terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Esperas por mim?

Olha . . . esperas por mim?
Estás a ouvir?
Ouviste o que te disse?
Sim, estou a falar contigo!
- Queres que espere por ti?
Posso esperar por ti?
De certeza?
Estás a ouvir-me?
Hei!!! Ó tu . . . tu daí!!!
Ouviste o que te disse?
Porque é que não em respondes?
- Não me estás mesmo a ouvir . . . que pena . . .
De qualquer forma pergunto-te, pode ser que te esforces para ouvir. Posso conhecer-te melhor na volta?
Gostava de conhecer, realmente, mas apenas à minha volta da volta ao mundo. Acho que ainda e faltam peças e agora não te consigo perceber, não sei que peças te faltam, mas vejo-te com falta de muitas peças, não encaixas em nada que daqui venha ou haja.
Bem, as que tens também são muito pequeninas e tenho dificuldade em percebê-las a esta distância.
- Mas . . . Peças?!?
O que queres dizer com isso??
Não sou perfeito!
Eu queria dizer- te que . . . Posso ao menos contar com a tua vontade quando daqui a algum tempo eu tiver coragem?
Acho que tenho medo, mesmo que tenha curiosidade, tenho medo e não posso, eu não sou capaz . . .
Não é isso que quero . . . É outra coisa, nada de especial, a outra coisa é demasiado pesada e eu não entendo nada disso.
Porque é que fazes essas coisas?
Eu não te entendo, não te percebo. Fazes coisas estranhas, coisas esquisitas, pareces um bocado estranha, não te entendo, mas pronto, ok, és estranha. Não entendo.
- Estás a falar de alguma coisa?
Queres dizer-me alguma coisa?
Eu não vejo os teus lábios a mexer, apenas te vejo aí parado com olhar ora fixo ora esquivo, não te estou a perceber. Faltam-te peças e eu não consigo conversar contigo sem essas peças. Mas queres dizer alguma coisa?
Tens alguma coisa para dizer?
Se tens, vais ter que esperar!
Olho para ti e só vejo parte e com apenas parte não me entendo, é demasiado vazio, preciso de te encontrar mais peças para me entender contigo.
- Eu não consigo perceber o que não entendes, mas não existe falta de peças!
Estás a falar do quê?
Do que é que estás a falar?
- O quê?
Estás a dizer alguma coisa?
Estás a querer dizer alguma coisa ou simplesmente está a fazer mais do mesmo?
Não há nada para dizeres?
O que é que tens que eu possa considerar um ponto de interesse, um ponto em que haja uma faísca?
Tens alguma coisa que eu possa achar interessante?
O quê, bebes uns copos e dizes disparates aos teus amigos para eles se rirem? É isso? É só isso que esperas da vida?
Ok, são demasiadas perguntas e não estás habituado.
- Mas o que é que queres?
Estás à espera do quê?
O que é que achas que eu sou?
Ou, o que é que pensavas que eu era?
Eu sou só isto, mais nada!
- Pena . . .
Enfim, coisas da vida. Com mais peças aí dentro e realmente seria mais difícil dar a volta ao mundo . . . Se calhar é melhor assim . . . ainda bem que é assim. Assim, vou dar a volta ao mundo e conhecer o mundo e ver os diferentes mundos do mundo. Vou enriquecer-me no que me falta.
- Onde vais?
Oi!!!
Espera!!!
Ainda não me mostraste o que estás desejosa de me mostrar!
Sim nas últimas vezes foi um bocado mau . . . é verdade, não correu lá muito bem, ok . . .
Mas espera!!!
Onde é que vais?
Eu também ainda não acabei . . . Espera!
Vais para onde? Tens a certeza que ainda estás aqui?
O que é que me querias dizer realmente?
Achas que realmente pretendes alguma coisa ou sou um brinquedo, ou mais um brinquedo, como fizeste com todos os outros a quem prometias um lugar no paraíso, sem ao menos teres dado a provar um pouco do que aludias?
