o descontrolo do momento, onde nada
para além do meu e do teu corpo existe.
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