terça-feira, 12 de junho de 2012

Fragmentos do passado

Não é fácil olhar para trás. Vemos os mesmos personagens que participaram num filme que desejamos não ter acontecido, porque não se deseja lembrar que se fez alguém passar por situações humilhantes.
Alguém vai a um local porque outro alguém convidou, levando um amigo, já para as eventualidades de ficar de pendura.
A noite está desastrosa, demasiadas presenças, algumas demasiado desejadas, outras mal esquecidas de um passado, na altura, recente, outras que não faziam falta estar no mesmo espaço.
Fazer alguém passar por indesejado ou a mais é duro se esse alguém não tiver outro alguém com quem tilintar os copos de cerveja ou whisky nos brindes ocasionais.
Faz mal ver o constrangimento de quem vê que perdeu tempo, mesmo que seja muito hábil no meio da multidão.
A noite acabou, após vários círculos percorridos no local, mergulhos nas melodias que fazem o corpo soltar-se  nos ritmos quase frenéticos provocando estados de sedução. 
Confirmações e desilusões, surpresas e muito zunido nos ouvidos deixam para trás o reboliço. Não menos desiludido e surpreso, desapareceu o personagem convidado que aguardava mais atenção e quem sabe alguma emoção, afinal foi ludibriado nela. 
Estas são algumas das memórias de quem em fragmentos do passado procurou alguma coisa no local errado, com as pessoas erradas e nos momentos menos indicados. 
Aqui fica-se a saber o quanto a noite pode ser relativa. Por vezes deixa-nos sós para nosso bem, esconde tudo o resto e apenas temos contacto com aparências de algumas formas, vultos que desaparecem como vampiros que fogem dos primeiros raios de Sol, para deixar-nos seguir o que falta da aventura, porque ela não termina aqui e ainda não mostrou tudo o que quer mostrar.

 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Verdades . . . o que hoje é, amanhã foi e um dia era

Há coisas ou fenómenos estranhos, sem explicação aparente, sem motivo que se entenda, sem um porquê lógico, mas parece que uma contradição,ou contrariedade, que ganha força à medida que a nossa força de vontade de ser aumenta.
"Escreves coisas que não deves!"
Mas o que é que se deve escrever?
Mas o que é que se pode escrever?
A quem tenho eu de agradar ou não provocar?
Mas em que mundo vivo eu?
Mas eu sou alguém que ameace a vida de quem quer que seja?
O quê, dizer aquilo que está à vista de todas as pessoas e que todas elas falam pelas suas palavras, pelas suas bocas, está proibido?
Vou prejudicar a minha vida apenas porque sou contra o que quer que seja que eu esteja contra e discordante com quem me recuse a concordar?
Eu sei que o tempo da PIDE nunca morreu, apenas mudaram de roupa e estratégias . . . afinal os mandantes precisam de pessoas livres que possam votar, ou estaríamos todos atrás das grades, uns por terem cometido crimes outros por discordância com os não menos criminosos ou controversos.
É assim que se vive. Não sabemos quem são os nossos conhecidos, aqueles que poucas palavras usam para se expressar, aqueles que apenas com um sorriso nos respondem, com ar aquele ar típico de quem sabe tudo e esconde ainda mais. Estas subtilezas são mais escancaradas que a descrição do sorriso, olhar ou gesto.
Tudo se resume a muito pouco. Tudo o que vale a pena é muito pouco comparando àquilo que a propaganda quer fazer acreditar, porque muitos de nós estamos muito vazios e o vazio compra!
Por tudo isto, mas não só, nunca me cansarei de dizer a verdade deste tempo, mesmo que muitas mais verdades tenha eu ainda que aprender, porque o que hoje é, amanhã foi e um dia era.

domingo, 10 de junho de 2012

Produto interno bruto do que se sente

Passou algum tempo desde a última vez que te vi, desde a última vez que falámos, desde a última mentira que dissemos um ao outro, "(...) quem chegar primeiro ao telefone liga."
Ao menos somos bons em alguma coisa . . . a mentir. 
Finge-se que se acredita, quando já nem nos damos ao trabalho para nos enganarmos a nós mesmos. É o produto interno bruto do que se sente, puro e cru do que deixa de ser verdade ou que nunca existiu.
A intensidade morre, a vontade desmorona-se lentamente, dando lugar a outras vontades, a confusão instala-se e as conclusões clarificam a realidade.
O ego debate-se com o que não quer ver, mas afinal também não vibrava na sua totalidade, não o querendo ver ou aceitar. Queria apenas uma parte, mesmo que soubesse que é indissociável de tudo o resto, que dispensaria tranquilamente. Apreciar-te-ia sem o beijo.
O beijo fala o que as palavras não pronunciam, os lábios segredam-se nos seus encontros, coisas que só os corpos em uníssono entendem e que nenhum dicionário ou livro explica. O beijo é como que um puzzle, em que as bocas são as peças que se encaixam ou não. As nossas bocas eram peças de puzzles diferentes e não estivemos  plenamente em uníssono.
"Tu és teimosa, eu sou teimoso . . .", foram algumas das verdades que conseguiste dizer, num entretanto qualquer, mesmo que isso quisesse dizer, "Não estou para me dar ao trabalho de te procurar. Tenho mais que fazer. Estou com a mente ocupada com coisas importantes e tu és divertimento, és apenas o alimento que o meu ego meteu  numa lata de conserva e bem guardada  na dispensa da minha mente".
Lamento informar, mas parece que estás com um problema de descompensação e profunda. Demiti-me desse cargo e tu foste o único que não percebeu!
Onde está essa perspicácia? 
Ou estás a fazer maêutica?  
Se alcançaste o que querias, dou-te os meus parabéns. Conseguiste.
São estas as magnânimes proezas de quem é excelso na capacidade de não estar ou de não ser, na sua inquietude e irreverência, forjadas ao longo de muitos anos de ego insuflado por quem quer ser reconhecido ou apreciado. Haja quem te reconheça o mérito!
Continuo a pensar o que pensei da primeira vez que te avaliei, e não mudei de opinião apenas porque descobri em ti formas que não foram moldadas para as minhas. 
Estarei onde sempre estive, do outro lado do ecrã, do outro lado das palavras, onde quer que eu esteja.


