Coisas da Vida - Versão a Sério
sexta-feira, 14 de julho de 2017
Dentes brancos, alma negra
terça-feira, 16 de maio de 2017
Morri, mas acho que tenho várias vidas
Morri e fui para o limbo à espera que me levem. Morri várias vezes a nada me dizem sobre quantas mais vou ter que morrer. Custa-me muito estar vivo. Não sei mais o que é estar vivo ou o que é estar morto. Só sei que me farto de morrer e disto não passo. Já pensei que seria gato, mas que no meu caso Deus enganou-se e deu-me várias vidas, como nos jogos de computador em que nunca se perde, porque se conhece um bacano que sabe umas passwords e altera o número de vidas e a malta passa os níveis todos numa acentada; mas no meu caso deve ser o chamado mau feitio que me manda de trambolhão para o meio dos mortos ora para o meio dos vivos!
No meu caso eu já pouco sinto . . . Ora me sinto vivo, ora me sinto morto, mas o estado não difere muito de um para o outro . . . São as tais vidas infinitas que o bacano me deu. Ora vivo na vida ora vagueio no meio da morte!
Não tem muita piada, eu sei, mas o que hei eu de fazer nos entretantos?
Vivo?
Morro?
Se vivo, morro, se morro, mandam-me ir viver!
Decidam-se, mas andar nestas andanças já enjoa!
Bolas! Mandem-me para sítio onde eu possa viver em paz ou estar morto em paz, mas deixem-me em paz!
Não passo de um morto às vezes vivo ou um vivo às vezes morto. Às vezes apetece-me morrer, outras apetece-me fugir do mundo dos mortos, mas não me meter com os vivos; alguns não fazem bem nem no mundo dos vivos nem mortos. É este meu eterno dilema sem solução conhecida pelos vivos ou pelos mortos. É a plenitude da insatisfação permanente.
Não sei se viva ou se morra ou se queira continuar neste morrer e viver sem vontade de estar seja numm estado ou no outro!
Não sei o que quer que seja que possa resolver este meu dilema de morto e vivo sem estar morto ou sem estar vivo.
sábado, 23 de janeiro de 2016
Começos . . .
sexta-feira, 22 de maio de 2015
Quanto tempo leva . . .?
Quanto tempo leva o amor a crescer?
Quanto tempo leva o amor a se render?
Quanto tempo leva o amor a florescer?
Quanto tempo leva o amor a se envolver?
Quanto tempo leva tudo a remexer?
Quanto tempo leva o tempo a desenvolver?
Quanto tempo leva tudo a se reabsorver?
Quanto tempo leva o tempo a perceber?
Quanto tempo leva o desejo a remoer?
Quanto tempo leva o desejo a perceber?
Quanto tempo leva o desejo a aprender?
Quanto tempo leva o abraço a envolver?
Quanto tempo leva o retorno a acontecer?
Quanto tempo levamos nós a perceber?
terça-feira, 28 de abril de 2015
Falcão Decrépito
Tem olhos de falcão, mas as garras estão velhas, as penas estão gastas, o faro é de vampiro mas a batalha está perdida. Luta com o tom gutural para que a presa se aproxime, mas é decadente a sua prosódia, está destruída porque o seu tempo de falcão é de outra era e nada tem a ver com esta era e estação do ano.
O falcão está e é decadente, não tem brilho nem vergonha só porque é falcão, mas não percebe que já está perdida a sua guerra e todas as suas batalhas. Devia encher-se de vergonha e retirar-se do campo de batalha onde um dia será morto pela sua impertinência, pela sua falta de consciência, mas insiste em, como tem as armas de um falcão novo, mas até as presas mais distraídas se apercebem da sua presença pérfida e enfadonha.
Quando se é um falcão novo e viçoso tem-se brilho, tem-se uma força natural e nada que se meta pela frente é obstáculo, porque quem brilha com tal luminosidade até as estrelas do céu atrai, mas quando o tempo passa e se chega ao momento de retirada passa-se a ser pedra num sapato novo que se quer deitar fora para que que a caminhada seja mais confortável, já que até o sapato novo pode causar bolhas nos pés, assim o falcão decadente deve retirar-se do caminho de quem ainda tem a vida pela frente.
Cheira mal o falcão desmascarado, olha com cobiça e resmunga como se tivesse o direito de se colocar em algum trono de imperador ou realeza fidedigna.
Mete repugna e não se repugna da sua ausência de sobriedade, é patético e caquético o mal amanhado, andarilho sem trilho tentando importunar quem pretende distância de tal gosma.
As presas pequeninas são as mais fáceis de apanhar porque não distinguem bem as penas dos varões e dos decrépitos.
Apenas algumas presas se deixam aproximar porque elas próprias são presas de si mesmas, mais vale assim que nada ou pior . . . Que triste é a vida de quem não quer ver a realidade das penas decrepitas como se ainda fossem alguma coisa de deslumbrante, que pena, mas quem se contenta com isto não quer ver a realidade miserável em que se tornou o falcão cuja época de caça já passou há já muito e agora que se contente com o que tem porque sorte tem ainda por parte de presas que são presas delas mesmas.
sexta-feira, 24 de abril de 2015
Já não basta . . .