Eu não te posso ver ou mostrar que te quero ver, é proibido ver-te, não posso . . . eles não me deixam e eu não posso ir contra a vontade deles, eles é que sabem, mesmo que eu também queira. Preciso que eles me deixem. Eu tenho que não mostrar, não quero que eles fiquem chateados comigo, ou então nunca mais falam comigo e vão gozar comigo.
- Ya . . . é isso!
Estás a ver o que ainda te falta?
Tu ainda não és nada, ainda és demasiado verde, imaturo, dependente da aprovação dos outros, vazio, não sabes o que é estares contigo, não percebes o que é ter preenchido o que te falta, mas compreendo, ainda é muito cedo, ainda és apenas um invólucro e os invólucros são enganadores. O teu invólucro exterior desenvolveu-se de uma forma muito agradável aos sentidos assediáveis pelas tentações da carne e captou a minha atenção, mas ainda te falta tanto . . .
Se não deres os passos no caminho errado tornar-te-ás um perigo para mim, o meu maior medo de voltar das minhas voltas ao mundo, porque a carne e as tuas feromonas são demasiado poderosas, mesmo antes de te tornares um perigo.
- Gostas, é?
- Apenas do que os meus receptores captaram . . . mas é mesmo apenas animal, magnetismo pelo que ainda não existe, pelo que ainda não está no sítio certo, mas farejei-te, chegaste ao meu centro do maior prazer, ativaste parte dos meus sentidos físicos com o que tinhas para mostrar, mas parte é realmente mesmo muito pouco . . .
- Ok, olha, paciência, mas eu também não vejo muito mais dessa banda. Estás a julgar-te muito, mas também te apanhei, não és melhor que eu!
Também ainda tens uma menina dentro de ti. Ainda és!
Para quê estares a armar-te em superior?
Já te olhaste bem ao espelho?
Achas-te superior, mas pus-te as pernas a tremer, parecias uma adolescente parvinha. Pensas que eu não vi?
Estás a tentar convencer-te de que tens mais peças, ou lá que raio, para não teres vergonha de olhar ao espelho e veres que, na realidade, a cara que vês refletida no espelho não passa de uma gaja louca e descontrolada, sem freio. Toma tino!
Ao que sei, já devias ter mais juízo . . . Não me censures!
- Obrigado, fizeste o que eu precisava . . . que me fizessem . . . dói ouvir . . . mas talvez tenhas razão . . . as verdades são para ser ouvidas, mesmo que venham de quem ou de onde menos se espera . . .
Obrigado.
Já posso partir descansada. Vou procurar também a minha parte ou partes que também ainda me falta, aliás, já o tinha dito, não foi?
- Pois . . . parece que disseste qualquer coisa assim . . .
- Ficamos assim, então . . .
- Ya . . .
- Ya?
- Sim . . . Ya . . .
- Então, fiquemos assim . . .
- Ya . . . assim seja então. . .

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Pah . . . arranjem vida própria!!!

Gostava de saber o que é ser-se interessante, ou pelo que se é interessante; aquele tipo de pessoas que toda a gente admira, que toda a gente acha o máximo, aquele tipo de gente que cospe para o chão e todos aplaudem como um pirata no seu navio de piratas.
Ya . . . é isso!
Como o Pirata das Caraíbas, com as vestes do Depp, mas a cheirar bem, de preferência . . . e com dentes em melhor estado!
É isso, quero ser um pirata, vagabundo, mas com estilo, saqueador dos mares e dos mais indefesos, um pirata estilo giro, charmoso que saca tudo em troca de um beijo, ou outras coisas mais pudibundas, mas apenas um beijo ou apenas uma pudibuncice de raspão para deixar as donzelas perdidas de tesão, loucas,  languidas . . .
É isso, vou ser um pirata, cheio de tusa por onde eu passe, deixando um rasto a devassa bem perfumada, com o meu enlevo vistoso e imponente ou paraíso da diversão . . .