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Escolhas difíceis

Há momentos em que fazer escolhas difíceis, mesmo que sejam as que menos desejamos, mesmo que nos partam o coração por breves momentos, são o caminho para aliviar dores muito profundas. Mesmo que tenhamos que magoar as pessoas que menos queremos magoar, mas sendo essas mesmas a causa das escolhas, não podemos permitir que façam de nós o saco de tudo, toda a vida.
Não podemos julgar eternas todas as pessoas que nos rodeiam, em especial as que partilham alguma gota de sangue.
Sugar a energia de alguém, mesmo que este  alguém não tenha culpa de ser como é e sofrer do que sofre, é destruidor, é massacrante. 
Quando como que um Adamastor, um monstro invisível assume a personalidade e se deixa de perceber se quem se expressa é o invasor acordado ou a pessoa, o mundo desmorona, perguntamos aos Céus PORQUÊ??? e ficamos à espera que a o drama passe, porque já não aguentamos mais, mesmo que mantenhamos a distância física e temporal mínima necessária para salvaguardar algum equilíbrio. 
Não existem palavras para descrever o que se sofre quando não se pode cortar o cordão umbilical na totalidade, e quando se perdeu a capacidade de gerir as emoções perante esse progenitor.
Há algum tempo decisões tiveram que ser tomadas, para poder salvar alguma coisa de mim que ainda se aproveite, porque as forças se esgotaram. 
É fácil criticar quando se está de fora, quando as coisas são vistas apenas numa prespetiva e quando os laços criados não contemplam a história de sofrimento de uma família destruída e só se olha um indivíduo abandonado à sua sorte.
Chantagem emocional, raiva, vingança, ódio, ira quando o não tem que ser dito e nunca aceite.
Sinto muita pena, mas já não sei com o que lido, se com a pessoa, se com o monstro, se a pessoa já se tornou um monstro.
Ainda não me convenci de que tudo se tornará pior, continuo sempre à espera que se concretize a minha ilusão de que a qualquer momento surge um milagre, que esse monstro desaparecerá e deixará o corpo de quem um dia me colocou em braços no céu, me protegeu dos meus inimigos e me contou histórias inventadas, que eu não achava graça e que tentava corrigir para que tivessem algum princípio meio e fim, mas que ao menos eram de quem hoje já não reconheço.

Estava com saudades tuas


Estava com saudades tuas. Há muito tempo que não te via, quase morri de saudades de te ter comigo.
Não estive aqui e tu lembraste-te de não estar e deixar a minha cabeça às avessas.
Não esperava que me dissesses alguma coisa, seria um verdadeiro milagre dizeres algo, "hei!!!. .  .Porque me abandonaste em mãos alheias a nós?
Não sabes que eu só existo se existires?
Não tens vergonha de me deixares nu, entregue a tudo a que sou susceptível e frágil?
Achas interessante ausentares-te e deixares-te ao abandono?"
- Bem podias ser mais subtil e dizer ao menos um até já, mas não, era fraqueza demais expores os teus verdadeiros sentimentos face a estares longe de mim. É de valor . . .
Mas vá lá tiveste a coragem de voltar sedenta de mim, de me tocares e impregnares do teu cheiro que é só meu e que nunca deixou de me pertencer!
Sabe bem ter-te de volta, sentir os teus dedos sobre mim e acariciando-me como nunca me acariciaste.
Agora percebes quanta falta te faço e o quanto precisas de mim para te sentires viva, e finalmente sei que serás para sempre minha e eu teu, inseparavelmente teu.
Ok. Assumo a minha fraqueza, porque não consigo dizer adeus ou o que quer que seja que inspire despedida, mesmo que seja apenas pelo tempo necessário ou até curto.
Já me afastei de ti algumas vezes, mas desta teve mais significado. Tanta coisa que te quis dizer e deixar entregue a ti e só a ti, mas não podia, estava longe e tu longe estavas, mas presumo que está tudo na mesma tal como deixámos, ou algo melhorou?
As subtilezas vêem-se nos pormenores, que irás descobrindo quando me tocares, enquanto te questionas sobre as suas existências. Mas estou melhor, a teu gosto. Afinal já estavas farta das minhas falhas e imperfeições, das minhas dificuldades em atingires o que querias. Sem dúvida, estou melhor. Experimenta-me e prova do que desejas.
É realmente difícil estar longe de ti meu fiel companheiro. Sabes muito de mim, mesmo que eu ainda não tenha dito tudo, não é fácil.
De que temes?
- Mais que o que eu gostava de temer.
Partilha quando o teu mundo disser que sim, quando a tua alma nada mais temer sobre o que me possas querer contar. 
Estarei aqui, serei o teu ouvinte mais atento, o teu confessor sagrado e inviolável, serei o melhor amigo que alguma vez possas ter tido.
Minha companheira sagrada e secreta és quem eu nunca poderei enxovalhar, porque a mim o mesmo estaria a fazer. 
Queda-te em mim e descansa. Amanhã continuaremos aqui.