Já não é suficiente que se ouça o que se quer ouvir, não basta ter queda para o que não alcança ou nem se quer alcançar, já não basta nada do que bastava antes de alguma coisa.
Antes de o ser já estão as cartas todas na mesa, o jogo está todo visto numa unilateralidade que assusta e nem se quer se quer ser tentado, porque já está tudo visto. A cada passada que dá é uma carta da mesa que se vira e que se mostra sem querer mostrar.
A essência envolve a substância e as regras do jogo invertem-se. É como se tudo o que se é fosse o que cobre tudo o que se quer mostrar. As peças do jogo estão translúcidas e de fora dá para ver o que está dentro como se mais nada houvesse que cobrisse. Mas a carne é fraca e deseja o fruto proibido como como Eva à maçã, mas desta vez apenas é a Eva que come a maçã e deixa o Adão pensar que sabe alguma coisa do mundo dos sentidos.
Já não basta a idade que confere sabedoria, já não basta a experiência de vida que sabe estremecer estruturas mais sólidas, já não basta a sabedoria que confere à idade.
O mundo do invisível abre-se ao mundo do visível, mesmo que não o queira, e qualquer tentativa de ilusão fica desiludida pela sua perda de poder, mas a carne é fraca . . . mas tão pouco fraca que fica desiludida a cada página que vai desfolhando do segredo mais profundo da vida das ilusões cativantes.
Já não basta ser esperto, é preciso ser-se inteligente e não subestimar o inimigo que lá terá as suas qualidades mesmo que o que tenha mais peso seja o vazio do narciso que se afundou por tanto venerar a sua própria beleza, a animalidade do predador que controla a sua presa com aparência de indiferença como se o mundo lhe pertencesse e qualquer outro animal na sua presença fosse ou mais um troféu ou mais uma pressa fácil. Mas subestima o predador a sua presa. Não sabe que a arte da sabedoria pode chegar mais cedo ou mais tarde a qualquer um!
Já não basta ser belo, ter o charme que desfila sobre o chão polido com passadas peso pluma para não afugentar as presas. Já não basta ser quem é em si mesmo um animal felino, um predador sanguinário que como o vampiro a sua presença é doentiamente apetecível, a sua aparente humanidade quase perfeita . . .
Já não basta . . .
segunda-feira, 30 de março de 2015
Verniz
O verniz só serve para embelezar, disfarçar, em alguns casos dá realce, mas nunca passa disso, verniz . . .
E se ninguém usasse verniz, o que é que se veria?
Qual seria o cheiro?
Será que se poderia tocar?
Será que se quereria tocar ou aproximar?
Não, é a resposta a todas as respostas, mas e será que queremos viver sem verniz?
"Tem que se relativizar as coisas", diz a sapiência de quem já viveu esta vida. Pois assim se faça e se silencie o que deve ser resolvido e que se deixe o verniz brilhar, mesmo que os contornes das coisas sejam meio estranhos, feios e que não se perceba bem como é que se conseguiu que o verniz chegasse a tais locais tão obscuros que nem os raios de Sol alcançam. Mas o verniz tem essa capacidade, de chegar a onde menos se espera.
A nossa imperfeição tem essa arte, a de fazer chegar o verniz ao mais profundo formato de imperfeição, não importando se são espinhos, se são veredas, se são as vestes que escondem a realidade não desejada, se é o pensamento que sai da boca com o polimento mais desejado.
Na verdade digo, é mesmo isto que o mundo pede sem o querer. Na minha terra pode chamar-se psicose, ou neurose, ou surto ou fortaleza, ou algo pior: Hipocrisia.
Não, não é necessário expor os podres, mas sim resolvê-los quem os quer ver resolvidos, para não ter que usar tanto verniz para que se mantenham os podres.
Não sei o que dá mais trabalho, resolver os podres ou se manter o verniz sem o estalar.
Mas e se o verniz estala?
E se as coisas começam a libertar o cheiro?
Ou será que toda a gente vê que o brilho é artificial e como faz parte do sistema assim se mantém para que não haja confrontos com a realidade?
Quanto mais não vale uma fantasia em relação ao verniz, sabendo que é apenas uma fantasia com consciência e alguma vontade escondida que essa fantasia se realizasse?
Ao menos a fantasia não é algo que esteja à vista de toda a gente, apenas aos olhos de quem secretamente a tem, mesmo que essa fantasia seja impossível aos nossos olhos é a realidade que olhamos para sarar a ferida sem ter que recorrer a verniz.
Há fantasias que se tornam realidade enquanto que outras não, porque não se coadunam com a realidade, porque o sentido que fazem é absolutamente nenhum seja aos nossos olhos ou mesmo aos de Deus, mesmo que desconheçamos os desígnios de Deus.
Aos meus olhos o verniz serve apenas para superfícies materiais tais como as unhas, chão e coisas assim.
A vida carregada de verniz, um dia estala e eu não quero fazer parte nem desse verniz nem do que está debaixo desse verniz!