Qui sa?!
Assim como assim, posso ser um porco javardo, mas divertido e desejado que dará horas e horas de conversa às alcoviteiras desprezadas pelos maridos que já não as aturam, nem as procuram . . .
- Que horror!!!
Não tinhas nada mais interessante e decente para escrever?
Ai mulher  . . . que horror!!!
Não me vais dar o desgosto de dizer que gostas de mulheres!!!
- E se gostasse? SO WHAT?
Já pensei nisso, não muito, mas sei lá, porque não? Qual é o drama?
Diga-se de passagem que há por aí gajas que . . . enfim, enfim . . .
Olha as vantagens, tinha buracos e paus naturais ou artificiais, dedos, línguas e tudo mais que me desse na cabeça, gajo ou gaja . . . Podes fazer festas multi-culturais interessantes e aprender novas línguas . . .
- Não estás a falar a sério!
- Pah, o que é que queres que te diga?
Já viste o quanto que te daria para falar?
E o que eu me divertiria quando tivesses curiosidade se tenho alguém?
Passava-te logo a vontade de andares a coscuvilhar a minha vida, não passava?
Eu não pagava para ver, mas confesso que me divertiria a muitos níveis . . . divertiria com a vossa vontade frustrada de saber sobre as coisas sórdidas que se passariam na minha cama, divertir-me-ia com o facto de saber que não quererem saber o que faria com as gajas e os ai's que das nossas gargantas sairiam e quantas vezes se ouvia de cada vez . . .
Já viste? Era divertido a triplicar!
E as festas . . . ménages . . . ui! . . . mas com muita classe!
Já vos estou a imaginar:
"Ela sempre foi assim toda assanhada! Ela só falava em sexo!
- Eu não sei onde é que ela está com a cabeça . . .
- Devem ser as influências de alguma dessas amigas dela . . . ela nunca mais falou de ninguém!
Ela não contava nada de ninguém, mas eu desconfiava . . . para ela andar tão bem disposta Humm. . . tinha que haver gajo, mas gajas?! . . . Nunca pensei!
Era demais, parecia que não sabia falar de outra coisa!!!
Já devia andar nessas confusões e não contava nada a ninguém!
- Cá para mim ela andou a esconder de toda a gente e agora saiu do armário, não é o que dizem os psicólogos?
- Ai, valha-me Deus . . . até me custa a acreditar!
Ela sempre foi assim, toda para a frentex, mas daí a virar fufa!?!?!? . . . eu nem lhe vou perguntar nada, ela se quiser que conte!!!!
Sei lá o que lhe vai sair da boca!
É melhor nem perguntar!!!
- Ela não está boa de cabeça, mas sempre teve assim uma quedazinha!
- Nunca foi!
- Eu não vou perguntar nada sobre ela!
- Ai! . . . eu não sei o que faria se uma filha minha virasse fufa!".
Tão bom!!!
Olha, até já estou a ver a tua expressão de nojo a ouvires as minhas perversões entre pernas . . .
Que descanso seria a minha vida!
Olha, lindo lindo era depois de algum tempo eu vir a dizer que era tudo treta e vocês já nem acreditariam em nada, porque já não sabiam o que era verdade ou mentira!
Olha o que eu me divertiria a valer a baralhar-vos a cabeça!
- Mas nós só perguntamos para saber de ti, como estás, gostamos de ti, por isso queremos saber de ti.
- Boa! Ótimo!
Olha querem saber de mim?
Ok. Então é assim, para além de equacionar virar fufa e pirata, preciso de 500.000€, dão-me?
Pah, é de aproveitar! . . . Então são minhas amigas ou não são?
Aproveitem agora enquanto preciso! Vocês não são tão boas pessoas? Não gostam tanto de ajudar o próximo? Não querem ganhar o Céu?
Se eu ainda estiver em boa conta com São Pedro ainda meto uma cunha para vocês. É só mandar um sms . . . pode ser que vos arranje uma mansão para cada uma de vocês no vale do Paraíso ou à beira mar e enquanto ainda por cá andarem podem andar a falar durante 2 meses da minha grande lata e falta de vergonha! . . . apesar de não estar a roubar! . . . estou só a cravar, é diferente!
A dividir por todas vocês dá meia dúzia de trocos a cada uma!
Pah, ainda vos conto os pormenores das aventuras com os gajos, o que é que querem mais?
 . . . que pelos meus cálculos, são 15 dias de conversa incansável e interminável, mas mais que isso tenham a santa paciência . . .
- Porque é que estás a ser assim?
Ninguém te está a fazer mal ou a querer meter na tua vida!
- Bem . . . eu desisto!
- Nunca mais te pergunto nada!
- Aprofundadamente, não.
Fiquem tranquilas que quando quiser partilhar alguma coisa da minha vida, pedir concelhos sábios, querer que controlem a minha vida, seja a que nível for, quando quiser ser julgada pelo meu comportamento e dar aso a vai vem de conversas durante várias semanas, podem estar descansadas que são as primeiras a saber e com detalhes!
- Mas nós por acaso fizemos-te algum mal?
- Sim . . . vocês existem!
Façam o grande favor a vocês mesmas: pah . . . arranjem vida própria!!!





domingo, 15 de dezembro de 2013

. . . Mas ainda és um passarinho!

Apareceste vindo de não se sabe onde, como que numa redoma de vidro, inalcançável, impenetrável e estavas longe de parecer gente. A tua envergadura conferia-te um destacamento enigmático, como se toda a gente se devesse vergar à tua passagem, a nítida Auto-intitulação de Deus, o Todo poderoso, à prova de tudo e de todos.
Como a vida te enganou . . . Ainda não vês o grupo de abutres que te chamam, te querem para satisfação das suas pérfidas necessidades que ignorantemente alimentas.
Ainda tens asas e ainda podes voar, ainda estás a tempo, porque podes escolher, ainda podes abrir os olhos e escolher em consciência, mas isso ainda é demasiado pesado para ti, não é?
Sabes o que são abutres?
Gostas das penas dos abutres?
Mas sabes que as penas das águias são mais lustrosas e destacam-se mais!
Sabes do que eles se alimentam?
Gostas do sabor do putrefacto ou recente moribundo?
Ou nunca conheceste o verdadeiro sabor das coisas?
Ainda não mudaste para as penas definitivas, cuidado, ainda não sabes que pássaro és e muito menos em que mundo vives.
Tens o encanto dos jovens aprendizes, a traquinice de quem a vida ainda lhe providencia tudo, sem necessidade de mexer um dedo para que as suas necessidades sejam satisfeitas. A vida ainda é branda contigo e fá-lo para que possas aprender o máximo com o mínimo de mácula, mas só tu ainda não viste isso. A vida ainda está a brincar com a tua vida, porque ainda és um menino, mas cuidado, a vida é matreira e sabe mais que tu!
Sabes que até as águias mais experientes têm dificuldades e são bem mais poderosos que os abutres, mas ainda estás a tempo de perceber se queres transformar-te numa águia ou num abutre.
Os passarinhos que querem ir mais além não se querem misturar com abutres e tu ainda és um passarinho tonto, que se ilude com a arrogância e teimosia de quem se acha grande sabedor do que, na realidade, desconhece em todos os seus ângulos reais; falta-te tanto dentro de ti, ainda estás tão verde, apesar de teres o melhor que a vida nos dá de graça . . . a frescura da juventude!
Os abutres são encantadores animais, no que seja possível encontrar de encantador, quando não conhecemos os verdadeiros e majestosos pássaros dos céus!
Sabes que se te ferires serás a vítima perfeita de quem segues, a sua carne predileta. O cheiro do teu sangue enlouquece-os, transformando-os em impiedosos vampiros. Os abutres não conhecem ou reconhecem amigos, conhecidos, passarinhos . . . e olha que ainda és passarinho.  
Porque queres perder o teu encanto por tão pouco ou simplesmente perdê-lo?
Achas-te eterno e que a vida nada pode fazer contra ti?
Cuidado, podes afogar-te na tua própria imagem . . . Cuidado.
Sabes, não sei muito, também eu ainda estou a crescer e não é fácil crescer, ainda eu tenho dúvidas e incertezas, também eu ainda faço muitas perguntas sem resposta, mas esta é a minha opção, querer continuar a crescer, continuar a aprender, mesmo que a vida nos obrigue ao desprendimento . . . e o que custa o desprendimento . . . mas como te disse, foi a minha escolha, faz tudo parte de um processo e é assim que a vida funciona, é tudo parte de um processo, mesmo que possas escolher o que quer que seja, para teu bem ou para teu mal.
Não sei se estas palavras alguma vez chegarão a ti através de mim, mas o que é certo é que elas chegarão a ti, isso é um facto inevitável, mesmo que o seu caminho não seja o mais direto.
Estás na mesma e não sabes do que falo, mas sabes, aqui quem é Deus sou eu, as palavras são minhas obreiras e eu apenas as acordo, devolvendo-lhes a vontade de a ti chegar. Elas há muito aguardavam sair do seu pouso para fazerem o sabem fazer no seu melhor, assim como saberão quando deverão chegar a ti e mesmo que o tempo demore a sua chegada, sabem o efeito que terão em ti e aí terei cumprido parte da minha missão.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Não é preciso muito para me deixar ir no caminho de todos os caminhos

Não é preciso muito, apenas o suficiente para me fazer voar, largar tudo para trás das costas e seguir em frente, ou mesmo de pés no chão, descalça ou não.
Não é preciso muito para eu deixar tudo para trás, como se tudo fosse apenas o que está para lá da minha frente, para lá do horizonte que sigo com fé cega, surda e muda ao que atrás deixo.
Não é preciso muito, basta eu querer e tudo já terá passado, terá sido esquecido, enquanto eu deixar que seja esquecido.
Tudo o que me basta está para lá da minha frente, brilha com um brilho tal e tão brilhante que o Sol é uma mancha branca reluzente em meia lua sobre o horizonte. Não é manhã, não é tarde, nem é meio dia, é apenas a mancha em forma de meia lua que ocupa o pôr do Sol, é apenas a mancha que me ilumina e não me encandeia, é apenas o que me ilumina, apenas isso e nada mais que isso.
Basta o soar da coisa certa, basta sentir a frescura no ar que vem, talvez de algum mar de alguma costa à beira qualquer outro mar que não o meu mar, mas vem de um mar, oceano, Via Láctea, que vem de onde vem . . .
Não é preciso muito, basta inalar o cheiro a mar, a cálido que vem do mar que banha uma costa à beira de um mar . . .
É ser-se fácil e facilmente tudo se deixa para trás para ir abraçar o que está para lá de lá, ou de Bagdade, não interessa, está para o lado de lá e tudo se altera para deixar para trás o que tem que ficar para trás e deixar fazer-se ouvir o vento cálido que ondula no cabelo ondulado pelo sal do mar salgado.
É tão fácil desprender do que deixo para trás, apenas porque me hipnotiza o que me puxa para a frente, o que me embala.
Passo a passo sem ter medo, um pé segue o outro, o chão transforma-se em areia e tão fácil de pisar, apenas porque sigo a brisa que vem do horizonte, como um íman que puxa na sua cadência certa, dando tempo ao corpo de se habituar ao todo que o abraça como novo.
Deixo para trás o que me prendia ao que não quer ser largado, deixado para trás, mas deixo de vez, para não mais voltar, porque já não há espaço para mim onde eu deixo para trás.
É o caminho do não retorno, do que quando se olha para trás já nada lá está, porque pereceu, murchou, secou e deixou de ser de vez. É o caminho dos caminhos, de todos os caminhos. É como uma maré que tudo leva, deixando-te caminhar sobre a água, porque és leve como as penas da gaivota, porque deixaste todo o teu peso lá atrás, porque te tornaste realmente leve, mais leve que a espuma das ondas do mar, apenas porque despertaste e o teu momento chegou, mais forte que nunca como se tudo te tivesse deixado apenas o necessário, apenas o que deves levar contigo, apenas o que não tem peso, não pesa no corpo ou na alma, é apenas o que é no que tem que ser, é apenas o que tem que ser.
Assim me deixo ir no caminho dos caminhos, no caminho de todos os caminhos, o caminho dos caminhos onde eu posso, feliz, caminhar, é o caminho do presente que é futuro e doce passado e o passado deixa de ser passado, é o caminho de todos os caminhos o caminho sem passado, presente ou futuro, apenas um presente do presente em todo o futuro.

Estar preso nos vazios

É como estar preso no vazio. As coisas acontecem sem acontecer na realidade. Perde-se a parte melhor de tudo, essa fica para a fantasia que se enche de imagens que só ela toca, só ela sente, só ela se diverte e delicia com todo o conteúdo do que a mente congemina. É sempre o vazio reinante nas mãos, na pele, em tudo o que mexe . . .
É como estar enfiado num escafandro dentro do próprio navio que se afunda lenta e desnecessariamente. As imagens ainda são mais distorcidas à medida que o navio afunda. Não se ouve, mesmo que se grite, mesmo que se faça tudo, o navio continua no seu caminho em direção ao fundo do abismo.
Tudo está a acontecer na mente, entre alguns neurónios que nada mais podem fazer que não seja trabalhar para manter o corpo vivo.
Está tudo no sítio errado, mesmo que nascido no momento certo, mesmo que feito a coisa errada e a certa, mesmo que tudo tenha acontecido, mesmo que nada haja para haver . . . mas está tudo no sítio errado.
É a coisa errada a tocar nos sítios errados, a mover o que não é suposto mover porque é errado que mova, porque não está certo ser assim . . . mas sabe tão bem . . .
Não há nada que seja palpável e tocável, que seja manejável, porque é mais do mesmo de sempre, do sempre proibido . . .
Não se toca, apenas aprecia-se e pronto . . . aprecia-se.
Numa escada alguém desce, noutra alguém sobe . . . tal com o na vida carregada de escadas que rolam umas sobre as outras, umas descem outras sobem, numas somos levados para baixo, porque talvez tenhamos que passar por lá para se chegar a algum lado, noutras somos levados a subir porque o que nos faz falta está lá no alto, mas temos sempre que passar pelas escadas que sobem e pelas outras que descem se faz parte do nosso percurso . . .
De repente, em alguns desses momentos cruzamos-nos uns com os outros, os que gostávamos de querer, outros que gostávamos que nos quisessem, outros até que nos são indiferentes, mas que é bom que assim o sejam.
Também existem as retas, os caminhos retos que nos levam às pessoas retas com os pés no chão, às pessoas que nos marcam sempre o coração e nos dão coragem para sermos o que somos, o que queremos e temos orgulho de ser, as que nos libertam da prisão dos vazios, que nos libertam das nossas próprias amarras, há as que nos fazem pensar e sair de dentro do escafandro para retomar o comando do navio, as que nos fazem entender a razão de ser melhor usar o escafandro para o propósito certo.
Há muitas escadas, retas e curvas nas quais temos que ir devagar para não nos deixarmos apanhar desprevinidamente . . . mas
O vazio em algum espaço dentro de nós se aloja e de vez em quando vem à tona da água, vem ao de cimo para nos lembrar que ainda não completámos a nossa tarefa, que algo ficou a meio, que ainda nos falta preencher qualquer coisa que ainda não percebemos bem o que é, até que começamos a levantar o véu e a ver os encadeamentos e os seus emaranhados. Está tudo ligado e como a dor, o vazio é sinal de que alguma coisa ainda está incompleta, que falta corrigir, que falta colocar na ordem, porque vem de dentro e só está dentro e nunca fora! . . . Nunca fora!!!
Continuarás a sentir vazio se não encaixares as peças nos sítios certos. Podes recolher o melhor nectar das flores onde poisas, podes recolher o melhor mel dos melhores favos, podes colher os melhores frutos das melhores árvores, se não deres o melhor e mais adequado uso, perpetuas os vazios e tal como qualquer coisa orgânica, a seu tempo perde o seu propósito, porque é colocado num baú, fica esquecido e apodrece desaparecendo. Carregarás mais vazio contigo e quando algo te passar pela tua frente sentirás esse vazio entre ti e esse algo, porque não deste o devido uso ao que de melhor colheste ou recolheste. Por isso ficas preso aos vazios, à falta de realidade, ao que querias que fosse e não é, ao que podia ser e não está a ser, por isso é que as escadas que sobem e as que descem te deixam sem perceber o seu propósito e para onde vais, por isso é melhor agarrares-te ao que já ganhaste e melhor uso lhe dares, para não te perderes e voltares a ficar preso nos teus vazios.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O que parece que és . . .

Serás mesmo o que pareces?
Pareces ter cara de anjo, mas serás um anjo?
Pareces ter muita coisa a borbulhar dentro de ti, um espírito livre, cheio de leveza e vontade. Será que és?
Será que és mesmo o que pareces ou apenas pareces?
Serás mais um engano da Natureza na escolha da capa?
Dizem que a Natureza é perfeita, mas a nossa não. A nossa tem muitas influências de muita coisa que se desconhece, mesmo que aparentemente todos tenhamos, supostamente, braços pernas, mãos. Na nossa Natureza tudo parece alguma coisa.
Tudo parece alguma coisa, felinos, ágeis e velozes, taurinos e imponentes capazes de derrubar o Grand Canyon num movimento de braços, outros parecem meros bichinhos curiosos e fazem barulhos e alarido com tão pouco ou quase nada e tantos outros que parecem tantos outros.
A nossa Natureza de vez em quando surpreende-nos, mesmo com as mais simples coisas, apenas com os pormenores que fazem toda a diferença.
Será que és mesmo ou apenas pareces?
E o que pareces?
Aos meus olhos não pareces, nem taurino nem felino, muito menos um daqueles bichinhos curiosos que fazem alarido por tão pouco, pareces mais alguém que chega, olha o que tem à volta e delicia-se com o que não conhece, apenas porque é diferente. Pareces alguém com uma curiosidade infinita, aberto ao mundo, disposto a agarrar tudo o que puder com o corpo e com a alma, pareces mais um visitante que nasceu apenas para ser um passageiro que corre o mundo à busca do mundo. Pareces um anjo que vem apenas de passagem.
Provavelmente estarei a ver apenas o que a tua beleza diz, mas apenas a beleza.
Quais serão as tuas desvirtudes?
Como é o teu lado menos virtuoso, aquele que ninguém quer se atrever a procurar, aquele que todas as pessoas fazem de conta que não existe só para não estragar a pintura?
És mesmo o que pareces ou colocas uma fotografia estilo isco para congeminares teorias sobre o comportamento digital?
Imagino o teu lado negro . . . Tens uma voz fina, doce, falas com as pausas certas nos momentos certos, sabes a palavra certa a cada momento que abres a boca, a contar com o que antecipas. Sorriso de lado e olhas nos olhos fixamente para dentro do fundo da alma. Dizes a coisa certa na hora certa. Isso é perigoso.
Estás a ver?
Já te encontrei um defeito . . . és perigoso.
O que pareces tem o seu oposto e o teu oposto é oposto do oposto . . . inevitavelmente!
 . . . mas podias ser do género que não mente, mas não diz o que realmente é, apenas faz pensar para não dizer uma mentira ou a verdade. Fazer pensar não é mentir, fazer alguém chegar ao que tem que chegar por si mesma, não é mentir, mesmo que omita, é apenas fazer pensar.
Humm . . . gostas de fazer pensar, diverte-te ver o pensamento de alguém a bulir, os balõezinhos carregados de pensamentos e pontos de interrogação e exclamações. Diverte-te  . . . e muito!
Nos teus recantos confortáveis gostas de soltar a tua imaginação, deixá-la ir para longe e deleitares-te ao sabor das viagens que fazes com a tua mente, a imaginar os contornes das coisas . . . mas viajas enquanto brincas com o lápis entre os dedos, recostas-te para trás e és tu agora quem enche os balõezinhos de pensamentos, interrogações e exclamações. Ouves uma música tocada em acordeon e dás asas à tua fértil e viajada imaginação.
Ainda conservas alguma pureza no teu coração venturoso?
Gosto de acreditar que sim, que preferes pouco, mas verdadeiro, ao muito do banal; que preferes o silêncio e colorido da Natureza; que preferes as conversas entre o vento as árvores e as da brisa com as ondas do mar ao barulho das pessoas que lamentam por lamentar; que preferes o barulho das crianças e as suas algazarras num campo aberto ou numa rua que os passos agitados de quem procura o que nunca conseguirá. Gosto de pensar que és assim, que preferes o que tem substância ou que está em crescimento, que o que nada faz para mudar. Prefiro pensar um sem número de coisas, tantas quantas a minha imaginação permitir.
Prefiro pensar que sabes apreciar uma flor, no que ela pode representar, ou mesmo pela sua beleza, simplicidade perfeita, assim como te imagino . . . simplicidade perfeita.
Imagino que preferes o som da corda de uma guitarra, da tecla de um piano de cauda, do assobio de um petiz, o som dos grilos na noite de Verão, o som do estalar da madeira numa pequena fogueira à beira-mar.
Prefiro imaginar que não gostas que te achem bonito e que cada pessoa que te vê dessa forma te irrita profundamente, porque imaginas que essa pessoa não se aproximaria de ti se fosses feio, corcunda e não tivesses dentes. Irrita-te a superficialidade, a frivolidade, o falar por falar sem que se tenha nada para dizer. Quem te aprecia a beleza não sabe que te apaixonas pela beleza de um sorriso puro, sincero, pela beleza de um olhar tímido, pelo que te deixa querer conquistar. Quem se derrete com a tua beleza aparente não sabe que queres que te vejam e respeitem enquanto pessoa que está por dentro das roupas que um dia deixaram de ser tão belas, enquanto o que faz com que o falar surja, que o pensar acorde, mesmo que sejas tão pecador como os outros pecadores, mesmo que sintas tanto desejo e fervor nas veias como de qualquer outra pessoa no êxtase.
O que queres é demasiado especial, até mesmo que seja uma passagem, tem que ser especial, única, nada que fique atrás do excelso ou quase perfeito, porque é o perfeito ou quase perfeito seja em que forma for.
És um raio de Sol e só de vez em quando te deixas reparar em ti, só nos de vez em quando da vida, já que tanta beleza te foi dada, mas sabes que não és o único, que há mais quem queira ser amado, desejado e apreciado da mesma forma que tu.
És um puro, mesmo com desvirtudes, mesmo que grites que tens defeitos, os raios de Sol que brotam de ti ofuscam-os.
É o que pareces. É parte de um tudo que pareces. Prefiro enaltecer o lado bom do que pareces, o lado belo que o mundo precisa. Se não o puderes ser, ao menos lembra-te que poderias ser se assim o quisesses, mas sempre e só se o quisesses.